A dona Noémia emigrou. Tempos difíceis levaram-na para fora do seu país. Partiu com o marido e dois filhos. Mais fértil, aquela terra oferecia melhores oportunidades a quem procurava uma vida melhor. Primeiro trabalharam no campo, passando depois por vários ofícios, conforme as épocas do ano. Chegaram mesmo a ter negócios em que vendiam produtos manufacturados em casa ou adquiridos a outros. No inverno era duro trabalhar nas produções agrícolas. De joelhos na terra para não andarem muito tempo curvados, e outras vezes curvados para pouparem os joelhos, afectados sobretudo pela humidade e a terra fria. No verão era duro o calor, a poeira, o pó da palha e das ervas, o suor escorrendo pela cara ou sendo absorvido pelos lenços apertados. Mas eram boas as condições de vida: tinham sempre os bens essenciais. Raramente se preocuparam em saber o que comeriam no dia seguinte, ou mesmo na semana seguinte.
Foi assim que viveram durante anos em terra estrangeira. Mas a lei da vida, à qual se liga a lei da morte, em pouco tempo fez ruir a sua casa. O seu marido e, algum tempo depois, os dois filhos partiram deste mundo antes dela. Sentia-se mal sempre que pensava nisso, mas também pensava no desgosto que eles teriam se ela fosse primeiro. Para eles seria pior. Bem, os filhos tinham as suas mulheres, mas o marido, com aquele feitio, iria sofrer no corpo e na alma. Aconteceu como Deus quis: os homens partiram e ficaram as mulheres. Nessas condições decidiu voltar à sua terra. As noras, naturais desse país que os acolhera, quiseram acompanhá-la. Ela não estava de acordo mas só uma aceitou ficar. A outra partiu com a sua sogra, passando agora ela à condição de estrangeira. O que iria ser destas duas mulheres num tempo e num lugar em que mulheres sem homem não eram ninguém?
Não foi só por essa razão que Noémia pensou em mudar de nome. Quando chegou à sua terra, as velhas amigas ainda a reconheciam e quiseram alegrar-se com ela pelo seu regresso feliz. Clamavam em coro: a Noémia voltou à terra de seus pais! Mas ela não mostrava alegria e dizia-lhes para não lhe chamarem Noémia e sim Mara. Depois souberam porquê, mas eram de opinião que não se devia deixar dominar pela tristeza. Aquela mulher, de coração tão bondoso e de espírito tão agradável não podia deixar-se possuir pela amargura. O Senhor iria intervir em seu favor porque ele não abandona quem se mantém na esperança. Sem mais delongas, foi isso o que aconteceu, e de modo surpreendente para toda a gente. Em pouco tempo, todos os habitantes daquela região puderam ver as maravilhas que o Senhor fez com sua nora e ela. Quem desejar saber o que realmente aconteceu pode ler o pequeno livro de Rute, do Antigo Testamento. Na história de Rute e Noémia (Mara por pouco tempo) assenta a raiz da árvore de Jessé, aquela árvore da qual nasceu o Salvador, Jesus Cristo, Senhor. É assim que há um Feliz Natal.
Frei Matias, O.P.
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