P / INFO: Crónicas & Could Pope
Francis deliver yet another ‘July surprise’?, artigo de John L. Allen Jr.
Frei Bento – O Papa Francisco no Iraque
Padre Anselmo - Confissões do Papa Francisco.2
Padre Tolentino - Música da Madeira
Padre Vítor – Manual para a missão
O PAPA FRANCISCO NO IRAQUE
Frei Bento Domingues, O.P.
1. Seria
ridículo discutir se o Papa Francisco deve ou não ir ao Iraque. Não basta dizer
que é um desejo que ele gostaria de realizar já no próximo ano. Os desejos do
Papa não costumam ser de ordem turística. O que será que o move?
O mais espantoso é que tenha sido o governo de Bagdad a
convidá-lo. O Presidente iraquiano, Barham Saleh, não é católico e, no entanto,
numa missiva dirigida ao Papa, declarou que tinha a honra de o convidar para
visitar o Iraque, berço da civilização e local do nascimento de Abraão. A
visita constituiria uma oportunidade para lembrar ao povo do Iraque e ao mundo
que o Papa se deslocaria à terra que deu à humanidade as suas primeiras leis, a
rega agrícola e um legado de cooperação entre os povos do mundo de tradições
confessionais diversas. Se fosse apenas isto, seria uma viagem de ordem
cultural, de memória religiosa e ecuménica. É uma memória extraordinária, que
só a ignorância ou a barbárie jihadista podem desejar esquecer e destruir. No
entanto, talvez não baste para justificar a deslocação do Papa.
Também não é suficiente dizer que o Papa vai mostrar que
também há cristãos árabes. Pensar que os árabes são todos muçulmanos é uma
ignorância e que os cristãos do Oriente são apenas os membros das Igrejas
ortodoxas.
Como lembra Jean-Marie Mérigoux, O.P., os cristãos dos países
árabes são os cristãos dos países da Bíblia: os do Iraque são da terra de
Abraão; os do Egipto são do país de Moisés; os da Palestina e de Israel, a
chamada “Terra Santa”, são da terra de Jesus. Foi de Antioquia, na Síria, que
os apóstolos saíram para fazer discípulos de todas as nações, como diz
S. Mateus.
Os cristãos do mundo árabe nasceram e vivem onde Jesus
nasceu, falou aos seres humanos e realizou a Páscoa: os católicos, os ortodoxos
e os protestantes estão em sua casa nos países da Bíblia e são, para os do
mundo inteiro, os irmãos mais velhos na fé e que os ajudam a descobrir,
por um carisma que lhes é próprio, a proximidade terrestre de Deus.
Quanto a Jerusalém, no coração do Próximo Oriente, judeus, cristãos e
muçulmanos amam-na apaixonadamente. Hoje, no Médio e Próximo Oriente,
maioritariamente muçulmano, os cristãos são cerca de 15 milhões[i].
Pertencem, no entanto, à identidade do Médio Oriente.
2. Os
cristãos do Oriente são quase desconhecidos pelos cristãos do Ocidente. Muitas
vezes, conhecem apenas o nome dos grandes patriarcas ortodoxos como os de
Constantinopla e de Moscovo. Os católicos latinos do Ocidente quase desconhecem
a sua Igreja na sua parte oriental. Maximos V, patriarca grego católico,
lamentava que, entre eles, se ignorasse que tinham irmãos católicos orientais e
a importância e o lugar dos seus patriarcas e das suas Igrejas particulares, no
seio da Igreja católica.
É importante que os católicos ocidentais se esforcem por
conhecer os seus irmãos católicos do Oriente. Não é aceitável ouvir dizer que
“o Oriente cristão era o domínio próprio da ortodoxia” e que “o Ocidente
cristão seria o domínio da catolicidade”. Isto é contrário à realidade e à
verdade: latinidade não significa catolicidade e oriente não significa
ortodoxia. Pouco antes do Vaticano II, do qual foi uma das figuras eminentes, o
patriarca grego-melquita-católico, Maximos IV lamentava demasiadas vezes: o Ocidente
católico ignorou-nos. Este patriarca manifestou que tanto a sua Igreja católica
como as outras Igrejas orientais católicas tinham, como vocação, aproximar a
catolicidade e a ortodoxia. Uma tal Igreja, simultaneamente católica e árabe,
revelava-se muito próxima e capaz de compreender as Igrejas ortodoxas, também
elas orientais e árabes. Na peregrinação de Paulo VI a Jerusalém, em 1964, o
patriarca Athenágoras encontrou Maximos IV e declarou: segui as vossas
intervenções no Concílio e agradeço-vos, pois representaste-nos a todos.
Obrigado.
Estas referências que muitos julgarão bizantinas, ajudam-nos
a perceber que a Igreja respira bem quando tem dois pulmões: o oriental e o
ocidental. Como aliás lembrou João Paulo II.
O Ocidente católico não pode ignorar que também existe um
oriente católico com as suas riquezas eclesiais, espirituais, teológicas,
artísticas e as suas tradições litúrgicas e canónicas. Tem necessidade, para a
sua vida espiritual de não absolutizar certas práticas que no contacto do oriente
cristão podem descobrir como são relativas. Se a língua árabe é utilizada
quotidianamente nestas Igrejas, o siríaco, o grego, o copta e o arménio são
línguas litúrgicas e patrísticas.
3. O
Iraque, mas não só, tem sido cenário de uma sucessão de conflitos nos últimos
40 anos, tendo enfrentado um embargo internacional, uma invasão norte-americana
e, mais recentemente, três anos de ocupação por parte do grupo Daesh.
Finalmente, o país declarou vitória sobre o grupo islamista.
O clima de violência vivido no país provocou o êxodo de
milhares de pessoas, especialmente entre as minorias. O número de cristãos, que
era de 1,5 milhões antes da queda de Saddam Hussein, em 2003, passou para 500
mil. Não se pode consentir que o Próximo Oriente se transforme em cemitérios ou
em museus cristãos.
A notícia do desejo do Papa ir ao Iraque e do seu Presidente
o ter convidado oficialmente, suscitou um enorme entusiasmo na população. Como
referiu o Patriarca Louis Sako Rafael I, ao ouvirem as palavras do Papa
Francisco, aplaudiram à maneira iraquiana, dizendo aleluia, aleluia.
Que podem eles esperar do Papa? Ele próprio declarou: “desejo
de ir no próximo ano, para que o Iraque possa seguir em frente, através da
participação pacífica e partilhada na construção do bem comum de todos as
componentes religiosas da sociedade, e não caia novamente em tensões que vêm
dos conflitos intermináveis de potências regionais”.
Com esta declaração manifesta que não vai apenas para apoiar
as muito sofridas comunidades católicas orientais, como lhe pertence. O que o
preocupa é a participação pacífica e partilhada na construção do bem comum
de todas as componentes religiosas da sociedade.
Francisco tem demonstrado nas viagens, onde os católicos são
uma minoria, que consegue entusiasmar todas as correntes da sociedade, civil e
religiosa.
Tem sido a voz de uma prática de acolhimento das pessoas em
fuga, amontoadas dentro de navios, em busca de esperança, sem saberem em que
portos poderão ser acolhidas.
Para embarcações, com armamentos sofisticados e caros capazes
de produzir devastação que não poupam nem sequer as crianças, há sempre portos
abertos. Francisco é a voz permanente daqueles a quem querem roubar a própria
esperança.
in Público 07.07.2019
[i] Cf. Jean-Marie Mérigoux, O.P., Chrétiens
du monde arabe, La vie spirituelle, nº 805 p 169-176
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Confissões do Papa Francisco. 2
Anselmo Borges
Padre e Professor de Filosofia
www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/anselmo-borges/interior/confissoes-do-papa-francisco-2-11084874.html?target=conteudo_fechado
Dou sequência à longa e bela entrevista do Papa Francisco à jornalista
Valentina Alazraki, de Noticieros Televisa, México. Porque, se é verdade
que é sempre espontâneo no contacto com os jornalistas, raramente o terá
sido tanto. Cordial, tratando a jornalista por “filha”, a quem revela que é “um
conservador”, mas que mudou.
2. 7. Os de fora e os de dentro. A jornalista observa: “Há quem diga que o
Papa parece gostar mais dos que estão longe do que dos seus”. Francisco: “É um
piropo para mim. É um piropo, pois é o que Jesus fazia, acusavam-no disso. E
Jesus diz: ‘Não são os sãos que precisam de médico, mas sim os doentes’. Eu não
prefiro os de fora aos de dentro. Cuido dos de dentro, mas dou prioridade aos
outros, isso sim.” É como numa família.
Acrescentou: “Alguns jornalistas acusam-me de que sou demasiado tolerante
com a corrupção na Igreja; por outro, se carrego em cima dos corruptos, dizem
que ‘lhes carrego demais’. Bonito. Assim, sinto-me pastor. Obrigado.”
2. 8. E volta aos migrantes e refugiados, observando a jornalista que há
quem o acuse de “falar muito mais deste tema do que dos temas, dos valores que
antes se dizia serem valores irrenunciáveis do catolicismo como a defesa da
vida.”
Francisco: “Porque é uma prioridade hoje no mundo. Todos os dias recebemos
notícias de que o Mediterrâneo é cada vez mais cemitério, para dar um exemplo.”
Mas reconhece as tremendas dificuldades do problema. “Sobre migrantes, eu
digo, em primeiro lugar, que é preciso ter coração para acolher; depois, é
preciso acompanhar, promover e integrar. Todo um processo. Aos governantes
digo: Vejam até onde podem ir. Nem todos os países podem, sem mais. E para isso
é necessário o diálogo e que se ponham de acordo. É preciso integrar isto tudo,
não é fácil tratar o problema migrantes, não é fácil.”
A mesma dificuldade quanto aos repatriados. “Não sei se viu as filmagens
clandestinas que há quando os apanham outra vez. Às mulheres e aos miúdos
vendem-nos, e os homens são feitos escravos, torturam-nos... Por isso, digo:
cuidado também para repatriar com segurança.”
2. 9. Sobre o aborto. “O aborto não é um problema religioso no sentido de:
porque sou católico não posso abortar. É um problema humano. É o problema de
eliminar uma vida humana. Ponto final. E por aqui me fico.”
2. 10. E com os governantes? “Não gosto de responder: ‘gosto mais, gosto
menos’. Quero ser honesto. Frente a um governante, procuro dialogar com o
melhor que tem. Porque a partir do melhor que tem vai fazer bem ao seu povo.”
2. 11. É sabido que Francisco não se cansa de atacar a bisbilhotice na
Igreja, na Cúria, na vida de todos. Acaba de distribuir um folheto na Cúria
sobre isso, porque “somos inclinados a falar mal das pessoas”. A jornalista:
“Como se chama o folheto?” Resposta: “Não falar mal dos outros”. “É um defeito
que temos todos: ver o mal do outro e não o bem. Isso vale para todos: a
bisbilhotice, os mexericos. Dizem que as mulheres são mais bisbilhoteiras, mas
é falso. Os homens também o são.” O que é mau deve-se dizer ao próprio,
“em privado, para que se corrija. Não o digas aos outros.”
2. 12. Situações “irregulares”, recasados e homossexuais. Francisco lamenta
que por vezes abusem das suas palavras e o interpretem mal: “Por vezes as
pessoas, com o entusiasmo de serem recebidas pelo Papa, dizem mais do que o
Papa lhes disse, é preciso ter isso em conta.” A jornalista: “É um risco que
corre...”. Resposta: “Claro, um risco. Mas todos são filhos de Deus. Todos. Eu não
posso descartar ninguém. Preciso de ter cuidado, tomar precauções, mas
descartar, não. Também não posso dizer a uma pessoa que o seu comportamento
está de acordo com o que a Igreja quer, quando não está. Mas tenho de dizer a
verdade: ‘És filho, filha de Deus. A ninguém tenho o direito de dizer que não é
filho, filha de Deus, porque estaria a faltar à verdade. Ou que Deus não gosta
dele, dela. De facto, Deus gosta de todos, até de Judas.” As pessoas têm é de
ser responsáveis.
Mas há más interpretações. “Perguntaram-me sobre a integração familiar das
pessoas com orientação homossexual e eu disse: as pessoas homossexuais, as
pessoas com uma orientação homossexual têm direito a estar na família e os pais
têm direito a reconhecer esse filho como homossexual, essa filha como
homossexual. Não se pode pôr fora da família ninguém nem tornar a vida
impossível a ninguém.” “Outra coisa é, quando se vêem alguns sinais nos miúdos
que estão a crescer, mandá-los a um ‘especialista’ (na altura, saiu-me
‘psiquiatra’, mas queria dizer especialista, foi um lapsus linguae). Ora, um
diário colocou em título: ‘O Papa manda os homossexuais ao psiquiatra’. Não é
verdade. Não disse isso.”
Quanto aos divorciados recasados, “a doutrina foi reajustada, o que
significa recuperar a doutrina de São Tomás.” O princípio continua claro:
casamento para toda a vida; do que se trata é de aplicar, dentro de certas
regras, o princípio às circunstâncias. Neste quadro, abre-se a porta à
possibilidade da comunhão em casos concretos.
2. 13. A jornalista observou: “Conhecidos seus dizem que, na Argentina, era
conservador na doutrina.” Francisco: “Sou conservador.” A jornalista: Mas
“tornou-se muito mais liberal do que era na Argentina. Foi o Espírito Santo?”
Resposta: “A graça do Espírito Santo existe certamente. Eu sempre defendi a
doutrina. E é curioso, uma vez que chama a atenção para isso, na lei do
casamento homossexual... é uma incongruência falar de casamento homossexual.” A
jornalista: “Então, antes era uma coisa e agora é outra?” “É verdade. Confio em
que cresci um pouco, que me santifiquei um pouco mais. A gente muda na vida.
Ampliei os meus critérios, isso pode ser; vendo os problemas mundiais, tomei
mais consciência de algumas coisas que antes não tinha. Julgo que nesse sentido
há mudanças, sim. Mas sou conservador e... sou as duas coisas.”
2. 14. Francisco e a imprensa. A jornalista: “Atendendo a esta evolução,
pode dizer-nos o melhor nestes seis anos?” Francisco: “Bom, escutar-vos a vós
jornalistas, creio que para mim foi uma coisa... não digo a melhor, mas uma
coisa linda.”
“Na Argentina, nunca contactava com a imprensa, não éramos santos da sua
devoção”, observa a jornalista. “Não, não. Também agora não muito (risos). Não,
mas realmente o diálogo convosco — isto é um pouco piada, mas quero dizê-lo —,
eu tenho boa relação convosco e sinto-me bem convosco, que fique claro. É uma
das coisas lindas.” “Mesmo que o critiquemos”. Francisco: “Claro que sim. Se
criticarem bem, bendito seja Deus; se criticarem mal, saio a dizer-vo-lo.
Porque o papel da imprensa não é só criticar, é construir. Mas também
tenho consciência de uma coisa: Nem sempre sois livres, lamentavelmente muitos,
par
a viver..., nem sempre podem dizer tudo o que querem.”
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QUE COISA SÃO AS NUVENS
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
Música da Madeira
NÃO RARO, A TENTATIVA DE DESLOCAR A
ARTE PARA UM TERRITÓRIO DE OBJETIVAÇÃO FÁ-LA INCORRER NAQUELE RISCO DE
DESINTEGRAÇÃO
No seu livro
“Henrique de Ofterdingen”, Novalis conta uma inquietante história. A de um
mineiro que desce ao fundo da mina no dia do seu casamento. Inesperadamente
dá-se uma derrocada e ele morre, ficando o seu corpo sepultado lá em baixo.
Muitos anos depois o corpo vem a ser descoberto, por acaso. E era incrível,
pois parecia que o tempo não havia passado, como efetivamente passa sobre tudo
o que é mortal. O mineiro permanecia belo e jovem como no dia do seu casamento.
Decidem então retirá-lo daquelas funduras desoladas até à superfície. E
acontece, nesse momento, algo de terrível: em contacto com a luz, o seu corpo
desintegra-se e torna-se pó. Esta história é frequentemente recordada para
descrever o destino da arte. De facto, quando se transita da obra, da
experiência da obra artística, à prática discursiva que se elabora acerca dela
temos de reconhecer que há uma perda. E que, não raro, a tentativa de deslocar
a arte para um território de objetivação fá-la incorrer naquele risco de
desintegração, que Novalis refere.
Não foi a
propósito da obra de arte que me recordei desta história, mas sim a propósito
da ilha da Madeira, nos primeiros de julho deste 2019, em que se comemoram os
600 anos da sua descoberta e povoamento. Falar da Madeira representa já, de
alguma maneira, perdê-la, pois a sua força telúrica é (ainda hoje é) ancestral,
pré-histórica ou pré-verbal, se quisermos. E tem uma intensidade que algumas
palavras advertem, é verdade, mas só aquelas que aceitam descer às galerias
silenciosas, a esses espaços flagrantemente uterinos, e resistir à tentação de
trazer à luz aquilo que é enigma. De facto, a “perda” está já estampada no primeiro
nome que lhe foi dado: Madeira. Se é verdadeira a tradição de que Camões se faz
eco em “Os Lusíadas”, quando diz “passamos a grande ilha da Madeira/ que do
muito arvoredo assim se chama”, percebemos que a extraordinária mata atlântica
que cobre a ilha foi interpretada sobretudo em chave utilitária. Teria sido,
porventura, o modo possível que se encontrou. Mas é também uma prova de como
são escassos os nomes para dizer a evidência do real mais puro.
Falar da Madeira representa já, de
alguma maneira, perdê-la, pois a sua força telúrica é (ainda hoje é) ancestral,
pré-histórica ou pré-verbal
O que a
Madeira é, por exemplo, ouve-se bem num disco que André Santos editou o ano
passado, com um título que resume o seu programa. O disco chama-se “Mutrama”,
um jogo com as abreviaturas de “Música tradicional da Madeira”. André Santos
fez uma breve seleção pessoal do rico repositório do cancioneiro insular,
recolhido sistematicamente, desde os inícios dos anos 80 do século passado,
pelo investigador Rui Camacho e pela Associação Xarabanda. Nessas cantigas que,
em alguns casos deste disco, são entoadas pelos próprios populares, retornámos
ao mundo do trabalho e dos ciclos económicos que caracterizaram a história da
ilha (desde a apanha do trigo à carga da cana-de-açúcar). Lidámos com a
construção das sociabilidades e da identidade do lugar, com os seus desejos
expressos ou omitidos, a sua sofreguidão mansa e a sua espera, os seus
sofrimentos, correspondências e alegrias. Entrámos dentro da alma dos ilhéus,
que, como se sabe, tem o encantamento de um melisma que o oceano embala como um
sentimento chegado. Um outro aspeto surpreendente no trabalho musical de André
Santos é a atenção que o músico presta aos cordofones madeirenses: a viola de
arame, o rajão e a braguinha. As cantigas e os versos que as vozes murmuram são
aqui importantes e revelam tanto. Mas o som desamparado destes instrumentos
talvez ainda mais. Na sua estranheza recôndita, eles dão a escutar uma Madeira
bela e jovem, como no dia do seu casamento.
in Semanário
Expresso, 05.07.2019 p163
http://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2436/html/revista-e/que-coisas-sao-as-nuvens/musica-da-madeira
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À PROCURA DA PALAVRA
P. Vítor Gonçalves
DOMINGO XIV COMUM Ano C
“Quando entrardes nalguma casa,
dizei primeiro: ‘Paz a esta casa’.”
Lc 10, 4
Manual para a
missão
1. Porquê este manual? Porque
sofremos de: sintomas de individualismo, apatia, falta de esperança, desencanto
connosco próprios e com os outros, ideias de salvação como prémio que não se
alcança ou é só para alguns “já santos”, espírito de clubismo, tentação de
êxitos vistosos e de poder sobre os outros, desejo de fama pessoal, utilização
de Deus em nosso favor, vivência da fé como rotina, esquecimento ou
desconhecimento do amor abundante de Deus, vivência acrítica e fechada da fé,
escrúpulos que atrofiam e culpas que matam, tristeza e abandono da comunidade.
2. Que é a missão? Mais
do que uma ideia pontual é elemento essencial da opção cristã assumida no
baptismo e renovada em cada domingo e todos os dias. É pessoal e comunitário e
não individual ou solitário. É o amor abundante de Deus, que deseja chegar a
todos, e conta com todos para irmos à sua frente. É anunciar a cada pessoa a
Páscoa de Jesus Cristo, revelação plena de Deus que nos convoca a construir a
vida na paz e no amor.
3. Quem faz missão e a quem
se destina? Todo o cristão baptizado, que vive o amor a Cristo e à
revelação do projecto de Salvação do Pai e do Espírito, e vive em comunidade,
como dizia Madeleine Delbrel: “A missão não é facultativa. Os meios ateus (e
indiferentes) em que vivemos impõem-nos uma escolha: missão ou demissão
cristã”. O seu destino é a universalidade. É de todos e para todos, sem
fronteiras nem limites.
4. Como se faz a missão?
Ao jeito de Jesus: na paz, no serviço e na doação de vida. Com a mansidão do
cordeiro, sem violência nem imposição, sem “lavagem cerebral” nem “escravidões
espirituais”. Libertando, amando e servindo. Indo ao encontro de todas as
pessoas em todas as realidades, humanas e desumanas, aceitando serenamente as
rejeições e perseguições, oferecendo e não vendendo. Com palavras mas, acima de
tudo, com a vida, ao jeito do mandato da ordenação dos diáconos (servidores):
“Crê o que lês, ensina o que crês, e vive o que ensinas.”
5. Com que meios? Sem
bolsa, nem alforge, nem sandálias, nem demoras no caminho. Mais importante do
que os meios é o conteúdo da missão: Jesus Ressuscitado que vive em nós e bate
à porta do coração de todos. O dinheiro e a riqueza corrompem se não são usados
para a promoção da dignidade da vida humana e da criação; o alforge alicia a
posse, as sandálias distraem do essencial, as demoras instalam a tibieza e a
rotina
6. Onde se faz a missão?
Em todo o lado: casas, praças, cidades. Também onde houver recusa e obstáculos.
Propondo, e não impondo.
7. E qual o seu fruto? A
alegria. Nenhuma recompensa maior do que a alegria de “ter os nomes escritos no
céu”.
in Voz da Verdade 07.07.2019
http://www.vozdaverdade.org/site/index.php?id=8291&cont_=ver2
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Could Pope Francis deliver yet another ‘July
surprise’?
John L. Allen Jr. EDITOR
ROME - Once upon a time, Rome
in July was a tranquil place for those whose professional activities unfold in
and around the vacation.
Popes suspended their
audiences and left town, seeking to escape the brutal summer heat, so Vatican
personnel and Vatican-watchers alike could while away leisurely days catching
up on reading, taking long lunches and equally long naps, and just savoring la
vita dolce. (Total honesty? Right now, I’m deeply nostalgic for those days.)
Famously, St. John Paul II had
a swimming pool installed at his summer retreat in Castel Gandolfo outside Rome
in 1979 so he could take dips in the dog days of July and August. When Pope
emeritus Benedict XVI was elected in April 2005, one of the first items on his
to-do list was to organize a summer vacation to Les Combes in Valle d’Aosta, in
northern Italy by the Alps, that July.
Then, Pope Francis happened.
This energizer bunny of popes
has laid waste to the old days of July as a time of lethargy and repose. Just
consider what the month of July has brought over the last six years.
July 2013: A papal outing to
Lampedusa to signal Francis’s solidarity with immigrants; World Youth Day in
Brazil, including the “Who am I to judge” mother of all soundbites; and
approval of a miracle clearing Pope John Paul II’s path to sainthood.
July 2014: Francis’s first
meeting with victims of clerical sexual abuse; his second interview with
Eugenio Scalfari, in which the nonagenarian Italian journalist had Francis
basically saying that priestly celibacy is on the way out; and the first-ever
papal visit to a Pentecostal church, one located in southern Italy and pastored
by a friend from Argentina.
July 2015: A three-nation
homecoming to Latin America in Bolivia, Ecuador and Paraguay, in which
Francis’s fiery anti-capitalist rhetoric featured the line that money is the
“devil’s dung.”
July 2016: World Youth Day in
Krakow, Poland, including a papal visit to Auschwitz in which Francis
deliberately remained silent; appointment of veteran American journalist Greg
Burke as the papal spokesman; and calling the assassination of elderly French
priest Father Jacques Hamel by ISIS loyalists “absurd.”
July 2017: A papal expression
of support for the parents of Charlie Gard, who were seeking to keep the infant
diagnosed with a rare disease alive despite a court order to suspend treatment;
the removal of German Cardinal Gerhard Müller as the head of the Vatican’s
doctrinal office; and a controversial article by two close papal allies, Jesuit
Father Antonio Spadaro and Argentine Protestant Rev. Marcelo Figueroa, which
posited an “ecumenism of hate” in the U.S. between conservative Catholics and
Evangelicals.
July 2018: The removal of
Theodore McCarrick from the College of Cardinals over allegations of sexual
abuse (McCarrick would later be expelled from the priesthood as well); and an
ecumenical visit to the Italian city of Bari.
Frankly, it’s exhausting just
listing all that activity, let alone performing it. All of which brings us to
this question: Does Pope Francis have a “July surprise” up his sleeve for 2019?
Francis already spent July 4 -
coincidentally, Independence Day in the U.S. - meeting the leader of America’s
great Cold War rival, Vladimir Putin of Russia, for what the Vatican afterwards
described as “cordial discussions.”
We also know that next Monday,
July 8, the pope will celebrate a special Mass for migrants in St. Peter’s
Basilica. It’s hardly surprising that Francis would take such a stand, but the
gesture will put the issue back in the spotlight at a time when a new CNN poll
shows that three-quarters of Americans call immigration a “crisis,” but are
bitterly split as to why: Democrats say it’s because of harsh treatment of
migrants, Republicans because too many people are spilling over the border.
Beyond that, here are three
plausible July surprises that Francis could deliver.
Curial reform: A draft of a
new apostolic constitution titled Praedicate Evangelium has been making the
rounds for a while, designed to mark the culmination of Francis’s project of
reforming the Roman Curia, meaning the Vatican’s central administrative
bureaucracy. Presumably the pontiff is putting the finishing touches on the
document now, and theoretically he could promulgate it anytime.
Trip plans: While it’s long
been rumored that Francis will visit Japan in the fall, marking a sort of
return to his Jesuit missionary roots, plans have not been officially
confirmed. There are also rumors he might add a stop in Thailand while he’s in
Asia, although that prospect too remains a mere hypothesis. If Francis is
serious about these journeys, July could bring the official ins and outs.
Curia shake-ups: At the
moment, there are five heads of Vatican departments over 75, meaning their
resignations are on Francis’s desk: Cardinal Marc Ouellet at the Congregation
for Bishops, Cardinal Luis Ladaria at the Congregation for the Doctrine of the
Faith, Cardinal Giuseppe Versaldi at the Congregation for Catholic Education,
Cardinal Beniamino Stella at the Congregation for Clergy, Cardinal Leonardo
Sandri at the Congregation for Eastern Churches, and Cardinal Gianfranco Ravasi
at the Pontifical Council for Culture. In addition, the Secretariat for the
Economy is vacant as Australian Cardinal George Pell is over 75 and fighting
for his freedom after a conviction for “historic sexual offenses.” Should
Francis make changes in any of these posts, it would be a huge signal about
where he wants the Vatican to go.
Naturally, these are merely
three possibilities out of a virtually infinite set. If there’s anything the
Francis era should have driven home by now, it’s that anything could happen -
even, as odd as it to say in the context of popes and their history, in July.
in Cruxnow, Jul 6, 2019
https://cruxnow.com/news-analysis/2019/07/06/could-pope-francis-deliver-yet-another-july-surprise/
http://nsi-pt.blogspot.com
https://twitter.com/nsi_pt
http://www.facebook.com/nossomosigreja
www.we-are-church.org/
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