22 abril 2014

Para o tempo das canonizações

Frei Bento Domingues, O.P.
20.04.2014

Há canonizações: canonizados e a canonizar. Deveria existir uma outra categoria: santos não canonizados e santos incanonizáveis. Para os santos não canonizados, a Igreja arranjou uma festa, a Festa de todos os Santos. É suposto que, se houvesse quem se ocupasse de fazer uma selecção, pelo menos muitos deles, também seriam canonizados. Teriam de preencher as exigências padronizadas, as canónicas. Isto é, cumpririam os requisitos previstos para receberam o diploma de santo. A questão, como em tudo, é ter ou não currículo.

Tudo isto levanta um problema: Jesus permitiu-se andar com quem não tinha currículo de santo. Os seus contemporâneos mais zelosos também achavam que Ele não tinha nada de santo. Tinha mais de diabólico. Leiam os seguintes textos e concluam: Mc 2; Mt 12, 22-32.

Entre aqueles que foram condenados pelas Inquisições, que morreram excomungados, que estavam abrangidos pelo slogan eclesiástico: fora da Igreja não há salvação, contam-se, certamente, muitos santos. São os desalinhados ou incanonizáveis. Considerando, além disso, a História da Humanidade e a vontade universal de salvação por parte de Deus, teremos de concluir que a grande maioria dos santos é feita de desalinhados. 

Seria bom habituarmo-nos a não medir a misericórdia de Deus pelas leis que fabricamos na Igreja ou fora dela. O beatério não é o melhor juiz para avaliar os misteriosos desígnios de Deus.
Quem desejar conhecer os degraus todos que é preciso subir até à canonização, pode ir à internet e encontra tudo explicadinho, com todas as referências aos documentos promulgados pelo Vaticano, sobretudo na década de 80 do século passado, e poderá fazer o seu juízo próprio sobre aquilo que acabámos de evocar.

É preciso abandonar as imagens formatadas da santidade para passar a pessoas que neste mundo querem seguir os caminhos pouco ortodoxos de Jesus. Boa Páscoa.

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