P / INFO: Crónicas, Against
all odds, Pope Francis has made Synods of Bishops interesting, Artigo de John
L. Allen Jr. &, em anexo,
Entrevista “O futuro da humanidade e da terra está ligado ao futuro da
Amazônia”: L. Boff
Frei Bento Domingues, Ampliar as
perguntas
Pe. Anselmo Borges, Francisco em África
para o mundo
Pe. Vitor Gonçalves, A ovelha, a moeda e
os filhos
AMPLIAR AS
PERGUNTAS
Frei Bento
Domingues, O.P.
Algumas preocupações
com as respostas certas para os novos tempos geraram catecismos arcaicos.
1. O mês de Setembro, a ritmos diversos,
abre um novo Ano Pastoral. As dioceses, as paróquias e os diversos movimentos
começam a executar programas previstos para alimentar, nos praticantes da vida
eclesial, formas inovadoras de ir ao encontro das pessoas e dos grupos que
parecem longe, indiferentes ou hostis às igrejas.
O programa da diocese de Lisboa, para
2019-2020, tem uma formulação muito generosa, mas que se pode prestar a alguns
equívocos: «Sair com Cristo ao encontro de todas as periferias»! Dito assim, até
parece que Cristo está ausente das periferias, esperando que alguém se lembre
de o conduzir para fora de portas.
De facto, em regime de Cristandade, a pastoral mais corrente – não a
única – resumia-se em apresentar, na Catequese, as verdades a crer, os
mandamentos a observar e os sacramentos a receber. Na saída para fora dos
espaços da Cristandade, supunha-se que era o missionário que levava Cristo para
as terras onde Ele nunca tinha chegado. Ele teria de propor aos gentios o Credo
cristão, os mandamentos da Lei de Deus e da Igreja, assim como administrar os 7
Sacramentos.
Com o advento da Modernidade, as sociedades ocidentais, com ritmos,
formas e em graus diversos, emanciparam-se da tutela das Igrejas e das
Religiões. Alguns falam da secularização, não só da sociedade, mas também da
vida privada. Antes, nascer e tornar-se cristão eram acontecimentos quase
simultâneos. O ambiente cultural exigia a transmissão dos rituais da fé. Com a
liberdade religiosa, cada um terá de fazer a sua escolha. As referências
cristãs passam a estar fora do ambiente cultural. Por vezes, sobretudo onde
vigoravam programas estatais de ateísmo militante, tentou-se eliminar as
próprias marcas que tinham deixado na cultura.
Esta situação devia exigir uma mudança na acção pastoral nos países de
velha Cristandade. Na verdade, vários ensaios, uns mais arrojados, outros mais
tradicionais foram feitos, nomeadamente no século XX, que não vou apresentar
aqui e agora. Num mundo em mudança, com sensibilidades tão diversas, a cópia de
receitas de sucesso noutros domínios pode ser desastrosa na pastoral eclesial.
Esta deve procurar construir-se sobre rocha firme e não sobre a areia como
dizem alguns textos cristãos.
Quando se fala das dificuldades do diálogo da Igreja com a sociedade, parece
admitir-se que está consumado o exílio da fé cristã no mundo da cultura
ocidental e que já não existem pessoas e grupos com sede e fome do Evangelho de
Jesus.
É bom não esquecer que sempre foi
difícil apresentar Cristo e a sua mensagem no que têm de singular. O que está
em causa, neste momento, não é apenas o que sempre foi exigido na autêntica
conversão ao seguimento de Cristo, mas descobrir e ampliar as perguntas que são
evitadas, no e pelo ruído que afoga o essencial do ser humano, na actualidade.
2. Neste Domingo, a grande proposta é um texto com uma parábola, desdobrada
em três, do reencontro com o que parecia perdido[1]. Nasce do acolhimento e do escândalo provocados pelas atitudes de Jesus:
os publicanos e os considerados pecadores aproximavam-se todos dele para O
ouvirem, mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si: este homem acolhe os pecadores e come com
eles.
A linguagem das parábolas exige um salto para fora do sentido imediato.
Este serve, apenas, como ponto de partida para outras viagens da imaginação, da
inteligência e dos afectos. Ao contrário dos catecismos, não procura respostas
prontas a servir. Aprofunda e amplia as perguntas inoportunas.
A parábola é a linguagem da saída sem lugar previsto de chegada. Nesta
não se pretende mostrar a alegria partilhada da mulher pobre que varre a casa
toda para encontrar uma moeda; a desilusão de um jovem aventureiro e as
espectativas de voltar ao lar paterno, não como filho, mas como empregado; um
pai que sempre esperou o filho perdido; o ressentimento do irmão bem comportado
ao ver a festa oferecida ao estroina. Então que terá provocado Jesus a contar
esta parábola tão pouco pedagógica?
Importa não esquecer que o vinho novo do Evangelho rebentou com os odres
velhos dos fariseus e da exegese dos escribas pretensiosos. Tinham os segredos
dos caminhos de Deus fechados nos seus costumes e nas interpretações
codificadas dos que se julgavam confidentes do divino. Costumes tão santos,
sabedoria tão sublime, provocavam uma cegueira metódica. Jesus, com o seu
comportamento insólito, era um mau exemplo para essa religião convencional, a
da ortodoxia e a da moral que sabe sempre o que está bem e o que está mal;
aquela que sabe qual é a vontade de Deus, em todas as situações e circunstâncias.
Nada lhe escapa. É uma religião feita para a denúncia dos comportamentos
desviantes, a religião de um deus
domesticado.
Pode-se perguntar, que temos nós, hoje, a ver com essa conversa de há
dois mil anos?
3. Algumas preocupações com as respostas certas para os novos tempos
geraram catecismos arcaicos. Voltavam a dizer o que está certo e o que está
errado, criando uma nova casta dos depositários da boa doutrina e dos bons
costumes.
Veio o Papa Francisco, com o seu comportamento insólito e a sua palavra
liberta e libertadora, e os depositários
da boa doutrina e dos bons costumes – mesmo sem a conhecerem e sem os
observar – apressaram-se a dizer que ele está a dar cabo da Igreja.
Francisco, porém, sabe que está sempre a ser espiado e que irão
aproveitar tudo para o desautorizar e desacreditar. Como não pretende ser
infalível e ter solução para todas as questões, até das próprias oposições
colhe experiência para abrir caminhos a todas as pessoas de boa vontade, como
diria o velho Papa João XXIII: ao reunir os que têm e os que não têm religião,
os que têm sensibilidades espirituais e religiosas muito diversas e colocar
todo esse mundo em diálogo, aprofunda e alarga as suas perguntas e os seus
horizontes. Há mais mundos do que aqueles que cabem na minha capela ou na minha
seita. O mundo é de todos e todos devem ser convocados para salvar a casa
comum, mesmo sem saber ainda como.
Dir-se-á que o que está a acontecer em muitas partes do mundo é medonho.
É! Mas quem nos poderá impedir de festejar os pequenos passos que, por toda a
parte, estão a ser dados na direcção da esperança?
Será o tema da próxima semana.
in Público, 15.10.2019
https://www.publico.pt/2019/09/15/sociedade/opiniao/ampliar-perguntas-1886482
[1]
Lc 15, 1-32
● ● ● ●
● ● ● ● ● ● ● ● ● ●
Francisco em África para o mundo
Anselmo
Borges
Padre e professor
de Filosofia
1. O Papa
Francisco voltou a África. Numa viagem de contrastes: por um lado, Moçambique e
Madagáscar, dois dos países mais pobres do mundo — Moçambique, com 70% dos 28
milhões de habitantes a viver abaixo do limiar da pobreza, é o décimo mais
pobre; Madagáscar é o quinto mais pobre —, e, por outro, a República de
Maurício, onde a economia cresce cerca de 5% ao ano, é uma ilha onde fazem
férias turistas ricos. Francisco levava na bagagem objectivos essenciais: uma
paz duradoura, o cuidado com o meio ambiente, o diálogo inter-religioso, um
mundo globalizado justo. Numa visita multitudinária, em todo o lado foi
recebido em festa e júbilo, com danças e tambores, como só os africanos sabem
fazer.
A viagem
decorreu entre 4 e 10 deste mês de Setembro. Ele próprio, no passado dia 12, já
em Roma, descreveu o seu périplo por África e o que o moveu: “O Evangelho é o
mais poderoso fermento de fraternidade, de liberdade, de justiça e de paz para
todos os povos.”
1.1. “Em
Moçambique fui semear sementes de esperança, paz e reconciliação numa terra que
tanto sofreu no passado recente por causa de um longo conflito armado e que na
passada Primavera foi vítima de dois ciclones que causaram danos muito graves.”
Em
Moçambique, clamou perante as autoridades: “Não à violência que destrói, sim à
paz e à reconciliação.” E, sobre o processo de paz, no qual tem tido papel
fundamental a Comunidade de Santo Egídio, quis exprimir o seu “reconhecimento”,
dele e de grande parte da comunidade internacional, pelo esforço em ordem à
reconciliação, que, sublinhou, “é o melhor caminho para enfrentar as
dificuldades que tendes como Nação”. “Vós tendes uma missão valorosa e
histórica a cumprir: Que não cessem os esforços enquanto houver crianças e
adolescentes sem educação, famílias sem tecto, operários sem trabalho,
camponeses sem terra: bases de um futuro de esperança porque é futuro de
dignidade. Estas são as armas da paz.”
Certamente
pensando no facto de Moçambique, entre 2001 e 2008, ter perdido 3 milhões de
hectares de floresta — um total de 11% da sua área florestal (Madagáscar perdeu
3,63 milhões de hectares, o que representa uma diminuição de 21% —, pediu, com
a igualdade, a defesa da terra e da vida, frente aos que exploram e
desflorestam em seu próprio benefício — os principais responsáveis são os
chineses —, num “afã acumulativo que, em geral, nem sequer é de pessoas que
habitam estas terras e não é movido pelo bem comum do vosso povo”.
Acusado de visitar Moçambique em campanha
eleitoral, Francisco respondeu, já no avião, de regresso a Roma: “Não foi um
erro, foi uma opção decidida livremente, porque a campanha eleitoral começou
nestes dias e foi eclipsada pelo processo de paz. O importante era ajudar a consolidar
este processo. E isto é mais importante do que uma campanha que ainda não
começou. Ao fazer o balanço, é necessário consolidar o processo de paz. E
também me reuni com os dois opositores políticos, para sublinhar que o
importante era isso e não para animar o presidente, mas para sublinhar a
unidade do país.”
1.2. Francisco continua a narrativa da sua
viagem: “De Maputo segui para Antananarivo, capital de Madagáscar. Um país rico
em beleza e recursos naturais, mas vítima da pobreza. Desejei-lhe que, animado
pelo seu tradicional espírito de solidariedade, o povo malgaxe possa superar as
adversidades e construir um futuro de desenvolvimento, conjugando o respeito
pelo meio ambiente e a justiça social.”
Madagáscar,
um país esquecido, encontra-se entre os cinco países mais pobres do mundo e os
católicos representam 36% da população. A luta contra a pobreza, a crise
climática — simbolicamente, contra a desflorestação, Francisco plantou
juntamente com o Presidente de Madagáscar um baobá, “a mãe da floresta” — e a
necessidade da transformação da sociedade para uma distribuição equitativa dos
recursos foram os eixos da intervenção papal.
Uma multidão
de mais de cem mil jovens reuniu-se para abraçar o Papa e dialogar com ele.
Perante um milhão de fiéis na Missa em Antananarivo, numa esplanada imensa em
terrenos da diocese e de um cidadão muçulmano que os cedeu para a celebração,
Francisco clamou contra “a cultura dos privilégios e da exclusão: favoritismos,
amiguismos e, portanto, corrupção”, advertindo igualmente contra “o fascínio
por ideologias que acabam por instrumentalizar o nome de Deus ou a religião
para justificar actos de violência, segregação e até homicídio, exílio,
terrorismo e marginalização”. “A pobreza não pertence ao plano de Deus”.
O momento
mais emocionante da viagem foi o encontro com 8.000 crianças na visita à
chamada “cidade da amizade”, Akamasoa, um lugar onde antes havia uma enorme
lixeira e agora há casas, pequenas, mas dignas, escolas, espaços de recreio,
para milhares de famílias que puderam recuperar o seu trabalho e a dignidade.
Foi construída pelos próprios pobres, com a ajuda do padre argentino Pedro
Opeka: afinal, “a pobreza não é uma fatalidade”. “Rezemos para que em todo o
Madagáscar e noutras partes do mundo se prolongue o brilho desta luz e possamos
conseguir modelos de desenvolvimento que privilegiem a luta contra a pobreza e
a exclusão social a partir da confiança, da educação, do trabalho e do
esforço.”
1.3. “A
Segunda-Feira dediquei-a à visita da República de Maurício, conhecido lugar
turístico, mas que escolhi como lugar de integração entre diversas etnias e
culturas.”
O país, com
pouco mais de 1,2 milhões de habitantes, com pessoas de origem indiana,
africana, chinesa e europeia, sobretudo francesa, é o único do continente
africano com uma maioria hindu (48,5%) — 32,7% são cristãos e 17,2% são
muçulmanos —, e é um exemplo para todos no que respeita ao diálogo entre
culturas, pessoas e religiões.
Na Missa, na
qual participaram 100.000 pessoas, 8% da população, o Papa reflectiu sobre as
Bem- aventuranças, “o bilhete de identidade dos cristãos”.
No seu
último discurso oficial, fez como que uma síntese, pela positiva, das suas
preocupações nesta viagem. Dirigiu-se às autoridades de Maurício, que, desde há
anos, possui “não só um rosto multicultural, étnico e religioso mas, sobretudo,
a beleza que provém da vossa capacidade de reconhecer, respeitar e harmonizar
as diferenças existentes em função de um projecto comum”.
Agradeceu à
população o ensinamento que dá ao mundo: “é possível alcançar uma paz estável a
partir da convicção de que a diversidade é bela quando aceita entrar
constantemente num processo de reconciliação, até selar uma espécie de pacto
cultural que faça emergir uma diversidade reconciliada”. Esta é, sublinhou, “base
e oportunidade para a construção de uma real comunhão dentro da grande família
humana, sem necessidade de marginalizar, excluir ou rejeitar.”
Recordando
que Maurício se fez com diversos movimentos migratórios, animou a “assumir o
desafio de dar as boas-vindas e proteger os migrantes que vêm hoje à procura de
trabalho e, para muitos deles, melhores condições de vida para as suas
famílias: preocupai-vos com dar-lhes as boas-vindas como os vossos antepassados
souberam acolher-se uns aos outros”.
Também
recordou “a tradição democrática instaurada depois da independência e que
contribui para fazer da ilha Maurício um oásis de paz”, que há-de prosseguir
“lutando contra todas as formas de discriminação.”
Destacando o
grande desenvolvimento da ilha, advertiu que “o crescimento económico nem
sempre beneficia a todos e que inclusivamente deixa de lado, devido a algumas
estratégias da sua dinâmica, um certo número de pessoas, especialmente os
jovens. Por isso, quereria animar-vos a promover uma política económica
orientada para as pessoas. Animai-vos a não sucumbir à tentação de um modelo
económico idólatra que sente a necessidade de sacrificar vidas humanas no altar
da especulação e da mera rentabilidade, que só tem em conta o lucro imediato em
detrimento da protecção dos mais pobres, do nosso meio ambiente e os seus
recursos”. Trata-se, em última análise, de “promover uma mudança de estilos de
vida para que o crescimento económico possa realmente beneficiar a todos, sem
correr o risco de causar catástrofes ecológicas nem graves crises sociais”.
Dirigindo-se
por fim aos líderes religiosos presentes, exprimiu-lhes a sua “gratidão por em
Maurício as diferentes religiões, com as suas respectivas identidades,
trabalharem em comum para contribuir para a paz social e recordar o valor
transcendente da vida contra todo o tipo de reducionismo.
2. Francisco
foi, nesta viagem, como sempre, arauto da paz, clamando contra a guerra, a
corrupção e a favor da justiça e da fraternidade humana; insistiu no diálogo
inter-religioso; arremeteu contra o clericalismo: “a Igreja não pode ser parte
do problema, mas porta de solução, de respeito, intercâmbio e diálogo”, às
vezes, “sem querer, sem culpa moral, habituamo-nos a identificar a nossa tarefa
quotidiana de sacerdotes com certos ritos, com reuniões onde o lugar que
ocupamos na reunião, na mesa, é de hierarquia”; defendeu a atenção a ter com o
cuidado do meio ambiente; proclamou a alegria: “Jovens, não deixeis que vos
roubem a alegria de viver”.
As linhas
fundamentais da mensagem essencial, que ficou, tinha-as enunciado numa
entrevista, ainda antes da visita, o Secretário de Estado, Cardeal Pietro
Parolin. África “precisa de amigos de África, não pessoas que olhem para ela
com olhos interesseiros, mas pessoas que realmente procurem ajudar este
continente a pôr em prática todos os seus recursos, todas as suas forças para
progredir, para avançar.” Mas a primeira linha é que “os africanos devem ser
conscientes da sua responsabilidade na busca de soluções para os problemas
africanos dentro das suas sociedades, dentro dos seus Estados. Portanto, uma
consciência renovada de que o destino de África, o seu futuro, está nas mãos
dos africanos: uma assunção de responsabilidade neste sentido para lutar contra
todos aqueles fenómenos que impedem o desenvolvimento e a paz.”
Como é
hábito, já de regresso a Roma, Francisco, na habitual conferência de imprensa,
foi confrontado com a acusação de herético e a ameaça de cisma na Igreja.
Dedicarei a minha próxima crónica a esta magna e decisiva questão.
in DN
15.09.2019
https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/anselmo-borges/interior/francisco-em-africa-para-o-mundo-11300989.html
● ● ● ●
● ● ● ● ● ● ● ● ● ●
À PROCURA DA PALAVRA
P. Vitor Gonçalves
DOMINGO XXIV COMUM Ano C
"Este homem acolhe os pecadores
e come com eles.”
Lc 15, 2
A ovelha, a moeda e os
filhos
Numa única
parábola, com três histórias, Jesus apresenta o amor de Deus de uma forma
inimaginável. Como não ficarmos admirados com o pastor, a mulher e o pai desta
imensa história de amor, com que Jesus responde às objeções de escribas e
fariseus? Sim, temos de nos colocar no lugar deles, assumindo alguma estreiteza
de coração e uma mentalidade de contabilista que até “faz contas” com Deus. E
ainda que nos sintamos próximos do filho que se perde e afasta da casa do pai,
importa estar no lugar do “filho cumpridor”, para ver se entramos na festa ou
não.
Começando
pelo pastor, há uma decisão ilógica no início da sua busca: deixar noventa e
nove ovelhas para procurar uma é correr um risco estúpido. O contraste é
propositado: o cuidado por aquela que se perdeu exige um movimento de procura
urgente. Não pode descansar enquanto não a encontrar. E vai ser a alegria e a
festa a marcar o encontro; não a repreensão ou o castigo. Ai daqueles que
propagam o medo e o castigo! Não basta já o sofrimento de andar perdido?
E que dizer
da mulher à procura da moeda? Voltamos ao valor de cada um, numa menor
proporção, mas num idêntico movimento: acende uma lâmpada, varre, procura
cuidadosamente. O que encontraríamos se procurássemos com o mesmo afinco? E o
que perdemos porque não ousamos arriscar semelhantes procuras?
Ovelhas e
moedas podem perder-se sem que daí venham grandes males ao mundo. Mas um filho,
um irmão, como fica o coração de quem os perde? E toda a perda é uma pequena
morte. Sim, é grave a decisão deste jovem que trata o pai como se estivesse
morto ao pedir a herança, e parece não ter relação com o irmão. Não é herói de
nenhuma epopeia e a sua vida é uma descida até ao abismo. Abaixo de porco, irá
bater mesmo no fundo. É então que recorda o coração do pai. Abre-se à dor dos
seus erros, à consciência da dignidade que perdeu. Ensaia um pedido de perdão e
de alguma compaixão. Assim que o vê vir ao longe, o pai entra em acção e não
pára mais: corre, abraça-o, cobre-o de beijos, escuta-o, reconhece-o como
filho, faz uma festa. Não acusa, não recrimina, não castiga. Que adianta
remexer na morte se a vida é mais forte?
A alegria e
a festa são o culminar das três histórias. Mas ficamos por saber se o irmão
mais velho, que vimos a descobrir tratava o pai como uma espécie de patrão,
entrou ou não na festa. Também ele andava perdido nas suas muitas tarefas e
ainda não entendera o que era viver com o pai. E como esta parábola é para ele,
quer dizer, para nós, a resposta tem de ser nossa. Agarramo-nos aos méritos do
que fazemos, indiferentes ao amor de Deus por todos? Ou entramos no seu
dinamismo de vida que não se esgota, de esperança que não seca, de alegria que
nos transforma em irmãos?
in Voz da Verdade 2019.09.15
● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ●
Against all odds, Pope Francis has made Synods of Bishops interesting
John L.
Allen Jr. Sep 14, 2019
EDITOR
News
Analysis
ROME - When
roughly 300 Catholic leaders gather in Rome Oct. 6-27 to talk about the Amazon,
it will be the 29th time since 1965 a pope has convoked a Synod of Bishops. For
most of that span, the body’s role could have been described in the same ironic
terms Bob Dole once used about the Vice Presidency: “It’s indoor work, and no
heavy lifting is involved.”
A Synod of
Bishops is merely consultative, lacking the power to do anything other than
make recommendations to a pope. Frankly, for most of its history, even that
role seemed terribly anemic, with outcomes generally determined well in
advance. During the St. John Paul II years, the Polish pontiff would sit on the
dais during synods with his prayer book, and the running joke was that he was
actually reading the conclusions of the event before it was even over.
Of the 28
previous synods, even Catholics who pay close attention to Church affairs
probably would be hard-pressed to name the dates and themes of more than, say,
five. (I know bishops who actually attended some of those synods who struggle
to recall what they were about or when they happened, so unmemorable were the
proceedings.)
You have to
give this to Pope Francis: Against all odds, he’s found a way to make synods
really, really interesting.
This week,
an official of Brazil’s Ministry of Foreign Relations actually had to go on
national television, flanked by a Catholic cardinal, to assure his countrymen
that the government of President Jair Bolsonaro isn’t threatened by the looming
Synod on the Amazon and doesn’t think the meeting violates a treaty between the
Vatican and Brazil governing the Church’s status in the country.
The
government “recognizes the historic role of the Church in Brazilian formation,
and very much appreciates the active and constant choice of the Church in favor
of the less fortunate,” said Ambassador Kenneth da Nóbrega, an official in
charge of relations with the Middle East, Africa and Europe, whose brief
therefore includes the Vatican.
Nonetheless,
Nóbrega conceded the government has been concerned about language in the
working document for the synod, called the Instrumentum Laboris, regarding the
Amazon and international law, which some worried might threaten Brazil’s
sovereignty over the roughly 60 percent of the Amazon within its borders.
Obviously
implied is a judgment by Brazilian officials that it actually matters what a
body of bishops in concert with Francis might say about the Amazon and its
international status.
“The
Ministry of Foreign Affairs was asked to open a diplomatic and institutional
channel with the Holy See to ask for clarifications on these themes,” he said,
while denying media reports that the government is “opposed” or “dissatisfied”
with the synod itself.
Nóbrega
appeared alongside Cardinal Claudio Hummes of Brazil, a key Francis ally who’ll
act as the relator, or chairman, of the October synod. While Hummes thanked
Nóbrega for his interest, he also expressed “surprise” over news reports that
the Brazilian military and security service are “spying” on bishops, especially
in the Amazon, in the run-up to the synod.
“This
surprised us greatly, because it gives a negative impression of censorship,”
Hummes said.
In fairness,
military and security officials have denied repeatedly that they’re spying on
anyone, though they’ve acknowledged following developments regarding the synod
because, they said, it raises “national security” issues.
Frankly, the
idea that any government would have invested resources in spying on a Synod of
Bishops in the pre-Francis era would have been almost laughable. No one would
have bothered, because too little was at stake.
Of course,
there’s a special history in Brazil of governments leaning heavily on military
support being challenged by populist bishops speaking out in defense of
democracy and human rights, which lends a certain logic to the preoccupations
of Bolsonaro and his advisers.
More
broadly, however, Francis has made synods worth paying attention to, and not
just in the Amazon.
In 2014 and
2015, he used two synods on the family to road-test what’s arguably been his
single most controversial ecclesiastical decision to date, which was the
cautious opening to Communion for Catholics who divorce and remarry outside the
Church expressed in his 2016 document Amoris Laetitia.
In 2018,
Francis issued a document beefing up the authority of a Synod of Bishops, among
other things stipulating that its final document will carry magisterial
authority - meaning, it’ll be part of official Church teaching - once it
receives the approval of the pope.
This time
around, the drama at the Amazon synod won’t just be ad extra, meaning whatever
it says about politics and ecology - although the fact the meeting will unfold
just after a new report saying that deforestation has surged 43 percent over
the past five years, and that a swath of forest the size of the UK is lost ever
year, would be enough to guarantee global attention.
However,
there’s also strong ad intra buzz around the synod, meaning ferment over its
implications for internal Church policies, given the likelihood of debate over
the viri probati, or tested married priests. Should the synod endorse an
experiment with the viri probati, no matter how limited or geographically
restricted, some critics worry it would create a slippery slope leading to the
de facto abolition of mandatory clerical celibacy in the Latin Church.
In other
words, Francis once again has managed to guarantee that the world will be
watching when the curtain goes up on his fourth Synod of Bishops.
No matter
what happens after it does, the fact the pope is able to deliver an audience
for an event that once packed all the sex appeal of watching paint dry can’t
help but seem, by itself, a sort of minor miracle.
Crux is dedicated to smart, wired and independent
reporting on the Vatican and worldwide Catholic Church. That kind of reporting
doesn’t come cheap, and we need your support. You can help Crux by giving a
small amount monthly, or with a onetime gift. Please remember, Crux is a for-profit
organization, so contributions are not tax-deductible.
https://cruxnow.com/news-analysis/2019/09/14/against-all-odds-pope-francis-has-made-synods-of-bishops-interesting/
Sem comentários:
Enviar um comentário