Qual é o
determinante da religião, de tal modo que se pode garantir que ela vai ter
sempre futuro? "Quando queremos ser sensatos, sinceros com aquilo que
sentimos, manifesta--se uma inquietação profunda face ao Transcendente."
Essa inquietação, que é "inerente à natureza humana", "chega
mesmo a aparecer em pessoas que não ouviram falar de Deus ou que tiveram nas
suas vidas posições antirreligiosas ou imanentistas e que, de repente, se deparam
com algo que as transcendeu. Enquanto essa inquietação existir, existirá a
religião, haverá formas de religação a Deus". A religião autêntica está em
busca permanente. Por isso, uma religião puramente ritualista está destinada a
morrer: enche-nos de ritos, mas "deixa--nos um vazio no coração".
A procura
religiosa não terminou, continua forte, também em movimentos populares de
piedade, "maneiras de viver o religioso de forma popular". O que está
é "um pouco desorientada, fora das estruturas institucionais". O
desafio maior para os líderes religiosos é o de "uma atracção através do
testemunho", excluindo o proselitismo. É preciso procurar a autenticidade,
mas, "quando isso significa apenas o prescritivo, cumprir regras, cai-se
num purismo que também não é religioso".
Porque há
várias religiões? "Deus faz-se sentir no coração de cada pessoa. Também
respeita a cultura dos povos. Cada povo vai captando essa visão de Deus,
tradu-la de acordo com a cultura que tem e vai elaborando, purificando, vai-lhe
dando um sistema."
A relação
religiosa autêntica implica um compromisso: "É necessário envolvermo-nos
no mundo, mas sempre com base na experiência religiosa", evitando o risco
de "agir como uma ONG". Quem acredita em Deus tem, nessa experiência,
uma missão de justiça para com os seus irmãos, "uma justiça criativa,
porque inventa coisas: educação, promoção social, cuidados, alívio, etc."
A fé tem de
dialogar com a cultura. Mais: deve "criar cultura", uma cultura
diferente das "culturas idólatras" da nossa sociedade: "o
consumismo, o relativismo e o hedonismo são exemplo disso". "Uma fé
que não se torna cultura não é uma verdadeira fé." Também dialoga -
Bergoglio é químico - com a ciência, que, "dentro da sua autonomia, vai
transformando incultura em cultura", devendo estar atenta, pois "a
sua própria criação pode escapar-lhe das mãos".
A
globalização a defender tem de ser "como a figura de um poliedro, onde
todos se integram, mas cada um mantém a sua peculiaridade, que, por sua vez,
vai enriquecendo os outros". "A globalização que uniformiza é
essencialmente imperialista e instrumentalmente liberal, mas não é
humana."
Defende o
Estado laico: "A convivência pacífica entre as diferentes religiões vê-se
beneficiada pela laicidade do Estado, que, sem assumir como própria nenhuma
posição confessional, respeita e valoriza a presença do factor religioso na
sociedade."
Apontou o
ecumenismo como uma das prioridades do seu pontificado: "Desejo assegurar
a minha vontade firme de prosseguir com o diálogo ecuménico." Continuará
igualmente o diálogo inter-religioso: "A Igreja Católica é consciente da
impor-tância que tem a promoção da amizade e do respeito entre homens e
mulheres de diferentes tradições religiosas. Quero repetir: promoção da amizade
e do respeito entre homens e mulheres de diferentes tradições religiosas."
Como sinal disso, enviou uma mensagem pessoal aos muçulmanos, por ocasião do
fim do Ramadão, advogando "o respeito mútuo", pondo fim às
"críticas e difamações" por parte das duas religiões.
ANSELMO BORGES 31 agosto 2013 143 comentários
in DN
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