P / INFO: 2019: Uma Igreja
com antigos e novos desafios, Desafios para Francisco & Hans Küng: I.
Teólogo en la frontera con lealtad crítica
2019: Uma Igreja com antigos e novos desafios
Frei Bento Domingues, O.P.
1.
Diz-se que este Papa devia estar caladinho acerca de economia e política para
as quais não tem nem competência reconhecida nem mandato divino ou humano. A
economia e a política do Estado do Vaticano não têm dimensão para merecerem
qualquer relevância a nível mundial. As referências a escândalos financeiros da
banca vaticana tiveram muito eco na opinião pública por que manchavam uma
instituição que devia dedicar-se à promoção da virtude, da santidade, da
justiça, mas nunca à corrupção.
A atribuição da
responsabilidade da pedofilia clerical ao actual Pontífice Romano é a cruz que
os seus inimigos lhe puseram aos ombros para não terem de se confrontar com as
reformas que ele procurou e procura introduzir na Igreja, a todos os níveis.
Outros acusam-no de não enfrentar a questão mais fácil de
resolver e a mais urgente: a abertura dos ministérios ordenados a homens
casados e a mulheres.
Quanto aos homens casados, diz-se na Igreja Católica que não
há questões teológicas que impeçam a sua ordenação, mas continua-se a
recusá-la. Dado o crescente e activo papel das mulheres no mundo contemporâneo,
as religiões que não souberem acolher as suas capacidades de serviço e
liderança vão pagar caro a sua miopia. Afirma-se com frequência, no seio do
catolicismo, que existem problemas de carácter doutrinal quanto ao acesso das
mulheres ao sacramento da Ordem: a Igreja não se julga autorizada a modificar
uma omissão ancestral baseada no silêncio do Novo Testamento (NT). Nunca,
porém, se coibiu de tomar posição sobre assuntos, até de ordem dogmática, de
que o NT não fala explicitamente. Pano para mangas.
Seja como for, a situação dos ministérios ordenados na Igreja
Católica está envenenada por um problema básico de catequese que condiciona
todos os outros: o mau uso da palavra Igreja. Apesar de todos os
esforços, sobretudo depois do Vaticano II, para não confundir essa designação
com a hierarquia eclesiástica, essa confusão tem resistido a todos os esforços
de esclarecimento.
2.
A Igreja Católica é o conjunto dos católicos com serviços hierarquizados para
tornar visível e concreta a missão de Cristo no mundo e para alimentar a vida
interna das comunidades.
Não há um baptismo para homens e outro para mulheres, como já
escrevi várias vezes. É ele que significa e realiza o começo do que é
fundamental no cristianismo. Tudo o resto é para ajudar este caminho.
Enquanto isto não entrar na consciência, no vocabulário e na
prática eclesial, continuaremos a não entender nem a missão da Igreja nem o
papel e as modalidades dos ministérios ordenados de que precisa.
Sem ter isto em conta, não é possível compreender a
resistência que existe, na hierarquia, para modificar o actual regime dos
ministérios ordenados na Igreja. Continuaremos no absurdo: exige-se a certas
comunidades religiosas a celebração diária da Eucaristia, quando, em muitos
países, já não há padres para o exercício pastoral das paróquias e movimentos.
A própria distribuição do clero não pode ser muito consequente porque não tem
clero para distribuir.
Os padres também envelhecem e morrem. Na Europa, os que
se apresentam como candidatos já nem como remendos conseguem responder às
urgências!
O ridículo da questão é o seguinte: entre mulheres e homens,
jovens e adultos, não há falta de vocações nas comunidades católicas para que
toda a Igreja responda à sua missão. Falta, entre outras decisões, alterar o
seu estatuto actual. Não cabe na cabeça de ninguém que as comunidades cristãs
europeias não possam gerar os serviços de que precisam. Criam-se obstáculos
canónicos, como se fossem divinos, para não resolver o que pode ser resolvido
sem drama.
O grande teólogo dominicano, o flamengo Edward Schillebeeckx,
sofreu três processos romanos acerca da sua teologia. O último foi sobre os
ministérios eclesiais (1984). Com palavras mansas, o cardeal Ratzinger deu por
encerrado o debate sem qualquer condenação, mas depois publicou no L’
Osservatore romano uma nota dedicada ao povo cristão. Nela declara que para
a Congregação da Doutrina da Fé subsistem na posição do teólogo referido alguns
pontos de desacordo sobre a Doutrina Oficial da Igreja. Não diz, porém, que a
sua doutrina esteja em oposição com a fé. Não foi elegante este processo, mas
levou Schillebeeckx à seguinte conclusão: moveram-me três processos. Não fui
condenado em nenhum. Era um teólogo feliz[i].
Schillebeeckx morreu, Ratzinger está vivo e vigilante. Não é
fácil para o Papa Francisco proceder à revisão desse processo. Vai sendo tempo
de convocar teólogas e teólogos para retomarem uma questão clamorosa que só por
artifícios pode ser abafada. É um desafio a assumir nos próximos anos, a
começar em 2019.
3. Regressemos
ao ponto 1. Dir-se-á, e é verdade, que a problemática até aqui abordada
refere-se a questões de funcionamento interno da Igreja, mas esta não existe
para si mesma. Não pode ser auto-referente. Deve renascer continuamente para a
missão. O Vaticano II (1962-1965) não quis cingir-se a questões de
funcionamento interno. A Constituição Pastoral Gaudium et Spes é sobre a
Igreja no mundo contemporâneo, não é sobre a Igreja nas sacristias
actuais.
Afirma literalmente: as alegrias e as esperanças, as
tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos
aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as
angústias dos discípulos de Cristo. Não há realidade alguma verdadeiramente
humana que não encontre eco no seu coração.
Não interessa, neste momento, analisar a história dos seus
ziguezagues desde há 50 anos. O Papa Francisco resolveu apresentar o programa
do seu pontificado – O Evangelho da Alegria (EG) – em linha recta
com um Concílio em que não tinha participado. Por essa razão, ligou a questão
do anúncio do Evangelho com um novo olhar sobre a economia e a política
actuais, sabendo que ia causar problemas. «Se alguém se sentir ofendido com as
minhas palavras, saiba que as exprimo com estima e com a melhor das intenções,
longe de qualquer interesse pessoal ou ideologia política. A minha palavra não
é a dum inimigo nem a dum opositor. A mim interessa-me apenas procurar que,
quantos vivem escravizados por uma mentalidade individualista, indiferente e
egoísta, possam libertar-se dessas cadeias indignas e alcancem um estilo de
vida e de pensamento mais humano, mais nobre, mais fecundo, que dignifique a
sua passagem por esta terra[ii]».
Do resto falaremos no próximo Domingo.
Bom ano
in Público, 30.12.2018
[i] Edward Schillebeeckx, Je suis un
théologien heureux, Cerf, Paris, 1995, pp 67-78
[ii] EG 208
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Desafios
para Francisco
Anselmo
Borges
29 Dezembro
2018 — 06:26
Perante uma
das mais graves crises de sempre da Igreja, o desafio maior para Francisco
continuará a ser tentar converter a cristãos os católicos, começando pela
cúpula: cardeais, bispos, padres, religiosos e religiosas. Essa conversão
implicará uma organização eclesial na linha do Evangelho.
O próximo
ano será marcado por acontecimentos decisivos para se saber qual o lugar que a
história reservará a Francisco: um Papa da continuidade ou o Papa da ruptura
que se impõe.
1. Em
fevereiro, reunião em Roma com os presidentes das Conferências Episcopais de
todo o mundo sobre a pedofilia. Ter-se-á a coragem de tomar medidas que acabem
com essa podridão estrutural na Igreja? Vão ser abertos os arquivos para ficar
a claro por uma vez tudo o que tem acontecido? E serão devidamente sancionados,
colaborando também com a justiça civil, os abusadores e os encobridores? E para
a formação dos novos padres: mais presença feminina e testes de maturidade,
também com peritos credenciados de saúde mental?
2. Em Março,
será aprovada a nova Constituição Apostólica sobre a Cúria Romana,
Governo central da Igreja. Continuará o centralismo ou haverá uma Constituição
democrática, de comunhão, com representação de todos, incluindo as mulheres, e
das Igrejas locais do mundo, superando o dualismo clero-leigos a substituir
pela relação viva: comunidade-ministérios (serviços)?
3. O Sínodo
sobre a Amazónia em Outubro: ocasião para aumentar a consciência
ecológica global e avançar com novos ministérios, incluindo a ordenação
de homens casados ?
4. Em
Janeiro, na Jornada Mundial da Juventude no Panamá: o anúncio da próxima
Jornada em Portugal em 2022, com o regresso do Papa ao país, constituirá um
novo impulso para reanimar a Igreja em Portugal, que parece continuar
paralisada?
Ano novo
2019 bom e feliz!
in DN 29.12.2018
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HANS KUNG: I. TEÓLOGO EN LA FRONTERA CON LEALTAD
CRÍTICA
Juan José Tamayo
Director de la
Cátedra de Teología “Ignacio Ellacuría. Universidad Carlos III de Madrid
El año que termina ha sido fecundo en efemérides de colegas y entrañables
amigos teólogos. Hemos celebrado el centenario del nacimiento de Raimon
Panikkar, los 90 años de Gustavo Gutiérrez, de Hans Küng, de Pedro Casaldàliga
y de Johan Baptist Metz, los 80 años de Jon Sobrino y de Leonardo Boff. Hemos
recordado a la teóloga feminista brasileña Ana María Tepedino María, fallecida
este año. En mi blog amerindiaenlared.org he dedicado varios artículos a
Panikkar, Casaldàliga, Sobrino, Boff y una necrológica a Tepedino.
Ahora publico el primero de los artículos dedicados a Hans Küng, una de las
figuras más relevantes de la teología cristiana del siglo XX, que, con su
extensa y rigurosa obra elaborada ininterrumpidamente durante más de sesenta
años de actividad docente e investigadora, ha ejercido una significativa
influencia en el panorama religioso mundial. Es la expresión de mi
reconocimiento, sintonía y amistad.
La teología de Hans Küng es, sin duda, una de las
más sólidas y creativas de la segunda mitad del siglo XX y del siglo XXI. Se
caracteriza por la búsqueda de la identidad cristiana en diálogo con otras
identidades religiosas y culturales a la luz de la conciencia crítica de la
Modernidad, por el cuestionamiento de las instituciones eclesiásticas desde una
rigurosa fundamentación histórica, filosófica y teológico-bíblica, por la
crítica de los dogmatismos y fundamentalismos religiosos, por el trabajo
ecuménico a favor de la reconciliación entre las iglesias cristianas en el
seguimiento de Jesús de Nazaret y la fidelidad evangélica, por el diálogo entre
las religiones como contribución necesaria a la paz en el mundo, por la
construcción de una ética mundial en tiempos de globalización, por la
sensibilidad hacia las inquietudes de los hombres y mujeres de nuestro tiempo y
por su ubicación en la frontera con lealtad crítica a la Iglesia católica .
Convergencias entre catolicismo y protestantismo
Su tesis doctoral sobre la doctrina de la justificación en la obra de su
compatriota el teólogo evangélico suizo Karl Barth (La justificación.
Doctrina de Karl Barth y una interpretación católica, Editorial Estela,
Barcelona, 1967) constituye el horizonte ecuménico en el que va a
moverse su trabajo teológico y marca un hito en la teología ecuménica. En ella
intenta demostrar la coincidencia entre la doctrina de la justificación de
Barth y la católica en sus elementos fundamentales.
El propio teólogo suizo reconocía que la exposición de Küng respondía en lo
esencial a su reflexión sobre la justificación y que le había interpretado
correctamente: “Usted me hace decir lo que yo digo y yo pienso como usted me
hace hablar”, comenta Barh en “Una carta al autor”, fechada el 31 de enero de
1957, cuando Küng tenía 28 años. (La diferencia de edad entre ambos es de 42
años: Barth nació en 1886; Küng, en 1928).
Tras leer el libro de Küng –yo lo hice en 1970 y sigo leyéndolo casi
cincuenta años después-, uno no puede menos que preguntarse con R. Muñoz
Palacios si todas las guerras de religión, las luchas teológicas, los
enfrentamientos y las divisiones entre católicos y protestantes no habían sido
un inmenso error. La respuesta tiene que ser afirmativa. El problema es que las
guerras religiosas siguen produciéndose.
El papa, ¿infalible?
En la década de los sesenta y principios de los
setenta, Küng se centró en temas eclesiológicos como el ecumenismo, el Concilio
Vaticano II, la Iglesia y la infalibilidad, siempre en clave ecuménica, que
adquirió carácter académico con la creación del Instituto de Investigaciones
Ecuménicas en la universidad de Tubinga, del que fue director. Tres son las
principales obras de este período: Estructuras de la Iglesia, La
Iglesia –fue el tratado de eclesiología que yo estudié- e ¿Infalible?
Una pregunta. Elabora una eclesiología crítica a partir del Evangelio y
bajo la inspiración del Concilio Vaticano II. Aborda la “esencia” de la Iglesia
en su forma histórica mutable. Parte de la Iglesia real encarnada en el
mundo, y no de una Iglesia ideal que se encuentre en las abstractas esferas de
la teoría teológica.
Con honestidad teológica y lucidez intelectual se pregunta si la Iglesia
puede apelar razonablemente a Jesús de Nazaret y si está fundada en su
Evangelio. Su respuesta es que entre Cristo y la Iglesia no se da una
compenetración física y necesaria, sino una unidad peculiar: unidad en
la dualidad y dualidad en la unidad; unidad como dinamismo histórico y no como
estatismo ontológico. La Iglesia no se encuentra al mismo nivel que el reino de
Dios, sino bajo el reino de Dios y a su servicio. La índole carismática no es
algo accidental en la Iglesia, sino que forma parte de su estructura
fundamental.
En su obra La Iglesia católica Küng avanza algunas líneas de
futuro por las que habrán de caminar las iglesias cristianas. Deben enraizarse
en el Evangelio, en el movimiento de Jesús de Nazaret y en los orígenes cristianos,
que es donde se encuentra su inspiración más auténtica. No pueden depender de
modelos organizativos jerárquico-patriarcales del pasado, que excluyen a las
mujeres de los ministerios y de las funciones directivas en las iglesias en
razón de su sexo. En continuidad con Küng, creo que las iglesias deben
reconocer a las mujeres como sujetos morales, eclesiales y teológicas, y a
partir de ahí desarrollar una reflexión teológica desde la perspectiva de
género, que no justifica la lucha de las mujeres contra los varones ni la de
éstos contra aquéllas, sino que es inclusiva de hombres y mujeres.
La unidad de las iglesias cristianas no se logra con el retorno de una
iglesia a otra o con la salida de una hacia la otra, y menos aún con la
sumisión de una iglesia a la otra, sino a través del retorno por ambas partes,
la mutua aceptación, la comunión en un dar y recibir recíprocos, y, en
definitiva, de la conversión de todas a Cristo y su mensaje.
Una de las cuestiones más problemáticas y
conflictivas de las tratadas por Küng es la infalibilidad del Papa, que
divide a la cristiandad –incluso dentro de la Iglesia católica-y que, desde que
se produjo la Reforma protestante, espera una respuesta de la teología
católica. Küng aborda esta cuestión de manera sistemática, con profundidad
teológica, rigor histórico y fundamentación exegética, pero sin hablar ex
cátedra. Lo que Küng se pregunta es si “la infalibilidad de la Iglesia
necesita proposiciones infalibles”.
Ateniéndose a la filosofía del lenguaje establece una serie de principios
que deben aplicarse también a las distintas proposiciones de fe, cuales son las
fórmulas de fe, los símbolos de la fe y las definiciones de fe. Ninguna de
ellas está exenta de seguir las leyes que rigen todo tipo de proposiciones y
todas ellas participan del carácter problemático de las proposiciones humanas.
Las proposiciones van a la zaga de la realidad; son equívocas; sólo pueden
traducirse condicionalmente; están en movimiento; propenden a las ideologías.
La teología debe tomar en serio la dialéctica de verdad y error, si no quiere
caer en el dogmatismo, el juridicismo, el autoritarismo, el formalismo, el
objetivismo y el positivismo.
Y para confirmarlo apela a la historia, siguiendo las investigaciones del
teólogo francés Yves Marie Congar (1904-1995) –con quien coincidió como asesor
en el concilio Vaticano II (1962-1965)- sobre la Iglesia en la Edad Media,
marcada como estuvo por el absolutismo papal. Durante esa época se admite en
general que el Papa puede errar y caer en la herejía. Lo que se enseña es la
indefectibilidad de la Iglesia, no la infalibilidad del Papa. Durante las
épocas oscuras del cristianismo la indefectibilidad de la Iglesia no se
manifestó precisamente en la jerarquía, ni siquiera en la teología, tampoco entre
los poderosos, sino entre los humildes, entre numerosos cristianos la mayoría
de las veces desconocidos que escucharon el mensaje del Evangelio y vivieron
conforme a él.
¿Hans Küng contra el papado? No exactamente. Escribe en su libro La
Iglesia católica: “Defiendo el papado para la Iglesia católica, pero al
mismo tiempo reclamo infatigablemente una reforma radical de acuerdo con los
criterios del Evangelio” (Mondadori, Barcelona, 2002, p. 14).
La publicación del libro sobre la infalibilidad provocó una investigación
en la Congregación para la Doctrina de la Fe, que culminó, unos años más tarde,
con la retirada de la retirada del permiso para la enseñanza –de la que
hablaré en otro artículo- la no pocas reacciones negativas de colegas como Karl
Lehmann y Karl Rahner, a las que dio contestación respetuosa asumiendo los
aspectos positivos de las críticas y aportando nuevos argumentos en defensa de
los planteamientos de su polémico libro. Lo hizo en Respuestas a propósito
del debate sobre “Infalible. Una pregunta (1971), que concluye con un
capítulo titulado “Por qué permanezco en la iglesia”.