Apresentamos aqui a gravação audio da
Conferência Debate
"Ser igreja no mundo - Histórias de vida"
com
Adelino Ascenso
Luís Mah
Leonor Xavier (moderadora)
29 maio 2017
Conferência Debate "Ser igreja no mundo - Histórias de vida" do dia 27 de maio de 2017
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"Ser igreja no mundo - Histórias de vida",
27 de maio de 2017,
27/05/2017,
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Leonor Xavier,
Luís Mah,
Movimento NSI,
Nós somos igreja
28 maio 2017
BENTO XVI RENUNCIOU À SUA RENÚNCIA?
1. Enviaram-me,
com expressa tristeza, uma entrevista com a enigmática pergunta do título desta
crónica. Que se passa afinal?
Por outro lado, esse cardeal, em nome da união da Igreja, em
torno do Sumo Pontífice, trabalha na sua desagregação. Está decididamente
contra a orientação social de Bergoglio: enquanto a Igreja “não conseguir
dissociar-se dos problemas humanos”, ela acabará por “falhar na sua missão”. Transforma
o programa da Evangelii Gaudium numa
caricatura: “A Igreja está gravemente equivocada quanto à natureza da crise
real, se ela acha que sua missão essencial é oferecer soluções para todos os
problemas políticos relacionados com a justiça, a paz, a pobreza, a recepção de
migrantes, etc… enquanto negligencia a Evangelização”. Ora, o Papa Francisco,
pelo contrário, inclui na referência vital a Cristo a luta contra a pobreza
imposta. Foi o próprio Jesus, ao apresentar o seu Evangelho, o seu programa de
libertação dos oprimidos e marginalizados, que o identificou com o
acontecimento da graça de Deus, um ano jubilar.
Não foi de modo clandestino, nem de repente, nem contra a
sua vontade que Bento XVI deixou de ser o Papa da Igreja Católica Romana. Não
foi sob pressão que, a 10 de Fevereiro de 2013, se pronunciou expressamente: declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, sucessor de São Pedro.
Justificou
publicamente a sua decisão: as suas forças, devido à idade avançada, já não lhe
permitiam exercer, adequadamente, o pontificado. Foi destacada a
dignidade desse gesto sem precedentes desde Gregório XII, em 1415 – no contexto
do Grande Cisma do Ocidente – e o primeiro a renunciar, sem pressão externa, desde
o papa Celestino V, em 1294.
Seguiram-se os procedimentos previstos no Vaticano e foi
eleito o Papa Francisco, a 13 de Março de 2013. Não temos dois Papas, como a
ignorância e obscuros interesses procuram fazer crer. Sob o ponto de vista
institucional, o Papa Bento XVI morreu.
Acabou.
Permitiu, no entanto, fazer supor que, ao ficar por perto, iria
ser o conselheiro obrigatório do novo inquilino. Decidiu, de facto, continuar a residir dentro da
Cidade do Vaticano, num antigo convento adaptado para o receber.
Não foi boa ideia, segundo Andrea Grillo, professor de Teologia no Pontifício Ateneu Sant’Anselmo (Roma).
O Bispo emérito deve afastar-se do Vaticano e calar-se para sempre. Só nestas
condições é possível configurar uma real sucessão e não dar a enganosa ideia de
uma coabitação de dois Papas.
Tanto para Ratzinger como para Bergoglio, esta é uma experiência
totalmente inédita. O uso da veste branca e os contactos manipuláveis com o
exterior deveriam ter sido pormenorizadamente regulamentados, sustenta o citado
teólogo romano.
2. Esta situação permite, com
efeito, todos os boatos e conjecturas. Há mesmo quem diga que o cardeal
Ratzinger tem ligações a “submarinos” espias que o usam para controlar e
dificultar as decisões que os ultra conservadores consideram desvarios do Papa
Francisco. Este, com a descentralização do governo da Igreja e a sua
evangelização inculturada estaria a fazer da Igreja Católica uma federação de
seitas à imagem do protestantismo. Devido à sua determinação na Reforma da
Cúria e na denúncia do clericalismo e carreirismo, acusam-no de autoritário. Os
neoliberais da economia e da política acusam-no de falar do que não sabe.
Alguns cardeais já manifestaram publicamente a sua oposição, não apenas
ao seu estilo pastoral, mas também às suas posições doutrinais. Serão os
únicos?
Não creio que o cardeal
Ratzinger defenda esse caminho, mas acontecem coisas esquisitas. Ele acaba de
prefaciar o livro do cardeal Sarah, La
Force du silence (O Poder do Silêncio), ainda não traduzido para italiano,
mas o prefácio já saiu publicado, antecipadamente, no “Corriere della Sera” e na “Nuova bussola quotidiana”.
Donde virá o incómodo desse elogioso prefácio que entristeceu os entusiastas
das orientações do Papa Francisco e que também não querem ficar de mal com a
imagem do Papa anterior?
O Cardeal Sarah é o Prefeito da Congregação para o Culto Divino, nomeado
pelo próprio Papa Francisco. Agora, usa processos pouco recomendáveis para
contrariar quem o escolheu. Os seus esforços estão focalizados na “Reforma da
Reforma” litúrgica proposta pelo Vaticano II.
É esse personagem a remar contra o Papa Francisco que o cardeal
Ratzinger veio recomendar como “mestre espiritual, que fala das
profundezas do silêncio com o Senhor, expressão da sua união íntima com Ele, e
que por isso tem algo a dizer para cada um de nós”. Diz-se grato ao Papa
Francisco por “ter nomeado um tal mestre espiritual à frente da
Congregação para a celebração da liturgia na Igreja”. Daí a declaração final
que soa como um aviso: “Com o Cardeal Sarah, mestre do silêncio e
da oração interior, a liturgia está em boas mãos”.
A publicidade desta gratidão parece uma indevida defesa,
pois, o Papa Francisco já manifestou, várias vezes, que não está nada contente
com a nomeação que fez. Não é segredo que, ao longo do último ano, o Cardeal
Sarah foi, de facto, gradualmente cercado por elementos abertamente hostis à chamada
“reforma da reforma conciliar”, desejada por Bento XVI, que o purpurado
guineense tenta efectivar no actual pontificado que a não quer. Ao continuar a
defender que “a crise da Igreja é uma crise da liturgia”, deve dizer-se que a
cura que ele pretende é o seu veneno. Já não consegue fazer nada da Congregação
a que preside.
O Papa desautorizou a ideia da Missa de costas para o povo e
favoreceu a nova tradução dos textos litúrgicos, resultado de estudos de uma
comissão criada sem o conhecimento e contra o Cardeal Sarah, segundo consta. Os
movimentos para estudar o ritual de uma missa “ecuménica” parece que também ignoram
a própria Congregação, presidida pelo dito cardeal.
3. Ratzinger
foi uma grande figura da Cúria romana, durante muito tempo. A sua obsessão em
neutralizar e condenar os teólogos que o não repetiam, parece que não lhe
deixou energia para enfrentar as exigências da reforma dessa instituição
degradada.
Compreende-se
que, por muito que goste de estudar, de escrever e de rezar, depois de tantos
anos de intervenção nos destinos da Igreja, perante o que lhe contam, não aguente
o silêncio que se impôs. Como disse Monsenhor Georg Geinswein, Ratzinger acompanha
atentamente tudo o que acontece na Igreja.
Bento XVI, sob o ponto de vista institucional, morreu,
mas julga que não. Está obrigado a ter um comportamento que não leve as pessoas
a pensar que está arrependido de ter renunciado a ser o Bispo de Roma, sucessor
de S. Pedro.
Frei Bento Domingues, O.P.
in
Público 28 Maio 2017
21 maio 2017
FÁTIMA, QUE FUTURO? (2)
1. É cedo para
fazer um balanço da última peregrinação à Cova da Iria. As televisões têm o
país colonizado pela cultura omnipresente e omnipotente do futebol. Durante
dois dias, sem a esquecer, voltaram-se todas para o Papa, para os Pastorinhos,
para Fátima e parecia que nunca mais se calavam, mas ainda tiveram tempo para
celebrar o triunfo de Salvador Sobral no Festival da Eurovisão. Graças sejam
dadas a todas e todos que elevaram o ego nacional.
Nesta crónica, interessa-me reflectir
sobre o futuro de Fátima. Dizem que já dispomos de bases seguras para fazer a
história dos acontecimentos de 1917 e o seu desenvolvimento até aos nossos dias.
Seja. É indispensável perguntar: em que ponto está a crítica teológica das
representações religiosas dessa época, na sua continuidade e nas suas
alterações? É verdade que a menoridade da reflexão teológica, no Portugal do
séc. XX, não permitia altos voos. O bispo Manuel Almeida Trindade já sublinhou
a sua triste ausência no Vaticano II: ausência na preparação, na participação e
na aplicação.
Em Fátima, embora à margem do
Santuário e não só, já existiu um Centro importante de Filosofia e Teologia (Studium Sedes Sapientiae), Cursos de Verão
de Teologia (ISTA) e uma importante
livraria, Verdade e Vida, a maior
referência a nível do País, para se entrar no espírito e na letra do Vaticano
II. No quadro da reforma litúrgica, nasceram aí audaciosas inovações pela iniciativa
de Frei José Augusto Mourão, O.P..
Todo esse ambiente, com um
professorado internacional, permitiu, além do mais, o acolhimento e o diálogo
com personalidades da cultura. Jean Guitton, Gabriel Marcel, Stravinsky,
Vitorino Nemésio, Miller Guerra, etc.. são, apenas, algumas lembranças do meu
tempo de estudante.
2. Como já
lembrei nas últimas crónicas, o Papa Francisco antes de vir a Fátima tinha
publicado uma Carta Apostólica, em forma de Motu
próprio, pela qual inscreveu os Santuários no Pontifício Conselho para a
Nova Evangelização. Insisto neste facto para que a sua importância, os seus objectivos
e exigências, que lhe são apontados, comecem a ser vividos e praticados, em
Fátima. É de notar que a perspectiva do Papa é uma aplicação concreta do Evangelho da Alegria, o programa do seu
pontificado.
Nos dias 12 e 13, J. Bergoglio deu o
exemplo do que pode e deve ser a realização do programa que apontou para a
evangelização dos Santuários. Com uma arte genial enxertou, em narrativas
gastas, a novidade do Evangelho. Como tinha passado um ano inteiro a falar da
misericórdia de Deus, não tinha espaço mental e afectivo, para continuar a
repetir as ameaças da Cova da Iria. Escreveu e disse outra coisa. Na crónica do
Domingo passado, respiguei o que me pareceu mais acutilante e novo em todas as
suas intervenções.
É, sem dúvida, importante escutar e
debater esses textos na íntegra, mas não basta! Há uma expressão conhecida: um
dedo que aponta o céu e as pessoas olham para o dedo. O que importa é a
pergunta: quais foram as representações teológicas, melhor dito, as inovações
metafóricas da sua linguagem cristã e as direcções de acção evangelizadora na
sua vertente de anúncio do Evangelho e de transformação da sociedade? Igreja de
saída para onde? Só para os cristãos ou para “todos os meus irmãos no baptismo
e em humanidade, de modo especial para os doentes e pessoas com deficiência, os
presos e os desempregados, os pobres e os desempregados?”
Dir-se-á que Fátima está feita e que
não há mais nada a fazer. Sob certo ponto de vista, seria um desastre que os
clérigos e os clericalizados, ignorantes por profissão, tentassem impor os seus
conceitos moralistas e canónicos a uma população que vai a Fátima porque sabe
onde lhe dói e onde procura esperança. Seria pior a emenda do que o soneto.
Deixem Fátima ser um lugar de liberdade pessoal.
Dito isto, nada está feito. Como
desenvolver as perspectivas apontadas pelo Papa acerca de Deus, de Cristo, do
Espírito Santo, da Igreja e de Maria? Não digo que seja necessário fundar uma
nova faculdade de teologia em Fátima, mas é indispensável que o Santuário
promova seminários, colóquios, debates, publicações que desenvolvam uma nova
teologia em plena liberdade.
A preparação de peregrinações precisa
de uma teologia narrativa dos mistérios do Rosário que não seja apenas a
repetição de Pai-Nossos e Avé-Marias, introduções ao sono, quando deviam ser
aberturas aos sonhos e aos trabalhos de um mundo novo.
A mariologia não pode continuar como catálogo
dos privilégios de uma Senhora, ainda que seja mais brilhante do que o Sol. Alguns
passos, sobretudo do ponto de vista bíblico, já foram dados. Fr. Edward
Schillebeeckx, O.P., poucos anos antes de morrer, traçou as linhas de evolução
da mariologia desde 1954 e as perspectivas que ele tentou abrir para o futuro.
É necessário rever toda a tradição dos títulos que foram atribuídos a Maria,
Mãe de Deus. O Espírito Santo não pode ser posto de lado.
3. Fátima, no
seu conjunto, não é a realização de uma grande ideia de beleza. Alguns
remendos, por mais interessantes que sejam, não conseguem superar deficiências
de raiz.
Como diz o documento sobre os
santuários, importa a sua valorização cultural e artística, segundo a via pulcritudinis, como modalidade
peculiar da evangelização da Igreja. Para limpar o comércio da fealdade
religiosa, não seria possível criar uma escola de artes plásticas, de música,
de teatro para encontrar novas linguagens da beleza da fé?
Desde o princípio se diz que Fátima
está confrontada com os problemas da guerra e da paz. É indispensável rezar
para erradicar as raízes, as causas e as consequências dos conflitos. Dado o
alcance mundial da mensagem de Fátima, não seria urgente criar, nos seus
espaços, uma “Universidade da Paz”, não só ecuménica e inter-religiosa, mas
aberta a todos os humanos de boa vontade?
Dir-se-á que estou a pedir demasiado
a um lugar que é de acolhimento para rezar, cumprir uma promessa, acender uma
vela e cantar um adeus nostálgico a Fátima. O Papa pediu muito mais. Exigiu uma
mobilização geral contra a indiferença que nos gela o coração e agrava a miopia
do olhar.
Só vale a pena falar no futuro de
Fátima se aquele Santuário contribuir para criar muitas e variadas iniciativas
espirituais e culturais, que convençam os peregrinos a dizer: qual é a minha
periferia?
Frei Bento Domingues, O.P.
21.05.2017
14 maio 2017
FÁTIMA: QUE FUTURO?
1. Nestas crónicas, recusei-me sempre a responder à pergunta: que vem o Papa fazer a Fátima? Que vinha canonizar os “beatos” Jacinta e Francisco estava assente. Para isso não precisava desta custosa deslocação. A declaração de reconhecimento da santidade destes pastorinhos podia ser feita em Roma. Por isso, julguei que era melhor esperar para ver. O Papa veio mas, antes, tinha realizado outra peregrinação bem mais arriscada e de alcance imediato: o encontro com cristãos e muçulmanos no Egipto.
J. Mario Bergoglio, antes de vir a Fátima, tinha publicado uma carta apostólica que transfere as competências sobre os Santuários para o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. Vislumbrava nesse documento, inspirador e normativo, que viria realizar o que mais tem faltado em Fátima: tornar-se um centro propulsor de saída para o mundo e não apenas de um altar de incenso.
Como já referi, irritavam-me, entretanto, as notícias colhidas ou veiculadas pelo Santuário sobre os cuidados com a figura do Papa, a sua indumentária para celebrar, o cálice de ouro, a pala para o resguardar do sol e outras futilidades do género. Pareciam manifestar o propósito de neutralizar, na Cova da Iria, o que Bergoglio trouxe de novo à orientação da Igreja católica: uma Igreja de saída para todas as periferias, com gosto da alegria do Evangelho, de uma evangelização nova, libertadora, descrucificante.
Um grande desejo pode tornar-se numa grande decepção: ver o Papa chegar a Fátima e nem ele cumprir o que propôs para os santuários, seria o enterro da sua própria Carta Pastoral.
Entretanto, foi divulgada a oração que iria fazer no dia 12 de Maio, na Capelinha das Aparições. É uma celebração transfiguradora da Salve Rainha tão antiga e que, de repente, ficou uma nova respiração do céu e da terra. As invocações gastas encontraram a linguagem poética da fé incarnada na alegria do Evangelho. Atrevo-me a destacar: Ó doce virgem Maria, Rainha do Rosário de Fátima! Faz-nos seguir o exemplo dos Bem-aventurados Francisco e Jacinta e de todos os que se entregam à mensagem do Evangelho. Percorreremos, assim, todas as rotas, seremos peregrinos de todos os caminhos, derrubaremos todos os muros e venceremos todas as fronteiras, saindo em direcção a todas as periferias, revelando, aí, a justiça e a paz de Deus. Seremos, na alegria do Evangelho, a Igreja vestida de branco, da alvura branqueada no sangue do Cordeiro derramado ainda em todas as guerras que destroem o mundo em que vivemos. E assim seremos, como Tu, imagem da coluna luminosa que alumia os caminhos do mundo, a todos mostrando que Deus existe, que Deus está, que Deus habita no meio do seu povo, ontem, hoje e por toda a eternidade.
O horizonte do primeiro documento, verdadeiramente programático do Papa Francisco, (A Alegria do Evangelho), passou para a sua Salve Rainha, a oração feita missão para todas as periferias. Tinha de dizer: esta peregrinação é essencial. Como poderia Bergoglio esquecer o seu passado de transformação da religiosidade popular – puramente regional – perante um santuário que reúne multidões de muitos países?
2. O Papa veio, rezou na capela de Nossa Senhora do Ar. Repetirá, durante a sua peregrinação, que se reza em Fátima como em qualquer lugar. Seguiu para a Cova da Iria. A quem desejasse acompanhar a deslocação e a sua chegada ao santuário, os quatro canais de televisão exibiam uma verborreia contínua e irritante que não deixava espaço mental para mais nada. Não se prepararam para saber dosear o tempo da informação e do comentário com o silêncio indispensável. O silêncio imposto para a oração do Papa, na capelinha, mostrou que tudo podia ser diferente.
Um momento chave de todas as peregrinações de Fátima é o mar de luz expresso na procissão das velas. Desta vez, havia uma mensagem especial. O Papa enfrentou a sua tarefa de transformar as atitudes dos peregrinos: Peregrinos com Maria… Qual Maria? Uma «Mestra de vida espiritual», a primeira que seguiu Cristo pelo caminho «estreito» da cruz dando-nos o exemplo, ou então uma Senhora «inatingível» e, consequentemente, inimitável? A «Bendita por ter acreditado[i]» sempre e em todas as circunstâncias nas palavras divinas, ou então uma «Santinha» a quem se recorre para obter favores a baixo preço? A Virgem Maria do Evangelho venerada pela Igreja orante, ou uma esboçada por sensibilidades subjectivas que A vêem segurando o braço justiceiro de Deus pronto a castigar: uma Maria melhor do que Cristo, visto como Juiz impiedoso; mais misericordiosa que o Cordeiro imolado por nós?
Grande injustiça fazemos a Deus e à sua graça, quando se afirma em primeiro lugar que os pecados são punidos pelo seu julgamento, sem antepor – como mostra o Evangelho – que são perdoados pela sua misericórdia! (…) «Sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do carinho. Nela vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentirem importantes (…). Esta dinâmica de justiça e de ternura, de contemplação e de caminho ao encontro dos outros é aquilo que faz d’Ela um modelo eclesial para a evangelização[ii]». Possamos, com Maria, ser sinal e sacramento da misericórdia de Deus que perdoa sempre, perdoa tudo.
3. Deus criou-nos como uma esperança para os outros, uma esperança real e realizável segundo o estado de vida de cada um, disse o Papa na homilia de Sábado.
Temos Mãe na Mãe de Jesus. Não veio aqui, para que A víssemos. Para isso teremos a eternidade inteira. Dos seus braços virá a esperança e a paz que necessitamos e as suplico para todos os meus irmãos no Baptismo e em humanidade, de modo especial, para os doentes e pessoas com deficiência, os presos e desempregados, os pobres e abandonados.
O futuro de Fátima depende do seu empenhamento em desencadear uma verdadeira mobilização geral contra esta indiferença que nos gela o coração e agrava a miopia do olhar. A vida só pode sobreviver graças à generosidade de outra vida. Sejamos, no mundo, sentinelas da madrugada que sabem contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador e descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor[iii].
Bem-haja, Papa Francisco!
Frei Bento Domingues, O.P.
in Público 14.05.2017
[i] cf. Lc 1, 42.45
[ii] Exort. ap. Evangelii gaudium, 288
[iii] Nota: Este texto é quase todo composto com extractos das intervenções do Papa. A selecção e organização são minhas
J. Mario Bergoglio, antes de vir a Fátima, tinha publicado uma carta apostólica que transfere as competências sobre os Santuários para o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. Vislumbrava nesse documento, inspirador e normativo, que viria realizar o que mais tem faltado em Fátima: tornar-se um centro propulsor de saída para o mundo e não apenas de um altar de incenso.
Como já referi, irritavam-me, entretanto, as notícias colhidas ou veiculadas pelo Santuário sobre os cuidados com a figura do Papa, a sua indumentária para celebrar, o cálice de ouro, a pala para o resguardar do sol e outras futilidades do género. Pareciam manifestar o propósito de neutralizar, na Cova da Iria, o que Bergoglio trouxe de novo à orientação da Igreja católica: uma Igreja de saída para todas as periferias, com gosto da alegria do Evangelho, de uma evangelização nova, libertadora, descrucificante.
Um grande desejo pode tornar-se numa grande decepção: ver o Papa chegar a Fátima e nem ele cumprir o que propôs para os santuários, seria o enterro da sua própria Carta Pastoral.
Entretanto, foi divulgada a oração que iria fazer no dia 12 de Maio, na Capelinha das Aparições. É uma celebração transfiguradora da Salve Rainha tão antiga e que, de repente, ficou uma nova respiração do céu e da terra. As invocações gastas encontraram a linguagem poética da fé incarnada na alegria do Evangelho. Atrevo-me a destacar: Ó doce virgem Maria, Rainha do Rosário de Fátima! Faz-nos seguir o exemplo dos Bem-aventurados Francisco e Jacinta e de todos os que se entregam à mensagem do Evangelho. Percorreremos, assim, todas as rotas, seremos peregrinos de todos os caminhos, derrubaremos todos os muros e venceremos todas as fronteiras, saindo em direcção a todas as periferias, revelando, aí, a justiça e a paz de Deus. Seremos, na alegria do Evangelho, a Igreja vestida de branco, da alvura branqueada no sangue do Cordeiro derramado ainda em todas as guerras que destroem o mundo em que vivemos. E assim seremos, como Tu, imagem da coluna luminosa que alumia os caminhos do mundo, a todos mostrando que Deus existe, que Deus está, que Deus habita no meio do seu povo, ontem, hoje e por toda a eternidade.
O horizonte do primeiro documento, verdadeiramente programático do Papa Francisco, (A Alegria do Evangelho), passou para a sua Salve Rainha, a oração feita missão para todas as periferias. Tinha de dizer: esta peregrinação é essencial. Como poderia Bergoglio esquecer o seu passado de transformação da religiosidade popular – puramente regional – perante um santuário que reúne multidões de muitos países?
2. O Papa veio, rezou na capela de Nossa Senhora do Ar. Repetirá, durante a sua peregrinação, que se reza em Fátima como em qualquer lugar. Seguiu para a Cova da Iria. A quem desejasse acompanhar a deslocação e a sua chegada ao santuário, os quatro canais de televisão exibiam uma verborreia contínua e irritante que não deixava espaço mental para mais nada. Não se prepararam para saber dosear o tempo da informação e do comentário com o silêncio indispensável. O silêncio imposto para a oração do Papa, na capelinha, mostrou que tudo podia ser diferente.
Um momento chave de todas as peregrinações de Fátima é o mar de luz expresso na procissão das velas. Desta vez, havia uma mensagem especial. O Papa enfrentou a sua tarefa de transformar as atitudes dos peregrinos: Peregrinos com Maria… Qual Maria? Uma «Mestra de vida espiritual», a primeira que seguiu Cristo pelo caminho «estreito» da cruz dando-nos o exemplo, ou então uma Senhora «inatingível» e, consequentemente, inimitável? A «Bendita por ter acreditado[i]» sempre e em todas as circunstâncias nas palavras divinas, ou então uma «Santinha» a quem se recorre para obter favores a baixo preço? A Virgem Maria do Evangelho venerada pela Igreja orante, ou uma esboçada por sensibilidades subjectivas que A vêem segurando o braço justiceiro de Deus pronto a castigar: uma Maria melhor do que Cristo, visto como Juiz impiedoso; mais misericordiosa que o Cordeiro imolado por nós?
Grande injustiça fazemos a Deus e à sua graça, quando se afirma em primeiro lugar que os pecados são punidos pelo seu julgamento, sem antepor – como mostra o Evangelho – que são perdoados pela sua misericórdia! (…) «Sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do carinho. Nela vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentirem importantes (…). Esta dinâmica de justiça e de ternura, de contemplação e de caminho ao encontro dos outros é aquilo que faz d’Ela um modelo eclesial para a evangelização[ii]». Possamos, com Maria, ser sinal e sacramento da misericórdia de Deus que perdoa sempre, perdoa tudo.
3. Deus criou-nos como uma esperança para os outros, uma esperança real e realizável segundo o estado de vida de cada um, disse o Papa na homilia de Sábado.
Temos Mãe na Mãe de Jesus. Não veio aqui, para que A víssemos. Para isso teremos a eternidade inteira. Dos seus braços virá a esperança e a paz que necessitamos e as suplico para todos os meus irmãos no Baptismo e em humanidade, de modo especial, para os doentes e pessoas com deficiência, os presos e desempregados, os pobres e abandonados.
O futuro de Fátima depende do seu empenhamento em desencadear uma verdadeira mobilização geral contra esta indiferença que nos gela o coração e agrava a miopia do olhar. A vida só pode sobreviver graças à generosidade de outra vida. Sejamos, no mundo, sentinelas da madrugada que sabem contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador e descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor[iii].
Bem-haja, Papa Francisco!
Frei Bento Domingues, O.P.
in Público 14.05.2017
[i] cf. Lc 1, 42.45
[ii] Exort. ap. Evangelii gaudium, 288
[iii] Nota: Este texto é quase todo composto com extractos das intervenções do Papa. A selecção e organização são minhas
12 maio 2017
Salve Rainha do Papa Francisco
Salve Rainha,
bem-aventurada Virgem de Fátima,
Senhora do Coração Imaculado,
qual refúgio e caminho que conduz até
Deus!
Peregrino da Luz que das tuas mãos
nos vem, dou graças a Deus Pai que,
em todo o tempo e lugar, atua na
história humana;
peregrino da Paz que neste lugar
anuncias, louvo a Cristo, nossa paz,
e para o mundo peço a concórdia
entre todos os povos;
peregrino da Esperança que o Espírito
alenta, quero-me profeta
e mensageiro para a todos lavar os
pés,
na mesma mesa que nos une.
Salve Mãe de Misericórdia,
Senhora da veste branca! Neste lugar
onde há cem anos
a todos mostraste
os desígnios da misericórdia do nosso
Deus, olho a tua veste de luz
e, como bispo vestido de branco,
lembro todos os que, vestidos da
alvura baptismal,
querem viver em Deus
e rezam os mistérios de Cristo
para alcançar a paz.
Salve, vida e doçura,
Salve, esperança nossa,
ó Virgem Peregrina, ó Rainha
Universal!
No mais íntimo do teu ser, no teu
Imaculado Coração, vê as alegrias do ser humano
quando peregrina para a Pátria
Celeste.
No mais íntimo do teu ser, no teu
Imaculado Coração,
vê as dores da família humana
que geme e chora neste vale de
lágrimas.
No mais íntimo do teu ser, no teu
Imaculado Coração,
adorna-nos do fulgor de todas as
jóias da tua coroa
e faz-nos peregrinos como peregrina
foste Tu. Com o teu sorriso virginal
robustece a alegria da Igreja de
Cristo.
Com o teu olhar de doçura
fortalece a esperança dos filhos de
Deus.
Com as mãos orantes que elevas ao
Senhor
a todos une numa só família humana.
Ó clemente, ó piedosa,
ó doce Virgem Maria,
Rainha do Rosário de Fátima!
Faz-nos seguir o exemplo dos
Bem-aventurados Francisco e Jacinta,
e de todos os que se entregam
à mensagem do Evangelho.
Percorreremos, assim, todas as rotas,
seremos peregrinos de todos os
caminhos, derrubaremos todos os muros
e venceremos todas as fronteiras,
saindo em direcção a todas as
periferias, aí revelando a justiça e a paz de Deus. Seremos, na alegria do Evangelho,
a Igreja vestida de branco,
da alvura branqueada no sangue do
Cordeiro derramado ainda em todas as guerras
que destroem o mundo em que vivemos.
E assim seremos, como Tu,
imagem da coluna luminosa
que alumia os caminhos do mundo, a
todos mostrando que Deus existe, que Deus está,
que Deus habita no meio do seu povo,
ontem, hoje e por toda a eternidade.
(juntamente com os fiéis)
Salve, Mãe do Senhor,
Virgem Maria, Rainha do Rosário de
Fátima! Bendita entre todas as mulheres,
és a imagem da Igreja vestida da luz
pascal, és a honra do nosso povo,
és o triunfo sobre a marca do mal.
Profecia do Amor misericordioso do
Pai,
Mestra do Anúncio da Boa-Nova do
Filho,
Sinal do Fogo ardente do Espírito
Santo,
ensina-nos, neste vale de alegrias e
dores, as verdades eternas
que o Pai revela aos pequeninos.
Mostra-nos a força do teu manto
protector. No teu Imaculado Coração,
sê o refúgio dos pecadores
e o caminho que conduz até Deus.
Unido aos meus irmãos,
na Fé, na Esperança e no Amor, a Ti
me entrego.
Unido aos meus irmãos, por Ti, a Deus
me consagro,
ó Virgem do Rosário de Fátima.
E, enfim, envolvido na Luz que das
tuas mãos nos vem, darei glória ao Senhor
pelos séculos dos séculos.
Ámen.
07 maio 2017
DESCRUCIFICAR É EVANGELIZAR
1. Será que Deus é sádico, Jesus suicida e a Senhora de Fátima,
para aliviar o Céu ofendido, sacrifica crianças inocentes?
Não tenho qualquer resposta para
estas perguntas que regressam sempre como as gripes. Não as considero desprezíveis
embora nem todos as formulam de forma tão brutal. Passada a euforia da visita
do Papa à Cova da Iria essa questão tornar-se-á ainda mais aguda. Para
erradicar a violência em nome de Deus, é fundamental desmascarar todos os
lugares onde ela se disfarça. Ainda na Missa da quarta-feira da passada Semana
Santa embati numa oração que renego: «Senhor nosso Deus, que, para nos libertar
do poder do inimigo, quisestes que o Vosso Filho sofresse o suplício da cruz, concedei
aos vossos servos a graça da ressurreição».
Será verdade que Deus, para nos
libertar do poder do mal, precisava de fazer morrer o seu Filho no horror da
cruz? Gostará Deus do sofrimento de quem mais ama? Poderá ser invocado como
Deus um ser tão sádico?
S. Paulo, na famosa Carta
aos Romanos, tão celebrada por M. Lutero, para enfatizar a loucura do amor
que Deus nos tem e, do qual, nada nem ninguém nos pode separar, atreve-se a
escrever esta barbaridade: «Deus não poupou o seu próprio Filho, mas o entregou
por nós todos»[i].
Será que Deus gosta mais de nós do que do seu próprio Filho? Não será este um
amor perverso?
No Evangelho de S. João, o Pai não exige nada a Jesus e
aqueles que o matam pensam que o dominam, mas estão enganados: «ninguém me tira
a vida, mas eu dou-a de mim mesmo»[ii]. Posição reforçada na
Oração Eucarística II: «Na hora em que Ele se entregava, para voluntariamente
sofrer a morte…».
Aqui, tudo se complica ainda mais: ou Jesus fingia que
sofria e não sofria nada ou gostava de
sofrer e, então, era um doente masoquista.
Pior ainda, um suicida para nos salvar.
Ao fim e ao cabo: Jesus foi condenado por Deus ou por uma
coligação de Herodes e Pôncio Pilatos?[iii]
No cenário da Mensagem de Fátima, Deus, o Coração de Jesus e
o Coração de Maria estão cravados de espinhos, feridos pelos pecados do mundo. Mas
que ideia foi essa, tão pouco celestial, a de fazer com que crianças inocentes
assumam a reparação dos estragos feitos pelos pecados dos adultos?[iv].
2. É verdade que na história do mundo, quase sempre paga o justo
pelo pecador. Se essa desgraça não pode ter aprovação divina, muito menos pode ser
Deus a exigir a morte do seu próprio Filho para perdoar as ofensas recebidas.
A teoria jurídico-teológica das
exigências da reparação justa da ofensa feita a Deus, elaborada por Santo
Anselmo adicionada à concepção do pecado original de Santo Agostinho, deixa
Deus muito mal e desgraça Jesus Cristo. Foram tantos os estragos na imagem de
Deus e na vida dos seres humanos, que o melhor é dispensar definitivamente essa
teoria.
Muitos textos[v], ao pretenderem que Jesus
estava a realizar o desígnio de Deus, prefigurado no Antigo Testamento – não
era um traidor - permitem leituras vesgas: se era Deus que O entregou, os
adversários que o executaram estavam a cumprir a vontade de Deus! No entanto,
em lado nenhum, Jesus se apresenta com a seguinte proposta: há muito sofrimento
no mundo; eu venho para o alargar e intensificar. Não me parece que o Nazareno
se tenha aconselhado com José Saramago para conceber, delinear e realizar a sua
missão.
No Evangelho de S. Lucas, Jesus
apresenta o seu programa, na sinagoga de Nazaré, servindo-se de uma passagem do
profeta Isaías: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para
anunciar a boa nova aos mendigos; enviou-me a proclamar aos presos a libertação
e aos cegos a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a
proclamar um ano aceitável da parte do Senhor»[vi].
A recepção imediata do público da
sinagoga foi simpática, mas acabou mal. Porquê? O programa era bom. A ideia de
um ano Jubilar estava prevista no Levítico (25). Convidava ao perdão de dívidas
e à libertação dos escravos. A desgraça está nos pormenores. A primeira foi a
de fechar o livro antes do tempo: suprimiu a passagem do dia da vingança de Deus. Isto era grave. Parecia que já mandava no
texto sagrado. Como não queria nada com a ideia de um Deus de vingança, não leu
essa passagem e pronto. A segunda foi pior do que a primeira: o que Isaías dizia
do Messias estava a realizar-se nele, Jesus de Nazaré. Era pretensão a mais. «Encheram-se
todos de fúria na sinagoga ao ouvirem as suas palavras», da fúria passaram aos
actos, «expulsando-o da cidade, levaram-no ao cimo do monte sobre o qual a
cidade estava construída, para o atirarem dali abaixo. Mas Jesus, passando pelo
meio deles, seguiu o seu caminho».
Os quatro Evangelhos cumprem o que
diz o nome: Jesus é um amado de Deus que entrega a sua vida para que seja
perfeita a alegria de todos. Nas últimas crónicas já apontei qual foi o caminho
de Jesus. O seu programa recusava a dominação económica política e religiosa
que crucifica a vida das pessoas, seja onde for. O amor ao sofrimento é doença;
o esforço para procurar vencer o próprio sofrimento e o dos outros, nas suas
causas e consequências, é amor da vida, é descrucificar[vii].
3. Nestas crónicas recusei-me sempre a responder à pergunta: que
vem o Papa fazer a Fátima? Julguei que era melhor esperar para ver. Sabendo de
quem se trata, alimento o secreto desejo de uma boa surpresa.
Entretanto descobri que o Papa
Francisco publicou uma carta apostólica, em forma de Motu próprio, que transfere as competências sobre os Santuários
para o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização[viii]. É precisamente o que
mais falta em Fátima: tornar-se um centro propulsor de saída para o mundo e não
apenas de um altar de incenso.
São ridículas as
notícias colhidas ou veiculadas pelo Santuário sobre os cuidados com a figura
do Papa, a sua indumentária para celebrar, o cálice de ouro, a pala para o resguardar
do sol e outras futilidades do género. Parecem manifestar o propósito de
neutralizar, na Cova da Iria, o que Bergoglio trouxe de novo: uma Igreja de
saída para todas as periferias, com gosto da alegria do Evangelho, de uma
evangelização nova, libertadora, descrucificante.
Frei Bento Domingues, O.P.
07.05.2017
[i] Rm 8, 31-39
[ii]
Jo 10, 18
[iii]
Act 4, 27-30; Cf. Simon Légasse/Peter Tomson, Qui a tué Jésus?,Cerf 2004; Nathan Leites, Le meurtre de Jésus moyen de salut?, Cerf 1982
[iv]
Cf. Lúcia de Jesus, Memórias, Edição
crítica de Cristina Sobral, Fátima 2016.
[v]
Cf. Act. 2, 22-36 //
[vi] Lc 4, 16-30
[vii] Lc 7
[viii]
L’ Osservatore Romano, 06.04.2017
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