por ANSELMO BORGES
Foi
com esta exclamação que João Paulo II, na sua visita ao Porto, se
dirigiu a D. António Ferreira Gomes, quando ele, já bispo resignatário,
apresentou os seus cumprimentos de despedida.
Morreu
há 25 anos. Lembrando a data, o que aí fica quer ser tão-só uma
homenagem ao homem e ao bispo, cujo lema era "de joelhos diante de Deus,
de pé diante dos homens" e que, em todas as circunstâncias, foi o
exemplo superior do que chamo a voz político-moral da Igreja.
Já
na famosa Carta a Salazar, que pagou com um exílio de dez anos, exigia a
liberdade de pluralismo partidário e sindical e de greve. E lembrava
"dois problemas fundamentais" em ordem à paz: 1. "Os frutos do trabalho
comum devem ser divididos com equidade e justiça social entre os membros
da comunidade"; 2. Os indivíduos e as classes "nunca estarão
satisfeitos enquanto não experimentarem que são colaboradores efectivos,
que têm a sua justa quota-parte na condução da vida colectiva, isto é,
que são sujeito e não objecto da vida económica, social e política." O
equilíbrio financeiro "é óptimo", mas "nunca deve deixar de estar ao
serviço do Homem".
Preocupava-o
a religião das promessas, a religião utilitária, como testemunhou num
diálogo, a meu convite, com Óscar Lopes, reconhecendo que "a religião
pode realmente ser ópio do povo", pois, "muitas vezes para o povo a
religião no geral não significa nada de transcendente." Ora, "o limiar
diferencial da religião cristã começa quando alguém se debruça sobre o
outro, quando alguém se volta para o que o transcende, seja o outro
neste mundo, seja Deus enquanto o Outro absoluto, sabendo que a relação
com o Outro absoluto é exactamente também a relação com o irmão". Por
isso, "nenhum homem responsável da Igreja poderá dizer que não quer
saber de política ou que nada percebe de política".
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