Crónicas de Frei Bento
Domingues, O.P., Pe. Anselmo Borges, Pe.Vitor Gonçalves & Papa pede que católicos...
A DESPEDIDA
IMPOSSÍVEL
Frei Bento Domingues, O.P.
Este Papa anda sempre a
despedir-se sem nunca o conseguir. Fica com as comunidades e as pessoas que
visita e, como nos Actos do Apóstolos, conta as suas experiências para semear
outras formas de ser Igreja.
1. Não estamos
condenados a repetir os mesmos erros. O Concílio de Florença-Ferrara, de 1442,
produziu a seguinte declaração solene: «A Santa Igreja crê, firmemente,
confessa e proclama que ninguém, fora da Igreja católica – e não apenas os
pagãos, mas também os judeus e os cismáticos – não podem tomar parte na vida
eterna, mas irão para o fogo eterno, preparado pelo diabo e os seus anjos (Mt
25-41), a menos que antes do fim da sua vida de novo se lhe tenham unido».
Temos, assim, uma instituição dedicada a meter gente no inferno. Esta Igreja
estava divorciada de Jesus Cristo. Pensava que mandava em Deus. Este teria de a
consultar acerca dos que merecem o céu e dos que já estão condenados.
Vejamos, no
entanto, um contraste, que não é o primeiro. No voo de regresso da visita
apostólica à Bulgária[1] e à Macedónia, o Papa Francisco começou por frisar
o que estes países tiveram de sofrer para se conseguirem constituir como nações,
mas esquecemos que o cristianismo entrou no Ocidente pela Macedónia (Act 16,
9). Em ambos os países existem comunidades cristãs, ortodoxas, católicas e
muçulmanas. A percentagem ortodoxa é muito alta nos dois países, a dos
muçulmanos é menor e a dos católicos é mínima na Macedónia e maior na Bulgária.
O Papa ficou muito impressionado com o bom relacionamento entre os diferentes
credos, entre as várias crenças. Na Macedónia impressionou-o uma frase do
Presidente: «Aqui não há tolerância de religião. Há respeito». Eles
respeitam-se! Num mundo onde falta o respeito pelos direitos humanos e por
tantas outras coisas, inclusive o respeito pelas crianças e pelos idosos, que o
espírito de um país seja o respeito, impressiona!
Passou, depois, ao elogio dos Patriarcas ortodoxos. De todos
só soube dizer bem. Dão um grande testemunho. Encontrei neles irmãos e de
verdade, em alguns, não quero exagerar, mas quero dizer a palavra, encontrei
santos, homens de Deus. Depois existem questões de ordem histórica. Hoje,
dizia-me o Presidente da Macedónia: o cisma entre o Oriente e o Ocidente
começou aqui, na Macedónia. Agora, pela primeira vez, vem o Papa… para
consertar o cisma? Não sei, mas somos irmãos.
Antes de se despedir dos jornalistas, não resistiu a contar
duas experiências-limite que muito o impressionaram: uma com os pobres na
Macedónia, no Memorial da Madre Teresa. Estavam tantos pobres, mas aquelas
irmãs cuidavam deles sem paternalismo, como se fossem seus filhos. Uma
capacidade de acariciar os pobres com ternura. Hoje, estamos habituados ao
insulto: um político insulta outro, um vizinho faz o mesmo e até nas famílias
se insultam entre si. O insulto é uma arma ao alcance da mão, assim como a
calúnia e a difamação. Aquelas irmãs cuidavam de cada pessoa como se fossem
Jesus. Eram uma igreja-mãe. Depois, pude participar na primeira comunhão de 245
crianças. Eram o futuro da Igreja, o futuro da Bulgária!
Este Papa anda sempre a despedir-se sem nunca o conseguir.
Fica com as comunidades e as pessoas que visita e, como nos Actos do Apóstolos,
conta as suas experiências para semear outras formas de ser Igreja, que não têm
nada a ver com a instituição dos anátemas.
2. Os cristãos
celebram hoje a Ascensão, a Festa de todos os equívocos. Cristo para onde foi?
Abandonou-nos? Mas, por outro lado, não tinha já declarado: Eu estou convosco todos os dias, até à
consumação dos séculos[2]?
A confusão é, por vezes, hilariante[3]. O melhor é recorrer ao
livro dos Actos, o segundo volume de uma obra mais vasta. São a primeira
história da Igreja, embora muito parcial. Vale a pena lembrar o seu propósito:
«No meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei as obras e os ensinamentos de
Jesus, desde o princípio até ao dia em que, depois de ter dado, pelo Espírito
Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera, foi arrebatado ao Céu. A
eles também apareceu vivo depois da sua paixão e deu-lhes disso numerosas
provas com as suas aparições, durante quarenta dias, falando-lhes também a
respeito do Reino de Deus. No decurso de uma refeição que partilhava com eles,
ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem lá o
Prometido do Pai, do qual – disse Ele – me ouvistes falar. João baptizava em
água, mas, dentro de pouco tempo, vós sereis baptizados no Espírito Santo».
A seguir complica mais as coisas: «Estavam todos reunidos,
quando lhe perguntaram: Senhor, é agora
que vais restaurar o Reino de Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete saber
os tempos nem os momentos que o Pai fixou com a sua autoridade. Mas ides
receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas
testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do
mundo».
O programa estava traçado. O reaparecimento dos
mundanos sonhos de dominação política dos discípulos são, de novo e
definitivamente, recusados. Parecia que as despedidas estavam feitas. Mas não.
«Dito isto, elevou-se à vista deles e uma nuvem subtraiu-o a seus olhos. E como
estavam com os olhos fixos no céu, para onde Jesus se afastava, surgiram de
repente dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: Homens da Galileia,
porque estais assim a olhar para o céu? Esse Jesus que vos foi arrebatado para
o Céu virá da mesma maneira, como agora o vistes partir para o Céu»[4].
3. Não
era fácil a tarefa dos autores das narrativas a seguir ao Domingo de Páscoa.
Fui abordado, várias vezes, com esta pergunta directa: o
Crucificado e o Ressuscitado são a mesma pessoa? Com esta pergunta vem outra
associada: o que é que sobrevive das pessoas, quando morrem? Mantêm a sua
personalidade essencial? Para onde vão? Onde vivem?
Os textos, no referente a Cristo, coincidem todos com a
conclusão do extraordinário e atrevido sermão de Pedro no Pentecostes: «Saiba,
portanto, toda a casa de Israel, com certeza: Deus constituiu Senhor a Cristo,
a esse Jesus que vós crucificastes»[5].
Tenha-se em conta que a palavra céu, céus, ou reino dos céus
significa Deus. Em Deus vivemos, nos movemos e existimos. Deus é a casa do
mundo.
Perguntar onde fica o céu é confundir uma metáfora com um
lugar. Cristo não se pode despedir do mundo. Pela incarnação é o Emanuel, isto é, Deus connosco. Neste
sentido, Cristo é contemporâneo de todos os povos, de todos os tempos e de
todos os lugares. Então que significam as suas despedidas impossíveis? É o tema
da próxima crónica: o Pentecostes, a recusa de uma despedida.
in Público 02.05.2019
https://www.publico.pt/2019/06/02/sociedade/opiniao/despedida-impossivel-1874842
[1]
Iremos publicar esta referência no fim do mail: Papa pede que católicos e
ortodoxos caminhem juntos no serviço aos pobres
[2] Mt 28,20
[3] Jo. 16, 5-11
[4] Act 1, 1-10
[5] Act 2, 36
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Nós e os outros.
A
urgência e a dificuldade do diálogo
Anselmo Borges
Padre e Professor de Filosofia
Estamos a viver uma transformação
prodigiosa do mundo. Há hoje várias revoluções em marcha. Uma revolução
económica, com a globalização, que significa a concretização da ideia de
McLuhan de que formamos uma “pequena aldeia” e a chegada ao palco da História
de grandes países emergentes, como a China, a Índia... Outra é a revolução
cibernética, que, como disse Jean-Claude Guillebaud, faz nascer um quase-planeta,
um “sexto continente”. Nunca como hoje houve tanta informação e com a rapidez
com que circula pelo mundo. Esta é a era da informática. A internet, o correio
electrónico, os telemóveis, as televisões põem-nos em contacto constante e
imediato com tudo o que acontece no mundo. Depois, com a facilidade dos
transportes e no quadro das novas condições económicas, há a circulação
permanente das pessoas de uns países para outros e também entre continentes. As
NBIC (nanotecnologias, biotecnologias, inteligência artificial, Big Data,
ciências cognitivas, neurociências...), em interconexão, transformam a nossa relação com a vida e a
procriação e podem fazer bifurcar a Humanidade: a actual continuaria ao lado de
outra a criar; por isso, se fala em transhumanismo e pós-humanismo. Também está
aí a urgência da revolução ecológica, que, se a Humanidade quiser ter futuro,
obriga a uma nova relação com a natureza. Como se não pode esquecer de modo
nenhum o perigo do terrorismo global e de uma guerra atómica. Está aí,
omnipresente, de múltiplos modos, o terror da violência...
Perante todas estas revoluções e face aos problemas que agora são
globais, como a droga ou o trabalho, os mercados, impõe-se, em primeiro lugar,
pensar numa governança mundial. Depois, não se sabe de que modo o futuro será,
como diz J.-Cl. Guillebaud, uma “modernidade mestiça”, mas, para evitar o
“choque das civilizações”, impõe-se o diálogo intercultural e inter-religioso.
De facto, como escreveu o teólogo José María Castillo, com todos estes factos,
produziu-se “um fenómeno inteiramente novo na história da Humanidade: a
mistura, a fusão ou o choque, a inevitável convivência de culturas, tradições,
costumes, formas de pensar e de viver, de pessoas que vão de uns países para
outros, de um extremo ao outro do mundo. E vão, não para fazer turismo, mas
para tratar da vida, fugir das guerras, da fome e da morte. Mas, como é lógico,
este reboliço de pessoas, de notícias, de ideias, de formas de viver fez com
que – sem nos darmos conta muitas vezes do que realmente se passa – bastantes
critérios, convicções, costumes e tradições que até há poucos anos tínhamos
como seguros e intocáveis, hoje estejam abalados, tenham perdido segurança, se
tenham esfumado, modificado ou, em todo o caso, perdido a firmeza e
estabilidade que antes tinham para nós.”
De qualquer modo, para o diálogo,
impõe-se uma reflexão de base sobre as suas condições de possibilidade e as
suas dificuldades. De facto, o diálogo é feito de encontros e desencontros. O
encontro é fascinante, mas, veja-se, logo de entrada, como a própria palavra
chama a atenção para a sua dificuldade: encontro mostra, nas várias línguas, um
confronto, uma oposição. Assim: en-contro (lá está o contra, como em en-cuentro
ou em rin-contro..., mesmo no alemão, Begegnung, está presente o contra, que se
diz gegen).
A neotenia constata, no essencial, que
o ser humano é um prematuro – para fazer o que faz, precisaria de permanecer no
ventre materno mais um ano, mas isso não é possível; assim, nasce no termo de 9
meses, em vez de passados 20 –, tendo, portanto, de receber por cultura aquilo
que a natureza lhe não deu. Frágil segundo a natureza e sem especialização, tem
de criar uma espécie de segunda natureza ou habitat, precisamente a cultura.
Como escreve o filósofo Robert Legros, “é na cultura ou no que a fenomenologia
chama um mundo que a humanidade de Homo encontra a sua origem, e não na
natureza. Quanto à origem da cultura, ela está por princípio votada a
permanecer uma questão sem resposta”. Enquanto os outros animais nascem feitos,
o Homem, nascendo por fazer, em aberto, tem de fazer-se a si mesmo e
caracteriza-se por essa tarefa de fazer-se com outros numa história aberta, em
processo.
Constata-se deste modo que nos fazemos
uns aos outros genética e culturalmente. O ser humano é, pois, sempre o
resultado de uma herança genética e de uma cultura em história. Assim, no
processo de nos fazermos, o outro aparece inevitavelmente. O outro não é
adjacente, mas constitutivo. Só sou eu, porque há tu, em reciprocidade. O outro
pertence-me, pois é pela sua mediação que venho a mim e me identifico: a minha
identidade passa pelo outro, num encontro mutuamente constituinte. A identidade
não é estática, fixa, determinada de uma vez para sempre. E, em cada um de nós,
há múltiplas possibilidades de ser: se eu tivesse tido outros encontros, se
tivesse frequentado outras escolas..., certamente seria eu, mas de outro
maneira, idem sed aliter. A nossa identidade é aberta, somos nós e somos
muitos; se assim não fosse, como poderíamos entender os outros, compreender um
romance, colocando-nos na pele de tantas personagens diferentes?...
Claro que cada um, cada uma, é ele,
ela, de modo único e intransferível – a experiência suma desse viver-se cada um
como único e irrepetível dá-se frente à morte, na angústia do confronto com a
possibilidade do nada e da aniquilação do eu: “ai que me roubam o meu eu!”,
clamava M. Unamuno –, mas fazemo-nos uns aos outros, de tal modo que ser e ser
em relação coincidem. Por isso, a identidade faz-se, desfaz-se, refaz-se e, em
sociedades complexas e abertas, ela será cada vez mais compósita e planetária,
com tudo o que isso significa de enriquecimento e ao mesmo tempo de
complexidades e possíveis rupturas. O outro é vivido sempre como fascinante e
ameaça. Porque o outro é outro como eu, outro eu, e, simultaneamente, um eu
outro, outro que não eu. Daí, a ambiguidade do outro. O outro enquanto outro
escapa-se-me, não é dominável.
Nunca saberei como é viver-se como
outro. Quando olhamos para outra pessoa, perguntamos: como é que ela se vive a
si mesma, por dentro?, como é que ela me vê?, como é o mundo a partir daquele
foco pessoal? Porque é simultaneamente, tanto do ponto de vista pessoal como
grupal e societal, um outro eu e um eu outro – outros como nós e outros que não
nós –, o outro atrai, ao mesmo tempo que surge como perigo possível. Há, pois,
uma visão dupla do outro, que tanto pode ser idealizado – no amor, é divinizado
–, como diabolizado. Atente-se na ligação entre hospitalidade e hostilidade,
derivados do latim “hospite” e “hoste”, respectivamente. Cá está: o outro é
hóspede, por exemplo, no hotel e no hospital. Mas, no hotel, pedem-nos a nossa
identidade, porque podemos constituir uma ameaça, um perigo ou ir embora, sem
pagar. Aliás, agora, também há o “hostel”, onde a dimensão hostil é mais
visível pela sua sonoridade, e, por isso, nos pedem, repito, para prevenir, a
identificação. E a fronteira, porta de entrada e de saída, em ligação com
fronte – a nossa fronte somos nós voltados para os outros e ao mesmo tempo ela
é limite e demarcação de nós –, anuncia o outro – outro país – e é espaço de
acolhimento e também da independência.
No quadro desta ambiguidade, entende-se
como, por medo, ignorância, desígnios de domínio, se pode proceder à construção
ideológica e representação social do outro essencialmente e, no limite,
exclusivamente, como ameaça, bode expiatório, encarnação e inimigo a
menosprezar, marginalizar, humilhar e, no limite, abater, eliminar. Num mundo
global, cada vez mais multicultural e de pluralismo religioso, é urgência maior
repensar a identidade e avançar no diálogo intercultural e inter-religioso,
sempre no horizonte da unidade na diferença e da diferença na unidade.
As revoluções em curso, que obrigam a
repensar o futuro da Humanidade, são outras razões que aprofundam a necessidade
e urgência do encontro e diálogo entre as culturas e religiões. O que desde há
anos Hans Küng vem sublinhando – a necessidade do diálogo inter-religioso para
ser possível a paz no mundo – é cada vez mais urgente. Entende-se mais
claramente do que nunca que a obra do célebre teólogo, autor principal da
“Declaração de uma Ética Mundial”, aprovada pelo Parlamento Mundial das
Religiões em Chicago, em 1993, se oriente pelo lema: “Não haverá paz entre as
nações sem paz entre as religiões. Não haverá paz entre as religiões sem
diálogo entre as religiões. Não haverá diálogo entre as religiões sem critérios
éticos globais. Não haverá sobrevivência do nosso globo sem um ethos global, um
ethos mundial”.
Falo nas religiões, mas o problema
estende-se às várias dimensões do Humanum, precisamente porque o ser humano é,
constitutivamente cultural, resultado de uma herança genética e de uma cultura
em história, é bom repetir. Por isso, a integração noutra cultura é tudo menos
fácil. Porquê? Quem não reflectiu suficientemente é por vezes levado a pensar
que a cultura é como um vestido, algo exterior que a pessoa facilmente troca,
mudando de cultura como muda de vestido. Não é assim, de modo nenhum. Porquê?
Sendo sempre o resultado de uma herança genética e de uma cultura, a cultura
define-nos, faz parte da nossa identidade e, por isso, como se constata pela
História, mesmo recente, não falta quem esteja disposto a bater-se, até pelas
armas, pela sua cultura, que faz parte constituinte da sua identidade.
Felizmente, a nossa identidade é
aberta, em história e, por isso, também podemos ver no diálogo inter-cultural e
inter-religioso um factor determinante de enriquecimento mútuo.
in DN 02.06.2019
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/02-jun-2019/interior/nos-e-os-outros-a-urgencia-e-a-dificuldade-do-dialogo-10967129.html?target=conteudo_fechado
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À
PROCURA DA PALAVRA
P.
Vítor Gonçalves
ASCENSÃO
DO SENHOR Ano C
“Havia
de ser pregado em seu nome
o
arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações.”
Lc
24, 47
Missão…
em rede
São os últimos momentos de Jesus com os
discípulos. Não apenas com os Doze, mas com o “pequenino rebanho” de homens e
mulheres com quem viveu intensamente aqueles três anos. Não vai conduzi-los
pela mão, nem deixa “manual de instruções” para a missão. Descobriremos a sua
presença abrindo-nos ao Espírito e anunciaremos a vida pascal em seu nome.
Páscoa, Ascensão e Pentecostes são um mesmo mistério: a vida plena de Deus nas
nossas vidas por Ele renovadas. Os sacramentos serão sinais eficazes do amor e
da ternura que jorram do seu coração. E em tudo o mais, a liberdade e a
criatividade que fazem crescer.
S. Lucas inclui a “missão” no conteúdo
do anúncio pascal: morte, ressurreição e pregação (kerygma). O acontecimento
que revoluciona a história não é para ficar guardado em registos históricos ou
monumentos. É portador de vida nova que deseja chegar a todos. É a
Pessoa-Acontecimento que enche de sentido os nossos sonhos e dá fundamento a um
viver autêntico. Por isso, a pregação, é “em seu nome”: Ele é origem, conteúdo
e fruto. E mais do que as palavras, diz melhor a vida em abundância dos
anunciadores. Assim, o arrependimento (conversão) e o perdão, renovam a vida de
todos. A revelação de Deus no Amor que dá a vida por todos, no perdão maior do
que os pecados, muda a nossa mentalidade teológica e humana. Mas “como hão-de
acreditar naquele de quem não ouviram falar”, dirá S. Paulo (Rom 10, 14)?
A fé cristã não é “ficar a olhar para o
céu” esquecendo o que se passa à nossa volta. O “Céu”, que não é um sítio no
espaço ou a tela de fundo azul que a atmosfera terrestre produz e onde os
pardais voam, começa dentro de cada um de nós. É a vida divina que o Espírito
Santo derrama em todos os que abrem o coração a Deus. Porque começamos a viver
como Jesus. A fazer comunhão ainda que os egoísmos teimem em destruí-la. A
trabalhar pela paz e pela justiça ainda que muitas sedes de poder ergam
obstáculos. É quando olhamos à volta e vemos o que pode ser melhor e mais belo,
que descobrimos a vontade de Deus. E com outros, inventarmos novos gestos de
compromisso!
Na mensagem para o 53º Dia Mundial das
Comunicações Sociais, o Papa Francisco fala das “redes sociais” como recurso
para construção de encontro e comunidade: “O panorama atual convida-nos, a
todos nós, a investir nas relações, a afirmar – também na rede e através da
rede – o caráter interpessoal da nossa humanidade. Por maior força de razão
nós, cristãos, somos chamados a manifestar aquela comunhão que marca a nossa
identidade de crentes. De facto, a própria fé é uma relação, um encontro; e
nós, sob o impulso do amor de Deus, podemos comunicar, acolher e compreender o
dom do outro e corresponder-lhe.[…] Esta é a rede que queremos: uma rede feita,
não para capturar, mas para libertar, para preservar uma comunhão de pessoas
livres.
in Voz
da Verdade 02.06.2019
http://www.vozdaverdade.org/site/index.php?id=8211&cont_=ver2
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Papa pede que católicos e ortodoxos
caminhem juntos no serviço aos pobres
O Papa convidou ainda à superação das
divisões “dolorosas” entre católicos e ortodoxos, desejando que todas as
Igrejas cristãs possam encontrar a “alegria do perdão”.
O Papa
Francisco pediu este domingo aos ortodoxos e aos católicos que caminhem juntos
para servir os mais pobres durante o seu discurso no Santo Sínodo, a instituição
que governa a Igreja Ortodoxa búlgara.
No seu
primeiro dia de visita à Bulgária, Francisco encontrou-se com o Patriarca da
Igreja búlgara, Neofito, num novo gesto de aproximação e diálogo para alcançar
a unidade entre os cristãos.
O Papa
convidou ainda à superação das divisões “dolorosas” entre católicos e
ortodoxos, desejando que todas as Igrejas cristãs possam encontrar a “alegria
do perdão”.
Perante
o Patriarca Neófito, metropolita de Sófia e líder dos ortodoxos búlgaros, o Papa
sublinhou que as “feridas” que se abriram nas relações entre cristãos, ao longo
da história, permanecem abertas, em muitas comunidades.
No seu
discurso manifestou o desejo de que um dia católicos e ortodoxos possam
celebrar o mistério pascal no mesmo altar, algo que parece ainda muito
distante, já que a Igreja búlgara deixou claro que não participaria de actos
religiosos, orações ou liturgias conjuntas com o papa.
Os
ortodoxos búlgaros não cooperam em qualquer diálogo ecuménico, não fazem parte
do diálogo teológico internacional, não são membros do Conselho Mundial de
Igreja nem participaram no Concílio “pan-ortodoxo” que e realizou em Creta em
2016 reunindo 290 delegados de 10 Igrejas ortodoxas pela primeira vez em mais
de mil anos de história.
Francisco
focou-se nas questões que devem unir as duas confissões e lembrou que havia
muitos cristãos neste país “que sofreram em nome de Jesus, particularmente
durante a perseguição do século passado”.
O Papa
mencionou “o ecumenismo dos pobres”, exortando os católicos e ortodoxos “a
caminhar e a agir em conjunto” especialmente no serviço aos mais pobres e
esquecidos.
O Papa
argentino lembrou que este encontro é uma continuação do que mantinha João
Paulo II com o Patriarca Máximo, durante a primeira visita de um pontífice à
Bulgária em 2002.
Na sua
intervenção Francisco recordou ainda os santos Cirilo e Metódio (séc. IX), que
evangelizaram a Bulgária, padroeiros da Europa.
O Papa
Francisco iniciou hoje uma viagem à Bulgária e à Macedónia do Norte, estando
prevista a visita a um campo de refugiados em Sófia e uma oração no memorial
dedicado a santa Teresa de Calcutá, em Skopje.
A
visita, a convite das autoridades dos dois países, decorre entre hoje e
terça-feira.
Na
terça-feira, Francisco desloca-se à capital da Macedónia do Norte, Skopje, onde
será acolhido pelas autoridades políticas no palácio presidencial dois dias
depois de o país ter realizado a segunda volta das eleições para a Presidência
após um empate técnico entre os dois primeiros candidatos no escrutínio de 21
de abril.
Em
seguida, o Papa visitará o memorial dedicado a santa Teresa de Calcutá, que
nasceu em Skopje em 1910, estando também prevista a celebração de uma missa na
Praça Macedónia, seguindo-se um encontro ecuménico e inter-religioso com
jovens.
Lusa 5
de Maio de 2019
in Público
https://www.publico.pt/2019/05/05/sociedade/noticia/papa-pede-catolicos-ortodoxos-caminhem-juntos-servico-pobres-1871526
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