P / INFO: Crónicas
Frei Bento: O
PODER DA ARTE
Pe. Anselmo: Procurar
longe o que está perto
Pe. Tolentino: Passe-vite
Pe. Vitor: O silêncio de Deus
O
PODER DA ARTE
Frei Bento Domingues O.P.
Toda a grande obra de arte, a começar
pela música, levanta sempre a questão da sua humana e divina transcendência,
sem a nomear.
1. Escrevi este texto para introduzir uma
conversa com este título, na Livraria Arquivo de Leiria. É, por isso, anterior
à conversa e não o seu reflexo. É um atrevimento que só me compromete a mim.
A palavra poder evoca realidades muito contrastadas. Tanto pode designar uma
pessoa cheia de saúde, capaz de enfrentar os múltiplos desafios da vida
quotidiana, como exprimir a debilidade extrema: não poder falar, não poder
andar, não poder ver, não poder ouvir, não poder respirar, não poder trabalhar
e sentir essas dolorosas ausências. Um hospital mostra esse contraste entre as
pessoas que cuidam e os doentes que a elas recorrem porque reconhecem nelas o
poder de conseguir remédio para superar o mal que as atingiu.
Fala-se, noutro sentido, da conquista
do poder, seja ele económico, político ou religioso, por vias democráticas,
legítimas ou, então, do acesso a esses mundos através da violência física e
psicológica ou da astúcia fraudulenta. Quando é competente e é conseguido por
caminhos eticamente legítimos, acaba por se traduzir em formas de serviço
público. Quando segue as vias da fraude e da violência, não se destina a servir
e a libertar, mas a dominar. A dominação pode ser económica, política, militar
ou religiosa ou agregar todas essas formas, como acontece com o poder
totalitário.
2.
Perguntam-me qual é o poder de
uma obra de arte. Não se confunde com nenhuma das formas já referidas. Não se
mede pelo seu alcance utilitário. Não serve para outra coisa melhor do que ela
própria. Não é catalogada nas obras de misericórdia, de beneficência ou da
maldade. Não copia a natureza, não a duplica nem a representa.
Diz-se que o poder da arte resulta da
capacidade enigmática de certas obras provocarem a ruptura com as evidências
convencionais da realidade e de criarem um novo e inconfundível mundo de
experiências de fruição estética, pela densidade das emoções que desperta.
Quando se insiste que essas obras não
copiam a natureza, não a duplicam, não a representam, procura-se destruir as
ilusões que as próprias reconfigurações das obras artísticas podem ocasionar e
que impedem o acesso à criação que as torna únicas, inconfundíveis.
A experiência da fruição estética é uma participação no mundo da
imaginação criadora do artista, imaginação liberta e libertadora. Subversiva
por ser o que é.
Numa entrevista a Ai Weiwei, artista chinês, activista, dissidente,
preso e exilado, foi-lhe perguntado: a arte pode ser uma ameaça para o poder
totalitário? «Acho que sim. Eles passam o tempo todo a dizer às pessoas que são
poderosos. No entanto, só são poderosos porque utilizam a violência, recorrendo
à força do Exército. É um poder feito de armas. Não são poderosos de
pensamento, não são poderosos de espírito. Não são sequer capazes de nos olhar na
cara ou ir a uma escola de arte. Não têm qualquer capacidade argumentativa. Que
poder podem ter? Quão poderosos podem ser? É por isso que a arte é importante.
Fala pelo e através do pensamento das pessoas e não quer saber da violência
para nada. A arte tem mais poder do que eles. A arte mostra o poder do
pensamento humano, o poder da nossa imaginação»
[1].
3. A arte questiona o mundo das
aparências e suscita obras que testemunham o poder da imaginação criadora,
provocando emoções de pura beleza. Onde havia apenas uma pedra de mármore,
Michelangelo extraiu a sua Pietà, que não estava na pedra, mas no poder da sua
imaginação transfiguradora, presente em todas as formas de arte, seja no campo
da música, da literatura, do teatro, da pintura, da escultura ou da
arquitectura.
Todas essas formas tiveram, ao logo da
história dos povos e das culturas, as expressões mais surpreendentes e todas
suscitam a mesma pergunta: o que há de especial nessas expressões que as torna
autênticas obras de arte e lhes dá um poder de sedução inconfundível?
Essa resposta deveria surgir daquilo
que se chama estética, mas esta lida com o enigma. Não existe uma ciência
objectiva para discernir o que é e o que não é uma obra de arte. Quando é que o
arranjo dos sons produz uma música sublime? Quando é que o arranjo das palavras
produz um poema, um romance, um conto aos quais se volta sempre? Quando é que o
arranjo das cores produz uma pintura que desloca multidões para a contemplar?
Quando é que o trabalho sobre a madeira ou a pedra produz uma escultura? Quando
é que a construção de um espaço constitui uma obra de arquitectura?
Entre os muitos arranjos das palavras,
dos sons, das cores, dos trabalhos em madeira, pedra ou metal uns são
considerados obras de arte impressionantes e outros são considerados
irrelevantes, banais, para não dizer pirosos ou foleiros. A divulgação da
mediocridade encadernada, pintada ou musicada, servida por alguns meios de
comunicação, tem o enorme poder de poluir o gosto, impossibilitando uma
autêntica experiência estética.
De matérias banais podem ser feitas
obras geniais e de matérias nobres podem sair produtos que só o mau gosto pode
consumir.
Sem evocar, aqui, os grandes monumentos
da Ásia, da Índia, das Américas, da Europa, podemos perguntar o que seria, por
exemplo, da Itália sem o poder das suas imensas obras de arte? Que seria de
Paris sem a catedral de Notre Dame? Mais perto de nós, que seria de Lisboa sem
os Jerónimos, de Alcobaça sem o seu mosteiro, da Batalha sem o convento de
Nossa Senhora das Vitórias, de Tomar sem o convento de Cristo?
Qual é o poder de todas essas obras,
para além do lucro económico que o turismo consegue? Não sei responder.
Verifico, apenas, que testemunham de uma beleza que, se os seus suportes
materiais pudessem, seria eterna. Os seus autores morrem, elas não. Toda a
grande obra de arte, a começar pela música, levanta sempre a questão da sua
humana e divina transcendência, sem a nomear. Provocam emoções que nenhum mundo
pode conter, porque são a reconfiguração de um mundo que excede todos os
mundos. A sua materialidade sugere o imaterial, porque a sua linguagem é sempre
metafórica, de múltiplas significações, inesgotáveis e resistentes a qualquer comentário.
Deixo, para uma próxima oportunidade, o
comentário de uma obra apresentada, na passada quinta-feira[2], que
testemunha, o poder que a arte moderna tem de evocar, na sua imanência, a
transcendência humana e divina.
in Público,
20. 10. 2019
https://www.publico.pt/2019/10/20/culturaipsilon/opiniao/arte-1890546
[1]
Por Alexandra Carita, Revista do Expresso, 12. Outubro, 2019, pp.34-40
[2]
João Alves da Cunha e João Luís Marques (Coord.), Dominicanos. Arte e arquitectura portuguesa. Diálogos com a
Modernidade, Edição de CEHR UCP e do ISTA, 2019.
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Procurar longe o que está perto
Anselmo
Borges
Padre e
Professor de Filosofia
Três estórias.
1.
1.1 O grande filósofo Martin Buber, no seu livro Der
Weg des Menschen (O Caminho do Homem), retomou a estória de Eisik filho de
Yékel, de Cracóvia.
Apesar
da sua miséria, nunca deixou de confiar em Deus. Num sonho, foi-lhe ordenado
que fosse a Praga "para procurar um tesouro debaixo da ponte que leva ao
palácio real". Quando o sonho se repetiu pela terceira vez, Eisik pôs-se a
caminho de Praga, a pé. Mas não podia escavar no lugar indicado, porque a ponte
era vigiada dia e noite pelas sentinelas. Voltava todas as manhãs, andando para
trás e para a frente durante o dia todo. Por fim, o capitão da guarda,
intrigado, aproximou-se amavelmente para se informar do que se passava, o que
quereria Eisik: "Tinha perdido alguma coisa ou estava à espera de
alguém?" Aí, Eisik, dada a cordialidade do capitão, contou-lhe o seu
sonho, e o capitão estoirou às gargalhadas: "E é para satisfazer um sonho
que vieste de tão longe, gastando as solas no caminho? Ah! Ah! Meu velho, se
fôssemos em sonhos, também eu deveria pôr-me a caminho por causa de um sonho
que tive e ir a Cracóvia a casa de um judeu, um tal Eisik filho de Yékel, para
procurar um tesouro debaixo do forno! Já viste? Nessa cidade, na qual metade
dos judeus se chama Eisik e a outra Yékel, estou mesmo a ver-me a entrar, umas
atrás das outras, nas casas todas!"
O
capitão continuava a rir. Eisik inclinou-se numa saudação, voltou à sua casa em
Cracóvia e desenterrou o tesouro que há tanto tempo o aguardava!
1.2.
Também se conta que uma vez um peixinho muito jovem foi ter com outro peixinho,
também jovem, para perguntar-lhe: "Onde é o oceano?" Ele
respondeu-lhe: "Também já fiz a mim mesmo a pergunta, mas não sei
responder." Foi então perguntar a um peixe mais velho, que soberanamente
se movia no oceano: "Onde é o oceano? Ninguém me sabe responder." E o
mais velho: "Então tu nasceste no oceano, nadas no oceano, vives no oceano
e perguntas onde é o oceano?!"
1.3. A
terceira estória é uma velha lenda hindu, retomada pelo teólogo Jean Vernette.
Houve
um tempo em que todos os homens eram deuses, mas, tendo abusado da sua
divindade, o senhor dos deuses, Brama, decidiu retirar-lhes o poder divino. O
problema foi encontrar um lugar onde escondê-lo, de tal modo que fosse
impossível o Homem reencontrá-lo. Os deuses menores foram convocados e
aconselharam a meter a divindade do Homem na terra. Mas Brama respondeu que o
Homem havia de escavar e encontrá-la. Então, lancemos a divindade ao mais
profundo dos oceanos, replicaram os deuses. Mas Brama disse: "Não, pois,
mais cedo ou mais tarde, o Homem há de explorar os oceanos até às profundezas,
encontrá-la-á e voltará com ela para a terra." Os deuses menores não
encontravam solução, concluindo: "Não sabemos onde escondê-la, já que não
parece existir nem na terra nem no mar lugar que o Homem não possa um dia
alcançar." Então, Brama disse: "Eis o que faremos da divindade do
Homem: vamos escondê-la no mais profundo dele mesmo, pois será o único lugar
onde ele nem sequer pensará em procurar..."
E,
desde então, como ensina o breve apólogo do Vedanta, o Homem deu a volta à
Terra, explorou, subiu, mergulhou e escavou... à procura - longe, muito longe
dele -, à procura de algo que se encontra nele, no mais íntimo dele...
2.
Agora, já não é uma estória, mas história. Cito o discurso célebre de São Paulo
no Areópago. Em Atenas: de pé, no meio do Areópago, Paulo disse então:
"Atenienses, vejo que sois, em tudo, os mais religiosos dos homens.
Percorrendo a vossa cidade e examinando os vossos monumentos sagrados, até
encontrei um altar com esta inscrição: Ao Deus desconhecido. Pois bem! Aquele
que venerais sem o conhecer é esse que eu vos anuncio. O Deus que criou o mundo
e tudo quanto nele se encontra. Ele, que é o Senhor do Céu e da Terra, não
habita em santuários construídos pela mão do Homem nem é servido por mãos
humanas, como se precisasse de alguma coisa, Ele, que a todos dá a vida. Que os
homens procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo, mesmo tateando, embora
não se encontre longe de cada um de nós. É n'Ele, realmente, que vivemos, nos
movemos e existimos, como também o disseram alguns dos vossos poetas: 'Pois nós
somos também da sua estirpe'."
in DN, 20.10.2019
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/20-out-2019/procurar-longe-o-que-esta-perto--11424143.html
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QUE COISA SÃO
AS NUVENS
JOSÉ TOLENTINO
MENDONÇA
PASSE-VITE
A VELHICE
APRESENTA INTERROGAÇÕES E DILEMAS ESPECÍFICOS, MAS É BEM MAIS DO QUE UMA IMAGEM
ESTEREOTIPADA
A patente deste equipamento de cozinha tem registo datado de
1928, em nome do inventor belga Victor Simon, mas a verdade é que o famoso
ralador de inox, mais ou menos se universalizou, e por duas razões: passa
depressa os alimentos e deixa-os com uma consistência que facilita a
deglutição. Dá que pensar a expressão “passe-vite”. De facto, não são apenas os
legumes que giram em velocidade entre as hélices do ralador. Da nossa própria
vida podemos dizer que um dos seus traços é esse: no seu trânsito frágil,
fascinante e inelutável, ela passa depressa. Tenho um bando de amigos que,
pesando tudo isso, se autodenominou ‘passe-vite’. Cruzaram-se nos tempos de
universidade, cimentaram a amizade nessa outra escola de vida que é o
voluntariado social, maturaram as próprias escolhas na partilha da palavra e do
silêncio, da fé e da procura. Há anos que se encontram regularmente, que se
encontram a bem dizer por nada, apenas no desejo de regar as raízes do seu
futuro comum, pois a conspiração que os anima é a de, na velhice, poderem viver
todos juntos (na mesma casa, no mesmo lar, na mesma jangada, no mesmo bosque).
Um dia convidaram-me para um desses encontros, e sinto também que por nenhuma
razão em especial: queriam simplesmente estar, estar com a pessoa, mais do que
ouvir falar sobre um tema. Foi aí que me explicaram a rir o seu projeto, esclarecendo
que, entre eles se chamavam assim, “porque a vida passe vite e porque quando
arrancarem finalmente com a comunidade de idosos terão já de comer a paparoca
mais passada”. Primeiro ri com eles até às lágrimas, com a sua louca e
sapientíssima ligeireza, mas depois dei por mim só com lágrimas descendo-me
pelo rosto, pois aquele bando de jovens adultos, que aparentemente não queria
nada, me estava afinal a mostrar oceânicas profundezas da vida.
Cada um de nós envelhece à sua maneira, com a sua própria dicção e os
seus limites, os seus contextos e os seus sonhos, mas temos muito que aprender
uns com os outros
Recordei-me deles estes dias ao ler um livro de Marta C.
Nussbaum e Saul Levmore, amigos de longa data e colegas na Faculdade de Direito
da Universidade de Chicago, intitulado “Envelhecer Com Sabedoria. Diálogos
Sobre a Vida, o Amor e o Remorso”. E a lição que se retira dessas conversas
entre a filósofa e o jurista é que há um défice de pensamento sobre a velhice
que se torna urgente inverter. Cada um de nós envelhece à sua maneira, com a
sua própria dicção e os seus limites, os seus contextos e os seus sonhos, mas
temos muito que aprender uns com os outros. E a verdade é que falamos pouco
sobre isso ou, pelo menos, não de forma suficiente e aberta. Trata-se, no
fundo, de preparar juntos uma etapa da vida como, a seu tempo, foi acompanhada
a infância, a iniciática adolescência ou cada um dos ciclos da vida adulta. E
da mesma maneira que, nessas outras etapas, também o discurso das competências
externas e dos recursos internos se deve colocar. A velhice apresenta
interrogações e dilemas específicos, mas é bem mais do que uma imagem
estereotipada. Associadas às dores há o saborear de alegrias talvez ainda não
experimentadas. A par das preocupações, é possível provar, não raro, uma serena
liberdade na forma de estar com os outros, uma compreensão mais ampla e
maturada do real, uma criatividade mais afetuosa e menos temerosa. No meio de
tanta transformação que a velhice comporta, ela permite enfrentar não só a
perda, mas também o amor; não só a solidão, mas também formas novas de presença
e companhia; não só a avolumar das necessidades, mas também o gratuito perfume
do dom. A velhice pode ser uma oportunidade para viver de forma mais
reconciliada, pacificadora, espiritual e atenta, na fidelidade a essa arte que
nos está confiada: a de dizer e redizer infinitamente o amor.
in Semanário Expresso, 18.10.2019 p164
https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2451/html/revista-e/que-coisa-sao-as-nuvens/passe-vite
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À PROCURA DA PALAVRA
P. Vítor Gonçalves
DOMINGO XXIX COMUM Ano C
“Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos,
que por Ele clamam dia e noite,
e iria fazê-los esperar muito tempo?”
Lc 18, 7
O
silêncio de Deus
Para
que serve a oração? É uma pergunta colocada numerosas vezes. Muitas pessoas, de
todas as religiões, dizem rezar todos os dias de mil e uma maneiras diferentes.
É talvez o elemento religioso por excelência que une os crentes: falar com
Deus, escutar o que Ele diz. E qual a importância da oração? Gonçalo M.
Tavares, no seu livro “Aprender a rezar na era da técnica”, apresenta a oração
e, substancialmente o silêncio que ela proporciona, em contraste com a
“omnipotência” humana de um homem que vive dominado pela conquista de poder.
Se a
oração é diálogo, abertura e encontro, é preciso despojarmo-nos de a
instrumentalizar. Um ancião passava em silêncio longas horas na Igreja. Um dia,
um sacerdote perguntou-lhe o que Lhe dizia Deus. “Deus não diz nada. Só
escuta!” “Então, o que é que você lhe diz?”. Sorrindo, o ancião respondeu: “Eu
também não digo nada. Só escuto!” Diálogo de surdos, dirão alguns; silêncio de
namorados, retorquirão outros! Será certamente um “silêncio habitado”, aquele
onde tudo pode acontecer.
É o
silêncio de Deus que mais “fere” quem lhe pede graças tão importantes como a
justiça, a saúde de alguém que se ama, a paz sempre adiada, a vida um pouco
melhor. Mas a parábola deste domingo, sublinha a paciência e a persistência de
quem pede. Jesus confirma o poder da oração, mesmo naquilo que depende do
coração dos homens. O juiz iníquo não mudará a sua atitude profunda, mas
vencido pela insistência da mulher, irá realizar o que lhe pede. É a forma de
“Deus escrever direito por linhas tortas” como o povo aprendeu a descobrir? A
desculpa de que “não temos tempo”, a imediatez que impomos a tudo, a facilidade
de “passar a bola a Deus” demitindo-nos do nosso esforço, não nos impedirão de
ouvir o que Deus nos diz no seu silêncio? Quantas guerras e injustiças não
seriam vencidas pela força de homens e mulheres a enfrentar aqueles que as
alimentam?
Os
braços abertos de Moisés para Deus, no meio da batalha, davam força ao seu
povo. E mostram o primeiro fruto da oração: receber a força de viver, a força
de amar, de perdoar e de dialogar, de abrir-se ao outro e de partilhar. É a
atitude da viúva que nos dá o segundo fruto da oração: a coragem de insistir, e
a paciência de esperar. Deus não é indiferente nem surdo ao que lhe dizemos. E
nós, com que fé rezamos, com que fé vivemos e nos convertemos? Se a resposta de
Deus a todas as nossas súplicas é a vida de Cristo, oferecida plenamente na
Páscoa, como passamos da exigência de “tem de ser como eu desejo” à humildade
de “nas tuas mãos entrego o meu espírito?”
Jesus
não rezava para nos dar exemplo. É a condição natural de quem é filho e sabe
que é amado pelo Pai. Estar e conversar com quem se ama não é uma das maiores
felicidades? E tudo ganha luz nesse encontro. O silêncio fica grávido de vida.
Os impossíveis transfiguram-se, as forças renovam-se, a comunhão abraça-nos.
Não é fuga mas compromisso com a vida. Começando a amá-la como é e trabalhando
para que seja plena. Como não encontrar tempo para este milagre?
in Voz
da Verdade, 20.10.2019
http://www.vozdaverdade.org/site/index.php?id=8458&cont_=ver2
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