28 junho 2020



P/INFO: Crónicas & Capela do Rato

Frei Bento: Responsabilidade ética das religiões
Pe. Anselmo: Desconfinar a Igreja. 1
Cardeal Tolentino: Capacidade negativa
Pe. Vitor: Penso nos outros…

RESPONSABILIDADE ÉTICA DAS RELIGIÕES
 Frei Bento Domingues, O.P.
O apelo ao diálogo inter-religioso é fundamental, mas no pressuposto de se tratar, verdadeiramente, de religião e quando os interlocutores consentem nesse caminho.
1. Jean Druel é um dominicano francês, especialista da patrística copta, da língua árabe, da gramática árabe medieval e director do conceituado IDEO – Instituto Dominicano de Estudos Orientais do Cairo (Egipto), onde vive. Com esta apresentação, podia dar a ideia de uma pessoa confinada na investigação científica, a escrever só para especialistas. Mas não. Tornou-se um conferencista muito escutado e passou a escrever livros breves, de vários géneros, para mostrar que a vida diária, carnal, intelectual, sexual, afectiva, social, cultural, desportiva, literária, musical é o verdadeiro e concreto espaço de Deus connosco. É no Seu insondável mistério que vivemos, nos movemos e existimos.
Nessa nova biblioteca, publicou uma deliciosa introdução aos princípios do diálogo inter-religioso, fruto da sua longa experiência de diálogo com o mundo muçulmano. Recomendo-o vivamente. A escuta paciente das raízes das diferenças é a boa regra para viver no seio dos conflitos que habitam todos os aspectos da vida, a começar pela vida familiar[1].
Para este investigador, um dos aspectos do drama da nossa época resultou da ingenuidade de se ter acreditado que, fazendo calar as religiões e os crentes, se ia conseguir viver num mundo de paz. Pensou-se também que o estudo histórico dos dogmas e das práticas religiosas neutralizaria o potencial de violência que se abriga nas religiões. Aconteceu precisamente o contrário. Precisamos, como nunca, de dialogar, de nos sentirmos confrontados com as nossas próprias crenças e narrativas. De escutar os nossos próprios mundos interiores provocados no confronto com os outros. Também eles habitados por mundos que talvez desconheçam. O objectivo do diálogo não é o de procurar estar de acordo, mas de tentar descobrir as raízes das diferenças. Vamos, assim, tornando-nos adultos na fé, livres e felizes de sermos diferentes.
Se forem respeitadas algumas regras simples, como a de tomar a sério o interlocutor, de o escutar até ao fim, sem se enervar, de dizer verdadeiramente o que se pensa, podem ser ultrapassados os medos recíprocos e viver melhor uns com os outros, sem estar de acordo.
Se este livro ajudar os leitores a encontrar esse caminho, o autor pensa que ganhou a sua aposta.
2. O apelo ao diálogo inter-religioso é fundamental, mas no pressuposto de se tratar, verdadeiramente, de religião e quando os interlocutores consentem nesse caminho. Perante uma situação de violência activa, a própria realidade afirma, muitas vezes, a falta de margem para se entrar em diálogo. A linguagem é a das armas. Terão de ser encontrados outros caminhos. Por outro lado, a persistente acusação das religiões, como fontes de violência, precisa de ser mais ponderada.
É uma acusação que não se refere apenas a guerras antigas e às Cruzadas medievais. No século XVI, no início da Modernidade, os conflitos entre católicos e protestantes estão na origem de uma nova visão do direito público europeu. Os Estados nacionais, em plena expansão, usaram o pretexto religioso para alcançar ambições muito pouco religiosas. Durante muito tempo, os Estados soberanos europeus desenvolveram uma política destinada a estabelecer, de facto, uma Igreja nacional sujeita à sua autoridade. Mas aqui é preciso distinguir: a invocação da religião, em determinadas situações, é um poderoso factor de mobilização identitária, mas quem pode negar que muitos conflitos apresentados como religiosos, tanto no passado como no presente, têm na realidade motivações e ambições inteiramente terrenas?
A acusação da religião como factor de violência redobrou-se com o ataque de 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque, em Madrid, em Londres, em Paris, em Nice, sem falar da série de atentados e massacres na Síria, no Paquistão, na Nigéria, no Sri Lanka, no Iraque, no Iémen, na Líbia, etc. O terrorismo macabro do DEDI (Dito Estado Dito Islâmico), no nordeste de Moçambique, vem agora documentado no importante livro de Nuno Rogeiro, O Cabo do Medo[2].
3. Perante os desafios da fome, da injustiça, da guerra e da paz do nosso tempo, os católicos e os muçulmanos só podem dizer que não sabem o que fazer em conjunto, se continuarem a ser cegos.
A 04 de Fevereiro de 2019, o Papa Francisco e o Grão Imame de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, assinaram, em Abu Dhabi, a Declaração Fraternidade Humana em prol da paz e da convivência comum. Que esta Declaração tenha sido possível constitui o acontecimento mais significativo, de que há memória, entre o representante mais reconhecido da comunhão da Igreja católica e a figura amplamente considerada como a autoridade máxima no mundo muçulmano sunita. Distinguem, rigorosamente, o que pode e deve ser atribuído à religião e o que é o seu uso perverso:
«De igual modo declaramos – firmemente – que as religiões nunca incitam à guerra e não solicitam sentimentos de ódio, hostilidade, extremismo nem convidam à violência ou ao derramamento de sangue. Estas calamidades são fruto de desvio dos ensinamentos religiosos, do uso político das religiões e também das interpretações de grupos de homens de religião que abusaram – nalgumas fases da história – da influência do sentimento religioso sobre os corações dos homens para os levar à realização daquilo que não tem nada a ver com a verdade da religião, para alcançar fins políticos e económicos mundanos e míopes. Por isso, pedimos a todos que cessem de instrumentalizar as religiões para incitar ao ódio, à violência, ao extremismo e ao fanatismo cego e deixem de usar o nome de Deus para justificar actos de homicídio, de exílio, de terrorismo e de opressão. Pedimo-lo pela nossa fé comum em Deus, que não criou os homens para ser assassinados ou lutar uns com os outros, nem para ser torturados ou humilhados na sua vida e na sua existência. Com efeito Deus, o Todo-Poderoso, não precisa de ser defendido por ninguém e não quer que o Seu nome seja usado para aterrorizar as pessoas».
O documento é longo e abrange as questões centrais do mundo dos nossos dias. Precisa de ser conhecido e estudado: «Al-Azhar e a Igreja Católica pedem que este Documento se torne objecto de pesquisa e reflexão em todas as escolas, nas universidades e nos institutos de educação e formação, a fim de contribuir para criar novas gerações que levem o bem e a paz e defendam, por todo o lado, o direito dos oprimidos e dos marginalizados».
Já é tempo de perguntar: o que está a ser feito, entre nós, desta recomendação, tanto no campo católico como muçulmano?
in Público, 28.06.2020
https://www.publico.pt/2020/06/28/opiniao/opiniao/responsabilidade-etica-religioes-1922085

[1] Je crois en Dieu! - Moi non plus,  Cerf, 2O17
[2] Cf. Nuno Rogeiro, O Cabo do Medo. O Daesh em Moçambique. 2019-2020, D. Quixote, 2020

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DESCONFINAR A IGREJA. 1
Anselmo Borges
Padre e Professor de Filosofia


Chegam-me vozes a cantar esperança no novo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, bispo de Setúbal. Eu próprio disse a Natália Faria, do Público, quando imediatamente a seguir à eleição me perguntou se a sua escolha constituía garantia de rejuvenescimento: “Neste momento em que, no meu entender, a Conferência Episcopal precisa de um novo impulso, ele será capaz de assegurar o rejuvenescimento necessário. Trata-se de uma figura destacada do ponto de vista intelectual, e, por outro lado, dedicado aos outros e à sociedade. E tem uma gigantesca experiência internacional.” Tendo vivido em Roma como superior-geral dos padres dehonianos, presentes em 38 países, conhece o que se passa também no Vaticano e, sobretudo, vive o espírito do Papa Francisco. Anima-o o desprendimento pessoal e uma “Igreja em saída”, em desconfinamento, no sentido do abandono de estruturas de poder medieval, como insiste Francisco.
Quando se lê a sua primeira longa entrevista, ao jornal Público, as esperanças não são defraudadas. Pelo contrário. As suas declarações têm duas vertentes: uma ad intra, para dentro da própria Igreja; a outra ad extra, para fora, para a sociedade em geral, como voz político-moral.
Declarações ad intra.
Não tem dúvidas de que na Igreja é preciso “trabalhar melhor e em rede”, bem como passar de uma Igreja piramidal, hierarquizada, para uma Igreja comunional, circular. “Não tem dúvidas“ de que se impõe acabar com “os velhos clericalismos”.
A Igreja deve ser fiel à tradição, mas “isso não pode significar paralisia. Num mundo que evolui rápida e radicalmente, a Igreja tem de encontrar novos modos de se dirigir a este mundo e à sua realidade complexa e fecunda.” A Igreja vive num mundo diferente daquele a que estava habituada: vivemos num mundo plural, também do ponto de vista religioso; “a ideia de uma Igreja onde tudo estava formatado do mesmo jeito e com a mesma fé já não existe.” A Igreja já não ocupa o centro, “temos de ser uma Igreja que vai ao encontro das pessoas”, e o presidente da CEP reconhece que há hoje “uma receptividade nova e uma sede de sentido para a vida que grassa entre os jovens e é aí que penso que nos podemos encontrar.” A Igreja não pode ficar simplesmente à espera, tem de se pôr a caminho, “fazer-se próxima.”
Neste contexto, compreende-se a exigência de levar adiante o trabalho das comissões nas dioceses para acabar com a tragédia do abuso sexual de menores, admitindo mesmo que possa aumentar o número de denúncias. Como se entende que não tenha receio em declarar que “não veria mal a possibilidade de termos padres casados na nossa Igreja” e que não rejeite o debate à volta da possibilidade, mesmo que mais complicada, da ordenação de mulheres: “não a tiro de cima da mesa”. 
Aqui chegados, penso que não será exagerado pensar que o Bispo José Ornelas espera um clero com outra formação, também do ponto de vista intelectual, para este mundo novo que está aí. As homilias dos padres em geral falam de quê, para quem? Qual a responsabilidade da Faculdade de Teologia? Que futuro para os Seminários?
Ad extra. O país e o Estado podem esperar uma atitude leal, colaborante, mas que não exclui a crítica.
Na presente situação de calamidade económica e social, o Estado não pode fugir às suas responsabilidades de garantir o mínimo a que os cidadãos têm direito. Não se quer voltar à ideia de “uma economia planificada e estatizada”, portanto, o Estado “não tem de fazer tudo. Pelo contrário, se o Estado quiser fazer tudo, vai sair caro a todos e, além disso e o que é pior, não conta com a criatividade e a iniciativa da sociedade.” Mas tem de dar às instituições “capacidade de sobreviver e de actuar. E, neste momento, há muitas instituições que estão em perigo de entrar em colapso.” Refere nomeadamente as IPSS, muitas das quais são geridas por entidades ligadas à Igreja e que “estão no limite da sustentabilidade”, “o que se recebe do Estado e das famílias fica aquém do custo, e não queremos prestar um serviço de segunda classe”, para não se cavar mais fundo o abismo entre quem tem e quem não tem.
Ergue-se contra a discriminação e o racismo e exclusão, prevenindo: “O que queremos é uma sociedade justa e digna e que não precisa de enveredar por caminhos de violência para se reconstruir.”
Na presente situação pandémica, é claro que se impõe salvar vidas e a saúde, sendo, pois, necessário tomar as medidas adequadas para controlar a pandemia. Mas não deixa de prevenir contra os perigos da deriva para “totalitarismos”: “se isso é feito no sentido de manipular pessoas, deixa de ter sentido.”
Pensando na crise já presente e que se vai agravar, económica e social, avisa para a urgência da solidariedade global, a começar pela União Europeia, e profetiza: “Ou há um rejuvenescimento do projecto europeu ou este caminhará para o seu fim.”
A eutanásia não podia ser esquecida. “Não gostaria que a vida fosse referendável, mas se for essa a última praia... Mas sinto-me desconfortável com a ideia de apresentar a alguém um cardápio com as possibilidades de acabar com a vida.” Evidentemente, é contra a eutanásia — eu acrescento que a ideia de referendo recolheu mais de 95.000 assinaturas. Mas o que se impõe discutir é “qual o modelo de sociedade que queremos e como é que nessa sociedade se garantem valores de humanização para que as pessoas consigam terminar a sua vida de forma pacífica, sentindo-a a completar-se e não simplesmente abandonadas.”
in DN 28.06.2020
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/27-jun-2020/desconfinar-a-igreja-1-12358392.html?target=conteudo_fechado
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QUE COISA SÃO AS NUVENS
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA

OS LIVROS DE CONTABILIDADE DIZEM ALGUMA COISA SOBRE O REAL, MAS NÃO DIZEM TUDO E, PORVENTURA, NÃO DIZEM O MAIS IMPORTANTE

É a uma carta do poeta John Keats que se deve a origem deste curioso conceito. A 22 de dezembro de 1817, ele escrevia aos irmãos, George e Thomas, anunciando haver compreendido qual era o segredo que garantia a realização plena de um homem e o tornava, como ele dizia, a “man of achievement”. Este segredo era a capacidade de caminhar na incerteza; de se deixar fluir através dos enigmas da vida, mesmo na dúvida; de se abandonar serenamente ao que lhe é dado viver, sem escapismos nem ressentimentos; e, sobretudo, a capacidade de não cair no erro de avaliar unicamente o caudal da existência pela viciada máquina do cálculo ou da razão. Os trabalhos da vida em nós estão para lá disso, insistia Keats. E um dos mestres para o qual apontava era Shakespeare, pois num grande poeta o sentido da beleza declara supérflua qualquer outra consideração. A esta resiliência para conduzir a embarcação que nos pertence através do oceano vasto e desconhecido, na ausência de mapas e de formas exaustivas de controle, John Keats designava como “capacidade negativa” (negative capability). “Negativa” porque contraposta à necessidade “positiva”, que reconhecemos em nós, de prever tudo, de perscrutar cada pequeno acontecimento pela lente da razão ou de lhes assegurar, de imediato, um desfecho, como se a vida fosse orientada por um guião.
A esta resiliência para conduzir a embarcação que nos pertence através do oceano vasto e desconhecido, na ausência de mapas e de formas exaustivas de controle, John Keats designava como “capacidade negativa”
De facto, ao romantismo devemos a abertura da nossa sensibilidade a critérios não puramente empíricos, procurando uma síntese mais polifónica e integradora do humano, onde, por exemplo, a imaginação e o sentimento, a arte ou a religião não fossem enxotados para um estatuto epistemológico de menoridade, como se não tivessem nada a dizer sobre a existência. Novalis escreveu que “quanto mais poético mais verdadeiro”, uma sentença que conserva ainda muito para aprofundar. Sim, os livros de contabilidade dizem alguma coisa sobre o real, mas não dizem tudo e, porventura, não dizem o mais importante.
Wilfred Bion irá recuperar este conceito de Keats e colocá-lo dentro do seu modelo psicanalítico, pretendendo descrever a capacidade (trata-se, na verdade, de um treino) para permanecer na confusão e na dúvida enquanto se escuta, sem precipitar-se na tentação de intervir cedo demais. Isso vale para a escuta analítica, mas também para as outras formas e contextos de escuta: o ouvinte tem certamente de aprender a compreender o que o outro lhe comunica; porém, também lhe será útil aprender a resistir à compreensão prematura, aceitando que muitas vezes se tem de relacionar com o que surge como incompreensível, ambíguo e contraditório, sabendo acolher e esperar. Para compreender é necessário esse abraço ao incompreensível de forma desarmada, que permitirá depois ao conhecimento que se constrói superar a dimensão plana, que tão frequentemente o aprisiona.
Penso, por exemplo, nestes tempos que nos cabe viver e de como nos estamos a relacionar com a sua incerteza. A proposta de Keats inspira-nos a tomá-la humildemente como caminho, renunciando à ilusão de encontrar uma resposta rápida para as perguntas que nos estão a ser feitas e que se calhar não ouvimos ainda por inteiro. Há momentos, ensina o poeta, em que a modalidade mais próxima da sabedoria é essa difícil passividade, sem a qual não experimentaremos a recetividade mais verdadeira.
Mas, por fim, “Negative Capability” é também o título que Marianne Faithfull deu ao seu último e comovente disco, um disco feito depois dos 70 anos (depois de um tumor e de inúmeros golpes), tentando agora conjugar o desejo de viver em plenitude com a maturação das próprias incertezas. Foi este disco que me mandou ler Keats.
in Semanário Expresso 27.06.2020 p 189
http://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2487/html/revista-e/que-coisa-sao-as-nuvens/capacidade-negativa
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À PROCURA DA PALAVRA
DOMINGO XIII COMUM
“Se alguém der de beber,
nem que seja um copo de água fresca,
a um destes pequeninos…”
Mt 10, 42
Penso nos outros…
Não tem sido fácil adaptarmo-nos às mudanças que a pandemia da COVID19 exige de nós. Vamos procurando voltar aos estilos de vida que tínhamos “A.C.” (antes de Covid), sem a consciência da fragilidade da saúde e a responsabilidade social que nos é exigida. Já parámos para agradecer algumas evidências como estas? “Que bom o vírus ser destruído com limpeza e desinfecção. Imaginem que ele só desaparecia com sujidade e mau cheiro?”; “Ainda bem que a seca não é tão forte como noutros anos. Conseguimos imaginar as dificuldades das regiões onde não existe água como temos?”; “E a maravilhosa invenção do ‘álcool-gel”, pelo médico Didier Pittet, que doou a patente à OMS, e tem salvo 5 milhões de vidas por ano nos hospitais de todo o mundo?”.
É doloroso reconhecer mas, de facto, a humanidade revela melhor a sua grandeza, ou a sua pequenez, nas dificuldades do que na facilidade. Quando algo diz respeito a todos, percebemos o  quanto estamos interligados e dependentes. E aí, este vírus e tantas outras ameaças que existiram e existirão, questionam o nosso egoísmo e o lugar que os outros têm na nossa vida. O poeta José Gomes Ferreira numa alusão ao dito de Hamlet e ao famoso princípio de Descartes gravou em palavras este paradigma da existência: “Para além do “ser ou não ser” dos problemas ocos, / o que importa é isto: / - Penso nos outros. / Logo existo.”.
O movimento da encarnação de Jesus, (“tornou-se semelhante aos homens” - Flp 2, 7-8) é o mesmo que Ele propõe a todos os discípulos. De nada serve uma religião que não nos re-liga também uns aos outros. Ser humano não é só uma questão de identidade, é um movimento de acolhimento e cuidado por todos. E pela própria criação, pois graças à inteligência e à liberdade, somos dela administradores. A hospitalidade é uma virtude essencial no contexto bíblico. Sem o saberem, muitos acolheram anjos e o próprio Deus em desconhecidos que lhes bateram à porta. Desde Abraão que a Bíblia está repleta do convite a acolher e a fazer o bem a quem quer que seja. Vindo ao mundo, o Filho de Deus faz-se pequenino e sedento de um copo de água que alguém lhe possa dar.
O mais humano em nós é abertura e acolhimento. Não nos salvamos sem os outros e sem descobrir com eles a verdade. Dizia o filósofo Karl Jaspers: “Só alcançamos a verdade do nosso pensamento quando incansavelmente nos esforçamos por pensar colocando-nos no lugar de qualquer outro. É preciso conhecer o que é possível ao homem.” E o que é possível ao homem é encontrar Deus também nos outros!
in Voz da Verdade, 28.06.2020
http://www.vozdaverdade.org/site/index.php?id=9102&cont_=ver2
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Capela do Rato

Inscrições para a Eucaristia do XIV Domingo do Tempo Comum


As celebrações comunitárias da eucaristia foram retomadas no último fim de semana de maio, nos dias 30 e 31 de maio.

No escrupuloso cumprimento das orientações da Conferência Episcopal Portuguesa, tentou-se encontrar uma plataforma de presenças equilibrada e equitativa, com a opção de celebrações aos Sábados às 19 horas e Domingos às 11:30 horas (que continuará a ser transmitida on line).
Assim, só será possível acolher em cada celebração o máximo de 40 pessoas. Para melhor controle do número de presenças, pede-se que se faça uma inscrição prévia no formulário disponível aqui para as celebrações na Capela do Rato nos dias 4 e 5 de julho.
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24 junho 2020

Que rosto da Igreja após a pandemia?, pelo Cardeal Tolentino

Se tivéssemos de escolher um dia do Tríduo Pascal para contar o que está a acontecer, diríamos que é Sexta-feira Santa. Porque nesse dia entramos numa igreja e apanhamos um baque. Não conhecemos nada. O sacrário está vazio, a porta aberta; as cruzes todas tapadas; o altar nu. E é esse tempo de esvaziamento que estamos a viver. Mas não há Domingo da Ressurreição sem passar pela Sexta-feira Santa e por aquilo que ela significa: o silêncio, o abandono, a capacidade de mergulhar fundo, de mergulhar existencialmente até ao fim.

E isso, para nós, cristãos, coloca-nos muitas questões. Muitas vezes, o nosso cristianismo é muito epidérmico, muito de superfície. E a Sexta-feira Santa fala-nos de um cristianismo que dói, de um cristianismo trágico, de um cristianismo que nos desnuda, que nos cinde, que nos divide, que nos derrota, que nos faz prostrar., E é um pouco essa experiência radical que nós fazemos.

Há alguns meses, eu celebrava missa que era difundida através da internet, como tantos padres, para animarmos a comunidade, e porque não podemos viver sem a Eucaristia. Mas depois chega aquele momento em que o celebrante comunga, e a assembleia, que é uma assembleia remota, não pode comungar. Não – pode comungar. Aquele momento é um momento de comunhão, mas é comunhão pelo desejo, comunhão espiritual. É como se nos abeirássemos de um poço e bebêssemos, e nos saciássemos da nossa própria sede.

Espiritualmente, é um tempo exigente, mas intensíssimo. É, verdadeiramente, um tempo de Deus, porque a saudade de Deus é um banho, um mergulho no oceano de Deus. E poder viver do desejo de Deus é algo que, possivelmente, muitos cristãos não tinham experimentado. Porquê? Porque era tudo fácil. E, muitas vezes, as práticas rituais tornam-se expressão de um consumo, porque tudo nos é dado.

Esse capital de alegria, esse capital de vida comum, esse capital de vida reencontrada – com as suas tensões, as suas incertezas –, essa beleza de se ter redescoberto juntos é uma grande força para a própria Igreja

Num tempo de privação, cresce o desejo, e o desejo é o princípio da Páscoa. Porque, na quinta-feira [última ceia, instituição da Eucaristia, véspera da morte], Jesus disse: desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco. No fundo, é este desejo ardente que, espiritualmente, também estamos a construir.

Estamos dentro de um parto, e não é fácil. Mas é algo que estamos a descobrir. Penso que estamos a descobrir a comunidade. Há uma história bonita da antropóloga Margaret Mead, um aluno perguntou-lhe qual era o elemento mais antigo de civilização; e todos pensaram que ela ia falar dos instrumentos de caça ou de pesca, ou então dos artefactos de barro, de cozinha dos povos primeiros. E ela, surpreendendo todos, disse: para mim, o primeiro elemento de civilização é um fémur partido e restaurado; porque, para isso ter acontecido, quer dizer que uma pessoa não foi deixada sozinha para trás, que alguém ficou ao seu lado, que alguém garantiu naquela hora de vulnerabilidade o tempo necessário para ela se curar. Por isso, no princípio, está a comunidade. E a comunidade descobrimo-la não na força, mas na vulnerabilidade.

Esta hora, em que parece que as igrejas só podem existir a meio-gás, com pouca gente, tantas limitações, tanto sofrimento, em que à pergunta sobre o que vai acontecer, qual será o futuro da Igreja, das comunidades, respondemos que a comunidade tem a origem quando fica junta na fragilidade. No princípio é a comunidade, mas uma comunidade capaz de abraçar a sua própria vulnerabilidade.

Que modelo eclesiológico [de Igreja] vai sair daqui? Sem dúvida um modelo capaz de ser mais atento e integrador da fragilidade. Entender melhor a fragilidade e a vulnerabilidade, e aprender a força de uma espiritualidade que se vive na simplicidade, na redução e na kénosis [esvaziamento]. Se um cristão, durante três meses, só pôde comungar espiritualmente, sem dúvida que ele fez um caminho espiritual que depois vai ser muito importante no resto da sua vida.

O poema de António Ramos Rosa é um bom mote – não posso adiar o coração para outro século, não posso adiar o amor –, a certeza de que este não é um tempo de vida adiada, de vida suspensa, mas um tempo para descobrir e celebrar novos compromissos, ou uma nova profundidade de compromisso

Não considero que se deva dizer que as igrejas estão [estiveram] fechadas, porque cada família é uma igreja doméstica. Por isso, há uma igreja-templo que está [esteve] fechada, mas milhares de igrejas nas nossas cidades, nos nossos lugares, estão abertas. E isso é um chamamento para redescobrir a força dessa igreja-âncora, dessa igreja primeira, que é a oíkia, que é a casa. Antes de ser templo, a Igreja foi casa. Jesus saiu do templo [judaico] e entrou na casa. E aí começou a experiência cristã.

Há aqui um grande chamamento, também catequético, também pastoral, para valorizar a experiência espiritual e o protagonismo pastoral que a família pode ter. Eu tenho muitas famílias amigas que me dizem: vamos ter saudades da pandemia. Ora, esse capital de alegria, esse capital de vida comum, esse capital de vida reencontrada – com as suas tensões, as suas incertezas –, essa beleza de se ter redescoberto juntos é uma grande força para a própria Igreja.

Por isso, penso que temos de vencer o medo e tornar esta hora uma hora de esperança. O poema de António Ramos Rosa é um bom mote – não posso adiar o coração para outro século, não posso adiar o amor –, a certeza de que este não é um tempo de vida adiada, de vida suspensa, mas um tempo para descobrir e celebrar novos compromissos, ou uma nova profundidade de compromisso. Como dizia o grande João Guimarães Rosa, a vida é travessia. E a vida espiritual não é outra coisa senão tensão e travessia.

Card. José Tolentino Mendonça
Arquivista e bibliotecário da Santa Igreja Romana
Excertos da intervenção no ciclo "Tecendo redes - Diálogos online de Teologia Pastoral" (2020), 22.4.2020
Fonte: Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, Belo Horizonte, Brasil
Edição e transcrição: Rui Jorge Martins
Imagem: Aliaksandr Antanovich/Bigstock.com
Publicado em 24.06.2020

21 junho 2020

Crónicas, Bispo Ornelas na CEP & Capela do Rato


P / INFO: Crónicas, Tornar o catolicismo português mais franciscano, a tarefa do bispo Ornelas na CEP & Em memória dos defuntos falecidos em tempo de pandemia, na Capela do Rato
Frei Bento: Continuidade e ruptura
Pe. Anselmo: A pandemia. Onde está Deus?
Cardeal Tolentino: O santo António de Augustina
Pe. Vítor: Ultrapassar o medo

CONTINUIDADE E RUPTURA
Frei Bento Domingues, O.P.
O recurso à diferença histórica não pode significar o culto da indiferença perante a violência, seja de que época for.
1. Os incitamentos à violência em nome de Deus, no chamado Antigo Testamento (AT), espantam-nos por boas e ambíguas razões. Por boas razões, porque a voz que pode ser escutada, em todos os tempos e lugares, no íntimo da consciência humana, consciência ética, não desresponsabiliza ninguém. O bem é para fazer e o mal para evitar, como o próprio S. Paulo lembrou[1]. Por outro lado, o poema que abre a actual organização da biblioteca do povo de Israel é um hino à bondade e à beleza do universo coroado pela harmonia do ser humano, masculino e feminino. É o fruto da bênção criadora de Deus extasiado com o seu próprio poema cósmico[2].
 Nesta perspectiva, dizer Deus é evocar a infinita generosidade de fazer ser e de nos fazer uns para os outros, segundo o carisma de cada um, incompatível com a força demoníaca da destruição. O recurso à diferença histórica não pode significar o culto da indiferença perante a violência seja de que época for.
Mas a violência actuante no AT pode espantar-nos por ambíguas razões. A mais ambígua de todas é a proclamação comunitária de salmos que invocam Deus para massacres diabólicos. É também ambígua, porque uma desejável selecção dos salmos ou de parte de alguns salmos, para a oração comunitária – o que me parece desejável –, poderia sugerir o projecto de uma Bíblia expurgada, mutilada. Seria uma violência contra a história e um atentado contra a biblioteca de um povo.
Por outro, a presença da violência no AT é inquietante porque não gostamos de nos ver ao espelho: a violência percorre a história dos povos. As matanças e as escravaturas, devido à vontade de dominação económica e política, podem fazer-se em nome de Deus, da negação de Deus, do ateísmo ou da indiferença em relação ao valor da vida humana que não tem preço. A tentação da inveja, do desprezo e do ódio à diferença do outro toma facilmente conta dos nossos desejos distorcidos.
2. Foi por isso que, para enquadrar a crónica do passado Domingo[3], fiz uma alusão rápida a um longo estudo de Frei Francolino Gonçalves, O.P., que distingue dois iaveísmos no AT, o cósmico e o histórico baseado numa exacerbada política nacionalista que mata e manta matar.
Esse estudo exige outros textos fundamentais do mesmo autor acerca da importância que o método histórico-crítico introduziu nos estudos bíblicos que exige, por sua vez, outras abordagens ao serviço de uma interpretação que não seja nem míope, nem onde vale tudo[4]. 
Durante muitos séculos, a leitura teológica da Bíblia foi, praticamente, a única. Até meados do século XIII, não se distinguia exegese e teologia. Formavam uma só disciplina. Na segunda metade do século XVII, assiste-se ao aparecimento de uma nova leitura que começou por centrar-se no AT. Entre os seus pioneiros, devem mencionar-se o judeu de Amesterdão, de origem portuguesa, Bento Spinoza (1632-1677) e o católico francês Richard Simon (1638-1712). Sem duvidar de que a Bíblia fosse a expressão da palavra de Deus em linguagem humana, a nova abordagem não se confundia com a utilização que dela se fazia na elaboração da teologia sistemática.
Entretanto, muita água correu, debaixo e por cima das pontes, até ao dia de hoje. Francolino Gonçalves exerceu a abordagem histórico-crítica, condição para não se fazer do texto um pretexto para arbitrariedade das interpretações. Em que consiste essa abordagem?
«O único objectivo da exegese histórico-critica é a inteligência do sentido originário dos textos. Não pretende mais nada nem se arroga qualquer outra competência. Estuda os textos bíblicos como estudaria qualquer outro texto antigo, sem ter em conta o estatuto religioso que os cristãos, os judeus e até os muçulmanos lhes reconhecem»[5].
Para o cristão, resta a tarefa indispensável da hermenêutica desses textos.
«O hermeneuta cristão aferirá o sentido dos textos pela bitola da coerência do conjunto das suas Escrituras e da sua Tradição. Por exemplo, não poderá aceitar, sem mais, a ordem divina de exterminar os habitantes do país de Canaã (Dt 7, 1-6) nem a misoginia do que algumas exegetas chamam a “pornografia profética” (cf. Ez 16 e 23) para dar só dois exemplos»[6].
A Comissão Pontifícia Bíblica, à qual Frei Francolino também pertenceu, publicou um documento notável sobre A interpretação da Bíblia na Igreja (15/04/1993). Esse documento, além do método histórico-crítico, que depois de vencer muitos obstáculos conseguiu direito de cidadania na exegese, abre-se a outros métodos e abordagens que foram e vão surgindo na análise dos textos literários. Recusa as leituras fundamentalistas porque, em nome de uma fidelidade total à palavra de Deus, esquecem que esta se encarnou numa época precisa da história, num ambiente social e cultural bem determinado. Quem desejar entendê-la deve aceitar a ajuda das ciências humanas disponíveis.
3. Terminei a referida crónica com um correctivo: Jesus repudiou a violência do AT: Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem[7]. Preferiu ser morto a matar.
A Carta aos Efésios, atribuída a S. Paulo, mas de estilo muito diferente, afirma que somos poema de Deus em Cristo Jesus. Ele é a nossa paz. Destruiu o muro de separação, o muro da inimizade. Anulou, na sua carne, a Lei que contém os mandamentos em forma de prescrições. A partir do judeu e do gentio, criou em si próprio um só homem novo, fazendo a paz. Reconciliou-os com Deus, num só Corpo, por meio da cruz. (…) Os gentios são admitidos à mesma herança, membros do mesmo Corpo e participantes da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho[8].
Estas referências, a que se podiam juntar muitas outras, apresentam o cristianismo em continuidade e em ruptura com o AT.
O interessante é que se tenha atribuído a Jesus de Nazaré, um judeu, a continuidade e a ruptura. A investigação de Frei Francolino sobre os dois iaveísmos, no AT, a que já me referi, permite perceber a razão que levou Jesus a não aceitar nem rejeitar tudo em bloco.
Tagore «tal como o seu amigo Gandhi, que sabia de cor e recitava todos os dias as Bem-aventuranças, foi atraído pelo cristianismo e ambos consideravam que os Evangelhos deveriam ser considerados património universal da Humanidade»[9].
Não posso estar mais de acordo. Outra coisa foram os usos santos e perversos que os Evangelhos tiveram na história das Igrejas.
in Público, 21.06.2020





[1] Rm 2, 12-16
[2] Gn 1 – 2
[3] A Bíblia, Trump e a violência (14/06/2020)
[4] Cadernos ISTA: Estudos bíblicos hoje, nº 17, ano IX (2004), pp. 5-45; Mundos Bíblicos, nº 18, ano X (2005), pp. 7-34; A Dei Verbum, nº 24, ano XVI (2011), pp. 61-88.
[5] Cadernos ISTA, Nº 24, p. 78
[6] Ib., p. 79
[7] Mt 5, 43-44
[8] Cf. Ef 2, 8-16; 3, 3-8. É importante ler estes textos na íntegra.
[9] Cf. Maria Eugénia Abrunhosa, 7Margens, 6 Abril 2020


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A pandemia. Onde está Deus?
Anselmo Borges
A Universidade de Viena investigou a relação da religiosidade com a pandemia. Os resultados mostraram que as pessoas mais religiosas utilizam estratégias mais activas para dominar a crise. Enquanto as pessoas menos religiosas tendem a reprimi-la ou a negá-la, as mais religiosas procuram apoio social e lidam com ela de modo mais forte, mais optimista e com mais serenidade.
São dados significativos. Não houve, creio, nenhum estudo sobre o outro lado, mas estou convencido de que dele resultaria que muitos, esmagados pela pandemia, pelo sofrimento, se perguntaram: onde está Deus?
A história é um autêntico calvário. Hegel referiu-se-lhe como um Schlachtbank: um açougue, um matadouro. E lá está o famoso dilema de Epicuro: Deus tem de ser todo-poderoso e infinitamente bom. Ou Deus pôde evitar o mal e não quis, e não é bom; ou quis e não pôde, e não é omnipotente. Ou quis e pôde; então, donde vem o mal?
Mesmo teólogos de renome sentiram-se atenazados pelo dilema, de tal modo que alguns, como Jürgen Moltmann, falaram de um Deus impotente, que sofre connosco; outros, como Romano Guardini, chegaram a exclamar que "pediriam contas" a Deus pelo sofrimento dos inocentes; Karl Rahner disse que, "num tribunal humano, não sairia absolvido"; Karl Barth afirmou que, no Jardim das Oliveiras, quando Jesus rezava, suando sangue, Deus "se portou como Judas"; e Hans Urs von Balthasar disse que "se deve falar de uma descarga de ira de Deus sobre aquele que lutava no Jardim das Oliveiras." Nestas posições, a pergunta ergue-se talvez ainda mais veemente: acreditar como e para quê num Deus irado ou impotente?
A filosofia e a teologia ficarão historicamente devedoras ao filósofo-teólogo Andrés Torres Queiruga por ter desfeito o preconceito em que assenta o dilema (ver a sua obra marcante, Repensar o Mal). De facto, como escreveu, "enquanto permanecer o preconceito de que Deus poderia acabar com todo o mal do mundo, se quisesse, ninguém pode crer na bondade de Deus, sem se ver obrigado a negar o seu poder; ninguém acreditaria na bondade de um cientista insigne que, podendo acabar hoje com os estragos do coronavírus, não quisesse fazê-lo, por altos e ocultos que fossem os seus motivos".
O crente, nomeadamente o crente cristão, acredita no Deus Pai-Mãe, infinitamente poderoso e bondade infinita, que ama os seus filhos e filhas e só quer o seu maior bem. Donde vem o mal? Do mundo, que é finito e no qual há inevitavelmente mal. Não é possível um mundo finito, em evolução, perfeito e sem mal, porque isso é uma contradição; como se não pode reivindicar a autonomia criatural da liberdade humana finita e a perfeição. "Afirmar hoje que Deus não é bom ou omnipotente, porque não cria um mundo perfeito, é o mesmo que argumentar que não o é, porque não quer criar círculos-quadrados ou não pode fazer ferros-de-madeira." A primeira coisa que é, portanto, preciso clarificar é que o mundo produz mal, o finito não pode ser perfeito, tem falhas, carências, nele haverá choques, becos sem saída...
Desfeito o equívoco de um mundo finito perfeito e sem mal, avança-se para uma ponerologia (do grego, ponerós, mau): tratar do mal, antes de qualquer referência a Deus. De facto, o mal atinge a todos, crentes e não crentes, todos sofrem ao nascer, todos passam pela dor, todos morrem. E devemos todos estar unidos solidariamente na defesa da vida e na procura do real alívio do sofrimento de todos. A pergunta, agora, é outra: se o mal é inevitável, porque é que Deus criou o mundo? "Não posso responder ao ateu que diz que o mundo é absurdo, que não vale a pena. Eu não sou pessimista: creio que vale a pena e que há um referendo na humanidade: todos, no fundo, sabemos que vale a pena. Por isso, continuamos a trazer filhos ao mundo."
Aqui, começa a pisteodiceia (de pistis e dikê, justificação da fé). Há diferentes pisteodiceias, pois todos, ateus, agnósticos, crentes, têm de enfrentar-se com o mal e cada um tem, dentro de uma cosmovisão, a sua resposta para o problema, a sua fé. O crente religioso crê e pensa que é razoável crer em Deus e até pode perguntar, com o famoso teólogo Hans Küng: "O ateísmo explica melhor o mundo? A sua grandeza e a sua miséria? Como se também a razão descrente não encontrasse o seu limite no sofrimento inocente, incompreensível, sem sentido!" E crê que Deus não teria criado o mundo, se não fosse possível libertar-nos do mal. O que se passa é que o que não é possível num dado momento pode sê-lo mais tarde. A mãe sabe matemática, mas não pode ensinar matemática ao seu bebé enquanto bebé; fá-lo-á mais tarde. Alguém pode conceber-se a aparecer já adulto no mundo? A realidade é processual, e o crente em Deus como amor e anti-mal espera a salvação definitiva e plena para lá da morte.
Aqui, ergue-se outra objecção: depois da morte, não continuamos finitos? Os crentes confiam em Deus e podem mostrar, com razões, que a salvação eterna não é contraditória, pelo contrário. Sim, a pessoa é finita, mas com uma abertura infinita. Este é o mistério do homem. Nunca estamos acabados, nenhum ser humano morre definitivamente feito. Não há nada finito que possa preencher a abertura humana, não há nada finito que possa realizar a nossa capacidade de conhecer e amar. Esta é a possibilidade que se abre ao crente a partir da fé: já para lá dos limites do espaço e do tempo, Deus mesmo entrega-se-nos nesta abertura infinita e finalmente seremos nós com Ele e nEle.
Padre e professor de Filosofia. Escreve de acordo com a antiga ortografia
in DN, 21.06.2020
www.dn.pt/edicao-do-dia/20-jun-2020/a-pandemia-onde-esta-deus-12328663.html

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QUE COISA SÃO AS NUVENS
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA

É MAIS COM PERGUNTAS DO QUE COM RESPOSTAS — E ESSA É TAMBÉM A RADICAL EXPRESSÃO DO PODER DA LITERATURA — QUE NASCE UMA DAS NARRATIVAS MAIS ORIGINAIS E INCLASSIFICÁVEIS

Portugal tem destas excentricidades: que um espírito crítico, torrencial e iluminador como o de Agustina Bessa-Luís se confronte com a nossa mais extraordinária figura de fronteira que é Santo António de Lisboa (ao mesmo tempo medieval e moderno; popular e cultíssimo; português e a cooperar numa mudança epocal que, segundo Jacques Le Goff “vai sacudir a religião, a civilização e a sociedade”), não parece empresa suficiente para ativar paixões. De facto, o seu “Santo António” (agora reeditado pela Relógio D’Água) é, no conjunto da sua obra, um livro injustamente esquecido. O curioso é que a escritora não contorna esta perturbadora excentricidade, antes a toma como explícito ponto de partida. Ela sabe que há duas perceções afirmadas: aquela maioritária que reduz António a “santo fácil e caseiro”, mais para ser festejado do que propriamente compreendido; e aquela marginal, ligada ao estudo da espiritualidade franciscana e ao ambiente universitário, que o perscruta, sim e bem, mas sem chegar a uma síntese amplamente partilhável pelo seu tempo.
A pergunta que Agustina neste impasse se faz é sobre o poder da literatura. E poucas vezes ela o aceitou pensar, diante do leitor, com esta disponibilidade e risco. Que pode a literatura? Que recursos específicos um romancista ativa para iluminar as faces de poliedro de uma personagem que a receção tende a tornar plana? Que inteligência aplica às passagens inexplicáveis, sejam interiores ou de conjuntura histórica, e às mil modulações, desfocagens e diatribes próprias dos processos de transmissão? No fundo, será mais com perguntas do que com respostas — mas essa é também a radical expressão do poder da literatura — que Agustina constrói uma das suas narrativas mais originais e inclassificáveis, que é uma mistura de ensaio e romance, de texto documental e relato de viagem, de filme metafísico e de making-of sobre as condições de produção, de minucioso comentário filológico do passado e de exercício fulgurante e amplo de pensamento sobre a vida.
Quem era Santo António? Um pregador inflamado e discutido, apostado num “processo moralizador” que não poucos teriam recebido como agressivo ou era o difusor entusiasta do ‘sermo humilis’, que procurava alcançar a inteligência de todos?
No Livro XI das “Confissões”, Santo Agostinho argumenta que os tempos são três: “O presente das coisas passadas, o presente das coisas presentes, o presente das coisas futuras.” Não admira que a escritora apresente o seu projeto como uma “biografia conduzida pela meditação”. Recorde-se que a mesma etimologia latina acomuna a palavra meditação e termos como medicina ou medicamento. Meditar é, por isso, curar o presente.
Quem era efetivamente Santo António? Era um pregador inflamado e discutido, apostado num “processo moralizador” que não poucos teriam recebido como agressivo ou era, ao contrário, o difusor entusiasta do sermo humilis, que procurava alcançar a inteligência de todos, doutos e não doutos? Que transformação aconteceu para que Santo António tenha chegado até nós, sobretudo sob a forma do afeto ao nível do rito quotidiano e das suas mediações, como “piedoso confidente de razões práticas”? E essa transformação foi o fruto de uma crescente maturação psicológica que se explica ou uma experiência mística que é da ordem do indizível? Mesmo defendendo que “António é um afetivo e não um místico”, consumando-se mais na compaixão do que no puro abandono do arrebatamento, Agustina ajuda-nos a mergulhar na fascinante complexidade do santo que, segundo ela, vivia “a condição metafísica dessa treva em que o conhecimento dos seres não é mais um pacto vital, mas um enigma que se respeita pela sua analogia, ou aptidão para receber o divino”.
in Semanário Expresso, 20.06.2020
https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2486/html/revista-e/que-coisa-sao-as-nuvens/o-santo-antonio-de-agustina
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À PROCURA DA PALAVRA
PE. VITOR GONÇALVES
DOMINGO XII COMUM
“Não temais os que matam o corpo,
mas não podem matar a alma.”
Mt 10, 28
Ultrapassar o medo
De entre as muitas imagens de celebrações em tempo de confinamento, certamente alguns vimos aquela em que o padre subiu a um terraço da igreja e, rodeado de prédios, com as pessoas em suas casas, celebrou a eucaristia, “à luz do dia e sobre os telhados”. Semelhantes iniciativas manifestaram inúmeros dotes musicais, jogos, saudações, e festas em varandas. Era preciso vencer o isolamento e não ficar reduzidos a écrans cheios de imagens.
Se o distanciamento social é uma forma de evitar o contágio deste vírus perigoso e de proteger a vida dos mais frágeis, não podemos ceder ao medo. É com prudência e responsabilidade que devemos caminhar. Com novos ritos de cuidado comuns, e redescobrindo a felicidade das pequenas coisas. Alguma insaciabilidade e uma certa soberba perante o mundo e os outros pode dar lugar à humildade e à solidariedade. Não é uma pandemia que termina com a violência nem com problemas mais fundos da sociedade, como os conflitos em torno do racismo e do julgamento da história trouxeram à tona da vida.
São frequentes os apelos de Jesus a não termos medo. Afinal, ele é o maior obstáculo ao amor, que supõe confiança, e incita à entrega e à coragem. O medo fecha, o amor abre; o medo isola, o amor faz encontro; o medo antecipa o pior, o amor tem esperança; o medo é egoísta, o amor é confiante; o medo prende, o amor liberta; o medo mata, o amor dá vida. Dizia Clarice Lispector: “Agora preciso de tua mão, não para que eu não tenha medo, mas para que tu não tenhas medo. Sei que acreditar em tudo isso será, no começo, a tua grande solidão. Mas chegará o instante em que me darás a mão, não mais por solidão, mas como eu agora: por amor.”
De três medos previne Jesus os discípulos ao enviá-los em missão. O medo do fracasso, e que a violência dos homens reduza a nada o esforço em levar a boa notícia do amor de Deus. Jesus pede-lhes a coragem de O anunciar em todas as circunstâncias; afinal, o Reino germina a partir do que é frágil e cresce onde menos se espera. Só fracassa quem não tenta, e o cristão tem sempre diante si o risco de não ver germinar as sementes que lançou. Adverte-os para o medo dos maus tratos e da morte. Só a confiança na vida maior que Deus dá aos seus filhos é mais forte. E se o medo do sofrimento que pode atingir os que mais queremos também é real, Jesus lembra a fragilidade dos passarinhos e a caducidade dos cabelos para falar do cuidado e do carinho de Deus. Não promete que não irá acontecer nada, ou que fará milagres para evitar o que é difícil. Simplesmente diz que valemos mais do que muitos passarinhos. E com a nossa entrega e confiança, Ele fará o que for necessário. A última palavra é sempre de Deus e é uma palavra de vitória e vida plena.
in Voz da Verdade, 21.06.2020
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Tornar o catolicismo português mais franciscano, a tarefa do bispo Ornelas na CEP (análise)
António Marujo
No dia 16 de Junho, 28 bispos elegeram os novos titulares dos órgãos da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), escolhendo o bispo de Setúbal, José Ornelas, como presidente. Até hoje, a CEP não foi muito capaz liderar dinamismos significativos de renovação da Igreja Católica em Portugal. Podem eleições como estas mudar alguma coisa? Podem, mas para tal é preciso reunir a vontade colectiva dos bispos.
A escolha da CEP foi feliz: o bispo de Setúbal é, no actual quadro, um dos poucos com capacidade de imprimir um ritmo diferente à Conferência, libertando-a de vários espartilhos históricos. Para isso, terá de conseguir que o organismo seja mais do que uma mera assembleia de partilha de reflexão e produção de documentos – apesar de ela integrar bispos empenhados em dar o seu melhor, sinceramente interessados na renovação.
Há um pecado original na criação da CEP: nascida na década de 1960, a conferência era nesse tempo liderada pelo cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira, patriarca de Lisboa e personalidade forte e carismática. Mas, formado 50 anos antes, já não conseguiu, ou não quis, adaptar-se às mudanças que o II Concílio do Vaticano traçou. O que ficou, numa Igreja também sujeita à ditadura, à censura e à perseguição da discordância, foi a imagem de uma hierarquia cinzenta, com tiques de autoritarismo e monolitismo, muito próxima do ditador e do salazarismo – mesmo se este é um retrato incompleto, pois sempre houve quem quisesse um outro catolicismo para Portugal.
Desde aí, a CEP viveu quase sempre na sombra dos bispos da capital (no senso comum, quem “manda” na Igreja é o patriarca de Lisboa, ao contrário do que acontece noutros países, em que vários outros bispos se destacam). Mais grave ainda, a Conferência continuou enferma de falta de ousadia, criatividade e espírito colectivo, factores agravados pelo monolitismo vivido em Portugal durante décadas.
Timidez
Excepções? Alguns rostos dos últimos 40 anos e, sobretudo, alguns momentos: a plena adesão, liderada pelo cardeal Ribeiro e pelo então bispo do Porto, António Ferreira Gomes, à democracia implantada em 1974; a dinâmica da pastoral do domingo (finais de 1970-início de 1980), os congressos nacional e diocesanos dos leigos; o relançamento das semanas sociais; o congresso da família… Mas, se revisitarmos as conclusões dessas iniciativas, percebemos que a esmagadora maioria delas ficou no papel. O catolicismo português, preso à falta de debate interno, tem a mesma incapacidade do país de ficar muitas vezes por bons diagnósticos, sem consequências.
De fora, houve ainda um sopro de frescura em 2004, com o encontro de jovens promovido pela comunidade ecuménica de Taizé, pouco aproveitado na atenção aos jovens, espiritualidade, diálogo ecuménico e compromisso social que poderia ter provocado. E, na quarentena de que saímos, o bispo de Leiria e o patriarca de Lisboa foram assertivos na decisão de suspender celebrações comunitárias (incluindo o risco absurdo que seria o 13 de Maio, em Fátima) e de afirmar o essencial da fé.
A renovação sugerida pelo Concílio (1962-65) deu passos tímidos depois do 25 de Abril, até à mudança de século. Os bispos de então não eram muito arrojados, mas estavam alinhados com o Vaticano II e davam espaço à iniciativa de pessoas e grupos. Esses tempos esfumaram-se e os passos no sentido da renovação não foram muito longe.
Há 55 anos, a 6 de Agosto de 1965 (a poucos meses do encerramento, em Dezembro, do Vaticano II), o episcopado português publicava uma nota pastoral sobre o Concílio, onde escrevia que “reforma sem disciplina e actualização sem ordem resultariam em anarquia destruidora.” Essa tem sido, grosso modo, a atitude do episcopado em Portugal: nada de sujar as mãos e arriscar, como tem pedido o Papa Francisco, mesmo que isso implique depois repensar e corrigir. Antes manter a disciplina e a ordem – ou seja, “prudência” e “receio”, manter o que está, não dar espaço à criatividade, não enfrentar problemas sociais graves. Como diz a expressão usada em âmbitos católicos quando se quer dizer delicadamente que algo/alguém não existe, a CEP tem sido demasiado “apagada”…
Ausências
Alguns exemplos: nenhum inquérito sociológico ou da prática dominical originou dinâmicas pastorais diferentes ou opções por prioridades; não há perspectivas de uma pastoral de conjunto nas cidades; a participação dos leigos, mulheres e jovens nos processos de decisão é, muitas vezes, apenas retórica, sujeita ao poder frequentemente autoritário do bispo ou do padre; ignoram-se problemas como a solidão do clero, da profunda crise de identidade da vida religiosa ou da regressão na formação dos seminários para um modelo clerical e de “casta”, no qual a formação humana, cultural e espiritual é deficiente, e nem sequer entusiasma os seminaristas por conhecer o pensamento de teólogos ou investigadores fora dos manuais.
Olhando para o que se passa na sociedade, a voz da hierarquia quase só se faz ouvir para falar de temas como o aborto e eutanásia. E peca pelo silêncio em realidades como a violência doméstica, o desemprego, o racismo e populismo crescentes (por vezes protagonizado por quem se faz fotografar em igrejas ou faz profissões genéricas de fé)? Falta diálogo cultural (com excepção de iniciativas pontuais, como a página da Pastoral da Cultura), falta presença na questão da emergência ambiental, ainda mais tendo um “manual de instruções” espantoso como é a encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, falta formação católica de lideranças económicas, políticas e financeiras para uma economia que não mate…
Se este diagnóstico fosse exagerado, possivelmente alguns dos indicadores católicos estariam hoje melhor do que há 20 ou 40 anos e haveria mais pessoas nas missas, mais baptizados e matrimónios, universos intelectuais, políticos e sociais mais próximos e interessados no diálogo com os católicos… O catolicismo sofre uma erosão a vários níveis e não só porque o mundo mudou. Também (sobretudo?) porque a Igreja Católica não tem tido arrojo, criatividade, ousadia, nas propostas que faz, limitando-se quase só a repetir o que já se sabe, o que já se faz, o que já se pensa. Escasseiam as vozes que reflectem, debatem e propõem caminhos alternativos. E as poucas que há são olhadas de lado. Há muito.
Urgência
Este é um diagnóstico cáustico? Sim, porque há factores positivos que aqui não são referidos; num momento em que volta a haver uma nova liderança no episcopado, este é o momento de olhar para o muito que falta fazer. E as primeiras declarações do bispo José Ornelas indiciam essa vontade.
Na Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), a sua exortação apostólica programática, o Papa Francisco diz que “a vida comunitária e o compromisso com os outros” são o “coração do evangelho” (nº 177). Na Laudato Si’, acrescenta que se devem considerar “inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior” – ou seja, as dimensões mística e espiritual (nº 10).
No primeiro destes textos, o Papa sugere consequências da renovação: recusa do clericalismo (e do narcisismo, acrescentou ele em diversas ocasiões, a propósito dos abusos sexuais), apelo à criatividade a ousadia (não serve o argumento de que “sempre se fez assim”), não querer ver inimigos em todo o lado, chamar pessoas que pensem diferente e não se limitem a lisonjear os bispos ou padres, não ficar pela moral; e, pelo contrário, propor a misericórdia, a atenção a todas as periferias, ter atenção às novas dinâmicas urbanas, aceitar o pluralismo e o debate, dar protagonismo aos leigos, às mulheres e aos jovens…
D. José Ornelas já referiu a necessidade de coordenar “solidariamente” actividades conjuntas, de dialogar com a sociedade de que a Igreja Católia faz parte, de dar atenção aos múltiplos problemas sociais. Mas nada disso serão tarefas fáceis, até porque já outras vezes houve intenções semelhantes, que esbarraram na inércia da CEP enquanto conjunto. As mudanças não se fazem com poucas pessoas, mas com uma vontade colectiva e o facto de a liderança da CEP (presidência e conselho permanente) estar, no fundamental, alinhada com o pensamento e modo de agir do Papa Francisco é uma ajuda importante para começar a mudar o rumo.
É necessária, no entanto, uma liderança firme, que rompa a sensação de que a adesão de uma boa parte do clero português ao Papa é apenas epidérmica, sem grandes consequências de ordem prática. Quando Francisco quis convencer José Ornelas a vir para Setúbal (o então superior geral dos padres dehonianos preparava-se para uma missão em Angola) disse-lhe que Setúbal também é terra de missão para um clérigo católico. E Portugal, poderia acrescentar-se. Com uma urgência: trazer “franciscanismo” ao catolicismo português. Essa é a missão, a tarefa que o novo presidente da CEP tem pela frente.
in 7Margens
https://setemargens.com/tornar-o-catolicismo-portugues-mais-franciscano-a-tarefa-do-bispo-ornelas-na-cep-analise/
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 Capela Do Rato
Em memória dos defuntos falecidos em tempo de pandemia

O Senhor D. Manuel Clemente presidirá no dia 28 de junho, na Capela do Rato, à eucaristia do XIII Domingo do Tempo Comum.  
Nesta celebração faremos memória dos irmãos e irmãs falecidos durante este tempo de pandemia, muitos deles numa profunda solidão.  

Confortam-nos e consolam-nos as palavras oportunas de Paulo, na segunda leitura: «Se morremos com Cristo, também com Ele viveremos».  
Convidamos as famílias enlutadas a indicar o nome do familiar que se quer lembrar durante a eucaristia, enviando essa informação previamente para capeladorato@gmail.com, até ao dia 26 de junho. Sugerimos também que se possam acrescentar alguns traços biográficos de modo a pessoalizar a celebração (ex. nome, idade, circunstância do falecimento…).  
No limite da presença das 40 pessoas, priorizamos a inscrição de pessoas e famílias enlutadas ( inscrição disponível aqui). Convidamos as pessoas e famílias que, por razões várias, não podem estar presentes, a seguir a transmissão da eucaristia on line, através do site da Capela e do facebook.  

Sugerimos que, em casa, se possa preparar um pequeno altar com a foto da pessoa falecida, uma vela acesa e uma pequena flor.
Inscrições para a eucaristia do XIII Domingo do Tempo Comum

Já está disponível o formulário para inscrição nas eucaristias que se irão realizar na Capela do Rato, nos dias 27 e 28 de junho. 
Em relação à eucaristia de domingo, dia 28 de junho, caso pertença a uma família em luto, agradecemos que nos indique o nome da pessoa falecida. Ver mais informações sobre a esta celebração de domingo aqui


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