17 outubro 2011

Casados de fresco; homilia e acolhimento


Fui recentemente a dois casamentos, ambos de católicos "praticantes".
O que se passou nas respectivas cerimónias religiosas dá que pensar!
No primeiro caso, tratava-se de um casal de cerca de trinta anos, lisboetas, já a viver juntos. Amadurecida a relação, decidiram convocar os amigos e a família, mais de cem pessoas, para a grande festa de formalização do casamento. Conhecendo os convidados, a maioria bem longe de frequentar igrejas, reduziram a cerimónia religiosa ao rito propriamente dito, escolheram leituras e oração dos fiéis adequadas e convidaram amigos de um grupo coral que cantou lindamente dando um ar de festa à celebração. Os noivos estavam felizes, as famílias e amigos também, mas a desgraça foi o padre! Não achou melhor oportunidade do que alertar veementemente os presentes sobre o descalabro dos valores, dos casamentos de fachada, dos casamentos gay, dos divórcios e recasamentos, enfim, a lista é longa! Vinte minutos de homilia  para "achincalhar" as pessoas presentes recusando a quem estava nessas situações (e eram vários) o simples título de casados por Amor.
Na fila à minha frente na Igreja dois jovens casais riam e gozavam a cada diatribe do padre. O ridículo não mata mas mói. Eu estava envergonhada por assistir a tantos anátemas, impotente a ver magoar as pessoas em causa sem poder fazer nada. Ainda pensei que sendo o padre padrinho do noivo, poderia falar com ele ao jantar e sugerir uma outra abordagem do tema mais consentânea com o acolhimento evangélico. Soube depois que ele se tinha escusado a ir à festa porque tinha terço e missa e estava cansado. Tal como eu, a reacção das pessoas da minha mesa na conversa posterior durante o jantar foi de consternação. Tínhamos assistido a tudo o que não deve ser uma homilia sobre o matrimónio católico. Se o padre se tivesse calado tinha prestado um excelente serviço à pastoral. Assim mostrou a face mais intolerante de algum pensamento católico sobre o tema.
Felizmente por vezes as homilias são inclusivas, acolhedoras e por isso mesmo desafiantes.
O segundo caso é exemplo disso mesmo. Durante o verão um casal canadiano-português aproveitou as férias para formalizar o seu casamento. Ambos na casa dos cinquenta e com vivências anteriores muito ricas, encontraram-se finalmente no Quebeque, onde vivem juntos e na segunda metade da vida decidiram casar. Não era fácil preparar uma celebração trilingue; português, inglês e francês mas fizeram-no na perfeição. Contactado o padre, amigo de longa data da noiva, os noivos prepararam o caderninho da liturgia, escolheram tudo, mesmo tudo, trocando perspectivas via e-mail e telefone com o padre até à versão final. No grande dia, apenas duas filas de família e amigos chegados preenchiam a enorme igreja. Os noivos e o padre acolheram cada pessoa apresentando os estrangeiros e possibilitando que ao começar a celebração todos soubessem exactamente quem era quem e porque é que ali estava. Neste ambiente acolhedor as barreiras linguísticas e outras caíram, cada um na sua circunstância foi acolhido e a homilia foi disso mesmo reflexo.
Era para aqueles noivos únicos com um percurso singular, era para aquelas famílias concretas(estivessem ou não canonicamente constituídas) sobre tudo sentia-se que ali se celebrava o Amor, ora é isso mesmo que faz com que um casamento seja sinal do Amor maior. A homilia deve apenas situar concretamente essa dimensão de acolhimento do Amor. Nem mais, nem menos!

AFF
17.10.2011

1 comentário:

  1. Obrigada pela resposta. Vou agora tentar publicar.
    Bem vindos ao mundo da Blogosfera.
    Acho que foi uma sábia decisão abrir um Blog. Vou ficar seguidora do mesmo.
    Grande abraço fraterno,

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