28 julho 2019


P / INFO: Crónicas & Cuban cardinal, dead at 83, was a truly remarkable churchman
Frei Bento – Meditar em qualquer lugar
Padre Anselmo – Marta e Maria, Eco e Narciso
Padre Tolentino – Férias
Padre Vítor – Variações do Pai Nosso
MEDITAR EM QUALQUER LUGAR
Frei Bento Domingues, O.P.

Somos nós, que andamos distraídos e muito enganados acerca do sentido da vida, que precisamos, com insistência, de rezar pela nossa conversão.
1. Ao chegar esta altura do ano, várias pessoas, na linha destas crónicas, pediam-me sugestões de leitura para férias. Não esperava muito das minhas indicações. Quem está habituado a ler ao longo do ano não precisa de recomendações. Quem, por razões profissionais, passa o ano a fazer leituras obrigatórias julga que, nas férias, poderá recuperar outro género de obras sempre adiadas. Para quem não adquiriu a paixão dos livros, não vai ser nas férias que a vai ganhar.
Observo que, nas viagens de comboio e de metro, as mãos não estão ocupadas com livros e raramente com jornais. O metro até abandonou a experiência do jornal gratuito. Sei que esta observação é de um velho. Desconhece as múltiplas aplicações culturais da revolução tecnológica dos meios comunicação: um pequeno objecto pode ser usado para acesso à Internet, visualização de fotos, vídeos, leitura de livros, jornais, revistas e ainda com jogos para entretenimento.
Dizem-me, por isso, que os hábitos de leitura, não só não se perderam como até se intensificaram e aumentaram os “escritores”. As mãos estão sempre ocupadas a receber e a enviar mensagens. A Internet e as suas redes possibilitam contacto permanente e as últimas informações, mas também o acesso a bibliotecas inteiras.
Os jornais em papel estão a desaparecer e a serem substituídos por jornais online. Já existem padres a rezar o breviário e a celebrar a missa pelo telemóvel, mais ou menos sofisticado.
2. Não resisto, no entanto, a recomendar uma das últimas obras de José Mattoso, Levantar o Céu. Os labirintos da sabedoria[1]. Foi um dos seus textos – Contemplação e acção, ontem e hoje – que provocou esta crónica. Lembrei-me dele ao ler as passagens do Evangelho seleccionadas para estes dois últimos Domingos. No primeiro, Jesus é muito bem recebido por Marta em sua casa. Tinha uma irmã, Maria, que não parecia muito dotada para as lides domésticas. A determinada altura, Marta já não pode mais e interpela o próprio Jesus, entretido em conversa com Maria: estais aí a conversar e o trabalho caiu-me todo em cima. Achas que está bem? O insólito é que o convidado toma a defesa de Maria e parece desvalorizar a trabalheira de Marta.
Procurou-se ver aqui dois tipos de organização da vida religiosa, activa e contemplativa, cuja história na via da Igreja foi traçada, com mão de mestre, por José Mattoso.
Afinal, o que estava em causa era outra coisa: a situação da mulher que Jesus encontrou no seu povo, tipificada pela figura de Marta, a mulher escrava do trabalho doméstico sem acesso à Palavra divina e a mulher libertada pelo Evangelho de Cristo, isto é, na mesma situação que, até aí, era reserva masculina. Esta forma literária de proceder é muito característica dos Evangelhos: criar um sobressalto. O bom senso só pode dar razão a Marta e coloca Jesus e Maria muito mal. Este sobressalto é preciso para sacudir uma leitura rotineira. Jesus fez uma revolução na situação social e religiosa da mulher. Marta significa o conformismo, sempre assim foi, sempre assim será. Existem para estar ao serviço do homem. Maria simboliza a igualdade do homem e da mulher: conversam sobre a vida de igual para igual. Como ainda hoje a revolução de Jesus não foi entendida, continua a conversa sobre a ordenação das mulheres e o seu acesso à presidência da celebração eucarística. Quando esquecemos o principal, o cerne da questão, perdemo-nos em labirintos sem saída.
Enquanto andarmos cegos à procura do argueiro, não nos poderemos dar conta da trave que nos cega[2].
3. Neste Domingo, os discípulos pedem ao Mestre que resolva a sua situação de inferioridade em relação aos outros grupos religiosos que têm métodos de oração[3] e eles, nada. João Baptista, por exemplo, tinha uma escola de oração para os seus seguidores. Jesus isola-se para rezar e deixa os discípulos sem livro de orações.
No Evangelho de Mateus[4], Jesus faz uma crítica severa daqueles que rezam para mostrar que rezam. Não quer que os seus discípulos façam parte da igreja dos exibicionistas da religião. Prefere que se fechem no quarto. Se Deus está em toda a parte, pode-se rezar e meditar em qualquer lugar. Vai mais longe: nas vossas orações não useis de vãs repetições, como fazem os gentios, porque entendem que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos. Não sejais como eles, porque o vosso Pai celeste sabe do que tendes necessidades mesmo antes de lho pedirdes.
Como dissemos, Jesus não oferece um livro de orações aos seus discípulos. O Pai Nosso é, como em S. Mateus, um resumo do Evangelho e dos seus grandes temas. Diz-se depressa. A questão é de o tornar vida da nossa vida.
A narrativa de S. Lucas é muito astuciosa e, por isso, importa colher a sua lição paradoxal. Até parece que é preciso insistir, como se Deus fosse um distraído.
Conta uma história, verosímil, uma história de alguém em extrema necessidade que o leva, por causa de um amigo, a incomodar todos os amigos, que satisfazem o seu pedido só para se verem livres da sua insistência inoportuna. O certo é que conseguiu o que desejava. A conclusão até parece ser esta: pedi e dar-se-vos-á, procurai e encontrareis, batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque quem pede recebe; quem procura encontra; e a quem bata à porta, esta abrir-se-vos-á. Se fosse esta a conclusão estaria a falar de deus que precisa de gente carente, doente, submissa e disposta a tudo para ser atendida. Um deus assim precisa da miséria do mundo para se afirmar.
A verdadeira conclusão é um salto: se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem. Isto é: a oração só tem sentido para nos abrir ao Espírito do Evangelho. O que importa, em todo o tempo e lugar, são pessoas apaixonadas por aquilo que conduziu e apaixonou a vida de Cristo. Torna-se nosso contemporâneo se acolhermos o Espírito que o anima. A oração é essencial, não para convencer a Deus, não para o converter aos nossos projectos. Somos nós que andamos distraídos e muito enganados acerca do sentido da vida, que precisamos, com insistência, de rezar pela nossa conversão. Meditemos nisto em qualquer tempo e lugar.
Boas férias e até Setembro.
in Público, 28.07.2019
https://www.publico.pt/2019/07/28/sociedade/opiniao/meditar-qualquer-lugar-1881064




[1] Temas e Debates – Círculo de Leitores, 2012
[2] Mt  7, 3-5; 23, 24; Lc 6, 41-42
[3] Lc 11, 1-13;
[4] Mt 6, 5-13

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Marta e Maria, Eco e Narciso
Anselmo Borges
Padre e Professor de Filosofia

1. É um passo extraordinário do Evangelho segundo São Lucas.

Numa aldeia a caminho de Jerusalém, Betânia, Marta, a dona da casa, convidou Jesus, e, claro, querendo receber bem, como é próprio de uma dona de casa que convida um hóspede ilustre, afadigava-se a trabalhar. Entretanto, a sua irmã, Maria, sentada aos pés de Jesus, na posição própria do discípulo que escuta um rabi, um mestre, pôs-se a ouvir a palavra d'Ele. O trabalho era tanto que Marta veio ao encontro de Jesus e, compreensivelmente, quase em termos de repreensão, atirou-lhe: "Senhor, não te importas que a minha irmã me tenha deixado sozinha a servir? Diz-lhe que venha ajudar-me." Jesus respondeu: "Marta, Marta, andas inquieta e agitada com muita coisa, quando uma só é necessária! Na verdade, Maria escolheu a melhor parte, que lhe não será tirada."

2. Ao longo dos tempos, sobre este texto sucederam-se os comentários. Que Marta representa a acção e Maria a contemplação. Mestre Eckardt, paradoxalmente, chamou a atenção para o facto de a verdadeira mística ser, afinal, Marta, no contexto do que se chamou "a mística de olhos abertos", dirigida à acção a favor dos outros. A contemplação sem acção, sem compaixão, pode não passar de pura ilusão. De qualquer modo, é essencial sublinhar o que raramente ou mesmo nunca se diz: Jesus está a afirmar que as mulheres também podem e devem ser discípulas. Não é por acaso que Maria está precisamente na posição do discípulo: aos pés de Jesus, escutando a sua palavra. Contradizendo o que estava determinado, Jesus teve discípulos e discípulas; as mulheres não podem estar confinadas ao serviço da casa.

3. Numa leitura abrangente e essencial, o que o texto propugna é uma Igreja das duas irmãs e a vida de todos, de cada um e de cada uma, tem de ser a sínteses das duas irmãs. Também na política.

Concretizando.

3. 1. Há hoje muitos que não querem trabalhar e vivem pura e simplesmente encostados ao Estado, aos outros, aos contribuintes. Não é só não procurarem trabalho, é mesmo recusar trabalhar ou ser descuidado no trabalho... Isso é bem conhecido. Ora, o ser humano tem como uma das suas características ser laborans (trabalhador). Não apenas para ganhar a sua vida - uma expressão extraordinária, embora dura: a vida foi-nos dada e, depois, é preciso ganhá-la, e uma das coisas que me têm sido ensinadas pela experiência é que quem nada tem que fazer para ganhar a vida, trabalhando, porque tudo lhe é oferecido, nunca atinge a adultidade -, mas também para se realizar autenticamente em humanidade. De facto, é transformando o mundo que a pessoa se transforma e faz. Isso é dito no étimo de duas palavras: a palavra trabalho vem do latim, tripalium, que era um instrumento de tortura (trabalhar não é duro?), mas também dizemos de alguém que realizou uma obra e que se vai publicar as obras de alguém (do latim, opera) - em inglês, trabalhar diz-se to work, e em alemão Werk é uma obra, sendo o seu étimo érgon, em grego. Ai de quem, à sua maneira, não realiza uma obra, a obra primeira que é a sua própria existência autêntica!

3. 2. Mas ninguém pode ficar absorvido, cansado e morto pelo activismo de Marta. Até Deus, no princípio, segundo o livro do Génesis, determinou um dia de descanso semanal, o sábado, para que o Homem se lembrasse de que não é uma besta de carga. Todos precisamos de integrar na vida a atitude de Maria. Descansar, repousar, festejar, fazer férias (etimologicamente, férias são dias festivos). Ah! E tempo para a beleza, e para a família, tempo para os amigos, tempo para o silêncio, para o encontro consigo. Nestes tempos de dispersão, de corrida louca (para onde?), perigo maior é o do esquecimento de si e da alienação. Nestes tempos de extimidade, do fora extremo, tempos da perdição, precisamos do outro lado: cultivar a intimidade, dialogar na intimidade, lá no mais íntimo, com a fonte de ser e do ser. Ah! E ouvir o silêncio, lá onde se acendem as palavras vivas e luminosas e o sentido do existir. É preciso constantemente pedir com Sophia de Mello Breyner: "Deixai-me com as coisas/ Fundadas no silêncio." Aí, meditar. Quem sabe da sabedoria das palavras? Meditação, moderação, medicina têm um étimo comum: o verbo latino mederi - a raiz é med: pensar, medir, julgar, tratar um doente -, que significa medir, cuidar de, tratar, medicar, curar... Tanto se busca fora e longe o que está dentro e tão perto!

3. 3. Os políticos também precisam? Se precisam! Como é possível a Assembleia da República ter deixado 170 diplomas para o seu último dia de votações?! Uma vergonha! Quando é que os políticos meditam e pensam em profundidade o que é preciso pensar, longe do ruído tagarela e vazio e dos holofotes que cegam e estonteiam?

4. Dei muito recentemente um pequeno curso sobre "Grandes Mitos da Humanidade". Assim, um pouco à maneira de apêndice, deixo aí aquele que considero um dos mitos mais actuais e que diz o amor impossível: o mito de Eco e Narciso.

Narciso, enamorado da sua própria imagem reflectida na água, deixou de comer, de distrair-se com qualquer outra coisa, e ficou apenas uma flor, um narciso. A ninfa Eco, tagarela infindável, foi castigada pela deusa Hera, pois a sua tagarelice impedia-a de vigiar o seu divino esposo Zeus, que a traía: ficou muda, sem voz própria, repetindo apenas em eco as palavras alheias.
in DN, 28.07.2019

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QUE COISA SÃO AS NUVENS
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
FÉRIAS
SÓ QUEM PERMANECER COMO CRIANÇA CHEGARÁ A SENTIR-SE HERDEIRO DO GRANDE REINO DA VIDA

O poeta Ruy Belo escreveu que “somos crianças feitas para grandes férias”. É uma afirmação aparentemente simples, mas que nos avizinha de uma verdade a que não acedemos sem um mergulho corajoso em nós próprios. Talvez as coisas importantes da vida sejam assim: guardam níveis múltiplos de compreensão. E a compreensão mais plena é aquela que emerge — haveremos de concluir depois — não como dado adquirido, mas como tarefa deliberada e estação em aberto. O que nos incita a uma veemente, a uma inescusável e inacabada coragem de ser, que mesmo quando vislumbrada cedo, não deixa de reclamar de nós a aprendizagem e o caminho de uma inteira vida.

No verso de Ruy Belo, o primeiro elemento de surpresa é o emprego do presente: “somos crianças”. É que há muitos anos deixámos de pensar em nós assim. Se nos interrogassem diríamos que fomos ou que éramos crianças. Da infância conservámos a memória de uma espécie de luz perdida, uma terra cada vez mais longínqua. Contudo, a infância não é uma nostálgica época que o nosso passado encerra, mas um modo de entender e de reencontrar, em cada tempo, o pulsar do presente. Penso naquilo que o designer italiano Bruno Munari explicou um dia, dizendo que uma árvore é uma semente que cresce em silêncio. Somos até ao fim uma infância que matura, que se estende, que se complexifica, que se despoja, que se configura ao essencial. Habituámo-nos apressadamente a ver na descontinuidade e na rutura o modelo do nosso percurso, e, porventura, será menos assim do que pensámos. Empolamos demasiado os segmentos, as etapas e os ciclos. A dada altura, julgámo-nos sobretudo definidos pelas funções que desempenhámos, esquecendo-nos da força estrondosa da vida sem mais. Na verdade, cabe-nos a tarefa de redescobrir a infância como, no verão, damos por nós no encalce de velhos caminhos ou procurando a mina de água escondida, aquela que goteja límpida como nenhuma outra. Mesmo quando não se vê, a infância continua lá. Naquela maravilhosa cena autobiográfica que o cineasta Ingmar Bergman filma em “Morangos Silvestres”, ele coloca o protagonista, o velho professor Isak Borg (nome que contém as iniciais de Ingmar Bergman) a reencontrar os lugares da sua infância, e a contemplá-los agora miraculosamente como se o tempo não tivesse passado. Na verdade, o tempo não passa: somos, ainda somos, o mesmo desejo de ser amados e de amar. Por isso, só quem permanecer como criança chegará a sentir-se herdeiro do grande reino da vida.

Somos até ao fim uma infância que matura, que se estende, que se complexifica, que se despoja, que se configura ao essencial

O outro elemento de surpresa no verso de Ruy Belo é trazido pela conjugação verbal que encabeça o segundo termo: “feitas para grandes férias”. Só por si, a afirmação “somos crianças” colocava-nos num espaço de indeterminação. Mas claramente não é assim. Mais do que indeterminados somos seres feitos para: o espanto, a amplidão, a delícia. Há um chamamento maior onde nos reconhecemos. Por isso, ao contrário daquilo que o tempo de férias tantas vezes parece — quando vivido como fuga, dispersão, alheamento e intermitência de nós mesmos —, ele representa um período privilegiado em que vale a pena apostar. Há um trabalho interior, uma fundamental viagem ao âmago do real que o tempo de férias possibilita. Para isso temos de aceder ao ponto “onde começa a verdadeira vida”. Marcel Proust conta-o assim: “Existem certos espíritos que podíamos comparar a doentes que uma espécie de preguiça ou de frivolidade impede de descer espontaneamente às regiões profundas de si próprio, onde começa a verdadeira vida. Só quando aí tiverem sido conduzidos é que eles são capazes de descobrir e explorar verdadeiras riquezas.” Boas férias.
in Semanário Expresso, 27.07.2019, p. 163
http://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2439/html/revista-e/que-coisas-sao-as-nuvens/ferias
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À PROCURA DA PALAVRA
P. Vítor Gonçalves
DOMINGO XVII COMUM Ano C
“Pedi e dar-se-vos-á; procurai e encontrareis;
batei à porta e abrir-se-vos-á.”
Lc 11, 9

Variações do Pai Nosso
Nestes dias de fogo e aflição em terras que muito amo, imaginei as orações de muitos que não desistiram de lutar contra a destruição. Na impotência e na entreajuda, descobrimo-nos frágeis e necessitados, irmãos de uma mesma vida que se procura salvar. Talvez até filhos abandonados, neste desejo de querer que o Pai evitasse aquilo que causamos ou não prevenimos. E descobrimo-nos pedintes, como só as crianças o sabem ser.
Jesus rezava. Em vários os momentos os evangelistas no-lo contam. E a oração é abertura e encontro, mesmo em tantos momentos de deserto, de cada um com Deus. A intimidade com o Pai ressalta em tudo aquilo que Jesus diz e faz. Em S. Lucas, a oração é, essencialmente, pedir. E pedir é próprio dos filhos; que o diga quem é pai ou mãe! Somos filhos a aprender a ser irmãos, pois até o pão que pedimos não é só “meu”, é “nosso”. Neste relato é um discípulo, certamente extasiado, como os outros, por ver Jesus rezar, que Lhe pede que os ensine a rezar. E Jesus dá-nos o “Pai Nosso”. Modelo de todo o diálogo com o Pai, todas as nossas orações são “variações”, em todos os tons e cores, desta maravilhosa oração.
Cinco pedidos apenas (em S. Mateus são sete). Como a vida que se orienta para o Abba (o paizinho cheio de ternura das crianças), desejando que o seu Reino se estabeleça em nós, estes pedidos têm no centro o pedido do pão. Pão para todos, é compromisso que nos lança para a fraternidade e para a construção do mundo. Sem ganância de acumular nem endeusamento de qualquer poder humano. Pão que é vida e recebemo-la dia a dia das mãos do Pai. Pão que fortalece as forças para a verdadeira colaboração no projecto de Deus. Pão que se partilha e multiplica quando o egoísmo é vencido, e só assim traz felicidade.
Pedimos também o perdão. Com a condição de o darmos, na espera de que o coração de Deus seja maior que o nosso. Perdão que não é esquecimento mas liberta, e põe no amor de Deus a possibilidade de tudo curar e recriar. Perdão aos inimigos, como o fez Eva Mozes Kor, uma judia sobrevivente a horrorosas experiências nazis em Auschwitz, falecida no início de julho com 85 anos de idade. Perdão que nos mergulha ainda mais na intimidade do Pai que todos ama. Perdão, o mais difícil e, por isso, a repetir todos os dias.
Por fim, não cair na tentação… de desistir. De nos fecharmos. De não querer ser filhos nem irmãos. De “avariar” o Pai Nosso no círculo de um egoísmo interesseiro. Mas criar em palavras, cores e melodias, mil e uma variações do diálogo com o Pai que nos abre a Ele, a tudo e a todos. Vá lá, vale a pena pedir!
in Voz da Verdade, 28.07.2019
http://www.vozdaverdade.org/site/index.php?id=8346&cont_=ver2

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Cuban cardinal, dead at 83, was a truly remarkable churchman
John L. Allen Jr.
EDITOR
News Analysis
ROME - When I first arrived in Rome some twenty years ago, one of my first social events was a dinner with a group of Italian journalists from whom I was renting office space. Unfortunately, the conversation had to unfold through an interpreter, because they had no English and to call my Italian “embryonic” at that stage would have been an insult to embryos everywhere.

(Actually, that gang was a great incentive for me to get on top of the language, because just to ask something like “How do I use the photocopier?” in anything other than Italian was an ordeal that I find difficult even now to describe.)

The topic that night, as it turned out, was the favorite Roman parlor game par excellence in those years: Who did we think would be the next pope after John Paul II? While several of us hemmed and hawed, one of the journalists at the table was absolutely clear, immediate and firm in her choice: Cardinal Jaime Ortega y Alamino of Cuba, who served as the Archbishop of Havana from 1981 (three years after John Paul was elected) until 2016 (three years into the reign of Pope Francis).

My journalist friend’s logic was impeccable: John Paul’s fame was partly for standing up to Communism in Europe, while Ortega was known for doing the same thing in the New World. Plus, he was a Latin American at a time when many observers believed the cardinals wanted to elect someone from the Western hemisphere to break the European monopoly on the papacy.

In the end, the advent of a Latin American had to await one more papacy, and even then it wasn’t Ortega. Nonetheless, the memory came back to me when the news broke Friday that Ortega had died from pancreatic cancer at the age of 83.

Born in 1936, Ortega was ordained in 1964, while the Second Vatican Council was still underway and just five years after Fidel Castro had swept to power. Two years later, largely on account of his successful pastoral outreach to Cuban youth, he was imprisoned by the country’s new government, spent a year in a labor camp for what was then called “reeducation”, and eventually was released.

Flash forward a decade, and the promising young Cuban priest was made a bishop under St. Pope Paul VI. He was obviously being groomed for bigger things, and just three years later he was named the Archbishop of Havana, effectively the leader of the Cuban Church, under St. John Paul II.

During his 35-year tenure, Ortega became known around the world for one quality above all: Prudence. He would chide the Castro regime when it threatened religious freedom, but always gently and with discretion. He would also support the regime on certain matters of domestic and foreign policy, but again always with a sufficiently deft touch that he left the difference between a Catholic and an ideological approach to social questions clear.

If nothing else, Ortega will always be remembered for the role he played in restoring diplomatic relations between the United States and Cuba under the Obama administration. In 2014 he opened a channel for dialogue after Presidents Raúl Castro and Barack Obama both secretly turned to him for help. At one stage, Francis asked Ortega to deliver a confidential letter to both presidents, and Ortega made an off-the-books trip to the White House to get the missive to Obama.

Cuba and the U.S. announced the restoration of relations on Dec. 17, 2014, Francis’s 78th birthday.

To be clear, Ortega did not play to universally positive reviews. Among the Cuban exile community in the United States, he was often seen as too soft, too conciliatory, with the regime - he once asserted publicly, for example, that there are no political prisoners in Cuba - and unwilling to speak out with the necessary boldness against violations of human rights and crackdowns on dissent.

During his time, Ortega helped to engineer three papal visits to Cuba: John Paul II in 1998, Benedict XVI in 2012 and Francis in 2015. The first of those visits provided him with an education in the ways of the American press, since in the run-up to the trip it was set to be the global news story of the year. All the A-list American talent of the time, such as Tom Brokaw and Peter Jennings, were on hand to cover the anti-Communist Polish pope’s collision with the Castro regime, and then at the last minute they all flew home because an even bigger story by American standards was brewing: The Monica Lewinsky scandal.

Through it all, Ortega tried to guide his church with caution and resolve. Critics on the American side often faulted him for an excess of caution, while his Cuban counterparts sometimes resented his resolve.

Whatever one makes of Jaime Ortega in the long run of history, what has to be said now is that he handled one of the Catholic Church’s most difficult jobs for 35 long years without public complaint and with consistent dignity, slowly opening more space for the faith to live and breathe under a regime that’s officially atheist and not exactly religion’s best friend.

Ortega never became pope, but he was nevertheless one of the most remarkable churchmen of his time, so it’s appropriate to say today, on behalf of Catholics everywhere: Requiescat in pace.
in CRUX, 28.07.2019
https://cruxnow.com/news-analysis/2019/07/28/cuban-cardinal-dead-at-83-was-a-truly-remarkable-churchman/
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