18 junho 2012

Caminhos de Paz

“Um novo Tratado sobre o Comércio de Armas será negociado na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, entre 2 a 27 de Julho de 2012. Milhares de mulheres, crianças e civis, vítimas inocentes de armas de pequeno calibre, são feridas e mortas em vários conflitos em muitos países do mundo; comunidades são destruídas, sendo o meio ambiente e os recursos naturais afetados negativamente. A nossa fé ensina-nos que a vida de cada ser humano é sagrada. Também nos ensina a erguer a nossa voz perante o sofrimento.”
A citação do comunicado da OING – Pax Christi Internacional é todo um programa a que não podemos ficar indiferentes. (cf.
http://www.paxchristi.net/international/foci/ATT/main.php)
Em Portugal, a notícia das iniciativas de dois relevantes grupos católicos (cf.
http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=91392) especifica iniciativas concretas em curso; “Na carta endereçada a Paulo Portas, o presidente da Pax Christi - Portugal, D. Januário Torgal Ferreira, e o presidente do Observatório Permanente, Fernando Manuel Roque de Oliveira, recordam que “o comércio internacional de armas convencionais e das suas munições atinge todos os anos direta ou indiretamente milhões de pessoas, em todo o mundo”. Por isso mesmo, solicitam junto do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros “o envolvimento de Portugal na obtenção de um tratado tão forte e abrangente quanto possível”.
Temos uma tendência para considerar que este tipo de iniciativas é mais de natureza política e não tanto religiosa. Talvez porque seja mais fácil acomodarmo-nos no cantinho confortável e conhecido do nicho religioso das capelinhas e sacristias cujos pronunciamentos políticos se resumem a uma invocação semanal na oração dos fiéis pedindo sabedoria e justiça para “eles”, as autoridades políticas, que “sujam as mãos” no terreno político.
A coberto da autonomia das realidades terrestres, da política nomeadamente, temos muitas vezes uma desculpa para invocar que o que é de César seja para César e o que é de Deus para Deus.
E no entanto a realidade não se apresenta com esta linearidade dicotómica. Se queremos um mundo mais justo, mais fraterno, mais próximo do Reino em que o lobo e o cordeiro poderão pastar juntos, então temos mesmo de por mãos à obra. Ora isso implica dar atenção aos empecilhos que impedem o caminho para a humanidade se encontrar finalmente em Paz. A guerra e as armas são exemplos claros e revoltantes!
A violência que nos habita, “defeito de fabrico” que transportamos no ADN humano, (o tal pecado original que nos disseram na infância) pode e deve ser controlada, modificada e transformada em energia positiva, construtora da uma alternativa de vida possível e verdadeiramente humana para todos/as.
Tal como a imagem do fogo que queima num incêndio tudo à volta deixando um rasto de sofrimento e dor, neste caso com o tráfico de armas e as guerras que proliferam, podemos também usar esse mesmo fogo, como energia vital para construir a Paz e a imagem seria então a das línguas de fogo do Pentecostes com os vários dons que se espalham como o sopro do Espírito. Com a sabedoria de quem sabe que, com a ajuda de Deus e do Próximo, se pode transformar em construtor da Paz através da prática de pequenos e grandes gestos de não-violência ativa.
São gestos políticos porque são gestos humanos e a humanidade vive necessariamente em comunidade organizada. São gestos partilhados com quem não se define pela mesma matriz religiosa mas que se encontra nos mesmos objetivos. (cf.
http://www.amnistia-internacional.pt/)
As soluções concretas de programas político-ideológicos para os problemas da humanidade são da nossa responsabilidade como cidadãos, aí a diversidade de opções é legítima e saudável sejam motivadas ou não por valores religiosos pois trata-se da gestão da coisa pública.
Mas quando se trata da sobrevivência da humanidade, muito simplesmente, ecoa em nós a passagem bíblica em que o Senhor pergunta “O que fizeste do teu irmão?” E não podemos ficar indiferentes, pois de duas, uma; ou ajudámos a matá-lo ou a salvá-lo.
Lutar contra a proliferação de armas é ajudar a salvar-nos enquanto humanidade. Agora é o momento de exercermos a nossa pequena mas preciosa pressão; ou usando uma imagem bíblica, de sermos parte do fermento que leveda a massa e a faz crescer para um dia ser alimento de paz.
É uma atitude política e é uma expressão de fé de quem trilha o caminho da esperança de um mundo melhor!
AFF


17-06-2012

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