"Por favor, sejamos guardiões da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do meio ambiente; não deixemos que os sinais de destruição e de morte acompanhem o caminho deste nosso mundo".
As palavras sábias e simples deste pedido do Papa Francisco, neste primeiro tempo de seu pontificado ecoam como um programa de conversão para toda a Igreja, isto é para cada um dos cristãos.
Este apelo não é propriamente uma grande novidade, pois a criação foi confiada à humanidade desde sempre, como refere a cosmogonia bíblica do Génesis. Cuidar do mundo e de tudo o que nele habita, incluindo a natureza e todas as formas de vida é o destino dos descendentes do mítico casal Adão e Eva. O cuidado pela família humana que, com Caim e Abel se revelou marcado pelo pecado da falta de fraternidade e por isso de amor, é uma chamada de atenção para os obstáculos internos ou externos que estruturam também a dimensão antropológica destes seres criados à imagem e semelhança do Criador e mesmo assim por vezes tão pouco semelhantes a Ele.
A degradação do meio ambiente, os problemas ecológicos de um desenvolvimento não sustentado mas predador dos recursos postos à disposição da humanidade, que uma pequena parte delapida perante a impotência da maioria dos seres humanos, revelam que sabemos cuidar muito pouco. Mesmo as pessoas que se preocupam com o problema sabem que a pegada ecológica daqueles que, como nós vivem apesar de tudo na parte rica do mundo, implicaria dois ou três planetas Terra se toda a gente vivesse deste modo. É pois insustentável o modelo de desenvolvimento que supostamente traz progresso e felicidade. De facto, trata-se de uma estrutura de pecado. Há que encontrar outras formas de tratar o meio ambiente, com respeito e partilha, ou seja devemos encontrar o modo de sermos guardiões que Francisco, tal como o de Assis, nos pede. Temos pois de rever muita coisa quanto à dimensão de cuidado com a natureza no nosso viver.
A própria criação é um sinal do amor de Deus e do cuidado com o Seu Povo; todos nós. Não há qualquer laivo de panteísmo nesta admiração e na busca do divino no mundo criado, apenas há a capacidade de nos maravilharmos com a beleza, a harmonia que de algum modo são “o maná do deserto” que temos à disposição cada dia. Se a humanidade deixa uma pegada ecológica devastadora no mundo, Deus deixa-nos uma pegada teológica criadora e sustentadora, revelando um cuidado perene pelos seus filhos que são a humanidade inteira. Aqueles que se reconhecem cristãos, rezam como Jesus ensinou; “O pão nosso de cada dia nos dai hoje…”.
Temos o pão quotidiano dado a todos via natureza, falta-nos a sabedoria para o distribuir equitativamente. Talvez por isso a prece que se segue nesta oração é “Perdoai-nos as nossa ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. A primeira das ofensas é esta dificuldade de nos sentirmos irmãos e agirmos solidariamente em consequência. Por outro lado, se Deus nos perdoar apenas na medida em que perdoamos aos outros, ficaremos sempre em défice na balança da santidade. Assim os gestos de cuidarmos uns dos outros são a marca do amor de Deus, e a caridade quer dizer, o amor, como diz S. Paulo não passará nunca.
A ética do cuidado é um ponto comum entre crentes e não crentes, um princípio também para um diálogo inter-religioso e ecuménico, aspetos a que o Papa Francisco mostrou ser sensível.
Recupera igualmente a tradição da doutrina social da Igreja que parece esquecida por alguns sectores cristãos mais adeptos de soluções politicamente liberais. Liga-se ainda diretamente ao legado de uma certa forma de ser cristão e de procurar as mediações políticas adequadas que Maria de Lourdes Pintasilgo mostrou ser possível viver.
AFF
Páscoa 31-03-2013
As palavras sábias e simples deste pedido do Papa Francisco, neste primeiro tempo de seu pontificado ecoam como um programa de conversão para toda a Igreja, isto é para cada um dos cristãos.
Este apelo não é propriamente uma grande novidade, pois a criação foi confiada à humanidade desde sempre, como refere a cosmogonia bíblica do Génesis. Cuidar do mundo e de tudo o que nele habita, incluindo a natureza e todas as formas de vida é o destino dos descendentes do mítico casal Adão e Eva. O cuidado pela família humana que, com Caim e Abel se revelou marcado pelo pecado da falta de fraternidade e por isso de amor, é uma chamada de atenção para os obstáculos internos ou externos que estruturam também a dimensão antropológica destes seres criados à imagem e semelhança do Criador e mesmo assim por vezes tão pouco semelhantes a Ele.
A degradação do meio ambiente, os problemas ecológicos de um desenvolvimento não sustentado mas predador dos recursos postos à disposição da humanidade, que uma pequena parte delapida perante a impotência da maioria dos seres humanos, revelam que sabemos cuidar muito pouco. Mesmo as pessoas que se preocupam com o problema sabem que a pegada ecológica daqueles que, como nós vivem apesar de tudo na parte rica do mundo, implicaria dois ou três planetas Terra se toda a gente vivesse deste modo. É pois insustentável o modelo de desenvolvimento que supostamente traz progresso e felicidade. De facto, trata-se de uma estrutura de pecado. Há que encontrar outras formas de tratar o meio ambiente, com respeito e partilha, ou seja devemos encontrar o modo de sermos guardiões que Francisco, tal como o de Assis, nos pede. Temos pois de rever muita coisa quanto à dimensão de cuidado com a natureza no nosso viver.
A própria criação é um sinal do amor de Deus e do cuidado com o Seu Povo; todos nós. Não há qualquer laivo de panteísmo nesta admiração e na busca do divino no mundo criado, apenas há a capacidade de nos maravilharmos com a beleza, a harmonia que de algum modo são “o maná do deserto” que temos à disposição cada dia. Se a humanidade deixa uma pegada ecológica devastadora no mundo, Deus deixa-nos uma pegada teológica criadora e sustentadora, revelando um cuidado perene pelos seus filhos que são a humanidade inteira. Aqueles que se reconhecem cristãos, rezam como Jesus ensinou; “O pão nosso de cada dia nos dai hoje…”.
Temos o pão quotidiano dado a todos via natureza, falta-nos a sabedoria para o distribuir equitativamente. Talvez por isso a prece que se segue nesta oração é “Perdoai-nos as nossa ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. A primeira das ofensas é esta dificuldade de nos sentirmos irmãos e agirmos solidariamente em consequência. Por outro lado, se Deus nos perdoar apenas na medida em que perdoamos aos outros, ficaremos sempre em défice na balança da santidade. Assim os gestos de cuidarmos uns dos outros são a marca do amor de Deus, e a caridade quer dizer, o amor, como diz S. Paulo não passará nunca.
A ética do cuidado é um ponto comum entre crentes e não crentes, um princípio também para um diálogo inter-religioso e ecuménico, aspetos a que o Papa Francisco mostrou ser sensível.
Recupera igualmente a tradição da doutrina social da Igreja que parece esquecida por alguns sectores cristãos mais adeptos de soluções politicamente liberais. Liga-se ainda diretamente ao legado de uma certa forma de ser cristão e de procurar as mediações políticas adequadas que Maria de Lourdes Pintasilgo mostrou ser possível viver.
AFF
Páscoa 31-03-2013
Sem comentários:
Enviar um comentário