2ª 20.09 P/INFO:
Crónicas & Cardeal D. José Tolentino vai receber o hábito dominicano
Frei Bento: A conversão do
Papa Francisco
Pe. Anselmo Borges:
Conversa com Hans Küng .2
Cardeal Tolentino:
Capacidade negativa
Pe. Vítor Gonçalves:
Primeiros e últimos
A CONVERSÃO DO PAPA
FRANCISCO
Frei Bento Domingues, O.P.
Da
incredulidade ecológica inicial de Bergoglio à sua conversão e ao processo de
elaboração da encíclica Laudato si’.
1.
Para muitos dos baptizados em criança, só fica o seu registo paroquial. Em
certos casos, a própria fé de quem apresentava a criança à comunidade cristã
não era uma realidade vivida, pensada e celebrada. Era, por vezes, um gesto de
memória familiar dissolvido numa festa de interesses, sem confronto e compromisso
actuantes com a mensagem e a prática de Jesus Cristo. É talvez uma das fontes
da expressão ambígua dos chamados “católicos não praticantes”. Não praticantes
de quê? De certas práticas rituais ou das exigências concretas do Evangelho que
se inscrevem na vida pessoal, familiar, social, cultural e política?
Note-se que os que foram
apresentados, em criança, ao Baptismo por famílias de fé vivida e pensada,
celebraram a gratuidade do amor de Deus que não espera que ela seja adulta para
a inscrever no seu coração, seja baptizada ou não.
A celebração não é, de
modo nenhum, um gesto humanamente absurdo. Os pais também não esperam que os
seus filhos cresçam para gostar deles, para os rodear de manifestações de
afecto e de todos os cuidados. O rito cristão do baptismo das crianças, em
comunidades crentes, não é um abuso nem um acto de magia. Não é um destino
imposto, mas um itinerário cristão a ser assumindo, de modo pessoal e livre, ao
longo de toda a vida, mediante conversões que marcam cada uma das suas etapas.
Mas que também pode ser esquecido ou até renegado.
2.
Suponho que Jorge Mario Bergoglio (17.12.1936) tenha sido baptizado em criança,
em Buenos Aires. Não consta que o seu baptismo tenha sido acompanhado de
qualquer revelação divina de que, depois de muitas peripécias, viria a
ser ordenado padre, sagrado bispo e eleito Papa Francisco!
No passado dia 3 de
Setembro, confessou a um grupo de peregrinos franceses a sua incredulidade
ecológica, a sua conversão e o processo da elaboração da encíclica Laudato
Sí (LS), há cinco anos! O melhor é dar-lhe a palavra:
«Gostaria de
começar com um fragmento de história. Em 2007, teve lugar a Conferência do
Episcopado Latino-Americano no Brasil, em Aparecida. Fiz parte do grupo de
redactores do documento final, e chegavam propostas sobre a Amazónia. Eu dizia:
Estes brasileiros já aborrecem com esta Amazónia! Que tem a Amazónia a ver com
a evangelização? Eu era assim em 2007. Depois, em 2015, saiu a Laudato si’. Percorri um caminho de conversão, de compreensão do
problema ecológico. Antes eu não entendia nada!»
Não relatou
apenas o facto, mas também o processo, a conjuntura e as mediações que estão na
base desse texto, a muitos títulos, admirável:
«Quando fui a Estrasburgo, à União
Europeia, o Presidente Hollande pediu à Ministra do Meio Ambiente, Ségolène
Royale, que me recebesse. Falamos no aeroporto... No início um pouco, porque já
havia o programa, mas depois, no final, antes de partir, tivemos de esperar um
pouco e falamos mais. E a senhora Ségolène Royale disse-me o seguinte: É verdade que o
Senhor está a escrever algo sobre a ecologia? — c’était vrai! — Por
favor, publique-a antes do encontro de Paris!».
O Papa não podia falhar esta ocasião extraordinária, tão oportunamente
oferecida: «Chamei o grupo de pessoas que a redigia — para que saibais que não
a escrevi sozinho, mas com um grupo de cientistas, um grupo de teólogos, e
todos juntos fizemos esta reflexão — chamei o grupo e disse: Tem de sair antes
do encontro de Paris - Mas porquê? — Para fazer pressão. De Aparecida à Laudato
si’, para mim, foi um caminho interior».
Por ser Papa, não sabe tudo e nem invocou a celebrada infabilidade
pontifícia para vir em seu auxílio: «Quando comecei a pensar nesta
Encíclica, chamei os cientistas — um bom grupo — e disse-lhes: Dizei-me coisas
claras e comprovadas, não hipóteses, mas realidades. E eles trouxeram o que hoje
vós ledes aqui. Em seguida, chamei um grupo de filósofos e teólogos [e
disse-lhes]: Gostaria de fazer uma reflexão sobre isto. Trabalhai vós e
dialogai comigo. E eles realizaram o primeiro trabalho, depois eu intervim. E,
no final, fiz a redacção conclusiva. Essa é a origem».
Não narrou a sua conversão para recordar um momento importante. Como todos
os verdadeiramente convertidos não podem guardar para si o que os encheu de
alegria: «Quero frisar isto: da absoluta incompreensão, em Aparecida (2007) até
à Encíclica. Gosto de dar testemunho disto. Temos de trabalhar para que todos
percorram este caminho de conversão ecológica»[i].
Dizer que o Papa Francisco é um católico praticante significa que a sua fé
é aberta a todos os mundos, é inclusiva. Por isso, não pode deixar de insistir
neste sentido da inclusão universalista, que já era a marca da primeira geração
cristã, proclamada nas celebrações do Baptismo. A exegese histórico-crítica
verificou que não foi S. Paulo que a inventou. Ele recebeu-a de uma prática que
lhe era anterior[ii]. Esta característica é incompatível com as
práticas sociais, económicas e políticas que fomentem desigualdades, seja qual
for o motivo.
3. A encíclica LS teve um
eco significativo dentro e fora da Igreja Católica e entre crentes e não
crentes. O Papa Francisco, no entanto, resolveu que, «anualmente, daqui em diante, o primeiro
dia de Setembro assinala, para a família cristã, o Dia Mundial de Oração pelo
Cuidado da Criação; e com ele se abre o Tempo da Criação que conclui no
dia 4 de Outubro, memória de São Francisco de Assis. Durante este período, os
cristãos renovam, em todo o mundo, a fé em Deus criador e unem-se de maneira
especial, na oração e na acção, pela preservação da Casa Comum».
Posta a questão ecológica nesses termos, podíamos ficar com a ideia de que
o Papa Francisco se interessa,
apenas, com a Igreja Católica. Mas não: «Alegro-me com o tema escolhido pela
família ecuménica para a celebração do Tempo da Criação 2020, ou seja,
um Jubileu pela Terra, tendo em vista que se celebra precisamente, este
ano, o quinquagésimo aniversário do Dia da Terra»[iii].
Este ano ainda não chegou ao
fim. Está prevista, para 3 de Outubro, a assinatura de uma 3ª encíclica Fratelli
tutti (Todos irmãos), da qual ainda não sabemos o conteúdo, mas tem
um precedente inter-religioso notável[iv]. Dada a pandemia, o
encontro Economia de Francisco, realizar-se-á, de 19 a 21 de Novembro,
através de plataformas on line. É urgente um novo paradigma económico se
quisermos converter a expressão Todos Irmãos, mil vezes repetida, em
realizações do nosso tempo, dilacerado por escandalosas desigualdades.
in Público de 20.09.2020
https://www.publico.pt/2020/09/20/opiniao/opiniao/conversao-papa-francisco-1932026
[i]
Cf. Audiência do Papa Francisco a um grupo, Leigos Ecologistas, vindo de
França, 03. 09. 2020, in www.vatican.va.
Transcrevi apenas a primeira parte da “conversão”. Importa ler o texto na
íntegra.
[ii] Michel Gourgues, Repères pour une
exploration histórico-critique du Nouveau Testament, in Cahiers Évangile,
192 (Juin 2020), 6-7
[iii]
Cf. Mensagem do Papa para a celebração do Dia Mundial de Oração pelo Cuidado
da Criação (01.09.2020), in www.vatican.va
[iv]
Documento sobre a fraternidade humana em prol da paz
mundial e da convivência comum, assinado por Papa Francisco e Grão Imame Ahmad Al-Tayyeb,
a 14 de Fevereiro de 2019.
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Anselmo Borges
Padre e Professor de
Filosofia
Continuo a conversa com Hans
Küng em 1979, incidindo sobre a esperança para lá da morte.
Para si, Jesus Cristo é o
determinante na vida e na morte, o Filho de Deus. Pergunto-lhe: é Deus que nos
salva ou é Cristo?
É o próprio Deus que nos
salva através de Cristo. Não podemos de modo nenhum ver Cristo sem Deus. De
contrário, não teria sentido para nós. Como também não podemos, enquanto
cristãos, ver Deus sem Cristo. Caso contrário, Deus torna-se vago para nós.
Mas somos nós, os cristãos,
que somos salvos através de Cristo ou são todos os homens? Isto é, mesmo
aqueles que pertencem a outras religiões são salvos através de Cristo?
É claro que os homens que
pertencem a outras religiões se podem salvar. E é evidente que só se podem
salvar através do único Deus, pois há um só Deus. Em terceiro lugar, só se
podem salvar através do Deus que nos foi revelado em Cristo, que, portanto, é o
Deus da misericórdia, o Deus da graça, que Cristo nos revelou.
A ressurreição de Cristo é
essencial no cristianismo...
Se Cristo não tivesse
ressuscitado, a nossa fé seria vã, diz o apóstolo Paulo. E esta é também a
minha convicção.
Mas é necessário não tomar à
letra e como narrações históricas todas as representações que se referem à vida
nova de Cristo. O importante e decisivo é concentrar-se no essencial da Boa
Nova da Ressurreição. Ora, o que é o essencial da Boa Nova da Ressurreição? A
Boa Nova da Páscoa significa isto: este Crucificado, que realmente morreu, não
morreu para o nada, mas foi assumido na vida eterna de Deus. Ele vive com Deus
seu Pai, através dEle e nEle. E isto significa para nós uma esperança.
Ele vive como pessoa?
Ele vive como pessoa, ele
vive enquanto identicamente o mesmo que viveu na Terra. Caso contrário, não
significaria nada para nós.
Ele vive como esperança para
nós: nós também enquanto pessoas continuaremos a viver. Todos os que o seguirem
com perseverança viverão também. Ele vive como desafio e estímulo para nós. Daí
que o nosso dever seja fazer com que o seu caminho seja o nosso caminho, o seu
modo de viver e morrer seja o nosso.
Hoje, para nós, o problema
da imortalidade torna-se muito complicado, pois tínhamos o esquema dualista,
que era talvez simplista, mas servia de ajuda. Ora, hoje todos esses esquemas
estão ultrapassados. Portanto, sobre que é que podemos apoiar a ressurreição e
a vida eterna?
Eu diria que cada pessoa,
crente ou não, está perante uma alternativa. Mesmo o não crente perguntar-se-á:
o que é que significa para mim a morte? Significa que todo o meu pensamento,
toda a minha acção, todo o meu sofrimento, todo o meu amor, tudo aquilo que
realizei, tudo aquilo por que me bati, tudo isso vai parar ao nada? Esta é uma
alternativa.
Frente a esta alternativa só
há uma outra: esta realidade que nós aqui captamos, tudo aquilo que nós podemos
captar e manipular, tudo isso não é a Realidade última. Há a possibilidade — eu
acentuo: a possibilidade — que o Homem, em vez de morrer para o nada, morra
para a Realidade última, que é também a Realidade primeiríssima.
Quando perguntamos qual é o
fundamento para isso, eu digo: confio que é assim. Eu confio, pois não se pode
provar. Mas quem diz que morre para o nada, também não pode prová-lo. Esse tem
uma desconfiança radical no Fundamento último e Sentido último da realidade.
Eu, pelo contrário, tenho uma confiança radical no Fundamento e no Sentido
último da realidade. Eu posso apenas afirmar que a desconfiança radical não
apresenta qualquer racionalidade, que, em última análise, ela é não racional,
pois, sem esta confiança radical, tudo se torna não racional e absurdo.
A minha solução, a minha
resposta é, pois, uma confiança radical racional. A racionalidade mostra-se no
próprio acto de confiar: com ele e nele, tudo se torna mais razoável,
iluminado. Eu tenho todas as razões para ter esta confiança. De facto, tudo
aquilo que há milhares de milhões de anos acontece na História e que talvez
ainda continue por milhares de milhões de anos para o futuro, tudo isso não
provém do nada nem vai para o nada. Provém de um Fundamento último, que é
também Fim último, não só do cosmos, mas também da minha vida.
A este Fundamento último e
Fim último do cosmos e da nossa existência chamamos Deus.
Do ponto de vista
antropológico-metafísico, não pode demonstrar que haja em si qualquer coisa que
exija a imortalidade...
Eu não posso demonstrar nem
o nada nem Deus. Se pudesse demonstrar Deus, já não seria Deus. A fé é como o
amor. O amor não se pode demonstrar. Se um homem disser à mulher: tu deves
demonstrar que me amas, então o amor não é possível. No amor, é necessário
colocar em primeiro lugar a confiança. Na fé, passa-se a mesma coisa: é
necessário avançar com a confiança. Eu devo confiar-me e, na medida em que
confio, vejo que se trata de uma resposta plena de sentido e que a vida tem
sentido.
Havia filósofos que através
de argumentos filosóficos afirmavam que há em nós qualquer coisa que
ontologicamente é imortal. Não pode dizê-lo...
Eu não me preocupo muito com
essas coisas, com a ideia platónica da imortalidade da alma. Creio que são
representações de algum modo simplistas, e hoje, com o avanço das ciências
biológicas, antropológicas, etc., já não nos é permitido separar tão facilmente
alma e corpo.
Como é que se deve
esclarecer o problema da vida eterna não nos compete a nós. Isso é mistério
para nós, como o próprio Deus é mistério, que nem com a ontologia podemos
tornar claro.
in DN 19.09.2020
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/19-set-2020/conversa-com-hans-kung-2-12734294.html?target=conteudo_fechado
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QUE COISA
SÃO AS NUVENS
JOSÉ
TOLENTINO MENDONÇA
VENTOS DE INTOLERÂNCIA
IMIGRANTE
TORNOU-SE O BODE EXPIATÓRIO PARA TODOS OS
PROBLEMAS
No início deste mês de setembro, Willy Monteiro Duarte foi
assassinado num bairro de Roma, a socos e a pontapés, por quatro jovens mais
velhos do que ele. Willy, nascido já em Itália, é filho de emigrantes cabo-verdianos.
Tinha 21 anos, mas nas fotografias que os jornais têm publicado parece ainda
mais miúdo. Interveio numa discussão para defender um antigo colega de escola.
Foi abatido sem piedade. O magistrado que colocou os agressores na prisão
sublinhou o facto de se tratar de um ato de violência brutal onde a cor da pele
da vítima influiu.
A comunidade
cabo-verdiana formou-se em Roma entre os anos 60 e 70 do século passado. No
início, era sobretudo constituída por mulheres que chegavam como empregadas
domésticas, um trabalho para o qual era cada vez mais difícil encontrar mão de
obra italiana. Como frequentemente acontece na história da imigração, nos
primeiros tempos não existia o pensamento de uma integração na nova sociedade:
a ideia era apenas trabalhar para comprar o bilhete de volta, levando consigo
umas tantas economias que permitissem relançar a vida no arquipélago natal. Nos
anos 80 as coisas mudam. A perspetiva de um regresso a médio prazo a Cabo Verde
ia-se distanciando. Em vez de partir, aquelas mulheres ajudam à instalação em
Roma das suas famílias, crescem em número e diversidade de profissões,
organizam-se como comunidade. A jornalista Maria de Lourdes Jesus, tia de
Willy, num impactante testemunho publicado esta semana no “Corriere della
Sera”, recorda que a Itália desses anos era muito diferente daquela de hoje: a
maioria da população e o consenso das forças políticas colocava-se então da
parte dos mais desprotegidos e conseguia, por exemplo, exercer um forte
controlo social em relação ao racismo. Foram os anos fortes das políticas de
integração. A televisão pública iniciava um programa para retirar da
invisibilidade as comunidades migrantes, apostava-se consistentemente na
educação, fez-se o primeiro pacote legislativo que tinha em conta a sua dignidade
e direitos. Sempre existiu, explica Maria de Lourdes Jesus, uma minoria que
explorava a hostilidade e o ressentimento contra os imigrantes. Ora, o que
aconteceu é que esse grupo, ao qual não se prestava grande atenção, “foi
crescendo, ao mesmo tempo que cresciam os discursos drásticos contra os
imigrantes, despudoradamente acusados de roubar o trabalho aos nacionais... O
imigrante tornou-se o bode expiatório para todos os problemas”.
Não podemos partir daqui para nos
perguntarmos se a Itália é um país racista. Mas (...) os países do projeto
europeu não podem fazer de conta que não sentem soprar os ventos de
intolerância
Certamente que
não podemos partir daqui para nos perguntarmos se a Itália é um país racista.
Seria injusto e abusivo. A questão que se impõe é, sim, comum aos países do
projeto europeu que não podem fazer de conta que não sentem soprar os ventos de
intolerância. E ela diz igualmente respeito aos cidadãos europeus — não só aos
Estados — que são chamados a protagonizar práticas de inclusão social que
reforcem o sentido comunitário. Fantástico testemunho deu a família Caló de
Treviso (um casal e quatro filhos), que decidiu acolher em casa seis jovens
africanos, com idades entre os 23 e os 34 anos, que haviam atravessado o
Mediterrâneo numa casca de noz. Antonio Caló refere-se hoje a eles como “os
meus filhos negros”. Em quatro anos de um percurso certamente árduo,
ajudaram-nos como se ajudam os filhos a alcançar a própria autonomia, mas
colocando em tudo o amor como chave. Um exemplo português que me toca é o que
os padres da Consolata desenvolvem no seu seminário, em Rio de Mouro. Nos
últimos anos, têm tido sempre refugiados a partilhar a vida comunitária deles.
Claro que é exigente e trabalhoso. Mas é também um gesto que transforma o
mundo. Já nos perguntámos o que podemos fazer?
in Semanário
Expresso, 19.09.2020, p 170
https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2499/html/revista-e/que-coisa-sao-as-nuvens/ventos-de-intolerancia
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À PROCURA DA PALAVRA
Pe. Vitor Gonçalves
DOMINGO XXV COMUM
“Os últimos serão os primeiros
e os primeiros serão os últimos.”
Mt 20, 16ª
Primeiros e últimos
Há quem goste de ganhar porque
deu o seu melhor, bateu o seu recorde, ultrapassou um limite. E há quem goste
de ganhar porque ficou à frente de todos, pode olhar de cima os demais, julga
que vale mais do que os outros. Os primeiros conseguem partilhar a alegria,
consolam os que ficaram em segundo ou em último, agradecem a todos os que os
ajudaram. Os segundos inebriam-se com as palmas, acham-se mais merecedores do
que os outros, e todos os louros são deles. Posso estar a fazer uma caricatura
dos sentimentos de alguém vitorioso, mas até nas caricaturas há um pouco de
verdade.
Escutamos, infelizmente,
demasiadas vezes, desabafos deste tipo: “Já não sirvo para nada”; “O que é que
ainda cá ando a fazer?”; “Deus esqueceu-se de mim!”. A exigência cega da
economia tende a valorizar as pessoas pela sua utilidade e produtividade. E num
tempo em que o valor do trabalho humano é talvez a maior questão social a
resolver para o futuro da humanidade, o descarte das pessoas é profunda
interpelação. A contingência do teletrabalho que a pandemia multiplicou, o
desemprego avassalador de inumeráveis profissionais, a gritante desigualdade
dos salários, as novas escravidões, os novos êxodos de pobres e esfomeados
parecem significar pouco na necessária transformação dos modelos económicos.
Cada vez mais, ou todos contam e participam no desenvolvimento, ou não há paz.
Dizia-o em 1967 o Papa S. Paulo VI: “Desenvolvimento é o novo nome da paz”.
Há
tanto a aprender com esta parábola! Mesmo nas questões relativas ao trabalho
enquanto realização pessoal e participação na sociedade. Também nas
interpelações que esta pandemia faz às comunidades cristãs onde o trabalho para
todos revoluciona hábitos e pequenos poderes que já não servem. Mesmo nas
realidades familiares em que a entreajuda e a partilha são condição para uma
alegria maior de todos. Lembro o desafio do Papa Francisco em “primeirear”,
tomar a iniciativa de começar em algum lado, com alguns “primeiros”, sem
esquecer nenhuns “últimos”!
in
Voz da Verdade
http://www.vozdaverdade.org/site/index.php?id=9210&cont_=ver2
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Cardeal D. José Tolentino vai receber o hábito
dominicano
Celebração vai decorrer no Convento de São Domingos,
em Lisboa, no dia 14 de novembro
A Província Portuguesa da Ordem dos
Pregadores disse à Agência ECCLESIA que o cardeal D. José Tolentino Mendonça
vai receber o hábito dominicano, como Ordem Terceira, no dia 14 de novembro, no
Convento de São Domingos, em Lisboa.
“A Província Portuguesa da Ordem dos Pregadores e a Ordem
Dominicana em geral regozijam-se e acolhem com alegria este seu novo membro”,
afirmou frei José Nunes, provincial dos Dominicanos em Portugal, à Agência
ECCLESIA.
“O cardeal Tolentino é muito nosso amigo, há muitos anos:
teve uma grande proximidade com dois dominicanos portugueses, o frei José
Augusto Mourão e o Frei Mateus Peres, também durante muitos anos teve uma forte
ligação às Monjas Dominicanas do Lumiar. Estes contactos e proximidade fizeram
com que se sentisse identificado com o carisma dominicano”, explica à Agência
ECCLESIA o frei Filipe Rodrigues, mestre de noviços e dos estudantes.
A família Dominicana tem vários ramos: as monjas, “tendo
sido primeiras fundadas por São Domingos”, os frades e a chamada Terceira Ordem
que, explica o Frei Filipe Rodrigues, oficialmente não existe mas é comummente
aceite, onde todas as pessoas leigas ou sacerdotes se inserem, sem vínculo de
obediência ao mestre da Ordem e indicação para viver como frade ou monja, mas
identificando-se como monge e querendo fazer um caminho de espiritualidade com
os Dominicanos.
O cardeal José Tolentino Mendonça, “sendo um padre
diocesano, agora cardeal, entra nas Fraternidades Sacerdotais como forma de se
vincular à Ordem Dominicana”.
O Frei Filipe Rodrigues evidencia uma sintonia na forma
de pregação entre a Ordem e o cardeal José Tolentino Mendonça.
(…)
in Agência Ecclesia Set 18, 2020
https://agencia.ecclesia.pt/portal/igreja-portugal-cardeal-d-jose-tolentino-vai-receber-o-habito-dominicano/
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