08 novembro 2020

 

P / INFO: Crónicas, & Capela do Rato, Inscrições para as celebrações

Frei Bento: Deus não é um rival

Pe. Anselmo: O Papa Francisco confessa-se. 1

Cardeal Tolentino: Lidar com a repetição p 167

Pe. Vítor Gonçalves: Esperar é sair ao encontro

 

NOTA: O site da Capela do Rato ainda não foi actualizado.

Sugiro uma ida a: https://www.capeladorato.org/  para ter dados novos

 

DEUS NÃO É UM RIVAL

Frei Bento Domingues, O.P.

Devia ser esta a convicção da religião que recusa qualquer     espiritualidade que despreza o mundo em nome de Deus.

 

1. A Humanidade de Deus[1] é o título do primeiro volume que reúne algumas das minhas primeiras crónicas no Público. Por razões de trabalho, tive de revisitar a introdução que escrevi para a essa minha colectânea. Hoje, parece-me que foi a procura de fidelidade, à significação implicada na escolha desse título, que explica a alegria que encontro nos gestos e textos do Papa Francisco e dos quais tenho procurado dar testemunho em algumas crónicas dos últimos anos.

Encontrei, nessa introdução, a referência a um acontecimento dos agitados anos 50 do século passado, que provocou em mim, para sempre, o desassossego teológico.

 Eram anos em que se consumava a repressão das vozes livres na Igreja, retomada nos finais do século 19 e na primeira metade do século XX. Esse acontecimento, aparentemente banal, foi para mim o encontro com um texto dos anos 30, recomendado por Paul Denis, um professor que buscava as fontes dos rios filosóficos e teológicos a partir da sua foz, o mundo contemporâneo.

 Em 1935, pediram a Yves Congar O.P. para comentar os resultados alarmantes de um Inquérito realizado pela famosa revista La Vie Intelectuelle, sobre as “razões da descrença actual”!

Depois de analisar o longo processo de divórcio entre a Igreja e os movimentos científicos, culturais e sociais, que agitaram a gestação do mundo moderno, sintetizou-o numa expressão que me marcou: «a uma religião sem mundo, sucedeu um mundo sem religião».

Trinta anos mais tarde, em pleno Vaticano II, voltou a insistir no mesmo ponto: «o maior obstáculo que os seres humanos de hoje encontram no caminho da fé vem da falta de ligação que julgam verificar entre, por um lado, a fé em Deus e, por outro, o ser humano e a sua obra terrestre. É urgente mostrar o laço íntimo que os une. É na superação desse fosso que se deveria procurar a resposta mais eficaz às razões da descrença moderna»[2].

O célebre jesuíta, Teilhard de Chardin, numa breve nota, de 1920, sobre a evangelização dos novos tempos, já pressentia a gravidade do que estava a acontecer: «Cristão e humano tendem cada vez mais a não coincidir. É este o grande cisma que ameaça a Igreja».

Na mesma introdução, cito o grande medievalista dominicano, Marie-Dominique Chenu, que, sempre atento aos sinais dos tempos, continuava a verificar, em 1960, que «o novo mundo dos nossos dias ainda não tinha sido integrado no pensamento cristão».

Philippe Roqueplo, na sua tese de doutoramento, Experience du monde: Experience de Dieu?[3] –, ao percorrer o monumental Dictionnaire de Théologie Catholique (publicado entre 1904 e 1950, em 22 grandes volumes) verificou que a teologia oficial se tornara impermeável a todas as tentativas de assumir, na  experiência cristã, a construção do mundo.

Foram os considerados teólogos heterodoxos, acolhidos por João XXIII que, no Vaticano II, tentaram iniciar, de modo oficial, a superação desse divórcio. Outros, depois, procuraram fazer esquecer esse começo de revolução. Bergoglio, na linha do Cântico das Criaturas de Francisco de Assis, tem procurado retomar, concretizar e alargar a linha mais luminosa do Vaticano II e da Pacem in Terris, para eliminar os instrumentos do supremo terror.

2. O primeiríssimo capítulo que abre a Bíblia, na sua organização actual (Génesis, 1-2), é um poema que apresenta Deus a dizer, de forma extasiada: Que o mundo seja! Não é um Deus preocupado com o seu prestígio, com o seu ego, mas com a afirmação do outro, do diferente e criativo em face da divindade. Deus não se manifesta aí a querer ser tudo. A ideia de ver em Deus um rival do ser humano é uma megalomania diabólica. Deus não quer reservar para si os segredos, os enigmas do universo. Investigá-los é tarefa humana.

Devia ser esta a convicção da religião que recusa qualquer espiritualidade que despreza o mundo em nome de Deus; que fecha os olhos para a beleza e para os enigmas do cosmos, para o calor do amor humano, para a importância da criação artística, para o valor da investigação cientifica, para os trabalhos de ganhar o pão com o suor do próprio rosto, para a competência em socorrer as vítimas das doenças, para os problemas grandes ou pequenos de governar uma casa ou um país num mundo cada vez mais globalizado.

3. J. P. Audet, em 1966, no contexto das discussões em torno do sagrado, do religioso e da fé judaico-cristã, publicou um importante estudo sobre “a vingança de Prometeu ou o drama da religião e da cultura”[4]. Procura mostrar que, na Bíblia, não se encontra o equivalente do mito de Prometeu, tal como este vem apresentado em Hesíodo e Ésquilo: os deuses escondem aos homens o segredo da vida feliz. Aquilo de que os homens precisam para fazer a sua vida, por sua conta e risco, o fogo (ciências e técnicas) tem de ser arrancado aos deuses contra a sua vontade, como o fez Prometeu. Deuses e homens são rivais.

A felicidade dos deuses é a desgraça dos seres humanos e a felicidade destes é um roubo aos deuses. Nada disto existe na Bíblia. Aí, a terra é dada ao homem e à mulher para que façam dela a sua morada[5]. A pastorícia, a agricultura, a música, as técnicas, os negócios, as ciências e a sabedoria não são roubos a Deus, são acontecimentos humanos normalíssimos[6]. Não, porém, o trabalho escravizante[7], fruto de um ser humano que, quando se desorienta, desorienta as dimensões todas da vida e esquece que os outros são seus irmãos[8].

A tese de Audet não consiste apenas na contraposição do mito grego da rivalidade entre deuses e homens e o universo bíblico, em que Deus é princípio de gratuidade, de dom, e a religião da sabedoria, em Israel, uma percepção admirativa do divino.

Isto representa apenas o espaço para abrir uma outra perspectiva: a ideologia da “consagração do mundo” não deve merecer cobertura teológica porque não tem cobertura bíblica.

A relação religiosa co-habita, sem medo nem remorso, com o profano. O religioso pode ser espaço do profano e o profano, espaço do religioso. O sagrado, “o reservado para Deus”, é apenas o reservado para uma das mediações da religião, a mediação ritual.

O sagrado e o religioso não são co-extensivos. Tudo o que é percebido como sagrado (separado) tem a ver com a religião, mas nem tudo o que tem a ver com a religião tem a ver com esse sagrado. A percepção religiosa supera e enquadra, diferentemente, o sagrado e o profano. A mediação ritual tende a fechar o fenómeno religioso no seu espaço.

Daqui o perigo das preocupações com a “consagração do mundo”. Esta, sem se dar conta, consagra a perspectiva prometaica das relações entre religião e cultura. Parece beneficiar a religião, mas a religião só pode esperar pela vingança. Reencontramo-nos, assim, com o diagnóstico de Yves Congar, nos anos 30: a uma religião sem mundo, sucedeu um mundo sem religião.

in Público 08.11.2020

https://www.publico.pt/2020/11/08/opiniao/opiniao/deus-nao-rival-1938169



[1] Edição de Mário Figueirinhas, Porto 1994 – as crónicas são de 1992-1993

[2] Chrétiens en dialogue, Paris, Cerf 1964, p. XXXIII.

[3] Cerf, Paris 1968.

[4] La revanche de Promété ou le drame de la religion et de la culture, in Rev. Biblique, 73 (1966), 5-29

[5] Gn 1,28; Sl 8,9-14; 115,16

[6] Gn 4,19-22; 1Rs 5,9-14

[7] Gn 3,17

[8] Cerf, Paris 1968.

 

O Papa Francisco confessa-se. 1

Anselmo Borges

Padre e Professor de Filosofia

 

1. Francisco é o Papa que mais entrevistas deu. É claro que, ao conceder entrevistas a grandes meios de comunicação social mundiais, acaba por falar mais directa e espontaneamente de temas que nem sequer apareceriam se se mantivesse nos pronunciamentos formais de homilias e documentos oficiais. De facto, os jornalistas são curiosos e fazem perguntas que o grande público também gostaria de fazer.

Acaba de ser este o caso com uma longa entrevista concedida ao director da agência italiana AdnKronos, Gian Marco Chiocci. Concedida na sequência e no contexto da destituição do cardeal Angelo Becciu, acusado de ter desviado fundos normalmente destinados aos pobres, para beneficiar a sua família, Francisco declara que a corrupção é “um mal antigo que se transmite e se transforma nos séculos”. Na Igreja, “a corrupção é uma história cíclica, repete-se, depois vem alguém que limpa e põe em ordem, mas depois recomeça-se, na expectativa que chegue outro para pôr fim a esta degeneração.” Numa Igreja para os pobres, mais missionária, não há lugar para quem enriquece e faz enriquecer o seu círculo, vestindo indignamente a batina. “A Igreja é e permanece forte, mas o tema da corrupção é um problema profundo, que se perde nos séculos. No início do meu pontificado fui ao encontro de Bento XVI. Ao passar-me a ‘pasta’, entregou-me uma caixa grande, dizendo: ‘Está tudo aí dentro, estão os procedimentos com as situações mais difíceis, eu cheguei até aqui, afastei estas pessoas, e agora... cabe a ti.’ E eu não fiz mais do que recolher o testemunho do Papa Bento, continuei a sua obra.”

Neste contexto, e querendo desfazer dúvidas e insinuações, Francisco refere-se ao antecessor como “um pai e um irmão, escrevo-lhe por carta ‘filialmente e fraternalmente’. Vou ao seu encontro muitas vezes; se ultimamente o vejo menos é porque não quero cansá-lo. A relação é verdadeiramente boa, muito boa, concordamos sobre o que deve ser feito. Bento é um homem bom, é a santidade feita pessoa. Entre nós não há problemas, depois cada um pode dizer e pensar o que quiser. Pense nisto: até chegaram a dizer que tínhamos discutido, eu e Bento, sobre que túmulo cabia a mim e qual a ele.”

De volta à corrupção, refere o famoso bispo Santo Ambrósio: “A Igreja foi sempre uma ‘casta meretrix’, uma casta meretriz, uma pecadora. Melhor: uma parte dela, porque a grande maioria vai no sentido contrário, segue no caminho justo. Mas é inegável que personagens de vários géneros e importância, eclesiásticos e tantos leigos amigos fingidos da Igreja contribuíram para dissipar o património móvel e imóvel, não do Vaticano, mas dos fiéis.”

A situação quanto à opacidade da gestão das finanças do Vaticano, ao óbolo de São Pedro, à imprudência de certos investimentos, às actividades pouco caritativas de alguns pastores é mais grave do que suporia. Para “extirpar a erva daninha da corrupção não há estratégias particulares, o esquema é banal, simples, andar em frente e não parar, é preciso dar passos pequenos, mas concretos. Para chegar aos resultados de hoje partimos de uma reunião realizada há cinco anos sobre como actualizar o sistema judicial, depois com as primeiras investigações tive de remover posições e resistências, escavou-se nas finanças, tivemos novos directores no IOR (Instituto para as Obras de Religião, normalmente conhecido como Banco do Vaticano), numa palavra, tive de mudar muitas coisas, e muitas rapidamente vão mudar.”

E aparece a avó a dar bons conselhos: “Ela, que não era teóloga, dizia-nos sempre, quando éramos crianças: o diabo entra pelos bolsos. Tinha razão”.

E certamente não será inocentemente que Francisco venha lembrar a história da velhinha que encontrou numa imensa favela de Buenos Aires no dia em que João Paulo II morreu. Na Missa, rezou pelo Papa defunto. “Terminada a celebração, aproximou-se uma mulher muito, muito pobre, queria saber como é que se elege o Papa, falei-lhe do fumo branco, dos cardeais, do conclave. Ela interrompeu-me e disse: ouça, Bergoglio, quando for Papa, lembre-se de que a primeira coisa que tem que fazer é comprar um cãozinho. Respondi-lhe que dificilmente seria eleito Papa, mas, mesmo assim, perguntei-lhe porque é que devia arranjar um cão. ‘Porque sempre que vá comer, respondeu, dê-lhe primeiro um bocadinho e, se ele continuar bem, então continue o senhor também a comer.” O que é que levou Francisco a contar a história? É assim que está o Vaticano? Francisco imediatamente: “Tratava-se obviamente de um exagero. Mas exprimia a ideia que o Povo de Deus, os pobres entre os mais pobres no mundo, tinha da Casa do Senhor atravessada por feridas profundas, lutas intestinas, desfalques.” Terá sido só por simplicidade e porque gosta de estar com as pessoas que Francisco não quis ficar no Palácio Apostólico, preferindo vir para Santa Marta?

O Papa Francisco terá medo? A resposta desta vez é mais ponderada, confessa o jornalista, o silêncio parece nunca mais ter fim, parece que à espera de encontrar as palavras justas. “E porque havia de ter?”, pergunta. “Não temo consequências contra mim, não temo nada, ajo em nome e por conta de nosso Senhor. Sou um inconsciente? Falta-me um pouco de prudência? Não sei o que dizer, são o instinto e o Espírito Santo que me guiam, guia-me o amor do meu povo maravilhoso que segue Jesus Cristo. E depois rezo, rezo muito, todos nós neste momento tão difícil devemos rezar muito por tudo o que está a acontecer no mundo.”

in DN 08.11.2020

https://www.dn.pt/edicao-do-dia/07-nov-2020/o-papa-francisco-confessa-se-1-13008370.html?target=conteudo_fechado

 

QUE COISA

SÃO AS NUVENS

JOSÉ
TOLENTINO
MENDONÇA

 

LIDAR COM A REPETIÇÃO

VIVEMOS A PRIMEIRA VAGA PANDÉMICA COMO UM TRAUMA. VIVEREMOS A SEGUNDA TAMBÉM ASSIM

A primeira vaga do vírus encontrou-nos impreparados. A segunda também. Entre uma etapa e outra houve certamente quem vigiasse, quem mantivesse o estado de alerta ou até antecipasse o cenário em que agora de novo entramos. Mas o desejo de um regresso à normalidade era tanto que aqueles que puderam removeram a memória do período anterior. O negacionismo não é só o dos outros e tem múltiplas linguagens e faces dentro de nós. Agarrámo-nos ao verão como a um reencontro com a liberdade, festejando-a como uma prova de vida, convencendo-nos que o mais difícil havia passado, exorcizando nos dias amplos daqueles meses e nas suas despreocupadas esplanadas a escuridão que, afinal não há tanto tempo, tínhamos experimentado.

Vivemos a primeira vaga pandémica como um trauma. Viveremos a segunda também assim. A primeira chegou-nos como o desabar de uma agressão e descobrimo-nos, a essa áspera luz, mais vulneráveis do que alguma vez o pensámos. A atual recidiva agrava o sentimento de que estamos impotentes e sitiados, porque ao peso da pandemia propriamente dito soma-se agora o luto das nossas ilusões, a fragilização trazida pelo cansaço e, aqui e ali, também uma descontrolada explosão social de raiva. No fundo, trata-se de lidar com a repetição, essa categoria com a qual nos precisamos reconciliar e da qual temos muito a aprender.

Enquanto a recordação nos faz, de certa maneira, voltar atrás, regressar ao passado como o havíamos habitado, a repetição impele-nos a dar um passo em frente

Quando se lê, por exemplo, Kierkegaard perde-se o medo à categoria de repetição. De facto, ele vai encontrar nesta categoria uma saída para o impasse a que se tinha chegado na filosofia antiga entre os que sustinham, como Parménides, que qualquer mutação no mundo físico deve ser considerada ilusória, pois a realidade do ser é imutável, homogénea e imóvel, e os que defendiam, como Heraclito, que a essência do mundo é movimento e contínuo devir. Kierkegaard identifica na repetição a possibilidade de explicar melhor a vida do que estas hipóteses da imobilidade permanente e da novidade absoluta constante. E, ele próprio pergunta: “Que seria, ao fim de contas, a vida se não ocorresse nenhuma repetição? Quem desejaria ser apenas um tabuleiro no qual o tempo a cada instante escreve uma frase nova ou versa somente o historial de um passado?” Para o filósofo dinamarquês, a repetição é a chave que explica a nossa existência. Ele deixa claro, porém, que a repetição não pode ser vista como um mero retorno do passado. Na verdade, mesmo quando nos desconcerta, ela é também uma possibilidade de transcendência, na medida em que nos conduz a novos estádios de aperfeiçoamento e progresso. Enquanto a recordação nos faz, de certa maneira, voltar atrás, regressar ao passado como o havíamos habitado, a repetição impele-nos a dar um passo em frente. Por isso, enfrentar a repetição está entre os deveres éticos e espirituais mais sérios.

Sabemos, contudo, que a experiência da repetição nem sempre é indolor. Como ajudou a ver Freud, também acontece que a repetição se relacione com alguma coisa que não ficou resolvida lá atrás no tempo, alguma coisa cuja solução nos escapou e esse falhanço se torna um obstáculo pronto a pôr em causa o que somos. É como se essa vivência primeira que interpretamos como fracasso persistisse depois como uma deficiência, uma dívida ou uma perda que não chegou a ser reparada e que agora nos aprisiona dentro do seu circuito cego através da “compulsão da repetição”. O caminho paciente a trilhar passará pela reelaboração desta espécie de sofrimento original, destapando-o e integrando-o, num processo necessariamente lento. Mas não é raro que a esperança nos coloque do lado da lentidão.

in Semanário Expresso 07.11.2020

https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2506/html/revista-e/que-coisa-sao-as-nuvens/lidar-com-a-repeticao

À Procura da Palavra

DOMINGO XXXII COMUM

Pe. Vitor Gonçalves 

“Vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora.” Mt 25, 13

            Esperar é sair ao encontro

Somos seres apressados. Lidamos mal com a espera, com o tempo que algumas coisas demoram a fazer-se, com as senhas e as filas de qualquer espécie (a do lado parece sempre ir mais depressa do que a nossa). Sim, há muita lentidão em certas coisas e a burocracia da vida parece ter os seus especialistas. Buscamos a eficiência e a rapidez, o lucro fácil e o imediato, e aquilo que demora um pouco mais começa a enfraquecer a nossa capacidade de resistência e a fidelidade ao compromisso. Oscilamos entre “quem espera sempre alcança” e “quem espera, desespera”. A dolorosa pandemia que vivemos não revela tantas dificuldades em assumirmos atitudes que exigem resiliência e esperança?

São numerosas as passagens dos Evangelhos em que Jesus convida à vigilância, à leitura dos sinais dos tempos, à atenção voltada para o futuro, a estar preparados, ao anúncio da vindo Filho do Homem. Não são anúncios de desgraças nem sementeira de medos; pelo contrário, são convite a viver despertos, de olhos abertos e atentos, com corações inteligentes e generosos para acolher e ir ao encontro. Mesmo perante os sofrimentos e desaires, as suas palavras ecoam: “Não tenhais medo”, “A paz esteja convosco”. É uma vigilância cheia de esperança. Para aprender com os acontecimentos e estar prontos a responder com sabedoria ao inesperado e à incerteza.

As jovens de candeias acesas que esperam o esposo para o acompanharem ao banquete falam de nós, da Igreja, do mundo que espera a felicidade. A noite que alarga a espera pode fazer-nos adormecer. Mas a vinda do esposo é certa. E teremos azeite na candeia da nossa vida para iluminar o seu caminho? Este azeite que adverte para o perigo de vivermos de modo inconsciente, num “vai-se andando” sem fulgor nem encanto, “vivendo porque a vida dura” (F. Pessoa), correndo atrás de fogos-fátuos que nos prometem felicidades fáceis e vazias. Como nos ilumina o “fogo” que Jesus veio lançar? Que sentido tem conservar uma fé gasta, que não move ao encontro com Jesus? Se temos candeias acesas, a melhor espera é sair ao encontro. Esperamos sintonizados com os sofrimentos e os desafios do mundo, levando nas nossas candeias a luz que é Jesus Cristo.

A esperança cristã não é passiva. Não é demissão, mas compromisso. Sabemos com quem nos vamos encontrar. Porque Ele mesmo já veio ao nosso encontro. Que o seu nome é Pai e Amigo. É Amor. No tempo que nos é dado, somos responsáveis pelo cuidado do mundo e pela felicidade dos outros. A nossa brotará das sementes que lançarmos. Da beleza que ajudarmos a revelar-se e daquela que também criarmos. Esperamos de coração escancarado. Em saída para o encontro

A esperança cristã não é passiva. Não é demissão, mas compromisso. Sabemos com quem nos vamos encontrar. Porque Ele mesmo já veio ao nosso encontro. Que o seu nome é Pai e Amigo. É Amor. No tempo que nos é dado, somos responsáveis pelo cuidado do mundo e pela felicidade dos outros. A nossa brotará das sementes que lançarmos. Da beleza que ajudarmos a revelar-se e daquela que também criarmos. Esperamos de coração escancarado. Em saída para o encontro.

in Voz da Verdade, 08.11.2020

http://www.vozdaverdade.org/site/index.php?id=9312&cont_=ver2

Capela do Rato


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