Frei Bento: Tudo por causa da alegria
Padre Anselmo: O sentido da vida. 2. A ética
Cardeal Tolentino: Que horas são aí?
Padre
Vitor: No meio de vós
INSCRIÇÃO PARA A EUCARISTIA - 13 DE DEZEMBRO DE 2020
Info da Capela do Rato: Já atingimos o limite de
pessoas (40) para a Eucaristia de domingo. Se mesmo assim desejar inscrever-se,
preencha o formulário em baixo e, caso se verifique alguma desistência,
entraremos em contacto consigo. Obrigado.
Frei
Bento Domingues, O.P.
1. O
que já podemos saber é que nós ignoramos o que é o ser humano. Pelo pouco que
conhecemos do nosso passado, pelo turbilhão do presente e pela incerteza acerca
do futuro, verificamos que somos um programa tão aberto que nunca poderá
oferecer garantias de que dê sempre certo. Quando repetimos que somos
essencialmente desejo, também sabemos que há bons e maus desejos.
Através dos nossos labirintos interiores,
das contradições sociais e culturais e da anarquia louca dos nossos apetites,
de forma consciente ou inconsciente, somos, apesar de tudo, desejo de plenitude.
Muitas vezes criminosamente atraiçoado.
É,
na segunda parte da Suma de Teologia, que
Tomás de Aquino elabora a sua minuciosa ética teológica. É servida pela
reelaboração da ética filosófica aristotélica, com banhos de Santo Agostinho e
de outros Padres da Igreja. Importa-me realçar, para o objectivo desta crónica,
que essa longa construção é precedida de cinco questões dedicadas,
exclusivamente, à investigação das exigências e dos obstáculos para aceder à
felicidade perfeita[1]. As
evangélicas bem-aventuranças anunciam as condições para atingir essa plenitude.
Os trabalhos e os gemidos da história humana, para alcançar novos céus e nova
terra, são todos por causa da alegria.
S.
Paulo sublinhou esta situação de modo dramático: «Bem
sabemos como toda a criação geme e sofre as dores de parto até ao presente. Não
só ela. Também nós, que possuímos as primícias do Espírito, nós próprios
gememos no nosso íntimo, aguardando a adopção filial, a libertação do nosso
corpo»[2].
Como
crescemos no tempo, vivemos no reino da imperfeição, da “alegria breve”, como
diz Virgílio Ferreira. No mesmo dia, podemos passar da alegria à tristeza e do
medo à esperança[3].
Para Fernando Pessoa, segundo os Textos de Crítica e de Intervenção, «só
Deus, e a alma, que ele criou e se lhe assemelha, são a perfeição e a
verdadeira vida. Este é o ideal que poderemos chamar cristão, não só porque é o
cristianismo a religião que mais perfeitamente o definiu, mas também porque é
aquela que mais perfeitamente o definiu para nós».
Este
texto obriga-me a regressar a S. Paulo: «Estou
convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem
o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem o
abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor que Deus nos
tem, em Cristo Jesus, Senhor nosso»[4].
O
ser humano é radicalmente peregrino. No esquema neoplatónico da Suma de Tomás
de Aquino, de Deus saímos por sua pura graça e a Deus regressamos, através da
livre actividade humana aberta à graça do Espírito de Cristo. Por isso, podemos
dizer que caminhamos no caminho, na verdade e na vida que Ele próprio é.
2. A
encenação da liturgia cristã do Advento tem muitas modelações. Algumas
verdadeiramente delirantes. No primeiro dia deste mês, recorreu a um texto de
Isaías, que transforma todos os animais carnívoros em vegetarianos, os mais
violentos em espelhos de paz e reconciliação. Os pobres vão ter uma oportunidade
de justiça e não haverá tiranos.
O
melhor é dar a palavra ao profeta: «Brotará um rebento do tronco
de Jessé e um renovo brotará das suas raízes. Sobre ele repousará
o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e de entendimento, espírito de
conselho e de fortaleza, espírito de ciência e de temor do Senhor. Não
julgará pelas aparências nem proferirá sentenças somente pelo que ouvir dizer; mas julgará os pobres com justiça e com equidade os humildes da
terra; ferirá os tiranos com os decretos da sua boca e os maus com o sopro dos
seus lábios. A justiça será o cinto dos seus rins e a lealdade
circundará os seus flancos. Então, o lobo habitará com o cordeiro
e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito; o novilho e o leão comerão juntos e
um menino os conduzirá. A vaca pastará com o urso e as suas crias
repousarão juntas; o leão comerá palha como o boi. A criancinha
brincará na toca da víbora e o menino desmamado meterá a mão na toca da
serpente. Não haverá dano nem destruição em todo o meu santo
monte, porque a terra está cheia de conhecimento do Senhor, tal como as águas
que cobrem a vastidão do mar»[5].
Como
sempre também aqui, o Novo Testamento é uma releitura e reinterpretação cristã
do Antigo. O rebento que brotou do
tronco de Jessé é o próprio Jesus Cristo que corrigiu os seus discípulos
enviados em missão.
Eles
regressaram tão entusiasmados, com o êxito conseguido, que parecia que estavam já
a inaugurar a igreja triunfalista: tinham tudo e todos na mão. O Mestre concede
que correu tudo muito bem, mas não os deixa nessas miragens ambíguas: «não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem;
alegrai-vos, antes, porque os vossos nomes estão inscritos no Céu».
Sabemos
que o uso da palavra céu servia para
não banalizar a palavra Deus (Iavé).
O que Jesus, de facto, diz aos discípulos é que a vida deles está no coração de
Deus, não como algo exclusivo.
S.
Lucas acrescenta que foi, nesse mesmo instante, que Jesus estremeceu de alegria
sob a acção do Espírito Santo e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra,
porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos
pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me
foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem
quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho houver por bem revelar-lho. Voltando-se, depois, para os discípulos, disse-lhes em particular: Felizes
os olhos que vêem o que estais a ver. Porque – digo-vos – muitos
profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não
o ouviram!»[6].
3.
Esse trecho é uma referência fundamental na mensagem crítica de Jesus. Quem é
que estava a ocultar, ao povo simples, o essencial das Escrituras? Era a
exegese dos doutores da Lei, apresentados como tendo o segredo da interpretação
verdadeira da palavra de Deus. Faziam-no com tantas subtilezas e distinções
que, em vez de revelar, escondiam, para seu interesse, a vontade libertadora de
Deus.
Jesus estremece de alegria
porque, finalmente, pode acabar com esse tipo de hipocrisia, que durou séculos,
e que muitos desejaram libertar-se dessa opressão sem o conseguirem.
Um
legista – especialista das aplicações da Lei – procurou atrapalhar o Jesus da
nova era com uma pergunta: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Jesus
devolve a pergunta ao doutor: que está escrito na Lei? E ele responde bem: amar
a Deus e ao próximo. Jesus observa-lhe: faz isso e viverás. Mas
ele, querendo justificar a pergunta feita, disse a Jesus: E quem é o meu
próximo? Jesus não se perturbou, contou-lhe a famosa parábola da
ética samaritana, uma crítica radical da opressiva religião do Templo[7].
Tudo,
no Cristianismo, é por causa da alegria. Quando assim não for, atraiçoamos o
seu Espírito. Viva o Domingo da alegria!
in Público
13.12.2020
https://www.publico.pt/2020/12/13/opiniao/opiniao/causa-alegria-1942542
[1] STH, I-II q. 1-5
[2] Rm
8, 22-23
[3] STH, I-II q. 25, a. 4
[4] Rm 8, 38-39
[5]
Is, 11, 1-10
[6] Lc
10, 20-24
[7] Lc 10, 25-37
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O sentido da
vida. 2. A ética
Anselmo Borges
Padre e
Professor de Filosofia
1. Quando demos
por nós, já lá estávamos, claro, mas ainda sem consciência de estarmos. Foi um
tomar consciência lento, gradual. Mas houve um dia, dias, em que se nos impôs
ou foi impondo claramente que nos pertencemos, que somos livres, que somos
donos e senhores de nós próprios e das nossas acções, com a responsabilidade de
nos fazermos a nós mesmos no mundo com
os outros. De qualquer forma, percebemos que já somos, mas ainda não somos e
temos de escolher o que queremos ser. Abateu-se sobre nós, gigantesca,
decisiva, a única tarefa que temos: fazendo o que fazemos ou não fazemos, por
acção, por omissão, estamos a fazer-nos e, no fim, resultará uma obra de arte
ou uma vergonha...
Assim, torna-se
claro que a nossa vida, para se erguer num projecto digno, tem de se ir vendo
do presente para o futuro e do futuro para o presente continuado, se se quiser,
numa imagem mais visual, tem de ver-se de cá para lá e, por antecipação, de lá
para cá. Para que lá, no fim, olhando para trás, não nos arrependamos do que fizemos
ou não fizemos, não tenhamos vergonha, não tenhamos pena de não termos feito o
que poderíamos fazer e não fizemos. É que — isto é abissal — só vivemos uma
vez.
Não se trata de
viver apenas em função do futuro, pois é preciso viver intensamente, em todas
as dimensões, agora, pois é sempre no presente que vivemos. Mas sem esquecer o
futuro. Um dia perguntaram-me qual seria a minha resposta se um jovem me
pedisse uma sugestão que o ajudasse a encontrar um sentido para a sua vida.
Respondi: “Depende do jovem concreto que me formulasse a pergunta. Mas, de modo
genérico, diria: procura responder com dignidade às perguntas e aos desafios
que a vida te faz. Mais concretamente: estuda, ama, abre-te generosamente ao
mundo e aos outros, alegra-te com o facto de seres jovem e com as
possibilidades que te são dadas, não penses exigir colher na vida adulta e na
velhice o que não semeaste na juventude.”
2.
Evidentemente, não somos totalmente livres. A nossa liberdade é finita, pois
estamos enraizados no tempo, em circunstâncias que não dominamos completamente,
somos também fruto de uma herança genética, de uma determinada educação, de
oportunidades mais favoráveis, menos favoráveis. De qualquer modo, erguemo-nos
sempre acima de todas essas circunstâncias e podemos e devemos perguntar: o que
é que eu posso e devo fazer com tudo aquilo que me foi dado e com o que a vida
fez de mim? Que sentido quero dar à minha existência?
Numa sociedade
como a nossa, que põe o acento no prazer, na imagem, no parecer e no aparecer,
no consumo voraz, no culto do individualismo, na imediatidade, na
sociedade-espectáculo, no “divertir-se até à morte”, a pergunta já não se
coloca com a intensidade que exige, e o que então se experiencia é o vazio
existencial. Se o sentido é da ordem do ser, é natural que numa sociedade
baseada no ter, na corrida vertiginosa por isto e por aquilo, haja dificuldade
em encontrá-lo. A nossa sociedade vive essencialmente de sensações e da
racionalidade instrumental, de meios para outros meios, faltando, por isso, os
verdadeiros fins humanos.
A nossa
sociedade vive uma tensão. Por um lado, a competição sem freio, o hedonismo, a
agitação do imediato, a ruptura com a tradição, a incapacidade de gerir
torrentes de informações e a confluência caótica e contraditória de opiniões e
cosmovisões, o relativismo dos valores e das crenças conduzem a uma experiência
de vazio, que se exprime no sentimento de cansaço, de abandono, de decadência,
na proliferação do tédio, da descrença e da agressividade, na anomia do consumo
de drogas e de álcool, no aumento crescente das depressões e dos
tranquilizantes, na desorientação, uma situação dramática que clama por outra
sociedade e uma atitude diferente face à existência. Por outro lado, parece nem
haver tempo para parar e perguntar pelo sentido. Evidentemente, a pandemia
agravou a situação, mas obrigou a parar e a pensar.
E quem sabe?
Numa sociedade da agitação, do ruído, incapaz de silêncio, na voragem do tempo
e da vivência à superfície, sem fundura, longe, muito longe da espiritualidade,
de Deus e do essencial, pode acontecer que este retiro forçado, obrigando-nos a
parar, nos traga a alegria do reencontro com o melhor: a família, o mistério do
Ser e de ser, o milagre de existir e estar vivo. Oxalá: um despertar!
E, para
verdadeiramente sermos, o apelo ao regresso à ética. Decisivo é perceber que só
encontra sentido quem não se encerra em si mesmo, mas se abre ao mundo e aos
outros, corresponsabilizando-se pela configuração da sociedade na justiça, na
fraternidade e na paz.
Hoje, tomamos
consciência mais clara de que a Humanidade habita numa “pequena aldeia” (Mc
Luhan) e de que vimos da natureza por evolução e que ou nos salvamos todos ou
ninguém se salva. A nossa solidariedade já não pode, portanto, limitar-se aos
mais próximos, somos responsáveis pela Humanidade toda no presente e também
pelas gerações futuras e, nessa responsabilidade, tem de estar incluída a
Natureza. O actual modelo de desenvolvimento gera simultaneamente a crise
ecológica e a injustiça social. Assim, a construção da casa comum da Humanidade
exige uma consciência ética — veja-se o elo entre ethos (habitação) e oikos
(casa), ligando ética, economia e ecologia —, aliada a um nova proposta
político-cultural global, para uma nova ordem económico-ecológica global justa
e sustentável, a favor do homem todo e da Humanidade inteira.
in DN
12.12.20
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/12-dez-2020/o-sentido-da-vida-2-a-etica-13130424.html?target=conteudo_fechado
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JOSÉ
TOLENTINO
MENDONÇA
QUE HORAS SÃO AÍ?
A LITERATURA EXISTE PARA DAR UMA HIPÓTESE À PIEDADE E
PARA QUE A VERSÃO DOS VENCIDOS POSSA SER ESCUTADA
Lisboa continua a ser uma cidade
literária. Isto é, uma cidade que não coincide necessariamente com a sua
geografia visível. Uma cidade que é maior do que aquela que a cartografia
designa. O trabalho de um escritor não é só uma operação de desmontagem do
tempo: ele faz o mesmo em relação ao espaço. Em parte a cidade, tal qual
historicamente se apresenta, pode ser reconhecível no que escrevem. Há a Lisboa
de Cesário Verde e de Pessoa, de Saramago, Cesariny, Lobo Antunes ou Mário de
Carvalho, de Sophia ou de Adília Lopes. Num dos livros desta última (“Poemas
Novos”, 2004), a capa é mesmo um mapa (desenhado por Armanda Duarte) dos
lugares habituais do seu girovagar lisboeta. Mas o contributo maior é o dos
mapas aumentados que os romances, os contos, os poemas obrigam a produzir,
porque nos informam que a paisagem que vemos esconde imprevisíveis elipses, que
as ruas que percorremos se prolongam quando nos parecem que terminam, que há
mais passagens, praças, colinas jardins e moradas, porque todas as cidades são
cidades invisíveis. Por isso, quando um escritor morre, como ironicamente
escreve Alexandre O’Neill, talvez o registo oficial seja apenas o de “uma tosse
a menos na cidade”. Na verdade, porém, ele legou aos seus contemporâneos e aos
vindouros um território que antes não existia, como por vezes o fazem as
erupções vulcânicas com os seus derrames de lava.
Sei que muitos italianos vêm a
Lisboa trazendo na bagagem o romance “Afirma Pereira”, de Antonio Tabucchi. E
que vão tomar café ao Orquídea seguindo os passos do protagonista ou se metem
no 28 para verem como Lisboa é lentamente metafísica e cansada ou são mais
benévolos a julgar a ventania do entardecer do que alguma vez os locais o
serão. Sei que, ainda por causa do que aquele Pereira afirma, rumam até a Rua
da Saudade e procuram o número cívico 22. Primeiro creem-se ter enganado e
voltam ao princípio da rua e da contagem. Mas nem assim dão com ele. Alguns
atrevem-se a perguntar aos transeuntes. Podem passar mais ou menos tempo nesta
investigação inconclusiva até declararem que o número 22 não existe. Ou
compreenderem que existe diversamente. E aí, então, a sua viagem começa.
Lisboa tem
uma grande dívida para com Tabucchi, que tem resistido a reconhecer, embora
esteja a tempo. A tempo, não de a saldar (pois como se saldam dívidas desta
natureza!), mas de a assumir
A este propósito, Lisboa tem uma grande
dívida para com Tabucchi, que tem resistido a reconhecer, embora esteja a
tempo. A tempo, não de a saldar (pois como se saldam dívidas desta natureza!),
mas de a assumir. Tabucchi é um mestre no jogo do reverso, no elencar desses
equívocos, afinal com importância, que revelam o que significa o habitar: essa
sobreposição de mundos que, em grande medida, é o natural resultado da passagem
do tempo; esse subtilíssimo fio que separa, por exemplo, a cidade da nossa
infância daquela atual, com tantos elementos que coincidem e tantos que não, a
ponto de nos sentirmos estrangeiros de nós mesmos; ou como a memória é, em nós,
um detetive a lidar com indícios, a ter de reconstruir e ficcionar se se quiser
avizinhar da própria solitária verdade. Num conto inédito, que acaba de ser
editado em Itália, e que se intitula “Que Horas São Aí?”, é essa exatamente a
intriga. Lojas que deixaram de existir e foram substituídas por outras,
lacunas, distâncias e dobras que o tempo acentua, enigmas deixados em herança,
ruas e sofrimentos que os mapas não assinalam. Face a isso, a tarefa da
literatura é dupla: por um lado, tornar consciente em nós o impacto avassalador
da vida, mas, por outro, tentar uma espécie de reparação. Que Tabucchi explica
assim: a história é uma criatura glacial, não tem piedade de nada nem de
ninguém. Mas a literatura existe para dar uma hipótese à piedade e para que a
versão dos vencidos possa ser escutada.
in
Expresso, 12.12.20 pg 175
https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2511/html/revista-e/que-coisa-sao-as-nuvens/que-horas-sao-ai-
À PROCURA DA PALAVRA
No meio de vós
Pe. Vitor Gonçalves
DOMINGO III DO ADVENTO Ano B
“No meio de vós está Alguém que não conheceis.”
Mc 1, 27
Se é verdade que João Baptista não seria um imediato
exemplo de alegria pela austeridade da sua vida e a força interpeladora das
suas palavras, importa lembrar o salto de felicidade que deu no seio de sua
mãe, Isabel. Aí ele foi a humanidade inteira a alegrar-se com a vinda do
Salvador, por dentro da nossa carne. É por dentro de nós que as verdadeiras
alegrias acontecem, como uma germinação interior. Pois é sempre do interior que
o Verbo incarnado actua, na nossa condição e com os nossos limites. A alegria de
João Baptista é a de que Cristo cresça e ele diminua, que ele fique na margem e
Cristo no meio e dentro de nós. E aí, verdadeiramente acessível a todos, fazer
a transformação do nosso mundo.
O que esperamos verdadeiramente deste Natal? A graça
de um renovamento na nossa relação com Deus e com os outros, de um recomeço
iluminado pela experiência e pela descoberta do seu amor, ou que seja “mágico”,
e conforte e tranquilize nos nossos desejos de ter e parecer? Por isso o desejo
de ser igualzinho aos anos anteriores, quando a urgência de conter a pandemia
nos pede que seja diferente. Queremos a mudança por fora sem assumir a mudança
por dentro? Até que ponto não continua no meio de nós “Aquele que não
conhecemos”? João Baptista desvia de si as atenções, dos títulos que lhe
poderiam atribuir: ele “não é” o Messias, nem Elias, nem o Profeta, nem a Luz
de que é reflexo. É simplesmente Voz, conjunto de sons para que a Palavra que é
Cristo chegue a todos. Em que vozes chegou até nós o conhecimento de Jesus? E pela
nossa voz, chegará a alguém?
Corro agora o risco daquele pregador que em sermão da
quaresma sobre a confissão, em dia de S. José, começava assim: “S. José era
carpinteiro… Fazia móveis de madeira… De madeira são os confessionários… Terá
feito algum… Falemos da confissão!” Vem S. José a propósito pela Carta
Apóstólica “Patris Corde”, do Papa Francisco, por ocasião do 150.º aniversário
da declaração de S. José como padroeiro da Igreja universal. E se João Baptista
é Voz, de S. José não nos chegou nenhuma palavra. Mas os relatos de Mateus e
Lucas revelam-nos imensos gestos que nos ajudam a compreender a sua paternidade
e a sua missão. Revela-se também o coração do Papa Francisco que deseja que
aumentemos “o amor por este grande santo, para nos sentirmos impelidos a
implorar a sua intercessão e para imitarmos as suas virtudes e o seu desvelo.”
Partilha connosco uma oração a S. José que faz, diariamente, há mais de
quarenta anos.
Nas características do “coração de pai” que o Papa
Francisco nos apresenta em S. José podemos assumir também a paternidade que é
“a responsabilidade pela vida de outrem”. Como Jesus recebeu de José, somos
convidados a redescobrir a ternura de Deus, a alegria da obediência, a
humildade do acolhimento, a coragem criativa, o valor do trabalho, e a
confiança de ficar na sombra. Para conheceremos melhor Aquele que está no meio de
nós, no rosto de pais, irmãos e amigos!
in Voz da Verdade 13.12.20
http://www.vozdaverdade.org/site/index.php?id=9388&cont_=ver2
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Curso
CAMINHOS CRUZADOS - Filosofia, Literatura e Espiritualidade
Caro(a)s
Amigo(a)s da Comunidade da Capela do Rato,
Neste tempo
extraordinário de Pandemia a nossa Comunidade entendeu que devia continuar a
fazer prova de Vida realizando uma nova edição do Curso de Filosofia,
Literatura e Espiritualidade que designámos CAMINHOS CRUZADOS.
Face às actuais
circunstâncias de saúde o Curso será online e terá 15 Sessões semanais, com
início no dia 11 de Janeiro próximo, que decorrerão entre as 19h00 e as 20h30.
O Programa do Curso –
Obras, Autores e Conferencistas – é o que anexamos a este e-mail.
Para efeito de
organização gostaríamos de saber se quer participar nesta nossa iniciativa.
Em caso afirmativo
pedimos que formalize a sua inscrição respondendo a este email. O contributo
individual será de € 15,00 a transferir para a conta da Capela de Nossa Senhora
da Bonança com o NIB 0010 0000 1993 6630 0019 1 do Banco BPI.
Durante o mês de Dezembro
remeteremos aos Participantes informação sobre as edições disponíveis das Obras
em análise, bem como os curricula dos Conferencistas e o link para acesso às
Sessões.
Ficamos à sua disposição
para qualquer esclarecimento adicional.
Com a maior estima
Maria Luísa Ribeiro
Ferreira
Coordenadora Científica
do Curso
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Celebração da
Eucaristia com canto gregoriano – IV Domingo do Advento
A
eucaristia do IV Domingo do Advento (20.12.2020) será celebrada com cânticos em
gregoriano próprios deste tempo litúrgico. Serão interpretadas também três
peças do compositor inglês do século XVI William Byrd.
O canto
é uma generosa e graciosa participação do Coro dos Amigos do Conservatório Nacional
(CACN), dirigido pelo maestro e compositor Luís Lopes Cardoso. Não se trata de
um concerto mas de «reconvocar a herança musical católica para o seu loco proprio, a
celebração da eucarística» (nota sobre a seleção musical).
A
eucaristia será transmitida às 11h, via streaming.
No final
da celebração da eucaristia serão benzidas as imagens do Menino Jesus a colocar
nos presépios. Pede-se às pessoas que vão participar presencialmente que levem
a imagem do Menino para apresentar na altura da bênção. As pessoas que vão
seguir on line tenham perto de si também a imagem do Menino.
Nota
sobre a seleção musical
O CACN
(Coro Amigos do Conservatório Nacional), apesar de não ter uma vocação
especificamente litúrgica, encontra no património musical da Igreja um
manancial de repertório de elevado interesse estético e cultural, que importa
valorizar.
Concomitantemente,
tem consciência de que essa música surgiu associada a uma finalidade concreta e
num contexto determinado: a celebração da liturgia; e que a sua
apresentação em contexto idêntico pode proporcionar um modo de escuta e fruição
distintos dos de um concerto.
Assim,
propusemos à Capela do Rato não um concerto de música sacra, mas o reconvocar
da herança musical católica para o seu loco proprio, designadamente a celebração da liturgia
eucarística.
Para
este efeito recorremos:
– a um ordinário polifónico a três
vozes (que vamos cantar parcialmente) da autoria do compositor católico inglês
William Byrd (c. 1539-1623), o qual viveu, pessoal e
musicalmente, a sua fé em circunstâncias difíceis de perseguição religiosa e
política;
e
– a um próprio neogregoriano que
emana da tradição monódica cristã, tal como foi
acolhida e adaptada pela Igreja, em
resposta a invectivas concretas do Concílio
Vaticano II (cfr. Sacrosanctum Concilium, 117):
referimo-nos em concreto ao Graduale
Simplex,
editio typica altera, in usum minorum ecclesiarum («Gradual
simples, edição oficial alternativa, para uso das igrejas com menos recursos»).
Esta
escolha é complementada por um Pater
noster do Graduale Romanum e
por hinos da tradição gregorianos: Tantum
ergo, pós-comunhão, e Alma
Redemptoris Mater, final.
http://www.facebook.com/nossomosigreja
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