DOMINGO IV COMUM Ano C
" Jesus, passando pelo meio deles,
seguiu o seu caminho.”
Lc 4, 30
“Não há limites para o amor” poderia ser
o início de uma bela canção e, certamente, nos lembraria como Jesus “amou até
ao fim”. Mas não pretendo pôr em causa o belíssimo “Hino da caridade” que S.
Paulo apresenta aos Coríntios e, simplesmente, partilhar a leitura de um texto
da revista “Magazine Notícias” da semana passada. Carolina Viana, Joana Horta e
Sandra Pinho, do CADin (Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil), uma IPSS
dedicada ao tratamento e estudo das perturbações do neurodesenvolvimento,
sintetizam um conjunto de resoluções para “educar com amor e com limites”. “Apetecia entregar a todos os pais estes
conselhos”, dizia uma professora que também tinha lido o texto, depois de
mais uma conversa sobre escola e família. Partilho apenas duas das resoluções :
“Valorize e elogie as qualidades do seu
filho, aquilo que ele tem de melhor”; “Seja
consistente nas regras que estabelece. Não as faça depender do seu humor.” Um
conjunto de conselhos simples e do conhecimento de todos os educadores, mas que
é tão importante relembrar, e ganhar coragem para os pôr em prática!
Os profetas não
dizem coisas estranhas nem se põem a adivinhar futuros. Irritam-nos
precisamente porque nos lembram o essencial, e desafiam a pensar. Pensar é esse
dom tão pouco exercitado e pouco estimulado (o que agrada bastante a quem
deseja manipular ou se aproveita da passividade de muitos!), e constitui a
grande tarefa dos profetas. De Jeremias a Jesus, de todos os homens e mulheres
que se atrevem a denunciar as injustiças e a propor caminhos de conversão, que
abanam a indiferença e desmascaram o endeusamento do “eu” e das “coisas”, o que
é comum é serem perseguidos e rejeitados. Em todos os campos da existência e na
vida da Igreja também, onde a tradição e o medo teimam em fazer esquecer a
novidade de Deus.
Da admiração por
Jesus, os seus conterrâneos passam rapidamente à rejeição. É verdade que Jesus
foi exigente com eles. Não fez ali os milagres que tinha feito em Cafarnaum e
interpelou-os com a universalidade do amor de Deus que ultrapassa as fronteiras
de Israel. Recusou a “facilidade” de uma fé “milagreira”, que só funciona com o
extraordinário, em vez de se maravilhar com a vida transformada. Propôs-lhes a
adesão a um amor mas limitou-lhes a sede de milagres. Quando descobriremos que
o seu amor é o maior dos milagres, a vida plena sem limites? Em dia de sábado, na terra que o viu crescer,
nada fez, senão apresentar-se como Salvador; como nada fará na cruz nem no
sábado do sepulcro. Por isso em Nazaré, como no calvário, é levado ao cimo da
colina, num ambiente que respira ódio e morte. Mas, em tom de ressurreição,
passa pelo meio deles e segue o seu caminho.
Não é fácil um amor
com os “limites” necessários para que cresçamos. Um “amor firme” que valoriza o
mais importante e ensina a grandeza, tão diferente de um “deixa andar” ou de
uma “indiferença mascarada de amor”. Assim na educação, como no trabalho, e
também na fé e na vida!
P. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade 2016.01.31
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