1. A urgência do diálogo ecuménico
nasceu, nos finais do séc. XIX, nas chamadas terras de missão, para vencer o
contratestemunho das igrejas cristãs divididas que se hostilizavam no anúncio
do Evangelho da paz. As vicissitudes do movimento ecuménico já foram
historiadas. Em 1948 foi fundado o Conselho Mundial das Igrejas, em Amesterdão,
que tem a Sede internacional em Genebra. É a principal organização ecuménica,
com mais de 350 igrejas e denominações, presente em mais de 120 países,
excedendo os 500 milhões de fiéis. Trabalha-se, desde há algum tempo, na
criação de um Fórum Cristão Global que reúna, sem vínculos institucionais, à
volta de uma só mesa de diálogo, as grandes famílias cristãs: ortodoxa,
católica, anglicana e protestante.
Cada país
tem a sua história ecuménica que, muitas vezes, reproduz a burocracia geral,
acrescentando um pouco de inércia local. Com o tempo, instaura-se a tolerância
mútua. As Igrejas vivem umas ao lado das outras, sem guerras, na indiferença.
Resultado:
esquece-se a falta que os outros nos fazem, para comungar em experiências que
nos poderiam provocar a descoberta de caminhos para a fé cristã, que nem
suspeitamos. A maioria dos cristãos nada sabe das outras tradições eclesiais, a
não ser os lugares-comuns de desconfiança mútua, transmitidos em casa ou nas
igrejas. A verdadeira falta de ecumenismo entre as igrejas cristãs é uma falta
de cristianismo e não apenas de inconvenientes a propósito de baptismos e
casamentos que se resolvem de forma mais ou menos burocrática.
Em certas
zonas do mundo, o cenário é devastador: matam-se os cristãos sem perguntar pela
identidade eclesial. O cristianismo está a ser completamente eliminado. É
urgente um ecumenismo global de socorro.
2. Mais abrangente é o Parlamento
Mundial das Religiões. Nasceu em Chicago, em 1893, para fomentar o diálogo inter-religioso.
Cem anos depois, voltou a reunir-se na mesma cidade. A 4 de Setembro de 1993,
foi assinada a Declaração das Religiões para uma Ética Global, preparada pelo
teólogo Hans Küng, guiado pela convicção, que tem justificado e desenvolvido,
condensada no aforismo: sem paz entre as religiões, não há paz entre as nações.
Parte de uma verificação: o mundo está a experimentar uma crise fundamental e
global: na economia, na ecologia e na política. Por toda a parte se verifica a
falta de grandes visões, o emaranhado de problemas não resolvidos, a
paralisação e as lideranças políticas medíocres, com pouca visão interna e
externa e, em geral, muito pouco sentido do bem comum. Centenas de milhões de
seres humanos sofrem cada vez mais com o desemprego, a fome e a destruição das
suas famílias. Crianças morrem, matam e são mortas. Há cada vez mais países
abalados pela corrupção na política e nos negócios. Devido aos conflitos
sociais, raciais e étnicos, ao abuso de drogas, ao crime organizado e, até, à
anarquia torna-se cada vez mais difícil viver em paz nas nossas cidades. Por
vezes, mesmo entre vizinhos, vive-se com medo uns dos outros. O nosso
Planeta
continua a ser escandalosamente destruído. Embora a esperança de uma paz
duradoura entre as nações nos pareça cada vez mais afastada, sabemos que não é
por falta de recursos, de ciência e de técnica que se arrastam mundos
mergulhados na miséria e na violência. É por falta de vontade política, de
sabedoria e de ética.
3. O Movimento Ecuménico português já
apresentou serviço: representantes das Igrejas Católica, Lusitana,
Presbiteriana, Metodista e Ortodoxa, em Portugal, irão assinar, no próximo dia
25, em Lisboa, uma declaração de reconhecimento mútuo do baptismo. Ainda bem.
A Capela
Sistina é conhecida, venerada e visitada pela sua extraordinária beleza. Aí
reúnem-se os cardeais para escolher o futuro bispo de Roma, o papa. Mais
importante do que eleger um papa é celebrar um baptismo, a transformação cristã
da vida. O Papa Francisco resolveu estabelecer a verdadeira hierarquia no
Vaticano. No domingo passado, baptizou o filho de uma mãe solteira e a filha de
um casal, casado apenas pelo civil, nessa Capela. Não é muito usual. Perante
varias mães, pais e 32 crianças, chamou a atenção para a nova orquestra: “Hoje
o coro vai cantar, mas o coro mais belo é o das crianças. Algumas delas irão
chorar porque têm fome ou porque não estão confortáveis. Estejam à vontade,
mamãs: se elas tiverem fome, dêem-lhes de comer, aqui elas são as pessoas mais
importantes”. Este Papa já tinha afirmado que as mães não deviam ter problemas
em dar de mamar aos seus filhos, durante as cerimónias papais.
Bergoglio
quer abrir ao mundo, um futuro novo, mesmo a partir do Vaticano. Quem não gosta
das suas inovações, irá sempre encontrar algum precedente para desvalorizar
estes atrevimentos. O que importa é subverter a desordem estabelecida, que se
tinha transformado numa ordem sagrada.
O
Papa mandou uma carta aos futuros cardeais: “O cardinalato não significa uma
promoção nem uma honra nem uma condecoração, é simplesmente um serviço que
exige ampliar o olhar e alargar o coração”.
Ai minha
Nossa Senhora!
Frei Bento
Domingues, O.P.
19.01.2014
in
Público
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