11 março 2018

SALVAR OU CONDENAR?

      1. Nunca fui pároco, mas sempre aceitei com prazer celebrar o baptismo de crianças e, cada vez mais, de adolescentes e adultos. Estava eu, há muitos anos, a começar uma celebração e, como sugeria o ritual, convidei os pais e os padrinhos a fazerem o sinal da cruz na fronte da criança. Ouvi alguém sussurrar: a Igreja começa cedo a crucificar os seus fiéis.
Foi uma preciosa ajuda para nunca mais esquecer que os trabalhos da “descrucifixão” devem começar logo no primeiro momento da iniciação cristã. Urge transformar um símbolo do horror num programa de vida dedicado a tornar este mundo devastado em terra de alegria. Os textos do Novo Testamento, resultado de um processo de memória e escrita das primeiras quatro gerações cristãs, existem, no dizer de S. João, para que, conhecendo e seguindo Jesus Cristo, a nossa alegria seja completa[1]. É arriscado, nos limites duma crónica, procurar desfazer alguns equívocos sobre a transformação da simbólica da cruz, pois há o perigo de criar outros piores. É um risco que aceitei, neste espaço do Público, há vinte e oito anos.
2. Foi, em Nazaré, que Jesus apresentou as linhas fundamentais do programa da sua missão. Pela sua abrupta e enigmática ousadia teológica, recusando celebrar a ira de Deus, provocou a primeira ameaça de morte que, na altura, não o assustou nem o levou a alterar o seu caminho[2].
S. Paulo, que não terá conhecido o Nazareno na sua condição terrestre, teimou em fazer de Jesus crucificado o tema incontornável da sua pregação sem fronteiras. Ele próprio reconhece que a sua proposta era puro escândalo para os judeus e uma loucura para os gentios. Nunca desistiu de mostrar que Jesus crucificado é a subversão do messianismo judaico e da sabedoria mundana de todos os tempos. É estranho, mas aquele salto louco no escuro estava, para ele, cheio de misteriosa luz[3].
Nos Actos dos Apóstolos, S. Pedro, acusado e preso, atreve-se a dizer perante o Sinédrio: é Jesus Nazareno que vós crucificastes e que Deus ressuscitou de entre os mortos, o único nome, debaixo do céu, pelo qual devemos ser salvos.
Uma vez liberto, em oração com a comunidade, insiste no essencial: “Sim, coligaram-se verdadeiramente, nesta cidade, contra o teu santo servo Jesus, que ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos com as nações pagãs e os povos de Israel para executarem tudo o que, em teu poder e em tua sabedoria, havias predestinado”. Enquanto rezavam, o Espírito Santo tomou conta dos reunidos e investiu-os de coragem para anunciarem com firmeza a palavra interdita pelo Sinédrio. Deus continuava a escrever direito por linhas tortas[4].
A versão de S. Pedro concorda com a de S. Paulo, mas não fica claro se Jesus cumpriu um desígnio divino ou foi vítima de um crime político. Dada essa contínua interferência de planos na escrita, não seria preferível esquecer essa história de horror que deixa mal os judeus e os romanos, os apóstolos, Jesus e o próprio silêncio de Deus? Por outro lado, não estará já muito longe de nós, do nosso mundo e das nossas preocupações? E se a memória da cruz envenenou a história da cristologia, da pastoral, da espiritualidade, não será tempo de procurar beber noutras fontes o sentido da aventura humana? Se a cruz encheu as relações entre judeus e cristãos de mútuas acusações venenosas, não seria preferível agradecer a José Saramago a denúncia dessa torrente de sangue e passar adiante?
3. Talvez não! É verdade que os textos do Novo Testamento, em relação polémica e selectiva com os do Antigo e abertos a todos os mundos, estão inevitavelmente datados. Que os autores cristãos se tenham servido de textos, imagens, cenários e concepções da literatura judaica para configurar a personalidade notável e misteriosa de Jesus de Nazaré, é evidente[5]. O contrário é que seria de espantar. Mas sem a extraordinária originalidade e criatividade histórica daquele Nazareno nada disso seria possível. Teríamos apenas um artificial manequim de colagens.
Os cristãos sem colocarem em correlação crítica o nosso mundo, a nível pessoal, local e global, com o percurso histórico de Jesus – uma longa ponte cultural, tecida de muitas dimensões – não podem responder à pergunta fundamental: que tem Ele a ver connosco e que temos nós a ver com Ele?
As narrativas dos Evangelhos, ora directas ora em parábolas, insistem em que Jesus era conhecido por gostar da vida e “da vida em abundância” para todos. Nunca é apresentado como um modelo de ascetas. O que não suportava era um mundo em que tinha uns à mesa e outros à porta, uma religião de leis, fábrica de pecadores para condenar e de hipócritas para serem lisonjeados. Não suportava o desprezo pelos pobres e pelas vítimas das doenças físicas e psíquicas. É impossível servir a Deus e ao Dinheiro. O dinheiro é um instrumento, não pode ser um Senhor. A missão humana e divina de Jesus não era a de condenar, mas a de salvar o que parecia perdido. A sua ética e a sua mística são samaritanas.
Jesus não morreu de acidente, de doença ou de velhice. Foi morto porque preferiu ser crucificado a trair o projecto divino de libertação. Não cedeu à dominação económica, política e religiosa, expressões da teologia da opressão. Preferiu ser morto a trair o seu projecto de vida.
O que falta são homens humanos. O que temos hoje, à frente das chamadas grandes potências, são monstros a desenvolver projectos para se defenderem e atacarem com as armas mais sofisticadas. Consta que, em poucos dias, foram mortas em Ghouta (Síria) 800 pessoas. Como escreveu B. Pasternak, “o bem só pode ser alcançado pelo bem”. Esquecemos que a pessoa humana individual é história de Deus[6].
O papa Francisco tenta introduzir em todos os seus gestos, intervenções e textos a lógica da descrucifixão. Neste IV Domingo da Quaresma, Deus vem em seu e nosso auxílio: Deus e o seu Filho não sabem condenar. Especializaram-se apenas em salvar[7]. Não tiveram aulas de Direito Canónico.
Aqui, lembro-me do poeta brasileiro, Manuel Bandeira, que ao passar, em sua casa, diante do crucifixo prometeu arrancar a figura de Cristo daquela cruz. Desistiu. Enquanto houver crucificados, não posso.
Frei Bento Domingues, O.P.
in Público, 11. 03. 2018    


[1] Jo 15, 11; 16, 22-24; 1Jo 1, 4; 2Jo v.12
[2] Lc 4, 16-30
[3] 1Cor 1 – 2
[4] Act 4, 1-31
[5] Daniel Boyarin, Le Christ juif. À la recherche des origines. Cerf. Paris 2013, pp. 153-186
[6] Boris Pasternak, O Doutor Jivago, Bertrand, s/data, pp. 300 e 469.
[7][7][7] Jo 3, 14-21

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À PROCURA DA PALAVRA
P. Vitor Gonçalves
DOMINGO IV QUARESMA Ano B
“…todo o homem que acredita n’Ele não pereça,
mas tenha a vida eterna.”
Jo 3, 15

Foi no coração da noite que Nicodemos procurou Jesus. Talvez porque a noite cria espaço para as questões difíceis, ou é prelúdio de uma aurora que ilumina tudo? A passagem das trevas à luz no relato da criação marca o caminho humano: somos “dados à luz”, o saber ilumina o pensamento, brilham os olhos e o coração no amor, desejamos “Lich, mehr licht” (Luz, mais luz) como Goethe, diante da escuridão da morte. Não sabemos se Nicodemos ficou iluminado pelas palavras de Jesus. E nós, que as escutamos hoje: em que luz nos reconhecemos e vivemos?
O anúncio do amor de Deus, da paixão/elevação do Filho do homem, da vida nas trevas e recusa da luz como causa de condenação convidam a abrir os olhos. É um desperdício “ir vivendo”, sem questionar os critérios e as opções que nos definem, mantendo uma vida “a media luz”, sem perguntar quem somos e o que desejamos, sem ânsias de salvação. Ou então, procurando “salvações à la carte”, quer num espiritualismo auto-suficiente, quer num bem-estar de coisas adquiridas ou a adquirir.
É sobre “alguns aspectos da salvação cristã” que trata a carta ‘Placuit Deo’ (Aprouve a Deus), da Congregação para a Doutrina da Fé, dirigida aos Bispos, e aprovada pelo papa Francisco a 16 de fevereiro passado. Descrevendo algumas tendências actuais de “auto-salvação”, uma espécie de “salve-se a si mesmo” sem relação a Deus nem aos outros, reafirma: “a salvação consiste na nossa união com Cristo, que, com a sua Encarnação, vida, morte e ressurreição, gerou uma nova ordem de relações com o Pai e entre os homens, e nos introduziu nesta ordem graças ao dom do seu Espírito, para que possamos unir-nos ao Pai como filhos no Filho, e formar um só corpo no «primogênito de muitos irmãos» (Rom 8,29)”. É a salvação que se vive desde já, com Cristo e com os irmãos, aqui e agora, na prática da verdade, em todo o amor que acende pequenas luzes no meio da escuridão. Por isso, não é uma salvação que cada um tem para autoconsumo; é a salvação de Cristo vivo em nós, irradiando, gastando-se (como a vela acesa, ou o sol e as estrelas), dando vida.
Assusta-nos a noite das dores e da morte. A cruz, em que foi elevado o Filho do homem, parece absorver a pouca luz que ainda temos. Também nos perguntamos: “Por último virá a morte… e depois?”, como Paolo Scquizzato, num pequeno livro que assim se intitula. Percorrendo as perguntas simples e directas que tantas vezes nos colocamos, ele partilha pequenas luzes que ajudam “as mulheres e os homens de hoje a viver o momento presente, longe de estéreis medos e de inúteis sentimentos de culpa, mas sobretudo com um sentido, na serena consciência de que aquilo que nos espera no fim da vida será apenas um abraço de completamento e de eternidade.” O presente e o futuro, com Deus e com todos, podem ser com “mais luz”!
in Voz da Verdade, 11.03.2018

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Francis invites change, but we are the change
Mar 10, 2018
by Joan Chittister

There was a time in life when I wanted things done and wanted them done now. I still want things done now but over the course of the years, I discovered that, at least where the church is concerned, I was looking for action in the wrong places. As Sean Freyne, the Irish theologian and Scripture scholar, put it, "It's a mistake to think that a pope has the power to do anything." Translation: The right to reign as an autocrat, to take unilateral action about almost anything, does not come with the miter and crossed keys. Nor, for that matter, does it come with the capes and crosses of bishops.

Popes and bishops, I have come to realize, are the maintainers of the tradition of the church. When they move, it is commonly with one eye on the past — the point at which lies safe canonical territory. Only we are the real changers of the church.

It's the average layperson living out the faith in the temper of the times who shapes the future. It is the visionary teacher, the loving critic, the truth-telling prophet that moves the church from one age to another. It was those who had to negotiate the new economy who came to see fair interest on investments as the virtue of prudence rather than the sin of usury, for instance. It was those caught in abusive relationships who came to realize that divorce could be a more loving decision than a destructive family situation.

And yet, the manner in which popes and bishops move, the open ear they bring to the world, the heart they show, and the love and leadership they model can make all the difference in the tone and effectiveness of the church.

Five years ago, for instance, we moved from one style of church to another. It happened quietly but it landed in the middle of the faithful like the Book of Revelation. Gone were the images of finger-waving popes, stories of theological investigations, and the public scoldings and excommunications of people who dared to question the ongoing value of old ways.

When Jorge Bergoglio, the newly elected Pope Francis, appeared on the balcony of St. Peter's Basilica in Rome, he bowed to the people and asked for a blessing; the faithful roared their approval of a man who knew his own need for our help and direction.

When he told aristocratic bishops to "be shepherds with the smell of sheep" — to move among the people, to touch them, to serve them, to share their lives — episcopal palaces and high picket fences lost ecclesial favor. What the people wanted were bishops who would come out of their chanceries, walk with them and come to understand the difficulty of the path.

When Francis told priests to deal with abortion in confession, where all the struggles of humanity find solace and forgiveness, rather than treat it as the unforgivable sin, the church grew in understanding. When he said, "Who am I to judge" the spiritual quality of the gay community, the church became a church again. The fluidity of human nature and the great need for mercy and strength that come with life's most painful decisions became plain.

Francis, building on foundations laid by Pope John Paul II and Pope Benedict XVI, opened hearts and doors to Cuba, regardless of the politics of it, and with the Obama administration eased Cuba's isolation from the modern world. Francis has brought to the world's attention migrants fleeing war and oppressive economic situations; he has spoken up against slaughter in Southeast Asia and central Africa. He has said a definitive no to nuclear weapons and encouraged rethinking so-called just war.

Clearly, Francis is an invitation to change our stance in the world. We have a new model of what the church should look like to others as well as what we ourselves can hope for from it in our own lives.

Clearly, Francis is an invitation to change our stance in the world. We have a new model of what the church should look like to others as well as what we ourselves can hope for from it in our own lives. We begin to see the church as a sign of the love of God rather than the specter of the wrath of God.

And yet, at the same time, some things that must change clearly have not changed in these last five years. Instead, there is smoke without fire, commissions promised but not created, questions acceptable to ask, yes, but answers still scarce.

The very recognition of a problem, the modern world assumes, is the beginning of its solution. There is promise and possibility galore. But, in too many instances, if nothing happens, more and more people, disappointed, drift away from a drifting ship.

And so the married couples who lived through abuse, through marriages more toxic than life-giving, wait for the understanding that even though married again, they deserve the right to have the spiritual support the church offers as they attempt to make more loving marriages. They wait, but the declaration of inclusion in the church does not come.

A commission on the restoration of the female diaconate is formed, but the church itself is not included in the conversation, no public reports are ever given, and a very important and long-lived part of Roman Catholic history goes silent again.

The leviathan of child abuse, the most glaring problem facing the church, continues to raise its hoary head. It reaches across the world and even up to the pope's own household. Unless or until even bishops and cardinals are suspended until charges are resolved, the taint on the integrity of the Vatican itself will continue to undermine the sincerity of the church's effort to dispel the venom. Meanwhile, an abuse commission itself was formed, allowed to lapse, is now formed again we're told, but all of that with little or no evidence of palpable response to the problem itself.

The call for women in official positions at higher echelons in the church is promised — but ignored. This means, of course, that the role of women has not shifted at all yet — despite their educational readiness, their life-time records of service, let alone the discipleship offered by their baptism. The effect is clear: Women have nothing to do with the theological commissions where decisions are made that affect the spiritual lives of their half of the church. But Francis says that there is nothing more that can be said about women because his predecessors have spoken.

The question is why this papacy appears to have stalled. Whether situations like this stem from Francis' own lack of commitment to them or as a result of the interminable resistance of the Curia to papal leadership is anybody's guess. But they do mark this papacy. They make for long-term distrust.

From where I stand, this papacy has made thinking possible again. It has embraced the idea that change is part of the process of living. But it has not given some major issues significant direction. In cases like this, the promise of action and the absence of results, as the French say, "flatter only to deceive." They give false hope. As a result, in the end, the absence of action is even more disappointing than it would have been if hollow promises had never been made.

St. Paul warned the church about this kind of unclear leadership centuries ago. He writes in 1 Corinthians 14:8, "If the bugle gives an indistinct sound, who will get ready for battle?"

It is a warning to a papacy that came full of hope and is deeply respected for it. As the Talmud says, "Those who risk nothing, risk much more."

[Joan Chittister is a Benedictine sister of Erie, Pennsylvania.]

Editor's note: We can send you an email alert every time Joan Chittister's column, From Where I Stand, is posted to NCRonline.org. Go to this page and follow directions: Email alert sign-up.
This story appeared in the March 9-22, 2018 print issue.
FROM WHERE I STAND
in NCR https://www.ncronline.org/news/opinion/where-i-stand/francis-invites-change-we-are-change

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Comissão Nacional Justiça e Paz
O sentido da vida e o caminho dos povos
Nota da Comissão Nacional Justiça e Paz
Dia Internacional da Mulher – 8 de março de 2018

…Os homens, as mulheres e as crianças da terra — são eles que formam os povos — constituem a vida do mundo que Deus ama e deseja salvar, sem excluir ninguém.
…A aliança entre o homem e a mulher é chamada a ter nas suas mãos a direção da sociedade inteira. Este é um convite à responsabilidade pelo mundo, na cultura e na política, no trabalho e na economia(1).
Papa Francisco
Pertencemos a uma civilização que elegeu a dignidade de cada pessoa como estruturante da sua organização, que consagrou a igualdade entre homens e mulheres como direito fundamental. A sua realização é determinante para o desenvolvimento e sustentabilidade das comunidades. Este é, aliás, um compromisso assumido a todos os níveis, internacional, regional e nacional. O seu incumprimento representa uma tremenda violação de valores fundamentais e um tremendo risco ecológico.
Sob o impulso das Nações Unidas, do Conselho da Europa, da União Europeia e da União Interparlamentar fizeram-se aprovar ao longo dos últimos cem anos múltiplas convenções, recomendações, plataformas, enfim, um vastíssimo conjunto de instrumentos, todos eles complementares, reguladores, concretizadores, assentes no bem que é a liberdade de se ser igual, de se ser par entre pares, de se ser plenamente.
Todos estes instrumentos tiveram reflexos e tradução normativa no ordenamento jurídico português, no âmbito do direito constitucional, civil, laboral e penal, constituindo-se assim como motor essencial das transformações legais, sociais e culturais que se operaram nestes últimos anos.
Os direitos fundamentais e em especial o princípio da igualdade entre mulheres e homens bem como a proteção contra a discriminação nas suas múltiplas vertentes foram assumidos como irreversíveis.
Contudo, e apesar desta determinação, a sua concretização é lenta e a realidade evidencia persistentes assimetrias e desigualdades, frequentemente geradoras de retrocessos: a especial vulnerabilidade de meninas e mulheres face à violência, que leva a que sejam mais de 80% das vítimas de violência doméstica, a remuneração desigual, traduzida em cerca de 17% menos que a dos homens, a maior incidência da pobreza, com significado mais expressivo para as mulheres mais velhas (com pensões cerca de 31% mais baixas que as dos homens) ou que assumem sozinhas o sustento das suas famílias, a jornada diária de trabalho (remunerado e não remunerado) penalizada em cerca de mais de uma hora que a do homem, o difícil acesso aos lugares de decisão nas empresas e na política.
A igualdade, e o consequente combate a todas as formas de discriminação que a impedem, só pode ser conquistada pelo trabalho diário, próximo, consciente de cada realidade pessoal, combatendo a indiferença, devolvendo visibilidade de forma a que ninguém seja deixado para trás.
Em outubro de 2017, o Papa Francisco, no seu discurso aos participantes na assembleia geral dos membros da Pontifícia Academia para a Vida, afirmou:
…Não se trata simplesmente de oportunidades iguais, nem de reconhecimento recíproco. Trata-se sobretudo de entendimento entre homens e mulheres, sobre o sentido da vida e o caminho dos povos.
…Trata-se antes de tudo de reconhecer com honestidade os atrasos e as faltas. As formas de subordinação que tristemente marcaram a história das mulheres devem ser abandonadas de maneira definitiva. Um novo início deve ser escrito no ethos dos povos, e isto só pode ser feito por uma renovada cultura da identidade e da diferença.
A Comissão Nacional Justiça e Paz, neste dia 8 de março, reconhecendo as conquistas que se foram fazendo na correção das desvantagens estruturais que gravemente recaem sobre as mulheres e ferem a sua dignidade, não pode deixar de assinalar o longo e difícil caminho ainda a percorrer na remoção da indiferença e da invisibilidade, na eliminação das múltiplas formas de discriminação refém de preconceitos, na conquista da igualdade, e faz-se eco do apelo à revolução cultural que nas palavras do Papa Francisco se apresenta no horizonte da história desta época.
Os Direitos Humanos não são um mero ideal abstrato. São um compromisso de toda uma civilização, de toda uma comunidade em nome da justiça e da paz, para que a justiça e a paz sejam uma realidade na vida de cada pessoa.
Lisboa, 8 de março de 2018
(1)        Discurso do Papa Francisco aos participantes na assembleia geral dos membros da Pontifícia Academia para a Vida, outubro de 2017.


 

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