16 agosto 2013

Não à reforma da cúria em segredo!


Comunicado do Movimento Nós Somos Igreja

Com a primeira reunião dos oito cardeais no início de Outubro de 2013 o Papa Francisco dará início à reforma da cúria, a qual se reveste da maior importância para o futuro da Igreja Católica Romana. Não deveria decorrer em segredo, mas sim com transparência e em franco diálogo com as igrejas locais.

No dia 14 de Abril de 2013, o Papa Francisco anunciou a reforma da cúria e constituiu uma comissão mundial de oito cardeais. O Papa espera que as primeiras sugestões desta comissão sejam expressas no início de Outubro. Até ao momento, não foi atribuída qualquer tarefa pontifícia a este organismo. Até agora, nenhum dos cardeais envolvidos proferiu qualquer comentário. Mas a reforma da cúria, como primeiro passo de uma reforma estrutural integral da Igreja Católica Romana, é tão importante que o essencial deveria ser debatido publicamente.

É por isso que o MOVIMENTO INTERNACIONAL NÓS SOMOS IGREJA coloca as seguintes perguntas agora, antes da reunião da comissão, que deverá realizar-se no início de Outubro de 2013:

1. Quais os objectivos da planeada reforma, quais os conceitos subjacentes e quais as propostas concretas dos cardeais?

2. Os cardeais consultaram previamente as conferências episcopais e as organizações laicas dos seus países e continentes?

3. Que acções serão tomadas relativamente aos escândalos mundiais de abusos e de ocultações?

A nomeação de uma comissão consultiva internacional é um passo importante para uma liderança eclesial mais cooperativa e participativa, dadas as inúmeras e graves crises (Vatileaks, Banco do Vaticano, Sociedade de S. Pio X, falta de cooperação, etc.) e as decisões erradas tomadas pelos líderes da Igreja. Mas é preciso ir mais longe. A Cúria Romana cimentou o seu poder absoluto ao longo dos séculos!

É importante que a tão necessária reforma aumente não apenas a eficácia da cúria, mas contribua igualmente para um espírito de transparência, de modo a que a pluralidade colegial e as estruturas democráticas da Igreja institucional consigam progredir (por ex. “a separação de poderes”: independência legislativa, executiva e judicial). As mulheres, que constituem mais de metade dos membros da Igreja, quase não têm representatividade nem participam nas decisões. É preciso desenvolver novas estruturas de comunicação e liderança que correspondam às exigências do Evangelho e satisfaçam as necessidades de uma rede mundial de comunidades de fiéis oriundas de diversos contextos culturais. É preciso indagar como foi possível organizar, no Vaticano, um lobby de homossexuais, como afirmou o Papa Francisco, e saber o que é preciso fazer para evitar futuros lobbies deste tipo. É preciso esclarecer como é possível existir no Vaticano qualquer tipo de lobby.

O próprio Papa Francisco mencionou “vinho novo em odres velhos” e referiu-se à tradição da Igreja que permite a renovação teológica e estrutural através do diálogo com pessoas de diversas culturas (cf. a homília do Papa de 6 de Julho de 2013). Razões pelas quais se esperam dele decisões fundamentais durante o seu papado, que implicarão o abandono de princípios e doutrinas obsoletos a fim de garantir um futuro vivo e saudável para a Igreja Católica. É preciso reunir, o mais rapidamente possível, uma comissão de peritos em história da Igreja, teologia sistemática e exegese, que aborde as questões relacionadas com os problemas dogmáticos.

Respeitando naturalmente a tradição e a continuidade, devem ser promovidas uma nova cultura e estrutura fundamentais e o processo deve caraterizar-se pelo diálogo, pela comunhão, pela reforma e pela abertura – segundo o Concílio Vaticano II (1962-65), o qual continua a ser fonte de directrizes válidas e preciosas. Para o Vaticano, isto significa mais comunicação em vez de controlo, mais espiritualidade e abertura de espírito em vez de sanções.

O Movimento Nós Somos Igreja acredita que as decisões fundamentais devem incidir:

1. Na descentralização das decisões tomadas na Igreja e na concessão de mais direitos e responsabilidades às igrejas locais

2. Na representação em Roma de todas as igrejas existentes no mundo

3. Na emancipação das mulheres a todos os níveis

4. Na responsabilidade colegial e no abandono de estruturas absolutistas e monárquicas

5. Na implementação de direitos humanos na Igreja

6. Num código de conduta, incluindo a responsabilização da hierarquia da Igreja perante o povo de Deus.

Tradução de Luísa Vasconcelos Abreu
12 de Agosto de 2013

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