Nesta época em que celebramos a chegada ao mundo de uma criança que iria
transformar esse mundo e que tanto recomendou que deveríamos ter o maior cuidado com as crianças e até procurar imitá-las, é triste ter que abordar um tema que tão profundamente encarna o MAL.
O episódio agora vindo a público,em que um padre, vice-reitor do Seminário do Fundão, é acusado de abusos sexuais por seminaristas a ele confiados tem que ser enfrentado por nós todas e todos que somos Igreja. Tal como o Movimento Internacional Nós Somos Igreja - Portugal afirma na sua Tomada de Posição sobre o assunto, «no passado dia 18 Maio, 2012, em carta a D. José Policarpo, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, afirmávamos o nosso apoio e aplauso ao documento “Directrizes Referentes ao Tratamento de Casos de Abuso Sexual de Menores por Parte de Membros do Clero ou Praticados no Âmbito da Actividade de Pessoas Jurídicas Canónicas,” então divulgado. Afirmávamos nós que as “Directrizes” poderiam ser utilizadas como sinal de esperança para que as vozes de vítimas silenciosas se fizessem ouvir. As “Directrizes” apareciam como útil instrumento para a prevenção e dissuasão de tais crimes e sinal de certeza para a punição dos culpados. O tema explode agora com destaque nos meios de comunicação social e é motivo de pasmo, tristeza, desagrado para o Povo Português, católico ou não. É desconforto e grave problema para a hierarquia, que pela voz do bispo da Guarda declara colaboração com a investigação penal. Esperemos o desenrolar dos acontecimentos.»
Dado o facto de que em muitos países, estes crimes terem sido praticados e seus actores finalmentepunidos, leva-nos afazer a seguinte reflexão: Como é que pessoas que supostamente dedicaram e dedicam a sua vida a Cristo, como todas/os somos chamados a fazê-lo, puderam assim violentar e agredir física e psicologicamente pessoas vulneráveis, com a cumplicidade e ignorância voluntária dos seus superiores, inclusive dos bispos? Ficamos aterradas e envergonhadas. Sou obrigada a sugerir que a atitude temerosa e excluidora da instituição-Igreja face às mulheres, a incompreensível insistência do Vaticano em impôr o celibato obrigatório ao clero secular, propondo que o sacramento do matrimónio é incompatível com o sacramento das ordens (excepto, por razões demasidamente evidentes, para o clero anglicano), a persistente atitude negativa face à sexualidade, em muito contribuiram e contribuem para estas situações vergonhosas.
Ou seja, como conclui a nossa tomada de posição « Que este gravíssimo episódio encoraje uma séria reflexão sobre as reformas que urge implementar no funcionamento da Igreja instituição e que o nosso Movimento tem vindo a propor.»
Ana Vicente - Dezembro 2012
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