Não queria acreditar que já se mandam celebrar missas para agradecer a graça de se ter conseguido um emprego. Fiquei mudo e quedo. Então neste país ter emprego já é considerado uma graça! Nesta espécie de república, pelo menos para alguma gente é tão grande a graça de ter emprego que se dispõe a gastar dinheiro para agradecer ao santo a quem se encomendou, ou talvez directamente a Deus. E não quer que a graça seja de graça. De repente, não sei por que razão veio-me à mente o mito de Sísifo. Adequada ou não, essa imagem impôs-se ao que sentia.
Sísifo é um herói da mitologia grega, alguns séculos antes de Cristo. A sua vida passou de livre e ousada para uma vida absurda e condenada. Sísifo conseguiu durante muito tempo rir-se dos deuses e enganar a morte em nome do amor à vida independente e livre. Mais ou menos isto, resumidamente. Mas esse atrevimento saiu-lhe caro. Naqueles tempos, se os homens procuravam alcançar o que de melhor havia nos deuses, os deuses tinham frequentemente o que de pior havia nos homens. Eram invejosos, ciumentos e vingativos. Por isso, ao maior atrevimento maior castigo, ao maior brilho maior obscuridade. Foi assim que Sísifo recebeu dos deuses, para toda a eternidade, o castigo pelo seu engenho e arte em viver e ser feliz: empurrar uma enorme pedra até ao cimo de uma montanha para depois ela rolar novamente encosta abaixo e o herói mitológico voltar a descer até ao sopé para a levar de novo montanha acima, e assim indefinidamente numa eterna e absurda repetição.
Os povos lutam décadas para conquistarem uma vida melhor, mais feliz e tranquila. Mas de repente uma oligarquia planetária arranja maneira de aspirar essa felicidade e empurrar as pessoas de novo até ao rés-do-chão da vida para, uma vez aí, serem forçadas a recomeçar a subida. Num cinismo insuspeitado, são aqueles que programam a sua queda quem anima e financia a subida. A felicidade prometida e promovida traz veneno no ventre: o almejado bem-estar de multidões possibilita a apropriação de milhões por parte dessa minoria no pedestal do poder. É verdade que tanto Sísifo como nós deixámo-nos levar por uma certa euforia, descuidando as necessárias cautelas. Mas é igualmente verdadeira a existência de homens que, num desejo incontido de serem deuses, procuram expulsar Deus do paraíso tornando o mundo num inferno. O que querem já não é só dinheiro. O objecto dos seus insaciáveis desejos é serem senhores da árvore da vida, terem o sentimento de tudo poder, tudo controlar, tudo determinar. Para eles o planeta é pouco mais que um campo de jogos onde se rebolam na sua volúpia. Ainda assim, tenhamos pena deles. De alguma maneira são dignos de dó porque nunca se vêem saciados. E também terão a sua dose de condenação: hão-de assistir à vontade férrea de multidões que ousam ter esperança e começam novamente a subir a montanha. E aqueles que sucumbirem à fome, à destruição e às guerras, ficarão na história como espelho onde a malvadez verá reflectida eternamente a sua horrível figura.
Sísifo é um herói da mitologia grega, alguns séculos antes de Cristo. A sua vida passou de livre e ousada para uma vida absurda e condenada. Sísifo conseguiu durante muito tempo rir-se dos deuses e enganar a morte em nome do amor à vida independente e livre. Mais ou menos isto, resumidamente. Mas esse atrevimento saiu-lhe caro. Naqueles tempos, se os homens procuravam alcançar o que de melhor havia nos deuses, os deuses tinham frequentemente o que de pior havia nos homens. Eram invejosos, ciumentos e vingativos. Por isso, ao maior atrevimento maior castigo, ao maior brilho maior obscuridade. Foi assim que Sísifo recebeu dos deuses, para toda a eternidade, o castigo pelo seu engenho e arte em viver e ser feliz: empurrar uma enorme pedra até ao cimo de uma montanha para depois ela rolar novamente encosta abaixo e o herói mitológico voltar a descer até ao sopé para a levar de novo montanha acima, e assim indefinidamente numa eterna e absurda repetição.
Os povos lutam décadas para conquistarem uma vida melhor, mais feliz e tranquila. Mas de repente uma oligarquia planetária arranja maneira de aspirar essa felicidade e empurrar as pessoas de novo até ao rés-do-chão da vida para, uma vez aí, serem forçadas a recomeçar a subida. Num cinismo insuspeitado, são aqueles que programam a sua queda quem anima e financia a subida. A felicidade prometida e promovida traz veneno no ventre: o almejado bem-estar de multidões possibilita a apropriação de milhões por parte dessa minoria no pedestal do poder. É verdade que tanto Sísifo como nós deixámo-nos levar por uma certa euforia, descuidando as necessárias cautelas. Mas é igualmente verdadeira a existência de homens que, num desejo incontido de serem deuses, procuram expulsar Deus do paraíso tornando o mundo num inferno. O que querem já não é só dinheiro. O objecto dos seus insaciáveis desejos é serem senhores da árvore da vida, terem o sentimento de tudo poder, tudo controlar, tudo determinar. Para eles o planeta é pouco mais que um campo de jogos onde se rebolam na sua volúpia. Ainda assim, tenhamos pena deles. De alguma maneira são dignos de dó porque nunca se vêem saciados. E também terão a sua dose de condenação: hão-de assistir à vontade férrea de multidões que ousam ter esperança e começam novamente a subir a montanha. E aqueles que sucumbirem à fome, à destruição e às guerras, ficarão na história como espelho onde a malvadez verá reflectida eternamente a sua horrível figura.
Frei Matias, O.P.
20.03.2012
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