21 abril 2012

Gala de Solidariedade

Já foi há uns tempos e, por esse motivo, esta informação poderá parecer antiga nesta espécie de cultura da última novidade em vez da boa notícia. Mas para aquilo que é eterno não há tempo. Por isso permanece actual o que aconteceu no dia 27 de Março, à noite, no cinema S. Jorge, em Lisboa. A Grande Gala da Solidariedade, destinada a recolher fundos para dez instituições, teve a beleza da simplicidade, o encanto de um sentimento comum em muita gente diferente, a melodia silenciosa que toca nos corações disponíveis a acolher outros mundos.
Isabel Salema escreveu as letras, João Veiga criou as músicas, Salvador Taborda cantou os dez fados, mais um, dedicados a cada uma das instituições visadas. Dedicados tendo em consideração aquilo que elas são, a sua alma, a sua paixão, o seu voo iluminado pelo sonho de um melhor presente no futuro. Gravados em CD sob o título Nome de Causa, o nome do 11º é: No palco da vida. Além de representantes das instituições estavam também ali muitos dos que delas beneficiam: coxos a correr para o palco no final da apresentação, cegos a olharem-nos com olhar incerto mas a verem-nos por dentro, carentes de todo o tipo a sorrirem com seus sorrisos distorcidos, a abraçarem com seus braços desengonçados, uns elevados de euforia outros suspensos em fragilidades musculares, mas todos iluminados. Iluminados pela luz que tinham dentro e para nós resplandecia. Tivemos a graça de ver ali que “ser diferente é ser igual a toda a gente”. Todos somos diferentes e nisso somos iguais.
Há muito tempo houve também um dia, celebrado há duas semanas, em que toda a gente que era diferente passou a sentir-se igual. As suas diferenças eram motivo para serem diferenciados e, assim, descriminados, empurrados para fora do círculo dos iguais. Mas houve uma tampa que saltou, uma tampa de um túmulo aberto ao mundo, vazio, e o cerco foi rompido. A partir daí todas as diferenças foram assumidas e toda a gente passou a ser igual nas suas diferenças.
Neste palco do dia 27 de Março esteve reunida toda a humanidade e nela o sonho de subir ao mais alto das alturas, onde o vento sopra futuros e as nuvens orvalham esperança. Veio-me então à mente o que, dois dias antes, aqui escrevia Leonor Xavier: “Impossível, na cultura cristã que foi a minha, apagar as cenas vividas em tempo de primavera, quando as glicínias caíam em cachos roxos a envolver o Senhor dos Passos e a terra explodia em fertilidade de sabores à mesa, ajuda ao cumprimento da abstinência das Sextas-feiras”. Em plena Quaresma também aqui tivemos glicínias e outras flores de muitos jardins invisíveis. Umas a envolver o Senhor dos Passos, outras a seguirem os passos do Senhor.
f
rei matias, op

1 comentário:

  1. É um regalo poder ler o que escreve o frei Matias! Tinha muitas saudades de o ler!
    Não sabia que andava por este blogue. Ainda bem que o descobri!
    A beleza do português e das expressões tão ricas de sentido:" Tivemos a graça de ver ali que “ser diferente é ser igual a toda a gente”. Todos somos diferentes e nisso somos iguais."
    Depois, o cheirinho primaveril do Evangelho e das boas noticias que ele nos traz.
    M.V.

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