20 maio 2012

As laranjas e o sumo pontífice

Um grupo de jovens estava reunido com um jovem padre. Tinham um semblante de piedade feliz e alegria devota enquanto combinavam uma procissão para breve, restrita, lembrando ao mesmo tempo uma outra mais geral que é a do Corpo de Deus. Dissertavam sobre os modos que deviam ter e os arranjos que os deviam conter. Essa procissão seria um acto de reverência e louvor a Deus, mas também uma afirmação pública da fé católica. Tornar-se visível, dar-se a conhecer parecia ser o mote para um acto destes no coração de uma sociedade laica e indiferente. Falavam de paramentos, de incenso, de velas. Pareceu-me ouvir falar de flores e por alguns momentos pensei nas lindas buganvílias do jardim das monjas, na discreta romãzeira da horta das irmãs, na protea que não se encontra facilmente, e noutras mais campestres como a giesta amarela com a sua exuberância ou a esteva de beleza luminosa e delicada. Mas afinal não era de flores que falavam, era de valores. Não compreendi o significado desses valores, se eram princípios, regras de conduta, ou valores monetários uma vez que também se referiam a despesas e receitas que a cerimónia comportaria.

Independentemente do que teriam estado a fazer esses jovens antes da reunião, depois dela foram todos ajoelhar diante do Santíssimo e, sob orientação do sacerdote, sussurraram breves orações, sendo depois convidados a ficar um pouco em silêncio. No fundo da igreja estavam algumas senhoras e dois homens com ar compungido, quase tristes, uma leve expressão de problemas em casa ou simplesmente na vida. Nesse momento não estava lá o homem de que fala S. Lucas (18, 9-14) que, ao fundo do templo, com semblante magoado, se declarava pecador. Era um cobrador de impostos, provavelmente colega de Zaqueu. A oração do fariseu tinha-o deixado envergonhado diante de Deus. Diminuído. Voltaria, mas não hoje. Confiava que Deus lhe perdoaria os pecados, mas teria de se encontrar a sós com Ele e não ao lado de tanta virtude. Por isso hoje não estava lá. Estavam aquelas senhoras e os dois homens que pareciam nem reparar nos piedosos e honestos jovens com uma expressão religiosa digna de nota. Quando o jovem padre lhes deu sinal de que podiam sair, uma senhora acenou afirmativamente com a cabeça, gesto de que nunca saberemos o significado.


Os jovens foram embora mas não para a rua. Regressaram à sala onde antes tinham estado reunidos, para aí lancharem e terem um pequeno e contido convívio. No meio dos sussurros ouve-se a voz do padre dizer: sabem que o santo padre fez anos há pouco tempo! E também sabem, ou se não sabem ficam a saber, que ele gosta muito de sumo de laranja! Como não tinha em casa laranjas que chegassem para fazer sumo, mandei comprar estas garrafas para bebermos em honra de sua santidade e em comunhão com ele. Diante deste episódio é legítimo perguntar se Jesus teria feito a multiplicação das laranjas que o padre tinha, de maneira que houvesse sumo para todos e ainda sobrasse para os que estavam ao fundo da igreja e mesmo para os que pediam à porta. Daquelas garrafas irá com certeza sobrar sumo, mas não será fruto de um milagre. Talvez apenas desperdício de supermercado. É pena! E também é pena que o sumo pontífice não tenha sido honrado com sumo de laranja natural, espremido à vista de todos para que todos fossem testemunhas de uma verdade indiscutível. Enfim, é na diversidade que todos somos Igreja.


Entretanto, no dia 13 de Maio, li no Público o artigo de Frei Bento “Sem teoria de tudo”. Não sei se já leram.

Frei Matias, op

1 comentário:

  1. É uma VERGONHA que mesmo com tantos ataques à Santa Igreja de Cristo, ela venha sofrendo internamente. O mundo tem conseguido penetrar em pessoas de dentro da Igreja, mas devemos lembrar que o mundo não deve mudar a Igreja mas sim ela, através da palavra de Nosso Senhor o deveria fazer com o mundo.
    Devemos respeito ao Santo Padre e ao Santo Magistério da Igreja.

    ResponderEliminar