01 março 2012

E SE DEUS FOSSE MULHER ?

Frédéric Lenoir, director da Revista Le Monde des Réligions, é autor de uma obra muito vasta, de vários géneros literários, mas sempre em torno do fenómeno religioso. A sua obra mais recente e mais abrangente tem o título mais rápido: Dieu[1]. É um percurso de entrevistas com Marie Drucker, jornalista da RTL e France 2.
O tema da penúltima das entrevistas, Violência, Misoginia, Sexualidade Reprimida, introduz a pergunta: será Deus fanático?
Começa por dizer que as religiões, apesar das suas mensagens de amor, misericórdia e fraternidade, têm todas sangue nas mãos. É sobretudo verdade no caso dos monoteísmos, religiões fundadas sobre uma revelação e cada uma persuadida de ser a detentora da única verdade que Deus concedida por Deus. Cada uma tem um sentimento de superioridade sobre as outras, cada uma julga que é a única que brota da verdadeira revelação divina. Tornam-se intolerantes e têm, muitas vezes, legitimado a violência “em nome de Deus”. Além disso, a intolerância ligada à revelação é um desejo de dominação. É a atracção do poder que torna as religiões violentas.
Repassa, depois, o olhar sobre a situação e as evoluções das mulheres nas religiões, sobretudo nas monoteístas: Judaísmo, Islão e Cristianismo. Não diz muitas novidades em relação ao que já tinha escrito noutras obras, mas responde à pergunta de Marie Drucker: E se Deus fosse Mulher? , com uma história preciosa:
- O efémero Papa João Paulo I tinha dito, no começo do seu pontificado, que Deus podia muito bem ser representado como uma mulher, pois Ele não tem sexo! Tínha-se igualmente expresso a favor da contracepção. Morreu de maneira não elucidada, algumas semanas mais tarde.
Conhece a seguinte história judaica? No Paraíso, Deus criou em primeiro lugar a mulher e não o Adão. Eva aborrece-se. Pede então a Deus companheiros. Deus criou os animais. Eva continua insatisfeita e pede a Deus um companheiro que lhe seja semelhante com quem ela pudesse ser mais cúmplice. Deus criou Adão, mas pôs uma só condição a Eva: que ela nunca revelasse ao homem que tinha sido criada antes dele para não irritar a sua susceptibilidade. E Deus concluiu: “que isso fique um segredo entre nós…, entre mulheres!»

[1] Frédéric Lenoir, Dieu, Robert Laffond , 2011

Frei Bento Domingues, O.P.
01.03.2012

1 comentário:

  1. No seguimento da história que o Frei Bento cita, lembro-me de, há muitos anos, perguntar aos meus alunos: "como imaginam Deus, se fecharem os olhos como o vêem?" E uma aluna respondeu: "vejo o colo da minha avó"!

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