P / INFO: Crónicas & Will the Spirit
of Vatican II survive in the Church?, análise de Christian Weisner, um dos fundadores do WAC-Alemanha
Crónicas de: Frei Bento Domingues, Pe. Anselmo Borges, Pe
Tolentino Mendonça e Pe Vitor Gonçalves.
SANTO
ANTÓNIO DE TODOS E PARA TUDO
1. Segundo o mito – esse nada que é tudo – os portugueses tão
depressa se julgam os melhores do mundo, como os mais atrasados da Europa.
Vivem entre a exaltação e a depressão. Procuraram fazer acreditar que a própria
formação de Portugal obedeceu a um desígnio dos céus. Deram mundos ao mundo, uniram
o Oriente e o Ocidente, acabando sem mundo nenhum, salvo o da sua língua que
não é pouco. Nunca se esquecem de observar que, na viagem de Colombo, as
caravelas e a tripulação eram espanholas, mas quem as comandava era um
português, Fernão de Magalhães!
Como escreveu Fernando Pessoa,
em 1923, nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo. Manuel
Alegre, em O Canto e as Armas, pede
mais realismo: «Porque tiveste o mar nada tiveste./ Não te percas buscando o
que perdeste: /Procura Portugal em Portugal».
O Presidente da República sabe
que, em 2019, estamos numa Europa e num mundo com outros mitos, outras
ingenuidades e perigosas ameaças.
Procurou, no Dia de Portugal
deste ano, algum equilíbrio no nosso imaginário: «Não podemos nem devemos
esquecer ou minimizar insatisfações, cansaços, indignações, impaciências,
corrupções, falências da Justiça, exigências constantes de maior seriedade ou
ética na vida pública». No entanto, «é bom que se saiba que não é só um
secretário das Nações Unidas ou um presidente do Euro-grupo, ou um
director-geral na Organização Internacional das Migrações ou uma equipa
vencedora num certame desportivo com maior notoriedade internacional» que
merecem destaque. Não nos esgotamos com António Guterres, Mário Centeno,
António Vitorino. «São todos os dias, cá dentro e lá fora, líderes sociais,
científicos, académicos, culturais ou empresariais, muitos dos quais nós nem
sabemos quem são, até que chega a notícia de que um português ganhou um prémio
de melhor investigador ou, ainda, que uma portuguesa foi considerada a melhor
enfermeira num país estrangeiro ou um artista foi celebrado noutro continente».
Contra o conhecido pessimismo, o Presidente tem um aforismo sempre disponível:
«Quando somos muito bons, somos dos melhores dos melhores».
2. No plano religioso, não nos podemos queixar. Apesar da
mediocridade do nosso catolicismo institucional, consta que, em 2018, cinco
milhões visitaram Fátima. Julgava-se que era um símbolo da nossa iletrada
alienação e do nosso atraso rural condenado com a desertificação do interior do
país. Fátima mostra, pelas metamorfoses da sua religiosidade, uma notabilíssima
capacidade de renovada mobilização individualizada. Ninguém pode controlar os
peregrinos e as suas motivações. Não é o Altar
do Mundo, mas como António José Saraiva gostava de sublinhar, Fátima
transformou-se na maior peregrinação do Ocidente com ecos em muitos
mundos.
Não temos muita sorte com o número de
santos canonizados, mas demos ao mundo alguns dos mais originais e influentes.
São João de Deus (1495-1550), nascido em Montemor-o-Novo, viveu em Granada e
foi pioneiro nos cuidados da saúde mental das populações mais pobres,
inspirando a fundação da extraordinária Ordem dos Irmãos Hospitaleiros e suas
ramificações.
3. Santo
António nasceu em Lisboa. Baptizado com o nome de Fernando recebeu, em
religião, o de António. Não teve vida longa. Morreu em Pádua com apenas 36 anos (1195-1231)!
Foi canonizado um ano depois. É, dos primeiros portugueses célebres, o mais
viajado: do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra foi
para Marrocos e dali para a Sicília, passando por Argel e Túnis. Além de
Itália, em várias cidades, percorreu o sul de França. Hoje, é venerado
fervorosamente em todos os continentes. Existe um mapa inacabado da geografia
internacional dos seus devotos.
Quando se repete que foi o martelo dos hereges cátaros, esquecemos
que foi sobretudo o martelo contra os hierarcas corruptos da Igreja que
responsabilizou pelo êxito das heresias do seu tempo.
Trabalhou, com os seus veementes
sermões, na reforma da Igreja medieval. Atribuiu à corrupção do alto e baixo
clero o surgimento dos movimentos contra a Igreja: «Pode porventura um cego guiar outro
cego? (...) O cego é o prelado ou o sacerdote perverso, privado da luz da vida
e da ciência (...). Mas porque se dá isto? Porque as sentinelas da Igreja são
todas cegas, privadas da luz da vida e da ciência; são cães mudos que têm na
boca a rãzinha do diabo e, por isso, não podem ladrar contra o lobo».
Não foi, no entanto, pela reforma do
clero que ficou conhecido, a não ser dos estudiosos[1]. Que
teria este português para se tornar o santo universal mais querido e mais popular?
São Francisco de Assis é um santo poeta
que só precisava de ser a inocência da terra e do céu para nos comover pelos
séculos dos séculos. Os devotos reconheceram em Santo António jeito para tudo,
para todos e em todas as situações. Até suporta que o castiguem quando não
consegue satisfazer caprichos loucos. É uma pessoa de família, um bom médico de
clínica geral sempre disponível, um vigilante protector dos animais, um
veterinário em casos urgentes e o sistema mais barato de perdidos e achados[2].
Nas orações dos seus devotos é sempre tratado como Meu querido Santo António[3].
Segundo a lenda, Nossa Senhora
entregou-lhe, clandestinamente, o Menino Jesus. Só lho roubaram em Alvalade,
embora no Páteo Alfacinha se mostre um bocado cansado. O doce Jesus de Antero, de Eça, de Junqueiro, a eterna criança de Caeiro-Pessoa contrasta com o muito sofrido Cristo espanhol[4].
Se o melhor do mundo são as crianças,
como disse o nosso poeta, são também elas as grandes vítimas das guerras, da
fome, das migrações e da pedofilia.
O Menino de Santo António é o símbolo
de todas as crianças que ninguém adoptou.
Frei
Bento Domingues, O.P.
in Público 16.06.2019
[1]
Santo António de Lisboa, Doutor
Evangélico, Sermões dominicais e festivos (edição bilingue Latim e Português),
introdução e notas de H. Pinto Rema, vols. I-II, Porto, 1987; Francisco da Gama
Caeiro, Santo António de Lisboa, INCM,
Lisboa, 1995, 2 Vols. Aquilino Ribeiro dedicou-lhe um romance: Humildade Gloriosa, Bertrand, Lisboa,
1984; Agustina Bessa-Luís escreveu a sua biografia literária: Santo António, Guimarães, 1973.
[2]
Para satisfazer a curiosidade das habilidades de Santo António e dos seus
devotos, ver a edição imaginária do Diário de Notícias 1864 (09.06.2019) acerca
de António. Um santo que não é só nosso.
Afinal, o português mais famoso do mundo.
[3]
O Mensageiro de Santo António, em
todos os números, tem uma secção dedicada a pedidos e agradecimentos a este
santo atento a tudo.
[4]
Eduardo Lourenço, Fernando Pessoa. Rei da
Nossa Baviera, Gradiva, 2008, 155-165
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Deus
sem mundo, mundo sem Deus
1. Segundo um estudo da Universidade de St. Mary de
Londres (2014-2016), em 12 países europeus, a maioria dos jovens entre os 16 e
os 29 anos admitem que não são crentes e que nunca ou quase nunca vão à igreja
ou rezam. A República Checa é o país menos religioso da Europa: 91% dos jovens
confessam não ter qualquer filiação religiosa. Seguem-se a Estónia, a Suécia,
os Países Baixos, onde essa percentagem dos sem religião fica entre os 70% e os
80%. Também noutros países se nota a
queda rápida da religião: na França, são 64% a admitir não serem crentes, na
Espanha, 55% declaram que não confessam qualquer religião. Frente a estes
dados, o responsável pelo estudo, Stephen Bullivant, afirmou que “a religião
está moribunda” na Europa.
Na Alemanha e em Portugal, a percentagem de não
crentes desce para 45% e 42%, respectivamente. Entre os países mais religiosos,
estão a Polónia, onde só 17% se confessam não crentes, seguindo-se a Lituânia
com 25%.
Também a prática religiosa está em crise. Só na
Polónia, Portugal e Irlanda mais de 10% dos inquiridos admitiram que iam à
Missa pelo menos uma vez por semana. Mas no Reino Unido, França, Bélgica e
Espanha, entre 56% e 60% disseram que nunca iam à igreja e entre 63% e 66% que
nunca rezam. Logicamente, na República Checa, 70% afirmam nunca ter ido a uma
celebração religiosa e 80% nunca rezam.
2. Onde se encontram as razões para esta situação que
caminha para uma Europa pós-cristã? As explicações são múltiplas. Mas chamo a
atenção para a observação que o grande teólogo Yves Congar, primeiro condenado
e, mais tarde, feito cardeal, teve já em
1935: “A uma religião sem mundo sucedeu um mundo sem religião.”
Outro grande teólogo, Philippe Roqueplo, demonstrou
essa ausência do mundo na reflexão teológica e, consequentemente, na vivência
da vida cristã. Fê-la no famoso e monumental Dictionnaire de Théologie
Catholique, elaborado entre 1903 e 1950, em 22 volumes. Ele constatou que nesse
Dicionário, que deveria abarcar “todas as questões que interessam ao teólogo”,
havia ausências de temas fundamentais para a existência humana. Assim, quando
se procura Amizade, o termo não consta; Arte: um longo artigo sobre a arte
cristã; Beleza: nada; Ciência: um longo artigo sobre ciência sagrada, ciência
de Deus, ciência dos anjos e das almas separadas, ciência de Cristo, mas sobre
a ciência como a entendemos, nada; Economia: nada; Emprego: nada; Família:
nada; História: nada; Leigo e laicado: nada; Mal: vinte colunas; Mulher: nada;
Pessoa: remete para hipóstase; Poder: um artigo com cento e três colunas sobre
o poder do Papa na ordem temporal; Política: nada; Profano: nada; Profissão: um
artigo sobre profissão de fé; Técnica: nada; Trabalho: nada; Vida: um artigo
sobre a vida eterna...
3. Não há dúvida: Deus tem a ver com o sentido último
e a salvação. Como escreveu L. Wittgenstein, um dos maiores filósofos do século
XX, “crer num Deus quer dizer compreender a questão do sentido da vida, ver que
os factos do mundo não são, portanto, tudo. Crer em Deus quer dizer que a vida
tem um sentido.” Foi neste contexto que Nietzsche, sete anos antes de
enlouquecer, escreveu a Ida, a mulher do amigo F. Overbeck, pedindo-lhe que não
abandonasse a ideia de Deus: “Eu abandonei-a, não posso nem quero voltar atrás,
desmorono-me continuamente, mas isso não me importa.” Numa longa entrevista
concedida ao jornal Le Monde, em 2017, Edgar Morin, constatando que a
Humanidade se sente perdida, afirmou: “O mito da Europa é débil. O mito da
globalização feliz está em zero. O mito da euforia do transhumanismo só está
presente entre os tecnocratas. Encontramo-nos num vazio histórico cheio de
incertezas e de angústias. Só um projecto de via salvífica poderia ressuscitar
uma esperança que não seja ilusão.”
4. A pergunta é: onde e como encontrar essa via de
salvação? Todos, incluindo a Igreja, e a Igreja de modo especial, são
convocados para encontrar a resposta a esta pergunta decisiva.
Sobre a marginalização da Igreja, concretamente na
Europa, escrevia recentemente o teólogo José M. Castillo: “A sociedade
‘descristianiza-se’ a uma velocidade e até a níveis que impressionam quem, pela
idade e pelas recordações de família, tem a sensação de estar a viver numa
sociedade que, há umas décadas, não podia imaginar”. Mas, afinal, porquê?, qual
a razão? Não está a Igreja a ser marginalizada, porque ela própria vive à
margem? Castillo acrescenta: “Uma Igreja, que vive à margem da sociedade, é uma
Igreja que se não relaciona com a ‘realidade’, mas que se relaciona com a
‘representação da realidade’, que a própria Igreja elabora para si, segundo os
seus interesses e conveniência. Se a Igreja se situou na “margem” da vida e da
sociedade, pretendemos, a partir de fora da sociedade, influenciá-la?” “Se a
Igreja não pôde assinar e fazer sua a Declaração dos Direitos Humanos, com que
autoridade e com que credibilidade pode falar de amor à humanidade?”
5. Pensando nas relações entre Deus e o mundo, o mundo
e Deus, o aquém e o Além, se se não quiser mentir a si próprio nem aos outros,
é inevitável virem à ideia estas palavras célebres de Immanuel Kant: “A praxis
deve ser tal que não se possa pensar que não existe um Além.”
Anselmo Borges
Padre e professor de Filosofia
in DN
16.06.2019
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/16-jun-2019/interior/deus-sem-mundo-mundo-sem-deus-11013809.html
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QUE COISA SÃO AS NUVENS
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
O PEIXE
RECONHECER
É ANTES DE TUDO IDENTIFICAR: TENHO QUE SABER QUEM É O OUTRO E QUEM SOU EU
PRÓPRIO; TENHO DE OUVIR MELHOR, APRENDER A VER EM PROFUNDIDADE
A verdade
é que existem dimensões da nossa existência que não são explicáveis, que não
pertencem à ordem da razão lógica. Através de um silogismo ou do conhecimento
matemático não chegaremos a apreender o seu sentido. E o mesmo se passa com a
técnica e com as outras formas da ciência. Mas também é errado pensar que pela
razão afetiva se consegue desfazer o enigma. Podemo-nos talvez aproximar mais
profundamente, mas não é por acaso que os grandes mitos do amor são, a maior
parte das vezes, mitos da procura de amor, de desejo de amor, não são histórias
de fusão, de coincidência perfeita ou de uma reciprocidade sem ângulos. Também
à afetividade se pede que aprenda a abraçar o enigma, que deixe de temer aquela
porção inalienável de silêncio e mistério que cada ser humano irradia até ao
fim. Amar é também amar o que não compreendemos do outro. Lembro-me que José
Augusto Mourão defendia, a propósito deste argumento, uma posição desafiadora.
Ele dizia: “O que os biólogos marinhos, a indústria de peixe e os compradores
de mitos partilham, é simplesmente isto: ninguém realmente sabe o que é um
peixe.” É uma coisa em que pensamos pouco: o papel que na nossa vida cabe a
este não saber. Se realmente não sabemos o que é um peixe, temos que retirar
daí elações e perguntar: como me posso avizinhar de um peixe? Mourão responde:
“Aprendamos a negociar.” Isto é, dispúnhamo-nos a aprender, ouvindo, tentando
construir pacientemente um pacto, não vinculados a um saber teórico, mas sendo
fiel à observação da própria realidade. Sobre o peixe, há aquele conto
instigador de Herberto Helder, no livro “Os Passos em Volta”.
Amar é também amar o que não
compreendemos do outro
“Era
uma vez um pintor que tinha um aquário com um peixe vermelho. Vivia o peixe
tranquilamente acompanhado pela sua cor vermelha até que principiou a tornar se
negro a partir de dentro, um nó preto atrás da cor encarnada. O nó desenvolvia
se alastrando e tomando conta de todo o peixe. Por fora do aquário o pintor
assistia surpreendido ao aparecimento do novo peixe. O problema do artista era
que, obrigado a interromper o quadro onde estava a chegar o vermelho do peixe,
não sabia que fazer da cor preta que ele agora lhe ensinava... Ao meditar sobre
as razões da mudança, o pintor supôs que o peixe, efetuando um número de
mágica, mostrava que existia apenas uma lei abrangendo tanto o mundo das coisas
como o da imaginação. Era a lei da metamorfose. Compreendida esta espécie de
fidelidade, o artista pintou um peixe amarelo.” A lei da metamorfose não será
certamente a única lei. Há um património de verdade e uma ontologia que
persistem e se tornam a chave do que somos. Mas a história do peixe amarelo de
Herberto Helder também relata dimensões significativas da vida. Identifico
rapidamente duas. Primeiro, a importância daquilo que chamaria uma
“espiritualidade do provisório”. E cito Roger Schutz, fundador da comunidade
ecuménica de Taizé, que explicava o provisório como o aceitar ir de começo em
começo; aceitar a peregrinação, a desinstalação permanente; aceitar que podemos
habitar a passagem; aceitar comprometer-se apaixonadamente com a vida não
apenas quando temos todas as coisas garantidas, mas porque aceitamos caminhar
na confiança. A outra coisa é a necessidade de realizar um percurso de
reconhecimento. Reconhecer é antes de tudo identificar: tenho que saber quem é
o outro e quem sou eu próprio; tenho de ouvir melhor, aprender a ver em
profundidade. Mas o reconhecimento é também a gratidão que me faz compreender
que a vida é pura economia do dom.
in Semanário Expresso, 15.06.2019
https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2433/html/revista-e/que-coisas-sao-as-nuvens/o-peixe
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À PROCURA DA PALAVRA
P. Vítor Gonçalves
SANTÍSSIMA TRINDADE Ano C
“Tenho ainda muitas coisas para vos dizer,
mas não as podeis compreender agora.”
Jo 16, 12
Três
Faltam
poucos minutos para as três. Da tarde. A hora limite para “dar à luz” estas
palavras. E gostaria de criar novas histórias para falar do maior dos
mistérios. Maior, porque é fonte e é foz, e n’Ele tudo é claro e é pleno. Mais
histórias porque não sei pintar nem sou compositor, e só a beleza nos permite
entrar descalços em sua casa. E recordo três histórias, que não são minhas, mas
sabe bem contá-las.
A
primeira passa-se à beira do Mediterrâneo, ainda sem o drama dos que arriscam a
vida em frágeis embarcações para procurar melhor vida do outro lado. Agostinho,
Bispo de Hipona, planeia a sua obra sobre “A Trindade”, e distrai-se com um
menino que traz na concha das mãos água do mar para uma pequena cova na areia.
Inglório esforço que repete sem se fatigar. Mete conversa e sorri com o ousado
projecto que o pequeno lhe revela: “Quero pôr o mar dentro desta covinha!”
Procurando mitigar a desilusão infantil, apela à lógica de tal impossibilidade.
Surpreende-o a resposta, por entre um sorriso de criança: “Pois fica sabendo
que é mais fácil colocar todo o mar neste pequeno buraco do que tu, apenas com
a tua inteligência humana, compreenderes o mistério da Santíssima Trindade”! A
obra foi escrita, e está cheia de luz, que convida à humildade de entrar sem
possuir!
A
segunda pode ter acontecido numa aldeia do nosso país, onde o desejo de um
pároco em fazer entender os mistérios da fé o inspirou para uma imagem acessível
a todos. Num domingo da Trindade, depois de uma partilha sobre as leituras,
arrisca a comparar o “mistério” com “um “presunto”. E perante a assembleia
interessada, seguiu: “Sim. O Pai é como se fosse o osso, o Filho como se fosse
a carne (pois não é verdade que encarnou?); e o Espírito Santo como se fosse o
toucinho!”. E a luz que brilhou nos olhos de todos consolou a alma do pregador
até que, alguém mais inquieto perguntou: “Ó senhor prior, então e o courato?” E
respondeu logo o visado: “Aí é que está o mistério!”
A
terceira envolve três anciãos que viviam numa ilha onde aporta um dia o bispo
com a sua comitiva. Ao saber que a única oração que conheciam era esta “Tu és
três; nós somos três. Tem piedade de nós!”, o bom do bispo decide ali ficar
alguns dias para lhes ensinar o Pai Nosso e alguma teologia. Partindo contente
pela boa evangelização, três dias depois, avista três vultos a correr sobre as
águas, reconhecendo os três anciãos que convida a subir ao barco. Ao ver a
tristeza que traziam pois tinham esquecido a tal oração, humilde e emocionado,
o bispo consola-os dizendo: “Quando rezarem digam: Tu és Três; nós somos Três.
Tem piedade de nós!”
Inesperada
mas urgente, é a história da poesia de Daniel Faria que descobrimos há 20 anos,
na sua partida para Deus: “[…] O que sei da unidade é a túnica / Tirada à
sorte. O que sei da morte e da vida / É o livro escrito por dentro e por fora /
Silêncio escrito por dentro / Palavra escrita a toda a volta da história // O
que sei do céu / É a mão com que sossegas os ventos // Desço à escritura como
os veados aos salmos”. Desçamos nós também.
in Voz da Verdade 16.06.2019
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I’ve expanded my evaluation of five years with Pope
Francis. The article “WILL THE SPIRIT OF VATICAN II SURVIVE IN THE CHURCH?” is
now published in „ASIAN HORIZONS“ Vol. 12, No. 3,September 2018, Pages:
478-499
https://www.wir-sind-kirche.de/files/wsk/2019/12.3.2018.9.%20Christian%20Weisner.pdf
Abstract
The 5th anniversary
of the election of Pope Francis on March 13, 2018 showed quite a mixed
assortment of both achievements and shortfalls of this pontificate that are
very different to the previous ones. Despite very serious and long lasting
problems in the Vatican and in many local churches Pope Francis has brought a
change of mood into the Church that no one ever before had thought to be
possible. From the perspective of the international reform movement “We Are
Church,” the author undertakes to take stock of the complex and highly dynamic
processes within the church, which in times of world political unrest also have
effects far beyond the inner-church space. What is needed on the different
levels of the Church to take up the processes that are necessary for the Roman
Catholic Church to find a new and more positive role in the rapidly changing
global human community?
Best wishes
C h r i s t i a n W e i s n e r
WE ARE CHURCH GERMANY
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