10 fevereiro 2012

Ele foi a Nazaré

“Ele foi a Nazaré, onde fora criado, e, segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para fazer a leitura. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías; abrindo-o, encontrou o lugar onde está escrito:
O Espírito do Senhor está sobre mim,
Porque ele me ungiu
para evangelizar os pobres;
enviou-me para proclamar a remissão aos presos
e aos cegos a recuperação da vista,
para restituir a liberdade aos oprimidos
e para proclamar um ano de graça do Senhor
Enrolou o livro, entregou-o ao servente e sentou-se. Todos na sinagoga o olhavam, atentos. Então, começou a dizer-lhes: “’Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos esta passagem da Escritura.’” (Evangelho de Lucas 4, 16-21)

É este o Jesus em que acredito. Um Jesus não cativo de códigos religiosos enclausurantes. Um Jesus que estilhaça as fronteiras “bem-comportadas” de uma moral sem ética. Um Jesus infinitamente bom – o totalmente bom. O Jesus que veio para todos, que abateu todos os muros que nos separam uns dos outros. O Jesus que escolheu o “pátio dos gentios” e não o Templo como lugar para o encontro com um Deus que não exclui ninguém, de um Deus para quem a glória é o ser humano vivo. O Jesus libertador: não só libertador de amarras internas, mas também de opressões externas, da injustiça estrutural, do “pecado organizado” em que o nosso tempo se tornou (para dizer como Sophia de Mello Breyner), um Jesus que não quer a pobreza, que não quer a guerra, que não quer a cobiça pelas matérias-primas, que não quer o racismo, que não quer a violência brutal sobre mulheres, crianças e velhos à qual nenhuma sociedade escapa, na qual nenhuma tem as mãos limpas. Um Jesus esperança dos sem esperança. Um Jesus com um abraço sem fronteiras.
É este o programa de Jesus. É este o programa de um mundo outro. É esta a utopia que se espera. É esta a utopia na qual tantos se empenham. É este o Jesus em quem acredito.
(Teresa Martinho Toldy)

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