03 outubro 2013

Nem todo o Povo de Deus concorda com a canonização de João Paulo II.


Nem todo o Povo de Deus concorda com a canonização de João Paulo II.
A opinião do Movimento Internacional Nós Somos Igreja

Hoje, o Papa Francisco anunciou no Consistório o dia da canonização do Papa João Paulo II, 27 de Abril de 2014 - juntamente com o Papa João XXIII.

A decisão relativa ao Papa João Paulo II não é consensual na Igreja Católica. O Movimento Internacional Nós Somos Igreja já exprimiu a sua opinião num comunicado à imprensa no dia 16 de Janeiro de 2011.

O Papa João Paulo II foi um papa muito controverso. A sua fatalidade reside na discrepância entre o seu compromisso em reformar e em dialogar com o mundo e o seu regresso ao autoritarismo dentro da Igreja.

Foi o seu pendor para o autoritarismo espiritual que contribuiu para a maior tragédia do seu papado: o abuso sexual de milhares de crianças em todo o mundo. Ao manter a hierarquia da igreja numa posição superior à das necessidades do povo, João Paulo II perpetuou um ambiente tóxico no qual era permitido aos presbíteros, muitas vezes repetidamente, abusar sexualmente de crianças desde que o comportamento criminoso fosse mantido em segredo, preservando a imagem pública de uma liderança impoluta.

Talvez um dos melhores reflexos deste comportamento se revele na sólida ligação de João Paulo II à Legião de Cristo e ao seu fundador, Marcial Maciel. Maciel é acusado de décadas de abusos graves contra mulheres e jovens, muitos dos quais foram parcialmente branqueados graças à legislação que João Paulo II aprovou, em 1983, para a congregação religiosa de Maciel, a qual exigia secretismo e proibição de criticar o seu fundador.

Foi igualmente esta necessidade de João Paulo II em manter o controlo hierárquico que conduziu ao decréscimo da Teologia, com um impacto muito negativo na vida das pessoas. A sua tentativa de desacreditar a Teologia da Libertação deixou milhares de pessoas empenhadas na libertação sem o pleno apoio teológico e eclesial que mereciam, enquanto padeciam sob regimes políticos brutais.

O autoritarismo espiritual de João Paulo II revelou-se, igualmente, na sua tentativa de suprimir as conversas sobre a igualdade de género, a qual, por sua vez, privou o mundo católico dos dons naturais que as mulheres trariam à liderança da Igreja. A sua posição contra as pessoas lésbicas, homossexuais, bissexuais e transsexuais (LGBT) torna-o cúmplice de igrejas e governos locais, que continuam a negar igualdade civil e moral às pessoas LGBT. Além do mais, a sua denúncia repetida da utilização do preservativo dificultou as escolhas morais de milhões de pessoas de todo o mundo que tentavam impedir o alastramento do VIH/SIDA e promover a saúde sexual.
            O Movimento Internacional Nós Somos Igreja está convicto de que a beatificação e inevitável canonização não deveriam ser avaliadas pelo facto de um "milagre" poder ser atribuído a determinada pessoa mas antes pelo facto de a vida de alguém encarnar verdadeiramente os valores de Cristo, que buscou não o poder, mas o bem-estar do povo de Deus.
Tradução de Luisa Vasconcelos Abreu 

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