1. O Movimento Internacional Nós Somos Igreja-Portugal, no passado Sábado 25 de Maio, promoveu um Encontro-Debate sobre “A revolução de João XXIII”. No próximo dia 3, dia do cinquentenário da sua morte, será evocado na Celebração da Eucaristia do Convento de S. Domingos às 19.15h.
Na história da Igreja Católica no século XX existe um antes e um depois da revolução de João XXIII. Concretizada na inesperada convocatória do Concílio Vaticano II e no estilo absolutamente original do seu desenrolar durante a primeira sessão.
No dia 11 de outubro de 1962, o Concílio Vaticano II, idealizado pelo Papa João XXIII, "teve os seus trabalhos oficialmente inaugurados, contando com a presença de 2.540 padres conciliares, número este inédito para a História da Igreja: 1060 europeus (dos quais 423 italianos, 144 franceses, 87 espanhóis, 59 polacos, 29 portugueses…), 408 asiáticos, 351 africanos, 416 norte-americanos, 620 latino-americanos e 74 da Oceania". Mas, mesmo assim, "estavam ainda ausentes do Concílio muitos bispos de dioceses que viviam sob regimes autoritários", na sua maioria de ideologia comunista. "O número de participantes variou muito de acordo com as sessões, nunca porém estando abaixo de 80% do total dos padres conciliares".
Pela primeira vez na História, "os peritos [...] foram ouvidos na elaboração dos textos conciliares, trazendo consigo uma imensa riqueza de tradições e culturas". Estes peritos, que não tinham direito a voto, são também chamados de consultores teológicos e tinham uma grande influência no Concílio. Várias dezenas de observadores protestantes e ortodoxos também foram convidados e estiveram presentes nas 4 sessões do Concílio.
Foram tão polémicas e tão comentadas algumas decisões de Paulo VI, de João Paulo II e de Bento XVI que levaram a esquecer o Vaticano II, a própria figura de João XXIII e, sobretudo, a de João Paulo I, que importa revisitar, pois o ruído exterior em torno das estranhas circunstâncias da sua morte, as declarações que fez, aparentemente pouco ortodoxas e a reforma temida da Cúria, tornaram ainda mais breve um Pontificado que durou apenas um mês (26.08 a 28.09.1978). Este Papa do Sorriso parecia-se demasiado com João XXIII. No dia 27 de Agosto, perante uma enorme multidão centrada na Praça de S. Pedro, esclareceu: Não tenho nem a sabedoria de coração do Papa João, nem a preparação e a cultura do Papa Paulo, mas estou no seu lugar e, portanto, disposto a servir a Igreja.
Tinha uma grande experiência pastoral e o seu carisma foi rapidamente associado ao de João XXIII, que não só fugia à diplomacia vaticana, mas se atreveu a declarar: logo que fui eleito papa desatei a ler o anuário pontifício para conhecer a organização da Santa Sé. Fala, sorri, diverte-se (diz amar a virtude do divertimento), parece-se com S. Francisco de Assis. Cita publicamente Júlio Verne a Montaigne e lê um poema de amor francês diante de uns jovens noivos. Na altura da primeira audiência geral, a 6 de Setembro, pede que se reze para que a nossa viatura não tombe num fosso. Recomenda, aos seus ouvintes, que sejam humildes e sempre humildes. NO seu último discurso, a 23 de Setembro, lembra aos Romanos, em S. João de Latrão, que se sirvam das suas pobres forças. Invocou a Deus como Pai e Mãe e queria dar exemplo de um cristianismo que fosse no quotidiano lúcido e sorridente. Também ele, como João XXIII, não era um papa como os outros, mas era a continuação do que havia de mais genuíno no Vaticano II que ele queria tornar popular, isto é, assumido pelo povo e a recriar, em novas situações, numa história que se lembra de muita coisa, mas que se esquece dos pobres. Os que falam do bom Papa João para dizer que era um bem intencionado, um bonzinho que não captava a complexidade da Igreja e do mundo, também quiseram fazer de João Paulo I, do Albino Luciani um santo ingénuo. A única coisa que desejo é que o Papa Francisco se inspire nestes dois predecessores e continue a sua posteridade.
Frei Bento Domingues, O.P.
1 de Junho de 2013
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