22 novembro 2020

 

P / INFO: Crónicas & Capela do Rato

Frei Bento: Iremos a tribunal

Pe. Anselmo: A intuição cosmoteândrica: a religião do futuro

 Cardeal Tolentino: Cogumelos, música e silêncio

 Pe. Vítor Gonçalves: A surpresa final

 

IREMOS A TRIBUNAL

Frei Bento Domingues, O.P.

 1. Para o pensador alemão, Peter Sloterdijk, os factos da vida científica e da criação artística nos tempos modernos provam, sem a menor ambiguidade, o fim da era das revelações puramente passivas. Os devotos à antiga têm como missão compreender até que ponto sobrestimaram a revelação religiosa, fazendo dela a chave da essência de todas as coisas e subestimando a iluminação do mundo pela vida desperta, a ciência e as artes. Esse dado coloca a teologia sob a obrigação da aprendizagem, pois ela não tem o direito de deixar romper a ligação com o mundo do saber do outro campo.

Termina o seu livro sobre A loucura de Deus[1] com um credo: «A globalização significa que as culturas se civilizam umas às outras. O Juízo final desemboca num trabalho quotidiano. A revelação torna-se a relação com o ambiente e o relatório sobre a situação dos direitos do homem. Volto assim ao leitmotiv desta reflexão, que se funda na ética da ciência universal da civilização. Repito-o, como um credo, e desejo que tenha suficiente energia para se propagar mediante línguas de fogo: o caminho da civilização é o único que ainda está aberto».

Escreveu isto em 2007. Não perdeu actualidade, embora a alternativa à velha arrogância teológica não pode ter agora uma simétrica arrogância na ciência que seria, por natureza, pouco científica. Mas o seu desejo está a cumprir-se onde, talvez, menos o esperasse. O alegado obscurantismo dos três monoteísmos já não se apresenta como um bloco impenetrável com medo das dúvidas. Algumas manifestações de diálogo entre religiões começam a focar-se na condenação da violência e da guerra em nome de Deus.

Por outro lado, a confiança na eficácia das chamadas ciências da civilização ficou abalada ao não conseguirem civilizar e democratizar a política ou a cultura política do país mais apetrechado em instituições científicas e artísticas, os EUA, como se viu nos últimos 4 anos de apologia da estupidez. Além disso, o referido pensador alemão não podia prever o que aconteceu, em 2013, na Igreja Católica.

Com a eleição do Papa Francisco começou algo de novo que excede as exigências de diálogo entre religiões e entre crentes e não crentes. É ele que está a procurar realizar alianças e coligações entre as culturas religiosas e seculares e a colocar a teologia em atitude de aprendizagem com todos os universos culturais. É a sua própria vivência e interpretação da revelação cristã que o torna fiel à terra e ao céu, ajudando a Igreja a ser menos “mestra” e mais discípula, aprendendo com todos, acolhendo e partilhando todas as experiências que ajudem a vencer o egoísmo e a barbárie entre humanos e com a natureza.

Em poucos anos, tornou-se uma referência para quem deseja um mundo solidário. Não o faz para glória da Igreja, mas para que esta se torne o que sempre deveria ter sido: um hospital de campanha, com muitos postos de pronto-socorro dos mais pobres e perdidos nas migrações mais desesperadas. Escreveu guiões admiráveis para despertar e mobilizar jovens e adultos para linhas da frente exigidas por antigos e novos desafios sociais e culturais.  

2. Quem procura desqualificar as suas ousadias diz que ele não é apenas um ingénuo, mas um atrevido ignorante: fala do que não sabe e faz o que não deve. Mas que irão dizer, agora, com o que aconteceu na semana passada, nos dias 19 a 21?

Francisco não convocou repetidores, mas investigadores de uma nova economia. Realizou-se o encontro, longamente preparado, A Economia de Francesco, que decorreu a partir de Assis (Itália) com ligações a 120 países diferentes, embora no contexto das dificuldades impostas pela pandemia. O seu objectivo foi colocar em diálogo jovens economistas e empreendedores do mundo inteiro, para imaginar como se pode criar uma economia mais justa, fraterna, inclusiva e sustentável, sem deixar ninguém para trás[2].

 Como é evidente, a proximidade de um acontecimento destas dimensões não permite avaliar o seu alcance, tanto mais que foi realizado para desencadear e afirmar um movimento de jovens empenhados no futuro de todos e que exige uma nova e envolvente militância em muitas áreas e muitas frentes.

       Fomos informados que a primeira conferência seria de Jeffrey Sachs, com o tema, Aperfeiçoar a Alegria: três propostas para deixar a vida florescer. Parecia um convite para ler o Evangelho de S. João, em que o desejo de Jesus é a alegria, cada vez mais completa, numa vida cada vez mais abundante para todos[3].

A alegria não é uma particularidade de S. João, é a proposta de todo o Novo Testamento. No entanto, a verdadeira alegria acontece quando se muda a própria vida. Como dizia o filósofo judeu, L. Wittgenstein, «creio que uma das coisas que o Cristianismo afirma é que as boas doutrinas são todas inúteis. Importa, sim, mudar a vida (ou a direcção da tua vida) … A sabedoria é fria. Em contrapartida, Kierkegaard chama à fé uma paixão»[4].

3. Hoje, na celebração da Eucaristia, encerramos o espantoso capítulo 25 de S. Mateus que tem vindo a ser proclamado nos últimos Domingos. É constituído por três parábolas, três intrigas paradoxais sobre a urgência em captar as oportunidades de alegria que a vida oferece e que, por leviandade ou por medo de ser mal sucedidos, desperdiçamos.

São textos simbólicos: dizem uma coisa para significar outra. Devem ser respeitados na sua irredutível alteridade e questionados. A sua interpretação tem de ter esse facto em conta, para não cair no reino da arbitrariedade. Por outro lado, importa distinguir sentido e significação. O sentido existe no texto que exige estudo para ser decifrado. A significação nasce da pergunta: que tem esse texto, essa parábola, a ver comigo e que tenho eu a ver com esse texto, com essa parábola?[5] A significação implica a minha vontade de mudar, de conversão, de não sair da Missa como entrei. Ajuda-me a mudar para o reino da alegria, da vida apaixonada por uma nova semana.

Hoje, a representação simbólica do julgamento de todas as nações não é para julgar nações, mas as acções ou omissões das pessoas. Quem as julga não é a divindade. Quem julga as pessoas são as suas acções de solidariedade ou de falta de solidariedade. Tanto quem foi, como quem não foi solidário não sabia que estava a ter um encontro ou desencontro com o próprio Deus. Deus é o destinatário clandestino do nosso agir solidário sem divinas intenções. A causa do Deus invisível identifica-se com a causa dos que precisam de ser socorridos. Quem socorre ou recusa solidariedade acolhe ou recusa o próprio Filho do Homem.

S. Mateus escreveu uma parábola muito atrevida.

in Público 22.11.2020

https://www.publico.pt/2020/11/22/opiniao/opiniao/iremos-tribunal-1939985



[1] Cf. Peter Sloterdijk, A loucura de Deus. Do Combate dos Três Monoteísmos, Relógio D’Água, 2009, pp. 23 e 139

[2] Cf. António Marujo, 7Margens, 18. Nov. 2020.

[3] Jo 15, 11; 10, 10.

[4] Ludwig Wittgenstein, Cultura e Valor, Ed.70, Lisboa 1996, p.82.

[5] Daniel Marguerat / Yvan Bourquin, Pour lire les récits bibliques, Cerf, Paris, 1998 

 

            A intuição cosmoteândrica: a religião do futuro

Anselmo Borges

 1.Foi há dez anos que Raimon Panikkar nos deixou, no dia 26 de Agosto de 2010, com 91 anos, em Tavertet, perto de Barcelona. Foi um dos espíritos mais clarividentes do século XX, com um pensamento original, que a presente situação pandémica e a urgência de um novo paradigma de desenvolvimento e uma nova política no contexto de uma terrível crise global, económica e social, que inclui a necessidade de um pacto ecológico para preservar a casa comum, tornam ainda mais actual. É por isso que não podia deixar de voltar a ele, "um mestre do nosso tempo".

2. Estive com Panikkar só numa ocasião, em Barcelona, em 2004. Tinha uma presença cálida, com um sorriso luminoso, e era simples. Uma vez, uma aluna minha, de Barcelona, disse-me que queria muito fazer um trabalho académico sobre o pensamento dele. Achei bem e disse-lhe: "Agora, nas férias, vá falar com ele..." Panikkar deu-lhe 40 minutos e ela, uma jovem, veio fascinada e fascinou os colegas com a descrição do encontro e a exposição do trabalho.

3. Panikkar era uma das maiores autoridades mundiais nas questões do diálogo multicultural e inter-religioso. As suas raízes genéticas, religiosas, académicas, geográficas, deram um contributo decisivo para ser ponte entre mundos: o pai era hindu e a mãe catalã católica; era doutorado em Filosofia, Química e Teologia; viveu uma parte da sua vida na Europa, outra na Ásia, uma terceira na América. Ensinou em muitas universidades, incluindo Harvard. Deixou mais de 50 livros, em várias línguas, que dominava. No meio de uma vida agitada e aparentemente dispersa, manteve, no Uno, a serenidade do monge. É seu o pensamento, retomado pela encíclica de Francisco, Laudato sí, de que tudo está interligado.

Padre católico, regressando da Índia, disse que voltava hindu e budista, sem que isso significasse deixar de ser cristão: pelo contrário, agora era mais cristão. Por isso, para lá do diálogo inter-religioso, defendia o diálogo intra-religoso, isto é, aquele diálogo que cada um deve estabelecer dentro de si mesmo entre as grandes religiões, cuja herança pertence a todos.

Depois dos períodos de isolamento e ignorância recíproca, indiferença e desprezo, condenação, perseguição e conquista, coexistência e tolerância, chegou como "necessidade vital" o tempo do diálogo entre as religiões. É preciso superar o exclusivismo, que afirma que só uma religião é verdadeira (a minha), rejeitando as outras.

O diálogo autêntico só pode ter por base o são pluralismo: todas as religiões são presença do Absoluto, do Mistério salvador, mas nenhuma o possui definitivamente. Este diálogo é constitutivo do ser humano enquanto tal, pois o Homem não é uma mónada fechada, mas uma pessoa, feixe de relações. Por isso, a religião tem de incluir também o diálogo com a Terra, a que chamou ecosofia. Este é o pensamento e a acção implicados numa concepção cosmoteândrica.

Expressão deste pensamento e diálogo de um Homem universal foi o seu funeral: numa celebração solene e íntima, seguiu o rito exclusivamente católico, mas Panikkar deixou instruções precisas para que as suas cinzas fossem repartidas entre a família, o cemitério de Tavertet e o rio Ganges, na Índia.

4. Já Platão distinguiu entre pan, o todo como soma das partes, e holon, o todo estruturado, mais do que a soma das partes. Há muita dificuldade em pensar holisticamente, sobretudo porque a razão moderna é objectivante analítica, separadora, tendo como seu modelo a máquina, que decompõe para refazer e assim dominar. No próprio pensamento religioso, em vez de religação, encontramos frequentemente visões dicotómicas e dualistas: este mundo e o outro, o aquém e o além, a alma e o corpo, o divino e o humano, o interior e o exterior, os de dentro e os de fora, os crentes e os não crentes...

Neste contexto, Panikkar afirmava com razão que é preciso ultrapassar e superar "três dualismos, seis dicotomias e três reducionismos". Torna-se imperioso unir o que tem andado separado. O distinto e o diferente não podem significar separação.

Os dualismos são: Deus e o Homem, o Homem e a natureza. Não se trata agora de confundir, mas de religar. As seis dicotomias são: alma e corpo, masculino e feminino, indivíduo e sociedade, teoria e práxis, conhecimento e amor, tempo e eternidade. Também aqui não se trata, evidentemente, de reduzir tudo ao mesmo, mas de tomar consciência de que uma realidade não existe sem a outra e de mostrar a sua relação intrínseca.

 

Os três reducionismos são: "O antropológico, que reduz o Homem a um animal racional; o cosmológico, que reduz o Cosmos a um corpo inerte; o teológico, que reduz a Divindade a um Ser transcendente." Impõe-se superar estes reducionismos, porque o Homem não é redutível a animal racional, e, quando se reduz o Cosmos a um corpo inerte, esquece-se a sua dimensão sagrada e viva, e o modo da transcendência de Deus só pode ser este: no mundo, Deus é transcendente ao mundo, infinitamente transcendente enquanto infinitamente presente.

Tudo está em relação com tudo. Ser e ser em relação identificam-se. Não se trata, portanto, de anular as diferenças, já que a unidade sem a diferença seria a mesmidade morta, como as diferenças sem a unidade se anulariam no caos. Assim, a religião do futuro tem de religar o que tem andado separado: Cosmos, Deus e Homem, como se diz na palavra cosmoteândrico e na sua obra, traduzida para português: a intuição cosmoteândrica. A religião do terceiro milénio. Tudo está interligado.

 

Padre e professor de Filosofia. Escreve de acordo com a antiga ortografia

in DN 21.11.20

https://www.dn.pt/edicao-do-dia/21-nov-2020/a-intuicao-cosmoteandrica-a-religiao-do-futuro-13053520.html?target=conteudo_fechado

 

 

 

QUE COISA
SÃO AS NUVENS

JOSÉ
TOLENTINO
MENDONÇA

 

 

COGUMELOS, MÚSICA E SILÊNCIO

A NOVIDADE DO CONTRIBUTO CULTURAL TRAZIDO POR CAGE NASCEU DO ESFORÇO PARA PENSAR FORA DAS DICOTOMIAS DO PENSAMENTO OCIDENTAL, DEMONSTRANDO COMO A COEXISTÊNCIA DOS OPOSTOS NÃO INTERROMPE O SENTIDO

Os cogumelos, a música e o silêncio têm duas coisas em comum. A primeira delas está associada à sua natureza: crescem fora das estradas principais, são favorecidos pelo recolhimento dos bosques, amam a alternância das estações. A segunda coisa que têm em comum é terem sido objeto da igual paixão de um dos criadores mais originais do século XX: o compositor John Cage. A novidade do contributo cultural trazido por Cage nasceu do esforço para pensar fora das dicotomias do pensamento ocidental, demonstrando como a coexistência dos opostos não interrompe o sentido, antes o revela no seu carácter paradoxal, que temos de aprender a aceitar melhor. A testemunhá-lo está, por exemplo, o facto de as suas explorações acerca do silêncio se terem tornado determinantes para o tipo de música que fazia. A muitos desconcertou que ele tenha ousado apresentar experiências de silêncio ininterrupto como legítimas peças musicais (assim o fez com as composições “Silent Prayer” e “4’33’’”). Mas para John Cage não havia nisso qualquer contradição, e explicava-o assim: “A música é inútil, a menos que desenvolva a nossa capacidade de escuta. O silêncio não é acústico, é uma mudança de mentalidade.” A obra artística de Cage ajudou a questionar o que é a música e a verificar que esta é indissociável da compreensão do silêncio entendido não como ausência mas como forma alternativa de construção sonora.

O silêncio é tão sonoro como a música, mas pede de nós uma mudança de atitude: a valorização da continuidade que existe entre arte e vida

Um momento de viragem foi a experiência na câmara anecoica da Universidade de Harvard, uma história que Cage recontou inúmeras vezes. Entrando nessa sala à prova de som, onde supostamente poderia testar o absoluto silêncio, ele escutou então um som grave (o do seu próprio sangue em circulação) e um agudo (o do seu sistema nervoso a operar). Até aí estava convencido de que o silêncio real existia como qualquer coisa que podemos produzir pela eliminação dos sons. Na câmara anecoica, porém, percebeu que não existe o silêncio como produção nossa. Mas ocorre isto: enquanto a música ou a palavra representam sons intencionais que realizamos, o que nós chamamos de silêncio é a possibilidade de acedermos à escuta dos sons e das realidades não intencionais. O silêncio é tão sonoro como a música e tão loquaz como a palavra, mas pede de nós uma mudança de atitude: a valorização da continuidade que existe entre espaço intencional e não intencional, entre sujeito e objeto, entre arte e vida.

Nos anos da Grande Depressão, quando os alimentos escasseavam, Cage começou a frequentar os bosques em busca de cogumelos, tornando-se com o tempo um especialista na matéria, a que recorriam restaurantes importantes de Nova Iorque. Parece uma insólita deriva, que nada tem a ver com a sua arte, mas a verdade é que o método permanecia o mesmo: na sua errância pelos bosques, inesperadamente o desconhecido manifestava-se. E há um episódio televisivo a este propósito. Em 1959, um obscuro músico americano de nome John Cage participa em Itália num desses concursos banais da TV, com duas intervenções musicais e como concorrente a um prémio de cinco milhões de liras. A música deixou apresentador e auditório aturdidos, mas quando começou o concurso propriamente dito, que tinha como tema da sessão os cogumelos, o espanto não foi menor, pois o excêntrico concorrente era capaz de elencar por ordem alfabética dezenas de espécies. No final, o apresentador, felicitando-o, perguntou-lhe se voltaria para a América. Cage respondeu que sim, mas que a sua música ficava. O apresentador retorquiu: “Que pena. Seria melhor que a sua música partisse e que você permanecesse connosco.”

in Semanário Expresso,21.11.20

https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2508/html/revista-e/que-coisa-sao-as-nuvens/cogumelos-musica-e-silencio

À Procura da Palavra

DOMINGO XXXIV COMUM

CRISTO REI

Pe. Vitor Gonçalves

“‘Quantas vezes o fizestes

a um dos meus irmãos mais pequeninos,

a Mim o fizestes’.” Mt 25, 40

A surpresa final

Se nos fosse pedido uma síntese do Evangelho, de toda a Boa Nova de Jesus, o que diríamos? Certamente escolheríamos as Bem-aventuranças, ou o seu Mandamento novo, a Páscoa, e a Última (primeira) Ceia. No fundo, em cada gesto e palavra de Jesus encontramos a totalidade do amor de Deus a chegar até nós. E há 20 séculos que nós, cristãos, falamos do amor. Mas o decisivo não é simplesmente dizer e pensar, acreditar ou escrever. Não podemos ficar satisfeitos e tranquilos porque não fazemos a ninguém nenhum mal especialmente grave.

A terceira parábola de Mateus 25 mostra como a realeza de Jesus é desconcertante. Ao contrário dos reis humanos, que se distinguem dos súbditos e do povo, este rei identifica-se com os mais pequenos. É inútil procurar o Ressuscitado nas nuvens, no grandioso, pois a sua presença revela-se nos mais pobres, nos necessitados. É a compaixão concreta, a decisão em não deixar no mal e no sofrimento aqueles que não são estranhos mas irmãos, e é preciso cuidar e salvar. A fé cristã é mística e prática, secreta e visível, interior e eficaz. Não se pretende substituir a nenhum poder público, a nenhum governo, mas assume compromissos por cada homem e mulher concretos que necessitam sair do sofrimento. Porque nenhum sofrimento nos pode ser alheio, e a compaixão é o único modo de nos parecermos com Deus.

À semelhança das virgens insensatas, que não fizeram nada de mal mas não se precaveram com o azeite da alegria para o encontro com o esposo, e do servo que por medo e preguiça escondeu o talento e não o quis multiplicar, também ficarão surpreendidos aqueles que viram tantos sofredores e nada fizeram por eles. O pior é não fazer nada! Os que os aliviaram do sofrimento fizeram-no voluntariamente. Também não viram nem reconheceram Jesus neles. Agiram gratuitamente, sem ganhar dinheiro nem esperar recompensa. Encheram-se de compaixão e deixaram-se mover pelo amor. Dizia Leon Tolstoi: “Podem cortar-se árvores, fabricar tijolos e forjar ferro sem amor. Mas é preciso tratar com amor os seres humanos. Se não sentes afecto pelos homens, ocupa-te no que quiseres, mas não neles.”

A maior surpresa é essa: quando abandonamos um necessitado, abandonamos Deus, quando o aliviamos, é a Deus que aliviamos. São os gestos concretos, possíveis, ao nosso alcance que marcam a diferença. Diziam dois pobres à porta de uma igreja: “Falam tanto de nós, mas não vêm falar connosco!” Jesus pede-nos para não duvidarmos dos milagres que os mais pequenos gestos de amor a quem sofre, podem realizar.

in Voz da Verdade 22.11.2020

http://www.vozdaverdade.org/site/index.php?id=9341&cont_=ver2

Capela do Rato

Já não há vagas para a missa do 1º Domingo de Advento

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