P / INFO: Crónicas,
& Capela do Rato, horários das celebrações
Frei
Bento: A vida é um exercício de esperança
Pe.
Anselmo: Fratelli tutti (4). A fraternidade e as religiões
Cardeal Tolentino:
A morte é uma flor
Pe. Vítor
Gonçalves: Santos? Nós?
A
VIDA É UM EXERCÍCIO DE ESPERANÇA
Frei Bento Domingues, O.P.
Evitar
a pergunta sobre o sentido da nossa passagem pela terra é descuidar a questão
essencial.
1. Segundo o grande historiador das
religiões, Mircea Eliade, a crença na vida para além da morte está demonstrada
desde os tempos mais remotos. As primeiras sepulturas conhecidas confirmam a antiguidade
dessa crença. Os enterros direccionados para Oriente – e os usos dos seus
rituais – indicavam a intenção de conectar a sorte da alma com o curso do sol,
ou seja, a esperança num “renascimento”, a existência num outro mundo com
marcas e utensílios das ocupações da vida anterior. Daí a sua conclusão: o homo faber era também homo ludens, sapiens e religiosus[1].
A festa de Todos os Santos e a
celebração de Todos os Fiéis Defuntos podem ser estudadas como fenómenos
internos do cristianismo, mas também em ligação com outra história subjacente:
a história da cristianização de festas e mitos pagãos.
O desejo de viver e de renovar a vida
parece fazer parte de qualquer ser humano. Para uns, a morte apresenta-se como o
fim dessa utopia. Para outros, é inconcebível que esse desejo natural possa ser
frustrado e acreditam, de modos muito diferentes, que a morte não é a última
palavra.
Diz-se que a biomedicina actual promete
a imortalidade do corpo neste mundo[2]. Veremos, como dizia o ceguinho.
2. A posição do ser humano, na totalidade
do cosmos, continua muito periférica,
embora carregada de perguntas. Que são, afinal, os meus anos de vida em
comparação com a idade da humanidade? Que são os 100.000 anos da humanidade em
comparação os 13 milhões de anos do cosmos? E para onde vai a grande história
do cosmos? Para onde vai a humanidade e para onde vou eu próprio?
No nosso tempo, essa problemática
assumiu dimensões que nos afectam, na relação e no comportamento com o nosso
planeta, que não podemos ignorar. Apesar de todos as incoerências – devido sobretudo
aos falsos interesses das grandes potências – vai crescendo a sensibilidade a
respeito do ambiente, do cuidado com a natureza e com tudo o que de negativo está
acontecer à Casa Comum.
Quando se pergunta que tipo de mundo se
procura deixar às futuras gerações, a resposta não pode ser fragmentária. O Papa
Francisco, com a Encíclica Laudato SI,
tentou abrir o caminho para uma ecologia integral, ajudando-nos a tomar
consciência de que, sem nos reconhecermos como irmãos – Fratelli Tutti –, deitamos a perder as melhores
conquistas da história humana. Evitar a pergunta sobre o sentido da nossa
passagem pela terra é descuidar a questão essencial. Não somos seus donos,
estamos de passagem e devemos deixá-la melhor do que a encontramos.
Temos, por isso, o direito e o dever de
nos apaixonarmos pelas coisas da Terra, como dizia P. Teilhard de Chardin. Na
poética bíblica, são coisas do jardim de Deus para o trabalho e alegria de
todos os seus filhos e filhas: um ensaio para entrar nos misteriosos novos céus e nova terra, onde serão
enxugadas todas as lágrimas[3].
3. O Credo cristão apresenta-se como um
tecido das razões da grande esperança, alma da religião. Termina assim: e espero a ressurreição dos mortos e a vida
do mundo que há-de vir. Ámen[4].
Não diz como é que isso possa acontecer
e duvido das explicações teológicas que encontrei. Inscrevo-me na prática da
antiga teologia negativa que exige o salto da negação para obter afirmações que superem a própria analogia.
Para mim, esta confissão de esperança é
uma admirável e rotunda recusa do niilismo. Para quem acredita que Jesus Cristo
é Deus-connosco, a última palavra
sobre a aventura humana não pode ser a evidência empírica da morte. Deus pode
querer os seus filhos e filhas, para sempre, irmãos e irmãs de Cristo crucificado.
Um
processo de canonização é muito caro, muito selectivo, muito influenciado pela
geografia, em alguns casos muito demorado e noutros parece demasiado apressado.
De qualquer modo, não corresponde à fantástica visão do Apocalipse – livro
admirável da resistência cristã – proclamada, hoje, na celebração de Todos os Santos: «uma multidão imensa
que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas» fazem parte do verdadeiro corpo místico
de Cristo.
Nesta celebração, além do texto referido
do Apocalipse, a 1ª Carta de S. João
é de uma ousadia extrema. Insiste que já somos filhos de Deus, mas ainda não vemos
Aquele em quem pusemos a nossa esperança. Quando se manifestar, então, veremos
não só quem Ele é, mas descobriremos também que somos mesmo semelhantes a Deus[5].
As famosas bem-aventuranças são o tema
do Evangelho de S. Mateus, seleccionado para a celebração de Todos os Santos. É
paradoxal: felizes são os infelizes. Felizes
os pobres, deles é o Reino dos Céus; felizes
os humildes, possuirão a terra; felizes
os que choram, serão consolados; felizes
os que têm fome e sede de justiça, serão saciados; felizes os misericordiosos, alcançarão misericórdia; felizes os puros de coração, verão a
Deus; felizes os que promovem a paz,
serão chamados filhos de Deus; felizes os
que sofrem perseguição por amor da justiça, deles é o Reino dos Céus. E
conclui, dirigindo-se aos discípulos: «bem-aventurados sereis, quando, por
minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal
contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa»[6].
Não se trata de uma reportagem, em
directo, de um sermão ou de alguém que tinha uma memória prodigiosa para reter
e conservar palavras que só foram escritas cerca de 50 anos depois. Os
Evangelhos são interpretações contextuais, não traições, para transmitir o
espírito de Cristo, segundo as necessidades das comunidades cristãs, em tempos
diferentes.
Neste sermão, são alterados os critérios
mundanos da felicidade. Foi-nos revelado que Deus vê o mundo a partir da
periferia, dos que são deixados ao abandono. Só nos parecemos com Deus, quando
é também esse o nosso olhar e o nosso cuidado. Mas é, também, um corte com os
desejos que Jesus notava nos seus discípulos: eram pobres, mas com o sonho de
se tornarem ricos, poderosos, dominadores. As bem-aventuranças são uma radical alteração
de valores, acompanhadas pelas obras de misericórdia, pelas quais somos
julgados.
A vida é um exercício de esperança, como
diz Enzo Bianchi, não de enganos. Quando em certa pregação e espiritualidade se
insistia: sofre, sofre agora porque estás a ganhar um lugar no céu, estava a
perverter o espírito cristão da esperança.
Neste doloroso tempo de pandemia, as
bem-aventuranças estão a ser vividas por crentes e não crentes que ajudam a
resistir à sua cruel devastação.
Sem esperança é impossível viver.
in Público 01.11.2020
https://www.publico.pt/2020/11/01/opiniao/opiniao/vida-exercicio-esperanca-1937350
[1] Cf. Hans Küng, Vida Eterna? Cristiandad,
Madrid, 1983, pp.94-96
[2] Cf. Daniel Serrão, Questões de Bioética, in Deus no século XXI e o futuro do
Cristianismo (Coord. Anselmo Borges), Campo das Letras, 2007, pp. 333-345.
[3] Ap 21, 1
[4] Credo Niceno-Constantinopolitano
[5] 1 Jo 3, 1-3
[6] Mt 5, 1-12
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Fratelli tutti (4). A fraternidade e as religiões
Do
tríptico liberdade, igualdade e fraternidade, é a fraternidade que, sem a
referência à transcendência, tem dificuldade em encontrar um fundamento último
sólido. Por isso, Francisco escreve: "Como crentes, pensamos que, sem uma
abertura ao Pai de todos, não pode haver razões sólidas e estáveis para o apelo
à fraternidade. Estamos convencidos de que só com esta consciência de filhos
que não são órfãos podemos viver em paz entre nós. Com efeito, a razão, por si
só, é capaz de ver a igualdade entre os homens e estabelecer uma convivência
cívica entre eles, mas não consegue fundar a fraternidade."
A
própria ética, embora autónoma, terá dificuldade em estabelecer um fundamento
inabalável, sem essa abertura à transcendência. De facto, o ser humano é
terrivelmente carente e, por isso, irracionalmente egoísta e está sempre sob o
perigo de ser sub-repticiamente assaltado pela pergunta: porque é que hei-de
fazer o bem e cuidar do outro em necessidade mesmo quando isso agride os meus
interesses e me prejudica? Neste contexto, Francisco continua, derrubando a
acusação feita por católicos conservadores de fomentar o relativismo:
"Quero lembrar um texto memorável de João Paulo II: "Se não existe
uma verdade transcendente, na obediência à qual o homem adquire a sua plena
identidade, então não há qualquer princípio seguro que garanta relações justas
entre os homens. Com efeito, o seu interesse de classe, de grupo, de nação
contrapõe-nos inevitavelmente uns aos outros. Se não se reconhece a verdade
transcendente, triunfa a força do poder, e cada um tende a aproveitar-se ao
máximo dos meios à sua disposição para impor o próprio interesse ou opinião,
sem atender aos direitos do outro. A raiz do totalitarismo moderno deve ser
individuada na negação da transcendente dignidade da pessoa humana, imagem
visível de Deus invisível, e precisamente por isso, pela sua própria natureza,
sujeito de direitos que ninguém pode violar: indivíduo, grupo, classe, nação ou
Estado. Nem tampouco o pode fazer a maioria de um corpo social lançando-se
contra a minoria.""
2
A maior parte da Humanidade continua a afirmar-se religiosa. Francisco está
convicto - por isso, confia e espera - de que as religiões todas, de acordo com
a sua essência e razão de ser, levarão à prática, por palavras e obras, o que
constitui o fundamento e o mandamento principal de todas elas: o amor, a
misericórdia, a paz, a fraternidade. Por isso, acrescenta: "Como crentes
das diversas religiões sabemos que tornar Deus presente é um bem para as nossas
sociedades." Daí, a exigência da liberdade religiosa: "Conheceis bem
a brutalidade a que pode conduzir a privação da liberdade de consciência e da
liberdade religiosa, e como desta ferida se gera uma Humanidade radicalmente
empobrecida, porque fica privada de esperança e de ideais." Quando se
expulsa Deus da sociedade, "acaba-se adorando ídolos e bem depressa o
próprio homem se sente perdido, a sua dignidade é espezinhada, os seus direitos
violados".
O
cristianismo e o islão juntos somam mais de metade da Humanidade, e Francisco
confessa que, para esta encíclica, recebeu estímulo do "Documento sobre a
fraternidade humana", assinado por ele e pelo Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb
em Abu Dhabi em 2019, no qual se recorda que Deus "criou todos os seres humanos
iguais nos direitos, nos deveres e na dignidade e chamou-os a conviver como
irmãos."
Dirige-se
a todos, não só aos crentes. Aliás, há ateus que vivem mais de acordo com a
vontade de Deus do que alguns crentes: "Quando chegar o último dia e
houver luz suficiente na Terra para poder ver as coisas como são, não faltarão
surpresas!"
3.
E a inevitável pergunta sobre a violência e a opressão brutais exercidas ao
longo dos séculos pelas religiões, de que o exemplo mais recente é a morte de
Samuel Paty, professor francês, degolado em nome de Alá, por defender a
liberdade de pensamento e de expressão? Como resposta, penso que há dois
princípios imprescindíveis, irrenunciáveis.
3.1
Quem é a pessoa religiosa, crente? Aquele, aquela que, perante as perguntas religioso-metafísicas,
inevitáveis: qual é o Fundamento último de tudo, qual é o Sentido final da
minha existência, da História, do mundo, ousa entregar-se confiadamente ao
Sagrado, ao Mistério último, ao Absoluto, a que também se dá o nome de Deus, do
qual espera Sentido último e salvação. As religiões, essas, são tentativas de
dizer e tornar presente o Mistério, o Absoluto, mas elas não são o Absoluto.
Por isso, como escreveu Kant, as religiões, apesar da sua majestade, não são
imunes à crítica. Pelo contrário, já que nelas há de tudo: o melhor e o pior.
Este
princípio tem uma aplicação concreta, essencial: os Livros sagrados não são
ditados de Deus, são Palavra de Deus em palavras humanas. Por isso, exigem
interpretação histórico-crítica, sendo critério decisivo da sua verdade a ética
a defesa da dignidade de todos, a promoção da fraternidade universal e da paz.
3.2
Para garantir a liberdade religiosa de todos - ter esta ou aquela religião, não
ter nenhuma, mudar de religião -, exige-se a separação da religião e da
política, o Estado tem de ser confessionalmente neutro, não podendo ter uma
religião oficial. É o princípio da laicidade, que não laicismo - este seria a
religião da não religião, ao pretender remetê-la exclusivamente para o domínio
da esfera privada ou íntima, ignorando que a religião também tem lugar no
espaço público.
Padre
e professor de Filosofia.
Escreve
de acordo com a antiga ortografia
in DN 31.10.2020
www.dn.pt/edicao-do-dia/31-out-2020/fratelli-tutti-4-a-fraternidade-e-as-religioes--12977595.html?target=conteudo_fechado
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QUE COISA
SÃO AS NUVENS
JOSÉ
TOLENTINO
MENDONÇA
A MORTE É UMA FLOR
É sabido
como, no seu “Cântico das Criaturas”, São Francisco de Assis apelida de irmãos
e irmãs o sol e as estrelas, o vento e as nuvens, a água ou o fogo. Mas apenas
por duas vezes nessa composição se usa o possessivo para dizer não irmã mas
“nossa irmã”. A primeira é quando Francisco se refere à terra: “Louvado sejas,
meu Senhor,/ pela nossa irmã, a mãe terra,/ que nos sustenta e governa,/ produz
frutos diversos,/ flores e ervas.” A segunda vez é quando fala da morte:
“Louvado sejas, meu Senhor,/ pela nossa irmã, a morte corporal,/ da qual homem
algum pode escapar.” A terra e a morte são, de facto, duas experiências que
substancialmente definem o âmago da nossa humanidade. Somos criaturas terrenas
e seres destinados a realizar a experiência da morte.
Pensar o que é a
morte corresponde, deste modo, a abraçar o que a vida é. A morte está connosco
desde sempre e, mesmo se não nos damos conta, acompanha-nos. No poema onde Paul
Celan explica que “a morte é uma flor”, refere também que ela floresce quando
quer, mesmo fora da sua estação. E Celan insiste na familiaridade que cada um
de nós é chamado a criar vida fora com a sua morte. Se repararmos bem, ela já
“vem, grande mariposa, adornando os caules ondulantes”. Há, de facto, uma
inevitável relação a trabalhar: aquela de cada um de nós com o horizonte da
própria morte. Os textos bíblicos sapienciais insistem muito nisso: “Homem, recorda-te
que és mortal”, “Homem, transforma o facto de teres os dias contados numa fonte
de sabedoria” (cf. Sl 90:12). O que não quer dizer que alguma vez conseguiremos
remover a tensão que a ideia da morte nos desperta ou que esta se deva tornar
indolor e pacífica para nós.
Somos criaturas terrenas e
seres destinados a realizar a
experiência da morte. Pensar o que é a morte corresponde, deste modo, a abraçar
o que a vida é
Por exemplo, tão ou
mais doloroso do que encarar a nossa morte é sofrer a morte daqueles que
amamos. Um testemunho pungente no cristianismo antigo chega-nos através da
amizade que ligou dois importantes teólogos do século IV, Gregório de Nazianzo
e Basílio de Cesareia. Meditando no afeto que os irmanava, Gregório escreveu
que lhe parecia muitas vezes serem uma só alma em dois corpos. E no lamento
pela morte de Basílio deixou uma das mais realistas descrições sobre o que o
luto representa: “Se me viessem contar que um corpo poderia viver sem a sua
alma eu acreditava. Mas não que poderia viver sem ti.” É realmente impossível
viver sem os outros. A ausência daqueles que amamos continuará a doer-nos até
ao fim. E continuaremos, até ao fim, a trabalhar interiormente esse vazio, que
depois se descobre não ser só vazio mas também excedência, também companhia,
pois a memória dos nossos mortos é uma pátria sagrada que não nos larga. A ela
vamos buscar a força, o entendimento de nós mesmos, a palavra que nos disseram,
o gesto com que nos surpreenderam, o rastro do coração que neles bateu tão
forte e do qual nos sentimos para sempre herdeiros. Penso muitas vezes que
Herberto Helder perdeu a mãe aos 8 anos de idade e que, quase 25 anos depois,
escreveu talvez o mais belo poema da nossa literatura sobre a figura da mãe. O
tempo do afastamento surge transformado em tempo para uma presença que perdura.
O poema de Herberto conclui-se assim: “...o filho senta-se com a sua mãe à
cabeceira da mesa,/ e através dele a mãe mexe aqui e ali,/ nas chávenas e nos
garfos./ E através da mãe o filho pensa/ que nenhuma morte é possível e as
águas/ estão ligadas entre si/ por meio da mão dele que toca a cara louca/ da
mãe que toca a mão pressentida do filho./ E por dentro do amor, até somente ser
possível/ amar tudo,/ e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.”
in
Semanário Expresso, 31.10.2020
leitor.expresso.pt/semanario/semanario2505/html/revista-e/que-coisa-sao-as-nuvens/a-morte-e-uma-flor
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TODOS OS SANTOS Ano A
Pe. Vitor Gonçalves
“Bem-aventurados os
misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia.”
Mt 5, 7
Santos? Nós?
O
mês de novembro começa com dois dias especialmente dedicados a levantarmos os
olhos e o pensamento para mais além da vida deste mundo: o dia de Todos os
Santos e o dos fiéis defuntos. Ambos nos falam da esperança cristã e
caracterizam-se pela universalidade. Não temos aprendido essa realidade com
esta pandemia que nos recorda como todos somos contagiáveis, hospitalizáveis e
mortais? Será que aprenderemos a responsabilidade pela vida de todos, pela cura
de todos, pela dignidade de todos? Ou pensávamos que a frase cheia de esperança
“Todos vamos ficar bem”, colocada em tantas janelas, não implicava verdadeiras
mudanças de estilos de vida?
Celebramos
num dia todos os homens e mulheres, de todos os tempos e lugares, conhecidos e
desconhecidos que viveram o evangelho de Jesus, “olharam o mundo com amor e os
/ homens como irmãos. […] que Te seguiram e contigo conviveram, de modo
admirável: com os que tinham fome partilharam o seu pão / olharam compadecidos
as dores / do mundo e sofreram perseguição por causa da Justiça.” (Maria de
Lourdes Belchior). É a multidão incontável dos “santos ao pé da porta”, na
maravilhosa diversidade de dons colocados ao serviço do Reino, com mais ou
menos conhecimento do Pai que enviou O Filho e nos deu o Espírito Santo, mas
que “o seu presente era já quase só amor”.
E
não será este caminho só para alguns? Jesus indica-o a todos, e o Concílio
Vaticano II disse que essa é a verdadeira “vocação universal”. Nos caminhos de
cada um, com as qualidades e defeitos que temos, como desejamos a felicidade,
assim somos chamados à santidade. Não concordamos que todo o ser humano deseja
ser feliz? É verdade que podemos imaginar muitos modos de sê-lo, mas, à medida
que caminhamos, percebemos que o que nos parecia fácil, que não exigiu esforço,
que só alimentou o egoísmo e o orgulho foram “falsas felicidades”. Assim, as
“Bem-aventuranças” aparecem em “contra-corrente” com o marketing habitual das
felicidades. Ser pobre no coração, reagir com humilde mansidão, saber chorar
com os outros, buscar a justiça com fome e com sede, olhar e agir com
misericórdia, manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor, remear a paz
ao nosso redor, e abraçar diariamente o caminho do Evangelho mesmo que nos
acarrete problemas: isto é santidade (Cf Papa Francisco, Gaudete et exsultate
67-94)
Sim,
na verdade não será para nós, se só contarmos com as nossas forças. Se
quisermos fazer da vida uma corrida, um triunfo, uma glória pessoal. Se
estivermos mais cheios das nossas capacidades do que da alegria de crescer com
outros, de os amar como são (pois é assim que Deus ama), de receber a sua ajuda
e, de querer ser com e como Jesus. Mas acreditem que é mesmo para todos!
in
Voz da Verdade 01.11.2020
http://www.vozdaverdade.org/site/index.php?id=9299&cont_=ver2
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