25 maio 2014

"Ah, o famoso bispo do Porto!"

por ANSELMO BORGES

Foi com esta exclamação que João Paulo II, na sua visita ao Porto, se dirigiu a D. António Ferreira Gomes, quando ele, já bispo resignatário, apresentou os seus cumprimentos de despedida.

Morreu há 25 anos. Lembrando a data, o que aí fica quer ser tão-só uma homenagem ao homem e ao bispo, cujo lema era "de joelhos diante de Deus, de pé diante dos homens" e que, em todas as circunstâncias, foi o exemplo superior do que chamo a voz político-moral da Igreja.

Já na famosa Carta a Salazar, que pagou com um exílio de dez anos, exigia a liberdade de pluralismo partidário e sindical e de greve. E lembrava "dois problemas fundamentais" em ordem à paz: 1. "Os frutos do trabalho comum devem ser divididos com equidade e justiça social entre os membros da comunidade"; 2. Os indivíduos e as classes "nunca estarão satisfeitos enquanto não experimentarem que são colaboradores efectivos, que têm a sua justa quota-parte na condução da vida colectiva, isto é, que são sujeito e não objecto da vida económica, social e política." O equilíbrio financeiro "é óptimo", mas "nunca deve deixar de estar ao serviço do Homem".

Preocupava-o a religião das promessas, a religião utilitária, como testemunhou num diálogo, a meu convite, com Óscar Lopes, reconhecendo que "a religião pode realmente ser ópio do povo", pois, "muitas vezes para o povo a religião no geral não significa nada de transcendente." Ora, "o limiar diferencial da religião cristã começa quando alguém se debruça sobre o outro, quando alguém se volta para o que o transcende, seja o outro neste mundo, seja Deus enquanto o Outro absoluto, sabendo que a relação com o Outro absoluto é exactamente também a relação com o irmão". Por isso, "nenhum homem responsável da Igreja poderá dizer que não quer saber de política ou que nada percebe de política".

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