P / INFO: Haverá
alternativas à economia que mata?, Greve das mulheres e o feminiclericalismo, Tesouros
Portugueses, Ensinar e recordar, Foi há quatro anos & Photo exhibition
celebrates 25 years of female priests
Haverá alternativas à economia que mata?
Frei Bento Domingues, O.P.
É muita ousadia da parte do Papa tentar
destruir o dogma de que não há alternativas viáveis à economia dominante.
1. Os anos não perdoam. Os
adversários das posições e das práticas do Papa Francisco confiaram, durante
bastante tempo, nessa lei da natureza. Quando se deram conta de que este
argentino resiste e não desiste das reformas que propôs, entraram em pânico:
dada a sua popularidade, é possível que da eleição de um novo Papa surja alguém
da mesma linha. Isso não pode acontecer! Daí, a reunião de pessoas e recursos
da finança internacional para denegrirem a imagem de Bergoglio.
Para esses grupos – pouco
numerosos, mas com muita visibilidade e acesso a inúmeros recursos –, é
insuportável ter à frente da Igreja Católica alguém que denuncia a economia
dominante como “economia que mata”. Supor que existem e podem crescer
alternativas a esta economia é uma blasfémia, uma heresia económica sem perdão.
Até agora, o Papa Francisco
agia de forma exemplar em relação aos que são deixados à margem e abandonados.
Fazia incessantes apelos em socorro das vítimas da guerra que procuram, em condições
miseráveis, acolhimento noutros países. Em todo esse esforço, é sempre o Papa a
agir e a falar ou a nomear comissões de estudo para resolver problemas. Mesmo
os três notáveis discursos sobre a injustiça social e económica, dirigidos aos
movimentos populares [1], não fogem a esse estilo. Agora, porém, com a Carta
convocatória para o Encontro “Economy of Francesco”, em Assis, de 26 a 28 de
Março de 2020, parece ter começado uma era nova. É dirigida a jovens
economistas, empreendedores e empreendedoras de todo o mundo, não como mestre
em Doutrina Social da Igreja, mas como alguém que deseja participar no
conhecimento das alternativas que existem à “economia que mata” e ampliar as
suas potencialidades.
Antes de realçar a
significação desta mudança, devo dar a palavra à própria Carta. No primeiro
parágrafo resume o seu desejo: “Esta Carta é para vos convidar para uma
iniciativa que muito desejei: um evento que me permita encontrar quem, hoje,
está a formar-se, a começar a estudar e a praticar uma economia diferente que
faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, que cuida
da criação e não a degrada. Um evento que nos ajude a estar juntos e a
conhecermo-nos, que nos leve a fazer um ‘pacto’ para mudar a economia actual e
dar uma alma à economia de amanhã.”
Recorre à sua Encíclica
Laudato si’: “sublinhei como hoje, mais do que nunca, tudo está intimamente
ligado, e a salvaguarda do ambiente não pode ser separada da justiça para com
os pobres e das soluções dos problemas estruturais da economia mundial. É
preciso, portanto, corrigir os modelos de crescimento incapazes de garantir o
respeito pelo ambiente, o acolhimento da vida, o cuidado pela família, a
equidade social, a dignidade dos trabalhadores, os direitos das futuras
gerações. Infelizmente, continua ainda por escutar o apelo a tomar consciência
da gravidade dos problemas e, sobretudo, a concretizar um modelo económico
novo, fruto de uma cultura da comunhão, baseado na fraternidade e na equidade.”
Voltando à Carta do Papa:
“desejo encontrar-vos, em Assis, para juntos promovermos, através de um ‘pacto’
comum, um processo de mudança global que veja, em comunhão de propósitos, não
só quantos têm o dom da fé, mas todos, mulheres e homens de boa vontade, para
além das diferenças de credo e de nacionalidade, unidos por um ideal de
fraternidade atento sobretudo aos pobres e aos excluídos. Convido cada um de
vós a ser protagonista deste pacto, assumindo a tarefa de um compromisso
individual e colectivo para cultivarmos juntos o sonho de um novo humanismo que
responda às expectativas do ser humano e do desígnio de Deus.” [2]
2. É evidente que as grandes
escolas de economia e gestão também gostam de jovens. Sem eles, não poderiam
existir. A questão de fundo é a sua orientação. Estão ao serviço de que
interesses? Não falta quem afirme que, muitas vezes, se destinam a uma lavagem
ao cérebro, para que aprendam a engenharia de manter e aprofundar as
desigualdades sociais. Não desejam um mundo de cidadãos, mas de consumidores
que, de tão obcecados com os níveis do seu próprio consumo, acabem por fazer o
jogo dos que ganham com esta economia “que mata”. Essa economia foi concebida,
não para fortalecer a democracia, mas para a enfraquecer subordinando o poder
político ao poder económico. A publicidade revela e esconde. Revela o que tu
deves desejar e esconde o que te arruína. A máquina desta engenharia tem ao seu
serviço uma grande rede de ilusionistas para mostrar que não há alternativa,
ignorando aquelas que, já no terreno, estão a abrir novos caminhos de
participação. Quem domina a economia também domina os grandes meios de
comunicação. Não lhes interessa divulgar as iniciativas que coloquem em cheque
a mentalidade e as práticas dominantes, criando um futuro diferente para as
pessoas e as comunidades [3].
3. É muita ousadia da parte
do Papa tentar destruir o dogma de que não há alternativas viáveis à economia
dominante. Existem, são pouco conhecidas e muito pouco divulgadas. O encontro
de Assis tem como primeiro objectivo partilhar o que já está a acontecer nas
diferentes partes do mundo. Maior ousadia ainda é convocar, crentes e não
crentes, para que as “vossas universidades, as vossas empresas, as vossas
organizações se tornem estaleiros de esperança para construir outros modos de
entender a economia e o progresso, para combater a cultura do descartável, para
dar voz a quem não a tem, para propor novos estilos de vida”. É ousadia porque
não faz uma encíclica ou cria uma comissão, mas convoca para um movimento que
fermente a massa, quando normalmente à Santa Sé se pede que tenha a primeira e
a última palavra. Este Papa quer entrar na escola dos jovens que investigam,
quer conhecer as experiências em curso e, sobretudo, os novos projectos de
economias alternativas. Não os trata como objectos do seu magistério, mas como
sujeitos do percurso da Igreja.
O que diz respeito a todos
deve ser tratado por todos. O próprio Jesus estremeceu de alegria ao ver chegar
uma nova Era: o que durante séculos e séculos tinha sido ocultado ao povo
simples, aos pequeninos, pelas interpretações rebuscadas e abusivas dos falsos
sábios das Escrituras, estava, finalmente, ao alcance de todos [4].
A Igreja do Pentecostes é um
processo nunca acabado de novas experiências, novas práticas e o grito dos sem
vez e sem voz. O contrário do condomínio fechado de privilegiados do saber, do
dinheiro, isto é, do poder de dominar.
[1] Cf. Papa Francisco, Terra, Casa, Trabalho,
Temas e Debates – Círculo de Leitores, 2018
[2] Quem desejar conhecer esta Carta, na
íntegra, pode recorrer ao site do Vaticano
[3] Veja-se, por exemplo, o filme Amanhã, de Cyril Dion e Mélanie Laurent
[4] Cf. Lc. 10, 17-24
in Público 26 de Maio de 2019
www.publico.pt/2019/05/26/sociedade/opiniao/havera-alternativas-economia-mata-1873586
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Greve das mulheres e o feminiclericalismo
Anselmo
Borges
Padre e
professor de Filosofia
1. Escrevi
aqui recentemente sobre as mulheres na Igreja, perguntando: “E se as mulheres
fizessem greve na Igreja?” Uma mulher de alta estatura intelectual, espiritual
e social comentou: “As igrejas ficavam vazias.”
Nem de
propósito, mulheres católicas alemãs de várias dioceses acabam de boicotar
durante uma semana o seu trabalho voluntário nas igrejas e fazer greve às
Missas, para protestar contra o machismo e os abusos do clero. “Deploramos os
casos conhecidos e desconhecidos de abuso e o seu encobrimento e ocultação por
parte dos líderes da Igreja.” E exigem “o acesso das mulheres a todos os
ministérios.” Facto é que, como disse Thomas Steinberg, presidente do Conselho
Central de Católicos Alemães, “sem as mulheres nada acontece” e, portanto, é
necessário seguir um “caminho sinodal” por parte da Igreja, operando as
mudanças que se impõem. Aliás, já antes, católicas francesas tinham denunciado
o machismo na Igreja, causa dos abusos contra mulheres e crianças: “na Igreja,
todo o poder está nas mãos de homens solteiros, os únicos com capacidade para
decidir, governar, ensinar, e que dizem ser mediadores da relação com Deus e
com o sagrado.” E insistem: “Isto não pode continuar por mais tempo. Tem que
mudar.”
2. As
mulheres não podem ser discriminadas na Igreja. Jesus não as discriminou. A
prova está em que teve discípulos e
discípulas, como testemunham muitos passos dos Evangelhos, e Maria Madalena foi
determinante no cristianismo. De facto, foi ela que, depois da crucifixão,
quando tudo parecia ter sido o fim, reuniu outra vez os discípulos à volta da
experiência avassaladora de fé de que o Jesus crucificado está vivo em Deus, que
é Amor. Voltaram a reunir-se na fé em Jesus, o Vivente, e foram anunciar que
Ele é o Messias, o enviado de Deus como “o Caminho, a Verdade e a Vida.” E
testemunharam-no, dando a vida por isso. De tal modo Maria Madalena foi
determinante que Santo Agostinho lhe chamou “a Apóstola dos Apóstolos”.
Também São
Paulo fala com imenso respeito das suas colaboradoras. Por exemplo, na Carta
aos Romanos, escreve: “Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que também é diaconisa
na igreja de Cêncreas, recebei-a no Senhor, de um modo digno dos santos. Saudai
Trifena e Trifosa, que se afadigam pelo Senhor. Saudai Andrónico e Júnia, meus
concidadãos e meus companheiros de prisão, que tão notáveis são entre os
apóstolos e que, inclusivamente, se tornaram cristãos antes de mim”. Na Carta
aos Gálatas, 3, 26-29, escreve: “É que todos vós sois filhos de Deus em Cristo
Jesus, mediante a fé, pois todos os que fostes baptizados em Cristo
revestistes-vos de Cristo mediante a fé. Não há judeu nem grego, não há escravo
nem livre, não há homem nem mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus.”
Portanto, na Igreja, e não só, há uma igualdade originária.
Jesus Cristo
é, sem dúvida, quando se pensa a sério no que Ele fez, disse, foi e é, a figura
mais determinante da História da Humanidade. São Paulo explicitou essa
influência, a partir da sua própria experiência pessoal, avassaladora, que se
traduz naquela conclusão: “Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre,
não há homem nem mulher.” Que experiência foi essa, que o levou de perseguidor
a Apóstolo, fazendo milhares e milhares de quilómetros, com os meios precários
da altura, para anunciar o Evangelho? Há uma pergunta fundamental que Paulo
faz: o que vale um morto?, o que vale um morto, concretamente um crucificado
morto? Mas, ao fazer a experiência de fé de que esse Jesus crucificado está
vivo em Deus, conclui que Deus o ressuscitou e, portanto, Ele vale para Deus,
tem valor para Deus. E, se Jesus crucificado, morto, vale para Deus, como
mostra a ressurreição, então todos valem, todos os homens e mulheres,
independentemente do sexo, da etnia, da religião, da idade, da cor, valem para
Deus, têm valor. Todos têm dignidade diante de Deus. Já não há escravo nem
livre, nem judeu nem grego, nem homem nem mulher.
Alguém
conhece revolução maior na História do mundo, de que lentamente se foi e vai
tomando consciência, a ponto de se proclamar a dignidade inviolável de todas as
pessoas, nomeadamente na Declaração Universal dos Direitos Humanos? As
comunidades cristãs celebravam a Eucaristia, lembrando Jesus, a sua memória e
reconheciam-no na partilha do pão, em refeições festivas, e, pela primeira vez,
senhores e escravos, homens e mulheres, judeus e gregos se sentaram todos à
mesma mesa. E quem presidia era o dono ou a dona da casa, que recebiam a comunidade.
Com o tempo, a Igreja tornou-se uma estrutura de poder e aí tudo se
transformou, chegando-se ao cúmulo daquelas celebrações da Ceia de Jesus que já
nada têm de fraterno, pois mais parecem cerimónias das cortes imperiais.
Naqueles longos pontificais com pompa imperial, adornos de ouro e pedras
preciosas, vestimentas luxuosas que por vezes até rondam o ridículo, em que
participam inclusivamente patifes e ladrões sem o mínimo propósito de emenda
nem conversão, alguém se lembra da Última Ceia de Jesus? Quem preside? Os
“senhores”, donos de Deus e do sagrado. Evidentemente, as mulheres foram
ficando excluídas da presidência. E, lentamente, a revolução evangélica de
Jesus, da radical igualdade de todos, teve de ser proclamada fora da Igreja
oficial e ser-lhe imposta de fora, como aconteceu com as proclamações dos
direitos humanos.
3. E
Francisco? Ele está convencido de que “é necessário ampliar os espaços para uma
presença feminina mais incisiva na Igreja. As mulheres formulam questões
profundas que devemos enfrentar.” Disse às religiosas: “Não às criadas. Nenhuma
de vós se faz freira para ser uma servente dos padres.” Em Julho de 2016,
nomeou uma comissão igualitária de homens e mulheres para estudar o papel das
mulheres na Igreja primitiva. A comissão terminou o seu trabalho sem acordo e
ele acaba de comunicar no Encontro internacional das religiosas que, sobre o
caso do diaconado, “temos de ver o que havia no início da Revelação. Se o
Senhor não nos deu o ministério sacramental para as mulheres, a coisa não dá.
Por isso, estamos a investigar a história”. Francisco não fechou a porta, mas
ficou atado com a questão do diaconado como sacramento ou não para as mulheres.
Aqui
precisamente, chegámos ao nervo do problema, problema nuclear da Igreja, porque
está na base do clericalismo e do carreirismo, “a peste da Igreja”, na
expressão de Francisco. Foi o maior exegeta católico do século XX, professor da
Universidade de Tubinga, Herbert Haag, que me ensinou que Jesus não ordenou
ninguém “in sacris”, nem homens nem
mulheres. Na Igreja, há ministérios (Autrag), mas não há ordenação sacra
(Weihe). Todo o povo de Deus pelo baptismo é Povo sacerdotal, mas não há sacerdotes. Toda a Igreja é
ministerial, mas o Novo Testamento evitou a palavra hiereus (sacerdote) e, entre
os carismas (dons do Espírito Santo), não se refere o sacerdócio.
Neste
enquadramento, Pepe Mallo foi ao essencial, quando escreveu: “Porque é que se
há-de sacramentalizar os ministérios? É evangélico sacralizar (ordenar ‘in
sacris’) as pessoas? Não se deverá dissociar ‘ordenação’ e ministério’? É certo
que Jesus não ordenou mulheres, mas também não ordenou homens, e, menos ainda,
no sentido, aspecto e categorias de que desfrutam hoje os clérigos. Jesus não
instituiu nenhum sacramento da ‘Ordem Sagrada’, nem para mulheres nem para
homens. As funções de diáconos e diaconisas, bem como de presbíteros e
bispos de que falam as Cartas no Novo
Testamento eram pura e simplesmente ministérios da comunidade e para a comunidade.
Não eram dignidades e privilégios de supremacia e domínio.” Na Igreja, tem de
ser respeitada a dignidade de todos, mas não há dignidades nem dignitários.
Jesus dizia
no Evangelho: “Tomai cuidado com os fariseus e os doutores da Lei, que gostam
de exibir longas vestes, de ser cumprimentados nas praças, de ocupar os
primeiros lugares nas sinagogas e nos banquetes. Vós sois todos irmãos.”
Voltando às primeiras comunidades, é preciso reconhecer o sacerdócio de todos
os baptizados, homens e mulheres, e, assim, proclamar e exigir a igual dignidade
de todos. Mas, se as mulheres apenas reclamarem o poder dos homens na Igreja,
então teremos o mal acrescentado: ao mal
do clericalismo machista acrescentar-se-á o do feminiclericalismo. Julgo que é
este o receio do Papa Francisco, quando critica algum feminismo como “machismo
de saias”.
in DN 26.05.2019
www.dn.pt/edicao-do-dia/26-mai-2019/interior/greve-das-mulheres-e-o-feminiclericalismo--10940249.html
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QUE COISA SÃO AS NUVENS
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
TESOUROS PORTUGUESES
A BIBLIOTECA APOSTÓLICA VATICANA É UM ATIVO DE CIVILIZAÇÃO,
CONHECIMENTO E CIÊNCIA AO SERVIÇODA HUMANIDADE
Deve-se ao
Papa humanista Nicolau V (1447-1455) a decisão de inaugurar uma biblioteca
pública no Vaticano que pudesse ter como finalidade “a utilidade comum dos
homens de ciência”, tornando acessível a leitores externos o que, até então,
era uma biblioteca para uso exclusivo da cúria papal. O Papa teve ainda o
cuidado de enriquecê-la, doando não só a sua biblioteca particular, mas
implementando uma política maciça de compras nos mercados livreiros do Oriente
e Ocidente. O vasto plano que então germinava propunha-se construir uma
verdadeira biblioteca universal, segundo critérios humanísticos. Não era,
portanto, uma biblioteca especializada, por exemplo, em teologia ou ciências
eclesiásticas, mas deveria cobrir todas as áreas do conhecimento humano,
incluindo tanto o campo literário (com os clássicos não-cristãos latinos e
gregos) como o científico (com a medicina, a astronomia, a matemática, as
ciências naturais, etc). Os esforços de Nicolau V foram bem-sucedidos: à data
da sua morte (1455), a Biblioteca Apostólica Vaticana era já uma das
bibliotecas mais ricas do mundo, em qualidade e quantidade de textos. Esta
política cultural foi mantida por seus sucessores e, em breve, tornar-se-ia
imperioso, por exemplo, ampliar os espaços da própria biblioteca. Isso aconteceria
por intervenção direta do Papa Sisto V, que encomendou ao arquiteto Domenico
Fontana, em 1587, uma sede com as características necessárias para acolher
aquela que era uma determinante instituição cultural no coração da Igreja.
O “Regimento do astrolábio
e do quadrante”, o mais antigo opúsculo conhecido e impresso com regras
náuticas, teve uma edição portuguesa, na oficina de Herman de Campos, nos
inícios de 1500
Sendo hoje
prevalentemente uma biblioteca patrimonial, com um acervo de oitenta mil manuscritos,
com um milhão e seiscentos mil livros impressos, mais de cem mil desenhos,
gravuras e impressões depositadas no seu gabinete gráfico e um departamento
numismático que reúne cerca de trezentas e cinquenta mil moedas e medalhas, é
um ativo de civilização, conhecimento e ciência ao serviço da humanidade. É,
por isso, fácil que qualquer cultura ou nação encontre na Biblioteca Apostólica
um seu tesouro representado e que esse seja um primeiro motivo para cultivar
curiosidade, afeto e colaboração científica com este organismo. Tal acontece
também com Portugal e, podemo-lo testemunhar, de uma forma esplêndida, se bem
que haja tanto por descobrir e realizar. Um dos documentos portugueses mais
icónicos é, sem dúvida, o “Cancioneiro da Vaticana”, que reúne 1205 composições
da lírica trovadoresca galaico-portuguesa, tornando-se assim uma das fontes
essenciais que documentam a emergência da nossa língua e literatura. Mas há, só
para dar outro exemplo entre mil, um requintadíssimo repositório de literatura
científica ligada a Portugal que tem passado inobservado. Um dos casos
clamorosos que podemos citar é o do “Regimento do astrolábio e do quadrante”, o
mais antigo opúsculo conhecido e impresso com regras náuticas, por onde
gerações de pilotos se iniciaram nas ciências da cosmografia e navegação, e que
teve uma edição portuguesa, na oficina de Herman de Campos, nos inícios de
1500. Há cem anos que a historiografia portuguesa, partindo da descoberta que
Joaquim Bensaúde fez na Biblioteca estatal de Munique, fala apenas desse
exemplar e de uma outra versão depositada na Biblioteca Municipal de Évora,
desconhecendo o exemplar, em excelente estado de conservação, que se encontra
na Vaticana. Quem sabe se uma nova geração de historiadores portugueses se
interessará, com o afinco e os meios necessários, em trabalhar os fundos da
Biblioteca Apostólica e do Arquivo Secreto Vaticano, tão decisivos também para
a explicação de Portugal.
in Semanário Expresso 24.05.2019
https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2430/html/revista-e/que-coisas-sao-as-nuvens/tesouros-portugueses
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À PROCURA DA PALAVRA
P. Vítor Gonçalves
DOMINGO VI DA PÁSCOA Ano C
“O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome
vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu
vos disse.”
Jo 14, 26
Ensinar e recordar
Partimos
cedo para a Praça de S. Pedro. O céu chuvoso e nublado dos últimos dias deu
lugar a um azul brilhante, com nuvens brancas de algodão que amenizam a força
do sol. O anúncio dos diferentes grupos, que de tantas partes do mundo aqui
confluíram, vai desencadeando aclamações. Tem um sabor único ouvir neste
areópago do mundo, o nome da terra, da paróquia, do grupo que “veio a Roma para
ver o Papa”. E quando “o homem vestido de branco”, que escolheu o nome de
Francisco, começa a passar por entre a multidão, parando para beijar as
crianças e abençoar os doentes, uma emoção percorre todos os desejam vê-lo e
tocá-lo. Imagino como seriam, há dois mil anos, as multidões que desejavam ver
e tocar Jesus.
Na
humanidade de Jesus ressuscitado encontrarmo-nos com Deus e uns com os outros.
Esse encontro manifesta-se na realidade de sermos “morada” de Deus:
testemunhamos a sua misericórdia e a nossa fragilidade, o seu perdão que apaga
o pecado, a sua ternura que cura as nossas feridas. Como não sentirmos esse
encontro no Papa Francisco, na alegria com que tenta levar a todos o sorriso de
Deus próximo, a mão afectuosa que abençoa e toca, a palavra que interpela e
compromete? Como não saborear aqui a promessa do Espírito Santo que nos recorda
e ensina?
Desde a
Páscoa de Jesus, o Espírito nunca deixou de vir até nós. Não há lugar para o
acomodamento ou a instalação na vida da Igreja. Ficar em “zonas de conforto”,
em “condomínios” isolados da história e da realidade, em “seguranças” que só
salvam alguns, é fechar as portas ao Espírito. A missão do Espírito de ensinar
e recordar não é um trabalho arqueológico, um saudosismo de esplendores do
passado, mas sim “beber da fonte”, que é Jesus Cristo, e reconhecer a sua presença
no “hoje” da vida do mundo. O Espírito Santo convida-nos a viver em fidelidade
e criatividade, com a memória que nos identifica, e com a ousadia que o anúncio
evangélico suscita.
Por vezes
acontece caminhar com que não conhecemos. Uma meta nos uniu, uma frequência nos
desinstalou, e aceitámos o risco de cruzar as nossas vidas uma semana. Se
“queremos ir mais longe é preciso ir com outros”, conta um dito africano. Na
fonte da fé cristã está o Deus connosco que quis fazer caminho connosco, e o
trajecto das nossas vidas alarga-se a todos que acolhemos. Os acasos tornam-se
momentos favoráveis, “kairós” em grego, para a surpresa feliz de recebermos o
Espírito Santo e nos deixarmos guiar por Ele.
in Voz da Verdade 26.05.2019
http://www.vozdaverdade.org/site/index.php?id=8198&cont_=ver2
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Foi há quatro anos
Na
sexta-feira, 24 de Maio, completam-se quatro anos da Encíclica Laudato si’.
Numa carta recente, a propósito do evento intitulado “Economia de Francisco”,
que se vai realizar em Março de 2020, o Papa escreveu que é preciso «corrigir
os modelos de crescimento» e concretizar «um modelo económico novo, fruto de
uma cultura de comunhão, baseado na fraternidade e na equidade».
É também a
24 de Maio que, em mais de 100 países, os estudantes vão voltar às ruas numa
nova greve pelo clima. O jornalista George Montbiot chamou-lhe, no The
Guardian, “greve mundial pelo futuro”, afirmando que «a crise ambiental tem
revelado é que o crescimento sem limites é a maior ameaça ao nosso bem-estar».
Nesta
altura, destacamos especialmente duas das novidades que apresentamos abaixo.
Por ocasião
da celebração do Pentecostes, no dia 6 de Junho, vamos realizar uma caminhada
orante, para a qual deixamos aqui o convite a todos. Será no jardim do
Seminário da Luz, em Lisboa, pelas 21h00. Passe palavra, venha participar,
contamos consigo.
Ao longo
deste ano, em colaboração com a rede Cuidar da Casa Comum, a revista Mensageiro
de Santo António tem vindo a publicar uma série de artigos sobre a Laudato Si’
e a ecologia integral. Os artigos também podem ser lidos no nosso site.
in Cuidar da
Casa Comum
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Photo
exhibition celebrates 25 years of female priests
Images of 12 women from Southwark diocese capture
variety of a priest’s work
by Harriet Sherwood Religion correspondent
Joyce Forbes looks after her grandson five days a week
and campaigns for affordable housing. Susie Simpson absorbs the anger and pain
of young men locked up in prison. Helen Harknett fights for social justice and
LGBTI inclusion. At 92, Ann Gurney lives quietly these days.
The link between these four women is their membership
of a growing band: female priests in the Church of England. Along with eight
others, they feature in an exhibition of photographs, Here Am I, celebrating
this year’s 25th anniversary of women’s ordination. It opens at London’s Oxo
Gallery on Wednesday.
According to C of E statistics, there were 5,950
female priests in 2017 – a third of the total. Since 2015, 18 have been appointed
bishops (out of a total of 114), including Sarah Mullally, who as bishop of
London is the third most senior figure in the church. Last year more than half
of those beginning training to become priests were women.
The exhibition, by the photographer Jim Grover, was
commissioned by the bishop of Southwark, Christopher Chessun, to showcase the
contribution female priests had made in the diocese, which stretches from the
River Thames to Gatwick airport.
“I had no idea what I was signing up to,” said Grover,
hanging the last photographs a few hours before the exhibition’s opening. “It’s
been very challenging, getting to know 12 individuals, gaining their trust,
following them across south London. They are truly inspiring, committed, kind,
truthful, compassionate people. It’s been a pleasure and a privilege.”
Grover’s photographs capture the extraordinary variety
of a priest’s work: praying, preaching, ministering to the sick and dying,
weddings, funerals, baptisms – the activities most people think of – but also
moments of contemplation, clearing plates, comforting others, even cutting
hair.
Joyce Forbes as
a baby
Facebook Twitter Pinterest Forbes as a baby. Photograph: Jim Grover
Forbes, 67, was ordained as an unpaid minister in 2004
when she was still working as a social worker. “By the time I was ordained, it
felt very natural. I thought women priests were the norm, I didn’t realise then
the struggle there had been. I wasn’t part of that journey,” she said. “Women
bring something different to the priesthood. Women tend to listen more rather
than jumping to conclusions. Sometimes you need to just wait before speaking or
doing something.”
She came to the UK from Jamaica in 1965 at the age of
13, sent by her parents to live with an aunt in south London in order to get a
better education, leaving behind six younger siblings. “I never really thought
of myself as part of the Windrush generation then,” she said. Her biggest shock
was not the cold, for which she was prepared, but blocks of flats, which she
mistook for factories.
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She said the revelations over the past year about the
treatment and denial of rights to members of the Windrush generation had been
“absolutely shocking. I can’t express how painful it is to me – and it hasn’t
even happened to me.”
Forbes takes services at her church in Croydon on two
Sundays a month, and fills in at other times when the vicar is away. She’s an
active member of a citizen’s group campaigning for affordable housing, and she
and her husband look after their youngest grandchild when his mother is at
work. Although officially retired, she is as busy as ever, her energy going
into “church, family and building a community”.
Simpson was ordained in 2000, and after eight years in
traditional ministry she decided to become a prison chaplain. Grover
photographed her in Isis prison for young offenders, next to Belmarsh prison.
“If they are having a really bad time, they want their mum. Female chaplains
find that an open door,” she told Grover.
It took seven years between speaking to her vicar – in
a diocese where the bishop was not sympathetic to the idea of female priests –
about the possibility of ordination and it actually happening. “I sometimes
thought the only women who got through were persistent rather than holy,” she
said.
Twenty-five years after the bruising battle over
women’s ordination, a small number of C of E parishes – 4% – still opt out of
having a female vicar or allowing women to preside at communion.
“There are still pockets of resistance,” said Grover,
who returned to his faith a few years ago after a long absence and is now an
active member of his church. “Some people just can’t accept. I can’t understand
it, but I respect different views.”
Here Am I is at the Oxo Gallery on the South
Bank in London until 2 June.
in The Guardian 22.05.2019
www.theguardian.com/world/2019/may/22/photo-exhibition-celebrates-25-years-of-female-priests?CMP=Share_iOSApp_Other
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