19 setembro 2014

Frei Bento Domingues - Refletir o sagrado e descobrir o profano

Frei Bento Domingues, O.P. é frade dominicano na ordem dos pregadores. Nascido em Terras do Bouro, no mais remoto Portugal, desde criança foi pastor e às ovelhas leu trechos em latim de um livro que teve, emprestado. “E elas gostavam”, costuma contar. Na serra ouvia o eco da sua voz e seguia os ritmos da natureza, pela intuição dos cinco sentidos que até hoje, tem abertos e alerta.

Muito cedo descobriu a sua vocação, e na certeza da revelação e da fé se formou e ordenou dominicano, fazendo da proclamação do Evangelho, na liberdade de expressão e na caritas/amor absoluto a obra da sua vida. Agora que festejamos os seus 80 anos em homenagem e lançamento de dois volumes de antologia das mais de mil crónicas publicadas no Público, é também celebrada a sua tão singular figura.

Homem do campo e hoje andarilho na cidade, Frei Bento tem a malícia do dia a dia, a inteligência na adaptação às circunstância, o humor, o sentido crítico, a compaixão, a tolerância. Ele conhece os caminhos e os atalhos, usa os transportes públicos, evolui com facilidade pelos mais variados ambientes, de olhar sempre vivo e atento. Falando, escrevendo, investigando, debatendo, comunicando, Frei Bento Domingues não se esgota nunca. Disponível para os sacramentos do nascimento, do crescimento e da morte, celebrando a Eucaristia, pregando sobre as parábolas ou os profetas, em conversa casual de amigos ou circunstâncias gerais, ele discute as questões da atualidade, convive com crentes e não crentes e acredita na liberdade da democracia e no direito à opinião.

É teólogo estudioso do Antigo e do Novo Testamento, de textos apócrifos, conhecedor das várias religiões e das doutrinas dos doutores da Igreja, das vivências dos grandes místicos. É leitor de pensadores e filósofos, de autores universais e contemporâneos, de poesia. Acompanhar os textos de Frei Bento Domingues é refletir sobre o sagrado e descobrir o profano. É entender que Jesus Cristo é centro absoluto da presença de Deus no seu testemunho, na sua obra, na sua vida. É descobrir a sua devoção a Nossa Senhora.

Na missa de domingo de Cristo Rei, em 2010, anotei um fragmento da homilia de Frei Bento, quando citou Teillard de Chardin: “A criação está sempre a acontecer, toda a história está sempre a ser.”- para acrescentar que “Na nossa ação de construção do mundo há um clandestino, que é Jesus.” Penso que assim tudo se explica.

Leonor Xavier, 10 de setembro de 2014

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