P / INFO: Crónicas
& Cuban cardinal, dead at 83, was a truly remarkable churchman
Frei Bento – Meditar em qualquer lugar
Padre Anselmo – Marta e Maria, Eco e Narciso
Padre Tolentino – Férias
Padre Vítor – Variações
do Pai Nosso
MEDITAR EM QUALQUER LUGAR
Frei Bento Domingues, O.P.
Somos nós, que andamos distraídos e
muito enganados acerca do sentido da vida, que precisamos, com insistência, de
rezar pela nossa conversão.
1. Ao chegar esta altura do ano, várias
pessoas, na linha destas crónicas, pediam-me sugestões de leitura para férias.
Não esperava muito das minhas indicações. Quem está habituado a ler ao longo do
ano não precisa de recomendações. Quem, por razões profissionais, passa o ano a
fazer leituras obrigatórias julga que, nas férias, poderá recuperar outro
género de obras sempre adiadas. Para quem não adquiriu a paixão dos livros, não
vai ser nas férias que a vai ganhar.
Observo que, nas viagens de comboio e
de metro, as mãos não estão ocupadas com livros e raramente com jornais. O
metro até abandonou a experiência do jornal gratuito. Sei que esta observação é
de um velho. Desconhece as múltiplas aplicações culturais da revolução tecnológica
dos meios comunicação: um pequeno objecto pode ser usado para acesso à
Internet, visualização de fotos, vídeos, leitura de livros, jornais, revistas e
ainda com jogos para entretenimento.
Dizem-me, por isso, que os hábitos de
leitura, não só não se perderam como até se intensificaram e aumentaram os “escritores”.
As mãos estão sempre ocupadas a receber e a enviar mensagens. A Internet e as
suas redes possibilitam contacto permanente e as últimas informações, mas
também o acesso a bibliotecas inteiras.
Os jornais em papel estão a desaparecer
e a serem substituídos por jornais online.
Já existem padres a rezar o breviário e a celebrar a missa pelo telemóvel, mais
ou menos sofisticado.
2. Não resisto, no entanto, a recomendar
uma das últimas obras de José Mattoso, Levantar
o Céu. Os labirintos da sabedoria[1]. Foi um dos seus textos – Contemplação e acção, ontem e hoje – que
provocou esta crónica. Lembrei-me dele ao ler as passagens do Evangelho
seleccionadas para estes dois últimos Domingos. No primeiro, Jesus é muito bem
recebido por Marta em sua casa. Tinha uma irmã, Maria, que não parecia muito
dotada para as lides domésticas. A determinada altura, Marta já não pode mais e
interpela o próprio Jesus, entretido em conversa com Maria: estais aí a
conversar e o trabalho caiu-me todo em cima. Achas que está bem? O insólito é
que o convidado toma a defesa de Maria e parece desvalorizar a trabalheira de
Marta.
Procurou-se ver aqui dois tipos de
organização da vida religiosa, activa e contemplativa, cuja história na via da
Igreja foi traçada, com mão de mestre, por José Mattoso.
Afinal, o que estava em causa era outra
coisa: a situação da mulher que Jesus encontrou no seu povo, tipificada pela figura
de Marta, a mulher escrava do trabalho doméstico sem acesso à Palavra divina e
a mulher libertada pelo Evangelho de Cristo, isto é, na mesma situação que, até
aí, era reserva masculina. Esta forma literária de proceder é muito
característica dos Evangelhos: criar um sobressalto. O bom senso só pode dar
razão a Marta e coloca Jesus e Maria muito mal. Este sobressalto é preciso para
sacudir uma leitura rotineira. Jesus fez uma revolução na situação social e
religiosa da mulher. Marta significa o conformismo, sempre assim foi, sempre
assim será. Existem para estar ao serviço do homem. Maria simboliza a igualdade
do homem e da mulher: conversam sobre a vida de igual para igual. Como ainda
hoje a revolução de Jesus não foi entendida, continua a conversa sobre a
ordenação das mulheres e o seu acesso à presidência da celebração eucarística. Quando
esquecemos o principal, o cerne da questão, perdemo-nos em labirintos sem
saída.
Enquanto andarmos cegos à procura do
argueiro, não nos poderemos dar conta da trave que nos cega[2].
3. Neste Domingo, os discípulos pedem ao
Mestre que resolva a sua situação de inferioridade em relação aos outros grupos
religiosos que têm métodos de oração[3]
e eles, nada. João Baptista, por exemplo, tinha uma escola de oração para os seus
seguidores. Jesus isola-se para rezar e deixa os discípulos sem livro de
orações.
No Evangelho de Mateus[4],
Jesus faz uma crítica severa daqueles que rezam para mostrar que rezam. Não
quer que os seus discípulos façam parte da igreja dos exibicionistas da
religião. Prefere que se fechem no quarto. Se Deus está em toda a parte,
pode-se rezar e meditar em qualquer lugar. Vai mais longe: nas vossas orações
não useis de vãs repetições, como fazem os gentios, porque entendem que é pelo
palavreado excessivo que serão ouvidos. Não sejais como eles, porque o vosso
Pai celeste sabe do que tendes necessidades mesmo antes de lho pedirdes.
Como dissemos, Jesus não oferece um
livro de orações aos seus discípulos. O Pai
Nosso é, como em S. Mateus, um resumo do Evangelho e dos seus grandes
temas. Diz-se depressa. A questão é de o tornar vida da nossa vida.
A narrativa de S. Lucas é muito
astuciosa e, por isso, importa colher a sua lição paradoxal. Até parece que é
preciso insistir, como se Deus fosse um distraído.
Conta uma história, verosímil, uma história
de alguém em extrema necessidade que o leva, por causa de um amigo, a incomodar
todos os amigos, que satisfazem o seu pedido só para se verem livres da sua
insistência inoportuna. O certo é que conseguiu o que desejava. A conclusão até
parece ser esta: pedi e dar-se-vos-á, procurai e encontrareis, batei à porta e
abrir-se-vos-á. Porque quem pede recebe; quem procura encontra; e a quem bata à
porta, esta abrir-se-vos-á. Se fosse esta a conclusão estaria a falar de deus
que precisa de gente carente, doente, submissa e disposta a tudo para ser
atendida. Um deus assim precisa da miséria do mundo para se afirmar.
A verdadeira conclusão é um salto: se
vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai
do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem. Isto é: a oração só tem
sentido para nos abrir ao Espírito do Evangelho. O que importa, em todo o tempo
e lugar, são pessoas apaixonadas por aquilo que conduziu e apaixonou a vida de
Cristo. Torna-se nosso contemporâneo se acolhermos o Espírito que o anima. A
oração é essencial, não para convencer a Deus, não para o converter aos nossos
projectos. Somos nós que andamos distraídos e muito enganados acerca do sentido
da vida, que precisamos, com insistência, de rezar pela nossa conversão.
Meditemos nisto em qualquer tempo e lugar.
Boas férias e até Setembro.
in Público, 28.07.2019
https://www.publico.pt/2019/07/28/sociedade/opiniao/meditar-qualquer-lugar-1881064
[1]
Temas e Debates – Círculo de Leitores, 2012
[2]
Mt 7, 3-5; 23, 24; Lc 6, 41-42
[3]
Lc 11, 1-13;
[4]
Mt 6, 5-13
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Marta e Maria, Eco e Narciso
Anselmo
Borges
Padre e Professor
de Filosofia
1. É um
passo extraordinário do Evangelho segundo São Lucas.
Numa aldeia
a caminho de Jerusalém, Betânia, Marta, a dona da casa, convidou Jesus, e,
claro, querendo receber bem, como é próprio de uma dona de casa que convida um
hóspede ilustre, afadigava-se a trabalhar. Entretanto, a sua irmã, Maria,
sentada aos pés de Jesus, na posição própria do discípulo que escuta um rabi,
um mestre, pôs-se a ouvir a palavra d'Ele. O trabalho era tanto que Marta veio
ao encontro de Jesus e, compreensivelmente, quase em termos de repreensão,
atirou-lhe: "Senhor, não te importas que a minha irmã me tenha deixado
sozinha a servir? Diz-lhe que venha ajudar-me." Jesus respondeu:
"Marta, Marta, andas inquieta e agitada com muita coisa, quando uma só é
necessária! Na verdade, Maria escolheu a melhor parte, que lhe não será
tirada."
2. Ao longo
dos tempos, sobre este texto sucederam-se os comentários. Que Marta representa
a acção e Maria a contemplação. Mestre Eckardt, paradoxalmente, chamou a
atenção para o facto de a verdadeira mística ser, afinal, Marta, no contexto do
que se chamou "a mística de olhos abertos", dirigida à acção a favor
dos outros. A contemplação sem acção, sem compaixão, pode não passar de pura
ilusão. De qualquer modo, é essencial sublinhar o que raramente ou mesmo nunca
se diz: Jesus está a afirmar que as mulheres também podem e devem ser
discípulas. Não é por acaso que Maria está precisamente na posição do
discípulo: aos pés de Jesus, escutando a sua palavra. Contradizendo o que
estava determinado, Jesus teve discípulos e discípulas; as mulheres não podem
estar confinadas ao serviço da casa.
3. Numa leitura
abrangente e essencial, o que o texto propugna é uma Igreja das duas irmãs e a
vida de todos, de cada um e de cada uma, tem de ser a sínteses das duas irmãs.
Também na política.
Concretizando.
3. 1. Há
hoje muitos que não querem trabalhar e vivem pura e simplesmente encostados ao
Estado, aos outros, aos contribuintes. Não é só não procurarem trabalho, é
mesmo recusar trabalhar ou ser descuidado no trabalho... Isso é bem conhecido.
Ora, o ser humano tem como uma das suas características ser laborans
(trabalhador). Não apenas para ganhar a sua vida - uma expressão
extraordinária, embora dura: a vida foi-nos dada e, depois, é preciso ganhá-la,
e uma das coisas que me têm sido ensinadas pela experiência é que quem nada tem
que fazer para ganhar a vida, trabalhando, porque tudo lhe é oferecido, nunca
atinge a adultidade -, mas também para se realizar autenticamente em
humanidade. De facto, é transformando o mundo que a pessoa se transforma e faz.
Isso é dito no étimo de duas palavras: a palavra trabalho vem do latim,
tripalium, que era um instrumento de tortura (trabalhar não é duro?), mas
também dizemos de alguém que realizou uma obra e que se vai publicar as obras
de alguém (do latim, opera) - em inglês, trabalhar diz-se to work, e em alemão
Werk é uma obra, sendo o seu étimo érgon, em grego. Ai de quem, à sua maneira,
não realiza uma obra, a obra primeira que é a sua própria existência autêntica!
3. 2. Mas
ninguém pode ficar absorvido, cansado e morto pelo activismo de Marta. Até
Deus, no princípio, segundo o livro do Génesis, determinou um dia de descanso
semanal, o sábado, para que o Homem se lembrasse de que não é uma besta de
carga. Todos precisamos de integrar na vida a atitude de Maria. Descansar,
repousar, festejar, fazer férias (etimologicamente, férias são dias festivos).
Ah! E tempo para a beleza, e para a família, tempo para os amigos, tempo para o
silêncio, para o encontro consigo. Nestes tempos de dispersão, de corrida louca
(para onde?), perigo maior é o do esquecimento de si e da alienação. Nestes
tempos de extimidade, do fora extremo, tempos da perdição, precisamos do outro
lado: cultivar a intimidade, dialogar na intimidade, lá no mais íntimo, com a
fonte de ser e do ser. Ah! E ouvir o silêncio, lá onde se acendem as palavras
vivas e luminosas e o sentido do existir. É preciso constantemente pedir com
Sophia de Mello Breyner: "Deixai-me com as coisas/ Fundadas no
silêncio." Aí, meditar. Quem sabe da sabedoria das palavras? Meditação,
moderação, medicina têm um étimo comum: o verbo latino mederi - a raiz é med:
pensar, medir, julgar, tratar um doente -, que significa medir, cuidar de,
tratar, medicar, curar... Tanto se busca fora e longe o que está dentro e tão
perto!
3. 3. Os
políticos também precisam? Se precisam! Como é possível a Assembleia da
República ter deixado 170 diplomas para o seu último dia de votações?! Uma
vergonha! Quando é que os políticos meditam e pensam em profundidade o que é
preciso pensar, longe do ruído tagarela e vazio e dos holofotes que cegam e
estonteiam?
4. Dei muito
recentemente um pequeno curso sobre "Grandes Mitos da Humanidade".
Assim, um pouco à maneira de apêndice, deixo aí aquele que considero um dos
mitos mais actuais e que diz o amor impossível: o mito de Eco e Narciso.
Narciso,
enamorado da sua própria imagem reflectida na água, deixou de comer, de
distrair-se com qualquer outra coisa, e ficou apenas uma flor, um narciso. A
ninfa Eco, tagarela infindável, foi castigada pela deusa Hera, pois a sua tagarelice
impedia-a de vigiar o seu divino esposo Zeus, que a traía: ficou muda, sem voz
própria, repetindo apenas em eco as palavras alheias.
in DN,
28.07.2019
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QUE COISA SÃO AS NUVENS
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
FÉRIAS
SÓ QUEM PERMANECER
COMO CRIANÇA CHEGARÁ A SENTIR-SE HERDEIRO DO GRANDE REINO DA VIDA
O poeta Ruy
Belo escreveu que “somos crianças feitas para grandes férias”. É uma afirmação
aparentemente simples, mas que nos avizinha de uma verdade a que não acedemos
sem um mergulho corajoso em nós próprios. Talvez as coisas importantes da vida
sejam assim: guardam níveis múltiplos de compreensão. E a compreensão mais
plena é aquela que emerge — haveremos de concluir depois — não como dado
adquirido, mas como tarefa deliberada e estação em aberto. O que nos incita a
uma veemente, a uma inescusável e inacabada coragem de ser, que mesmo quando
vislumbrada cedo, não deixa de reclamar de nós a aprendizagem e o caminho de
uma inteira vida.
No verso de
Ruy Belo, o primeiro elemento de surpresa é o emprego do presente: “somos
crianças”. É que há muitos anos deixámos de pensar em nós assim. Se nos
interrogassem diríamos que fomos ou que éramos crianças. Da infância
conservámos a memória de uma espécie de luz perdida, uma terra cada vez mais
longínqua. Contudo, a infância não é uma nostálgica época que o nosso passado
encerra, mas um modo de entender e de reencontrar, em cada tempo, o pulsar do
presente. Penso naquilo que o designer italiano Bruno Munari explicou um dia,
dizendo que uma árvore é uma semente que cresce em silêncio. Somos até ao fim
uma infância que matura, que se estende, que se complexifica, que se despoja,
que se configura ao essencial. Habituámo-nos apressadamente a ver na
descontinuidade e na rutura o modelo do nosso percurso, e, porventura, será
menos assim do que pensámos. Empolamos demasiado os segmentos, as etapas e os
ciclos. A dada altura, julgámo-nos sobretudo definidos pelas funções que
desempenhámos, esquecendo-nos da força estrondosa da vida sem mais. Na verdade,
cabe-nos a tarefa de redescobrir a infância como, no verão, damos por nós no
encalce de velhos caminhos ou procurando a mina de água escondida, aquela que
goteja límpida como nenhuma outra. Mesmo quando não se vê, a infância continua
lá. Naquela maravilhosa cena autobiográfica que o cineasta Ingmar Bergman filma
em “Morangos Silvestres”, ele coloca o protagonista, o velho professor Isak
Borg (nome que contém as iniciais de Ingmar Bergman) a reencontrar os lugares
da sua infância, e a contemplá-los agora miraculosamente como se o tempo não
tivesse passado. Na verdade, o tempo não passa: somos, ainda somos, o mesmo
desejo de ser amados e de amar. Por isso, só quem permanecer como criança
chegará a sentir-se herdeiro do grande reino da vida.
Somos até ao fim uma infância que
matura, que se estende, que se complexifica, que se despoja, que se configura
ao essencial
O outro
elemento de surpresa no verso de Ruy Belo é trazido pela conjugação verbal que
encabeça o segundo termo: “feitas para grandes férias”. Só por si, a afirmação
“somos crianças” colocava-nos num espaço de indeterminação. Mas claramente não
é assim. Mais do que indeterminados somos seres feitos para: o espanto, a
amplidão, a delícia. Há um chamamento maior onde nos reconhecemos. Por isso, ao
contrário daquilo que o tempo de férias tantas vezes parece — quando vivido
como fuga, dispersão, alheamento e intermitência de nós mesmos —, ele
representa um período privilegiado em que vale a pena apostar. Há um trabalho
interior, uma fundamental viagem ao âmago do real que o tempo de férias
possibilita. Para isso temos de aceder ao ponto “onde começa a verdadeira
vida”. Marcel Proust conta-o assim: “Existem certos espíritos que podíamos
comparar a doentes que uma espécie de preguiça ou de frivolidade impede de
descer espontaneamente às regiões profundas de si próprio, onde começa a
verdadeira vida. Só quando aí tiverem sido conduzidos é que eles são capazes de
descobrir e explorar verdadeiras riquezas.” Boas férias.
in Semanário Expresso, 27.07.2019,
p. 163
http://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2439/html/revista-e/que-coisas-sao-as-nuvens/ferias
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À PROCURA DA PALAVRA
P. Vítor Gonçalves
DOMINGO XVII COMUM Ano C
“Pedi e dar-se-vos-á; procurai e encontrareis;
batei à porta e abrir-se-vos-á.”
Lc 11, 9
Variações do Pai Nosso
Nestes
dias de fogo e aflição em terras que muito amo, imaginei as orações de muitos
que não desistiram de lutar contra a destruição. Na impotência e na entreajuda,
descobrimo-nos frágeis e necessitados, irmãos de uma mesma vida que se procura
salvar. Talvez até filhos abandonados, neste desejo de querer que o Pai
evitasse aquilo que causamos ou não prevenimos. E descobrimo-nos pedintes, como
só as crianças o sabem ser.
Jesus
rezava. Em vários os momentos os evangelistas no-lo contam. E a oração é
abertura e encontro, mesmo em tantos momentos de deserto, de cada um com Deus.
A intimidade com o Pai ressalta em tudo aquilo que Jesus diz e faz. Em S.
Lucas, a oração é, essencialmente, pedir. E pedir é próprio dos filhos; que o
diga quem é pai ou mãe! Somos filhos a aprender a ser irmãos, pois até o pão
que pedimos não é só “meu”, é “nosso”. Neste relato é um discípulo, certamente
extasiado, como os outros, por ver Jesus rezar, que Lhe pede que os ensine a rezar.
E Jesus dá-nos o “Pai Nosso”. Modelo de todo o diálogo com o Pai, todas as
nossas orações são “variações”, em todos os tons e cores, desta maravilhosa
oração.
Cinco
pedidos apenas (em S. Mateus são sete). Como a vida que se orienta para o Abba
(o paizinho cheio de ternura das crianças), desejando que o seu Reino se
estabeleça em nós, estes pedidos têm no centro o pedido do pão. Pão para todos,
é compromisso que nos lança para a fraternidade e para a construção do mundo.
Sem ganância de acumular nem endeusamento de qualquer poder humano. Pão que é
vida e recebemo-la dia a dia das mãos do Pai. Pão que fortalece as forças para
a verdadeira colaboração no projecto de Deus. Pão que se partilha e multiplica
quando o egoísmo é vencido, e só assim traz felicidade.
Pedimos
também o perdão. Com a condição de o darmos, na espera de que o coração de Deus
seja maior que o nosso. Perdão que não é esquecimento mas liberta, e põe no
amor de Deus a possibilidade de tudo curar e recriar. Perdão aos inimigos, como
o fez Eva Mozes Kor, uma judia sobrevivente a horrorosas experiências nazis em
Auschwitz, falecida no início de julho com 85 anos de idade. Perdão que nos
mergulha ainda mais na intimidade do Pai que todos ama. Perdão, o mais difícil
e, por isso, a repetir todos os dias.
Por
fim, não cair na tentação… de desistir. De nos fecharmos. De não querer ser
filhos nem irmãos. De “avariar” o Pai Nosso no círculo de um egoísmo
interesseiro. Mas criar em palavras, cores e melodias, mil e uma variações do
diálogo com o Pai que nos abre a Ele, a tudo e a todos. Vá lá, vale a pena
pedir!
in Voz
da Verdade, 28.07.2019
http://www.vozdaverdade.org/site/index.php?id=8346&cont_=ver2
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Cuban
cardinal, dead at 83, was a truly remarkable churchman
John L. Allen Jr.
EDITOR
News Analysis
ROME - When I first arrived in Rome some twenty years
ago, one of my first social events was a dinner with a group of Italian
journalists from whom I was renting office space. Unfortunately, the
conversation had to unfold through an interpreter, because they had no English
and to call my Italian “embryonic” at that stage would have been an insult to
embryos everywhere.
(Actually, that gang was a great incentive for me to
get on top of the language, because just to ask something like “How do I use
the photocopier?” in anything other than Italian was an ordeal that I find difficult
even now to describe.)
The topic that night, as it turned out, was the
favorite Roman parlor game par excellence in those years: Who did we think
would be the next pope after John Paul II? While several of us hemmed and
hawed, one of the journalists at the table was absolutely clear, immediate and
firm in her choice: Cardinal Jaime Ortega y Alamino of Cuba, who served as the
Archbishop of Havana from 1981 (three years after John Paul was elected) until
2016 (three years into the reign of Pope Francis).
My journalist friend’s logic was impeccable: John
Paul’s fame was partly for standing up to Communism in Europe, while Ortega was
known for doing the same thing in the New World. Plus, he was a Latin American
at a time when many observers believed the cardinals wanted to elect someone
from the Western hemisphere to break the European monopoly on the papacy.
In the end, the advent of a Latin American had to
await one more papacy, and even then it wasn’t Ortega. Nonetheless, the memory
came back to me when the news broke Friday that Ortega had died from pancreatic
cancer at the age of 83.
Born in 1936, Ortega was ordained in 1964, while the
Second Vatican Council was still underway and just five years after Fidel
Castro had swept to power. Two years later, largely on account of his
successful pastoral outreach to Cuban youth, he was imprisoned by the country’s
new government, spent a year in a labor camp for what was then called
“reeducation”, and eventually was released.
Flash forward a decade, and the promising young Cuban
priest was made a bishop under St. Pope Paul VI. He was obviously being groomed
for bigger things, and just three years later he was named the Archbishop of
Havana, effectively the leader of the Cuban Church, under St. John Paul II.
During his 35-year tenure, Ortega became known around
the world for one quality above all: Prudence. He would chide the Castro regime
when it threatened religious freedom, but always gently and with discretion. He
would also support the regime on certain matters of domestic and foreign
policy, but again always with a sufficiently deft touch that he left the
difference between a Catholic and an ideological approach to social questions
clear.
If nothing else, Ortega will always be remembered for
the role he played in restoring diplomatic relations between the United States
and Cuba under the Obama administration. In 2014 he opened a channel for
dialogue after Presidents Raúl Castro and Barack Obama both secretly turned to
him for help. At one stage, Francis asked Ortega to deliver a confidential
letter to both presidents, and Ortega made an off-the-books trip to the White
House to get the missive to Obama.
Cuba and the U.S. announced the restoration of
relations on Dec. 17, 2014, Francis’s 78th birthday.
To be clear, Ortega did not play to universally
positive reviews. Among the Cuban exile community in the United States, he was
often seen as too soft, too conciliatory, with the regime - he once asserted
publicly, for example, that there are no political prisoners in Cuba - and
unwilling to speak out with the necessary boldness against violations of human
rights and crackdowns on dissent.
During his time, Ortega helped to engineer three papal
visits to Cuba: John Paul II in 1998, Benedict XVI in 2012 and Francis in 2015.
The first of those visits provided him with an education in the ways of the
American press, since in the run-up to the trip it was set to be the global
news story of the year. All the A-list American talent of the time, such as Tom
Brokaw and Peter Jennings, were on hand to cover the anti-Communist Polish
pope’s collision with the Castro regime, and then at the last minute they all
flew home because an even bigger story by American standards was brewing: The
Monica Lewinsky scandal.
Through it all, Ortega tried to guide his church with
caution and resolve. Critics on the American side often faulted him for an
excess of caution, while his Cuban counterparts sometimes resented his resolve.
Whatever one makes of Jaime Ortega in the long run of
history, what has to be said now is that he handled one of the Catholic
Church’s most difficult jobs for 35 long years without public complaint and
with consistent dignity, slowly opening more space for the faith to live and
breathe under a regime that’s officially atheist and not exactly religion’s
best friend.
Ortega never became pope, but he was nevertheless one
of the most remarkable churchmen of his time, so it’s appropriate to say today,
on behalf of Catholics everywhere: Requiescat in pace.
in CRUX,
28.07.2019
https://cruxnow.com/news-analysis/2019/07/28/cuban-cardinal-dead-at-83-was-a-truly-remarkable-churchman/
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