Quando
vi aqueles três rapazes tão compenetrados na sua função disse para alguém ao
meu lado: nestes três parece notar-se a influência de uma boa catequese. Não,
não pense nisso, são uns valdevinos. Puseram-nos aqui para os terem quietos e
controlados. E eles aceitaram? Pergunta bacoca, se estavam lá era porque tinham
aceitado. Daí a resposta: oh, a malta deste tipo aceita sempre coisas em que
esteja em destaque. Ah, pois, já tinha ouvido isso! E lá iam eles, muito
sérios, com as caçoilas dos presentes para o Menino: oiro, incenso e mirra. Ao
chegarem junto do presépio, o que levava o incenso pôs um bocadinho num pequeno
prato de barro e acendeu-o. Eu, que não me dou muito bem com incensos, achei
aquele bastante suave. Fiz mais uma pergunta: o incenso a arder é para fazer
crer que os outros presentes também são verdadeiros? Não, não, é para divulgar
o incenso da Etiópia. É mais puro, mais suave, mais barato e, ao mesmo tempo,
ajudam-se os produtores locais. É o chamado “comércio justo”. Fiquei admirado:
ah, sim, já li isso em qualquer lado, é uma boa ideia. Agora, mesmo longe dos
grandes centros consegue-se acompanhar as coisas da mesma maneira. Só é preciso
mesmo estar atento. Pois é, disse, agora não há distâncias! Entretanto os três
magos lá andavam nas suas voltas combinadas. Não se tratava de uma cerimónia
especificamente religiosa, era o início da saída para “cantar os reis”, também
dito “cantar as janeiras”. Será que são Mateus, o único a referir este episódio,
fala de três reis magos? Fui ver: “Tendo
Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, chegaram a Jerusalém
uns magos vindos do Oriente. E perguntaram: «Onde está o rei dos judeus que
acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.» (…) Depois
de terem ouvido o rei, os magos puseram-se a caminho. E a estrela que tinham
visto no Oriente ia adiante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o
menino, parou. Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; e, entrando na casa,
viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-no; e, abrindo os
cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra”. Pois é, não fala
em reis, nem em três. Continuando o diálogo com o meu vizinho, disse: o rapaz
que representa o mago africano é o mais magrinho. Isso é intencional? Tem que
ver com o facto de naquela zona os negros serem mais altos e magros? Não, nem
pensámos nisso. Vai pintado de preto porque anda sempre a meter-se com uns
rapazes africanos que estão aí a estudar. Então, hoje, o preto é ele.
Pensávamos que não ia aceitar, mas não, até achou divertido. Está visto que
hoje não acertei uma. Ainda bem, as motivações das coisas eram bem melhores do
que aquelas que eu supunha. No dia seguinte chamavam aos três rapazes os magos
da vida airada. Sorrindo, pensei como seriam os outros. Os do presépio andavam
à cata de estrelas para conhecerem o desconhecido. Às tantas foram
surpreendidos por uma que lhes deu a volta à vida. Destes dizem que são uns
cata-ventos. Quem sabe se um dia uma brisa suave ou um vendaval não os levará
para lugares cheios de boas surpresas! Quem sabe!
Frei Matias, O.P.
17.01.2014
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