02 fevereiro 2016

O amor e os limites

DOMINGO IV COMUM Ano C
" Jesus, passando pelo meio deles,
seguiu o seu caminho.”
Lc 4, 30

       “Não há limites para o amor” poderia ser o início de uma bela canção e, certamente, nos lembraria como Jesus “amou até ao fim”. Mas não pretendo pôr em causa o belíssimo “Hino da caridade” que S. Paulo apresenta aos Coríntios e, simplesmente, partilhar a leitura de um texto da revista “Magazine Notícias” da semana passada. Carolina Viana, Joana Horta e Sandra Pinho, do CADin (Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil), uma IPSS dedicada ao tratamento e estudo das perturbações do neurodesenvolvimento, sintetizam um conjunto de resoluções para “educar com amor e com limites”. “Apetecia entregar a todos os pais estes conselhos”, dizia uma professora que também tinha lido o texto, depois de mais uma conversa sobre escola e família. Partilho apenas duas das resoluções : “Valorize e elogie as qualidades do seu filho, aquilo que ele tem de melhor”; “Seja consistente nas regras que estabelece. Não as faça depender do seu humor.” Um conjunto de conselhos simples e do conhecimento de todos os educadores, mas que é tão importante relembrar, e ganhar coragem para os pôr em prática!  
       Os profetas não dizem coisas estranhas nem se põem a adivinhar futuros. Irritam-nos precisamente porque nos lembram o essencial, e desafiam a pensar. Pensar é esse dom tão pouco exercitado e pouco estimulado (o que agrada bastante a quem deseja manipular ou se aproveita da passividade de muitos!), e constitui a grande tarefa dos profetas. De Jeremias a Jesus, de todos os homens e mulheres que se atrevem a denunciar as injustiças e a propor caminhos de conversão, que abanam a indiferença e desmascaram o endeusamento do “eu” e das “coisas”, o que é comum é serem perseguidos e rejeitados. Em todos os campos da existência e na vida da Igreja também, onde a tradição e o medo teimam em fazer esquecer a novidade de Deus.
       Da admiração por Jesus, os seus conterrâneos passam rapidamente à rejeição. É verdade que Jesus foi exigente com eles. Não fez ali os milagres que tinha feito em Cafarnaum e interpelou-os com a universalidade do amor de Deus que ultrapassa as fronteiras de Israel. Recusou a “facilidade” de uma fé “milagreira”, que só funciona com o extraordinário, em vez de se maravilhar com a vida transformada. Propôs-lhes a adesão a um amor mas limitou-lhes a sede de milagres. Quando descobriremos que o seu amor é o maior dos milagres, a vida plena sem limites?  Em dia de sábado, na terra que o viu crescer, nada fez, senão apresentar-se como Salvador; como nada fará na cruz nem no sábado do sepulcro. Por isso em Nazaré, como no calvário, é levado ao cimo da colina, num ambiente que respira ódio e morte. Mas, em tom de ressurreição, passa pelo meio deles e segue o seu caminho.
       Não é fácil um amor com os “limites” necessários para que cresçamos. Um “amor firme” que valoriza o mais importante e ensina a grandeza, tão diferente de um “deixa andar” ou de uma “indiferença mascarada de amor”. Assim na educação, como no trabalho, e também na fé e na vida! 
 
        P. Vitor Gonçalves  
        in Voz da Verdade 2016.01.31     

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