31 maio 2014
29 maio 2014
Declarações de Maria João Sande Lemos ao DN
O 3º ponto da Petição do Povo de Deus, do Movimento Internacional Nós Somos Igreja refere:
"Desejamos Uma Igreja onde os ministérios ordenados sejam reequacionados"
"Nem a Bíblia nem os dogmas estabelecem uma relação compulsiva entre alguns ministérios ordenados e celibato"
Assim foi com grande esperança e alegria que ouvi as declarações do Papa Francisco afirmando que "celibato não é dogma na Igreja Católica", o que é um facto de todos conhecido, mas ser publicamente reconhecido pelo Papa dá uma enorme força a quem considera que se pode conciliar o sacramento do Matrimónio com o sacramento da Ordem.
Não se deve o Vaticano esquecer das centenas de milhares de padres casados que desejam retomar a sua actividade sacerdotal.
Vem confirmar a ideia de que o Papa Francisco está empenhado numa profunda reformulação do sacerdócio procurando acabar com o "clericalismo" que tantas vezes tem criticado.
Mais uma vez vem o Papa Francisco dar-nos ânimo e fazer-nos acreditar que a Igreja Católica procurará ser sempre uma Igreja fraterna, inclusiva e onde a palavra "Comunhão" seja sempre a mais forte!
Maria João Sande Lemos
Membro do Movimento Nós Somos Igreja - Portugal
Lisboa, 27 de Maio
"Desejamos Uma Igreja onde os ministérios ordenados sejam reequacionados"
"Nem a Bíblia nem os dogmas estabelecem uma relação compulsiva entre alguns ministérios ordenados e celibato"
Assim foi com grande esperança e alegria que ouvi as declarações do Papa Francisco afirmando que "celibato não é dogma na Igreja Católica", o que é um facto de todos conhecido, mas ser publicamente reconhecido pelo Papa dá uma enorme força a quem considera que se pode conciliar o sacramento do Matrimónio com o sacramento da Ordem.
Não se deve o Vaticano esquecer das centenas de milhares de padres casados que desejam retomar a sua actividade sacerdotal.
Vem confirmar a ideia de que o Papa Francisco está empenhado numa profunda reformulação do sacerdócio procurando acabar com o "clericalismo" que tantas vezes tem criticado.
Mais uma vez vem o Papa Francisco dar-nos ânimo e fazer-nos acreditar que a Igreja Católica procurará ser sempre uma Igreja fraterna, inclusiva e onde a palavra "Comunhão" seja sempre a mais forte!
Maria João Sande Lemos
Membro do Movimento Nós Somos Igreja - Portugal
Lisboa, 27 de Maio
25 maio 2014
"Ah, o famoso bispo do Porto!"
por ANSELMO BORGES
Foi
com esta exclamação que João Paulo II, na sua visita ao Porto, se
dirigiu a D. António Ferreira Gomes, quando ele, já bispo resignatário,
apresentou os seus cumprimentos de despedida.
Morreu
há 25 anos. Lembrando a data, o que aí fica quer ser tão-só uma
homenagem ao homem e ao bispo, cujo lema era "de joelhos diante de Deus,
de pé diante dos homens" e que, em todas as circunstâncias, foi o
exemplo superior do que chamo a voz político-moral da Igreja.
Já
na famosa Carta a Salazar, que pagou com um exílio de dez anos, exigia a
liberdade de pluralismo partidário e sindical e de greve. E lembrava
"dois problemas fundamentais" em ordem à paz: 1. "Os frutos do trabalho
comum devem ser divididos com equidade e justiça social entre os membros
da comunidade"; 2. Os indivíduos e as classes "nunca estarão
satisfeitos enquanto não experimentarem que são colaboradores efectivos,
que têm a sua justa quota-parte na condução da vida colectiva, isto é,
que são sujeito e não objecto da vida económica, social e política." O
equilíbrio financeiro "é óptimo", mas "nunca deve deixar de estar ao
serviço do Homem".
Preocupava-o
a religião das promessas, a religião utilitária, como testemunhou num
diálogo, a meu convite, com Óscar Lopes, reconhecendo que "a religião
pode realmente ser ópio do povo", pois, "muitas vezes para o povo a
religião no geral não significa nada de transcendente." Ora, "o limiar
diferencial da religião cristã começa quando alguém se debruça sobre o
outro, quando alguém se volta para o que o transcende, seja o outro
neste mundo, seja Deus enquanto o Outro absoluto, sabendo que a relação
com o Outro absoluto é exactamente também a relação com o irmão". Por
isso, "nenhum homem responsável da Igreja poderá dizer que não quer
saber de política ou que nada percebe de política".
DEUS ACTIVISTA DOS DIREITOS HUMANOS? (2)
Frei Bento Domingues O. P.
Ler mais...
1.
A Amnistia Internacional iniciou, há semanas, a campanha Stop Tortura
para denunciar uma situação vergonhosa: 30 anos após a assinatura, na
ONU, da Convenção Contra a Tortura, esta prática bárbara continua a
crescer, como se fosse a coisa mais normal do mundo. No entanto, na
África, nas Américas, na Ásia-Pacífico, na Europa e Ásia Central, no
Médio Oriente e Norte de Africa, alarga-se esta extrema forma de
desumanidade, perante a indiferença internacional. Nos EUA, nenhum
agente da CIA, envolvido em casos de tortura, foi levado a tribunal.
Não
se pode atribuir esse comportamento “à ausência de Deus” na esfera
pública como, por vezes, se diz. Em todos os continentes, é em seu nome
que se oprime, tortura e mata. Tentei mostrar, no Domingo passado, que a
palavra Deus pode ser usada para o melhor e para o pior.
Hoje, gostaria de chamar a atenção
para outra forma de observação e problematização das sociedades
actuais, praticada por Boaventura de Sousa Santos, no livro Se Deus
fosse um activista dos direitos humanos (Almedina). Foi também publicado
com grande ressonância no Brasil, traduzido em Espanha e acolhido com
fervor na América Latina.
23 maio 2014
Excomunhão de Martha e Gert Heizer
Por celebrar eucaristias em sua casa como se praticava nos tempos das
comunidades de base, ou seja, sem a presença dum padre ordenado, dois
católicos austríacos, Martha e Gert Heizer, receberam uma notificação da
Diocese de Innsbruck de que tinham sido excomungados. Ambos recusaram
receber a notificação por porem em causa a integridade dos
procedimentos.
Martha e Gert Heizer mais não fazem do que coerentemente unir a prática e o ensinamento de Jesus para tornar o Evangelho mais acessível e mais compreensível a todos. Este é o caminho que a igreja terá que seguir no futuro usando os chamados viri probati (e por que não as mulieres probatae) para permitir a celebração da missa, um momento de fé da comunidade cristã, por todos os baptizados e baptizadas, ou seja, por todos os membros do povo de Deus. Pelo mundo existem muitas situações idênticas, por exemplo, na América Latina, onde a presença do sacerdote nem sempre está garantida.
Em comunicado de imprensa, Martha e Gert Heizer mostraram-se "profundamente chocados por se encontrarem na mesma categoria dos padres pedófilos". Na sua opinião, "este procedimento mostra como a Igreja Católica precisa de renovação".
Martha Heizer, pedagoga e professora de religião, agora reformada, foi um dos elementos do grupo que lançou em 1995 a Petição do Povo de Deus e é actualmente a coordenadora do Movimento Nós Somos Igreja Internacional”.
O Movimento “Nós Somos Igreja - Portugal” exprime a sua solidariedade com Martha e Gert Heizer e confirma o seu lugar dentro da igreja de que fazem parte, defendendo a fé e a mensagem do Evangelho, e não somente o direito canónico.
Sobre o assunto, leia também o comunicado do NSI - Itália.
Martha e Gert Heizer mais não fazem do que coerentemente unir a prática e o ensinamento de Jesus para tornar o Evangelho mais acessível e mais compreensível a todos. Este é o caminho que a igreja terá que seguir no futuro usando os chamados viri probati (e por que não as mulieres probatae) para permitir a celebração da missa, um momento de fé da comunidade cristã, por todos os baptizados e baptizadas, ou seja, por todos os membros do povo de Deus. Pelo mundo existem muitas situações idênticas, por exemplo, na América Latina, onde a presença do sacerdote nem sempre está garantida.
Em comunicado de imprensa, Martha e Gert Heizer mostraram-se "profundamente chocados por se encontrarem na mesma categoria dos padres pedófilos". Na sua opinião, "este procedimento mostra como a Igreja Católica precisa de renovação".
Martha Heizer, pedagoga e professora de religião, agora reformada, foi um dos elementos do grupo que lançou em 1995 a Petição do Povo de Deus e é actualmente a coordenadora do Movimento Nós Somos Igreja Internacional”.
O Movimento “Nós Somos Igreja - Portugal” exprime a sua solidariedade com Martha e Gert Heizer e confirma o seu lugar dentro da igreja de que fazem parte, defendendo a fé e a mensagem do Evangelho, e não somente o direito canónico.
Sobre o assunto, leia também o comunicado do NSI - Itália.
21 maio 2014
A Laura disse-me adeus
Não sei
se os mistérios são silenciosos, mas a Laura é um mistério no seu silêncio. Não
porque não queira falar mas porque não está habituada. Salvo erro, terá passado
a infância num ambiente de poucas falas e como não consegue exprimir-se bem,
fica calada. Apenas olha e sorri. O sorriso é agradável e o olhar amável. Uma
canção cantada em espanhol diz que “olhos azuis são mentideiros”. Não sei se há
nisto alguma verdade, em todo o caso não me parece que seja tanto assim, talvez
a dificuldade esteja em saber ler o que dizem ou querem dizer os olhos azuis. É
o que acontece com a Laura. Anda pela rua, as pessoas gostam dela, é tranquila
e parece não precisar de mais nada além de alguma comida e roupa. Eu já a
conhecia mas não sabia o seu nome. O Joaquim, que veio aqui arranjar umas
coisas, ao sair para a rua é que disse: olha a Laura anda por aqui! Esta gaja
não tem parança. Eu às vezes também uso a palavra gaja, mas à Laura não
conseguiria nomeá-la assim. Nunca a vejo pedir nada, mas há sempre gente que
lhe estende a mão a dar qualquer coisa. É engraçado ser ao contrário do que é
costume. Ela agradece com dignidade sem vénias, o que me agrada. A quem poderei
comparar a Laura na Bíblia? Não sei, mas entre a Rute e Maria Madalena penso
que tem um pedacinho de muitas. Os sábios talvez me pudessem ajudar nisto, mas
também não é muito importante. Prefiro fazer de outra maneira, meter a Laura na
Bíblia e juntá-la a todas as outras. Há uns tempos falei um pouquinho com ela e
vi que tem uma energia interior e uma lucidez que o pouco vocabulário que usa
não consegue transmitir suficientemente. Depois disso deixei de a ver durante
algumas semanas. Dizem que foi cuidar do pai, obeso e mal alimentado, doente no
corpo e na alma. Não sei o que aconteceu ao pai, mas há dias quando ia a virar
uma esquina vi um braço no ar. Fiquei muito contente, a Laura disse-me adeus.
Fui ter com ela e percebi-lhe que tinha estado em Fátima e tinha gostado muito.
Perguntei-lhe se gostava da nossa Senhora de Fátima e ela disse-me em poucas
palavras que a nossa Senhora é só uma, tanto faz ser em Fátima como noutro lado
qualquer, mas que, sim, gosta muito de nossa Senhora. Que é a mãe de Jesus e é
muito importante. Armado em teólogo barato disse-lhe que Jesus é mais
importante. E ela: eu bem sei que Jesus é mais importante, mas olha que uma mãe
é quem nos pode ensinar melhor a conhecer um filho. Oh Laura, onde é que
aprendeste isso? Não aprendi muito, tiro mais da minha cabeça. Quer-se dizer,
eu aprendi algumas coisas com umas irmãzinhas que iam lá ao bairro, mas depois
fiquei a tirar coisas da minha cabeça. Não perguntei que bairro era nem quem
eram as irmãzinhas, às vezes fico meio aparvalhado no meio da vida. Talvez o
Joaquim me soubesse dizer, mas não lhe vou perguntar para não o ouvir chamar
gaja à Laura. Na verdade que importa o nome do bairro! Basta-me saber que às
vezes passo pelo bairro da alma em que a Laura vive. Talvez um dia encontre por
lá as irmãzinhas.
Frei Matias
18 maio 2014
Fátima e a crise
Anselmo Borges
O que move tanta gente a pé para Fátima? Trinta e cinco
mil, este ano, segundo consta. No fundo, diria que é a Mãe. Ele há tanto
sofrimento - físico, psicológico, moral, próprio, dos filhos, do
marido, da mulher, da mãe, do pai... E a Mãe não há-de entender e
socorrer?
Depois, lá chegados, homens e mulheres, agradecem à
Mãe as graças, gritam lá no mais íntimo, suplicam, choram, cumprem as
promessas, de joelhos ou mesmo arrastando-se. E a gente comove--se. E é
preciso respeitar o sofrimento das pessoas e manifestar--lhes compaixão
activa na sua dor. Quem se atreverá, perante o sofrimento, por vezes
extremo, a ridicularizar, em vez de tentar compreender e ajudar?
Mas, dito isto, deve-se acrescentar que é preciso
evangelizar Fátima e o Deus de Fátima, mesmo sabendo que se trata de uma
tarefa quase impossível. Foi o famoso antigo bispo de Nampula, D.
Manuel Vieira Pinto, que me contou que, encontrando-se em Fátima, se
deparou com uma senhora que, de joelhos, se arrastava a custo para a
Capelinha das Aparições. Na tentativa de demovê-la, pois o Evangelho não
é a favor de promessas nem do sacrifício pelo sacrifício, foi-lhe
dizendo que Deus não queria aquilo e que ele, bispo, até podia
substituir a promessa, por exemplo, pela ajuda a uma obra social.
Insistiu, sublinhando até que assumia a responsabilidade. Mas a senhora
atirou-lhe: "Vá com Deus, senhor bispo. Não foi a si que eu fiz a
promessa." O bispo voltou-se para dentro de si e ter-se-á interrogado
como é que o Evangelho tem dificuldade em entrar na Igreja.
Deus activista dos Direitos Humanos (1)
Frei Bento Domingues O.P.
1. Roubei este título a uma obra de Boaventura de Sousa Santos – Se Deus fosse um activista dos Direitos Humanos – (Almedina, 2013). Como, porém, Deus é a palavra dos usos mais sublimes e mais perversos, antes de me deter nessa obra notável, respondo à minha pergunta, ao modo dos escolásticos, dizendo: distingo!
Importa, com efeito, saber de que Deus se trata nessa interrogação. Se for aquele que me apresentaram quando comecei a ir à Missa, à catequese, aos sermões que ameaçavam os “pecadores” com o inferno, esse Deus que mandava os padres insistir nos pecados - o original e o actual, o venial e o mortal, além do pior de todos, o sacrilégio – nada tinha a ver com um activista dos direitos humanos. Antes pelo contrário.
1. Roubei este título a uma obra de Boaventura de Sousa Santos – Se Deus fosse um activista dos Direitos Humanos – (Almedina, 2013). Como, porém, Deus é a palavra dos usos mais sublimes e mais perversos, antes de me deter nessa obra notável, respondo à minha pergunta, ao modo dos escolásticos, dizendo: distingo!
Importa, com efeito, saber de que Deus se trata nessa interrogação. Se for aquele que me apresentaram quando comecei a ir à Missa, à catequese, aos sermões que ameaçavam os “pecadores” com o inferno, esse Deus que mandava os padres insistir nos pecados - o original e o actual, o venial e o mortal, além do pior de todos, o sacrilégio – nada tinha a ver com um activista dos direitos humanos. Antes pelo contrário.
12 maio 2014
Movimento Internacional Nós Somos Igreja: mensagem de solidariedade com a LCWR
O Movimento Internacional Nós Somos Igreja deseja expressar a sua
solidariedade com as irmãs da Leadership Conference of Women Religious (LCWR) no decurso das suas negociações com a
Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) e o Arcebispo Sartain sobre questões
decorrentes da avaliação doutrinal.
Ficamos satisfeitos com os comentários positivos do Cardeal Kasper e sua ênfase de que é o diálogo, e não a condenação, a maneira cristã de superar todas as dificuldades.
O trabalho da LCWR é uma contribuição inestimável para a vida da Igreja nos Estados Unidos e mesmo para a Igreja universal, que se anima com estas pacientes e corajosas negociações com a CDF.
O conceito teológico e pastoral da CDF tem de ser redefinido de acordo com os ensinamentos do Concílio Vaticano II e das orientações que o Papa Francisco deu até agora.
Nós apoiamo-vos com a nossa oração. Asseguramo-vos que o Espírito do nosso Deus é tão activo hoje, no nosso meio, como no dia de Pentecostes.
Ficamos satisfeitos com os comentários positivos do Cardeal Kasper e sua ênfase de que é o diálogo, e não a condenação, a maneira cristã de superar todas as dificuldades.
O trabalho da LCWR é uma contribuição inestimável para a vida da Igreja nos Estados Unidos e mesmo para a Igreja universal, que se anima com estas pacientes e corajosas negociações com a CDF.
O conceito teológico e pastoral da CDF tem de ser redefinido de acordo com os ensinamentos do Concílio Vaticano II e das orientações que o Papa Francisco deu até agora.
Nós apoiamo-vos com a nossa oração. Asseguramo-vos que o Espírito do nosso Deus é tão activo hoje, no nosso meio, como no dia de Pentecostes.
CONVITE
O Movimento Internacional
Nós Somos Igreja – Portugal
e o
Instituto S. Tomás de Aquino
(ISTA)
têm o prazer de anunciar um
ENCONTRO
CASADOS, DIVORCIADOS, RECASADOS
14.30 h -1ºpainel
Isabel Pereira e João Manuel Querido
Teresa Borges
Ana Mira Vaz e João Muñoz de Oliveira
Moderador: Frei Bento Domingues, O.P.
15.30 h - Debate
16.15 h – Pausa
Nós Somos Igreja – Portugal
e o
Instituto S. Tomás de Aquino
(ISTA)
têm o prazer de anunciar um
ENCONTRO
CASADOS, DIVORCIADOS, RECASADOS
14.30 h -1ºpainel
Isabel Pereira e João Manuel Querido
Teresa Borges
Ana Mira Vaz e João Muñoz de Oliveira
Moderador: Frei Bento Domingues, O.P.
15.30 h - Debate
16.15 h – Pausa
16.45 h - 2º painel
Graça Martins e Paulo Melo
Mariana da Cunha e Gonçalo Moita
José Carlos Lima
Moderador: Frei José Nunes, O.P.
17.45 h - Debate
18.30 - Eucaristia na Igreja do Convento de S. Domingos
O NSI - PT pretende contribuir para o debate que tem sido lançado pelo
próprio Papa Francisco e por outros elementos da Cúria relativamente à
atitude da Igreja-instituição face aos católicos divorciados e
recasados, questão que vai ser retomada no Sínodo sobre a Família.
As conclusões deste Encontro serão enviadas ao CEP (Conferência Episcopal Portuguesa).
Data - 17 de Maio, 2014
Local - Convento de S. Domingos, Lisboa
R. João de Freitas Branco, 12, 1500-359 Lisboa
Metro - Alto dos Moínhos
Estacionamento nas imediações ou no pátio de Convento
As conclusões deste Encontro serão enviadas ao CEP (Conferência Episcopal Portuguesa).
Data - 17 de Maio, 2014
Local - Convento de S. Domingos, Lisboa
R. João de Freitas Branco, 12, 1500-359 Lisboa
Metro - Alto dos Moínhos
Estacionamento nas imediações ou no pátio de Convento
11 maio 2014
A Figura Ideal do Bispo
Frei Bento Domingues, O.P.
1. No passado dia 3, cumpriram-se 500 anos do nascimento de D. Frei Bartolomeu dos Mártires, o bracarense, como era conhecido no concílio de Trento. Em 1590, nasceu para a vida eterna, no convento de Santa Cruz, em Viana do Castelo. Os vianenses já começaram as celebrações e o estudo daquele que muito os amou e que eles não esquecem. Será, agora, que esta figura ideal de bispo vai ser finalmente canonizada?
Não sei e não é a resposta a essa pergunta o que mais me preocupa. No entanto, se canonizar significa, por vezes, congelar as grandes memórias das comunidades cristãs, pode também servir para avivar e recuperar imagens exemplares do catolicismo que as confusões e incúria dos tempos deixaram empalidecer ou apagar. Uma das personalidades mais desafiadoras da reformação da Igreja, dos tempos modernos, foi Frei Bartolomeu dos Mártires e o percurso da sua vida pode ser dos mais inspiradores. Não ficará na história como uma grande figura do renascimento, do humanismo, da reforma protestante, da ideia moderna do Estado, de nenhuma dessas grandes forças do mundo desde o século XV. Não passava por aí o desígnio da sua vida, nem como teólogo dominicano, nem como bispo de Braga – que envolvia Viana do Castelo, Vila Real e Bragança – nem como voz inconfundível do Concílio de Trento, a não identificar com o tridentinismo.
Quando Frei Bartolomeu entrou na Ordem dos Pregadores, já estava em curso o movimento ibérico de reforma das Ordens Religiosas. Implicava o reencontro com o impulso das suas respectivas origens. Era assumido em moldes de estrita observância, para vencer o extremo desleixo em que tinham caído e que a história pode explicar mas não justificar.
Não beneficiou apenas desse exigente e fervoroso clima. Tornou-se ele próprio um rude desafio existencial. Era a recusa absoluta do carreirismo universitário, eclesiástico ou inquisitorial. As correntes reformistas procuravam derrotar essas aspirações que levaram os conventos e a classe eclesiástica à decadência. O que interessava era criar um clima ascético e métodos de vida que favorecessem o acolhimento da graça divina e os dons do Espírito Santo.
2. Da vida e da obra de Frei Bartolomeu dos Mártires podemos hoje saber não só o que os seus biógrafos portugueses e estrangeiros disseram, mas também o que a investigação histórica consegue apurar. O dominicano, Raul de Almeida Rolo (1922-2004), não só editou as suas obras completas, como estudou e levou outros a estudar tudo o que lhe dizia respeito. Vivia tão seduzido pelo seu herói, era tão insistente em falar de tudo, com todos os pormenores, que levou um colega canadiano a exclamar nos anos 60: “Bartolomeu seria canonizado se conseguisse o milagre de calar o padre Raul”!(1)
Frei Bartolomeu era um pregador, um teólogo, um místico e um pastor exemplar. Viveu 22 anos a reger a cátedra de Teologia, na linha de S. Tomás e dos seus comentadores, na célebre Escola teológica do Convento da Batalha e depois em Évora.
Ele recusava a separação entre as Teologias Escolástica, Mística e Pastoral. Destas últimas, coligiu excelentes antologias, não para as publicar, mas para delas se alimentar. Não procurava ser original, mas beber em todas a fontes.
Quando teve de aceitar ser bispo de Braga, recusou todo o fausto que à casa, à mesa e a esse estilo de vida estava associado. Só lhe interessava percorrer toda a vasta diocese, com bom ou mau tempo, e ter recursos para socorrer os pobres.
3. Muito antes de Frei Bartolomeu dos Mártires entrar em cena, já se gritava pela realização de mudanças urgentes e sempre adiadas, sobretudo no mundo eclesiástico. É uma banalidade dizer que, em parte, a Reforma protestante é o resultado da surdez perante a ineficaz repetição de protestos no seio da Igreja.
Quando o Concílio de Trento (1545-1563) chega à sua última fase (1562-63), já este bispo incarnava na sua pessoa e na sua prática o que iria propor como saída para a crise. O Stymulus Pastorum era o acicate que escolheu para si e que, uma vez publicado, serviu de aguilhão para estimular todos os bispos e possibilitar todas as reformas. Bartolomeu não só não era um inquisidor, como atacou violentamente a Inquisição espanhola, a ponto de Filipe II pedir ao Papa para castigar a insolência deste bracarense.
Terminado o concílio, não o esperavam apenas os árduos trabalhos para levar a cabo as iniciativas e as reformas propostas; aguardava-o também a guerrilha que o cabido de Braga repetidamente lhe moveu, em nome de supostos direitos e privilégios.
No Domingo do Bom Pastor e lembrando Frei Bartolomeu dos Mártires como a figura ideal de bispo, importa não esquecer o que acaba de dizer o Bispo de Roma: “Na Igreja existem os que fazem escaladas. Quem quiser, que vá ao Norte e faça alpinismo: é mais saudável! Mas não venham à Igreja para fazer carreira”
in Público, 11. 05. 2014
1. No passado dia 3, cumpriram-se 500 anos do nascimento de D. Frei Bartolomeu dos Mártires, o bracarense, como era conhecido no concílio de Trento. Em 1590, nasceu para a vida eterna, no convento de Santa Cruz, em Viana do Castelo. Os vianenses já começaram as celebrações e o estudo daquele que muito os amou e que eles não esquecem. Será, agora, que esta figura ideal de bispo vai ser finalmente canonizada?
Não sei e não é a resposta a essa pergunta o que mais me preocupa. No entanto, se canonizar significa, por vezes, congelar as grandes memórias das comunidades cristãs, pode também servir para avivar e recuperar imagens exemplares do catolicismo que as confusões e incúria dos tempos deixaram empalidecer ou apagar. Uma das personalidades mais desafiadoras da reformação da Igreja, dos tempos modernos, foi Frei Bartolomeu dos Mártires e o percurso da sua vida pode ser dos mais inspiradores. Não ficará na história como uma grande figura do renascimento, do humanismo, da reforma protestante, da ideia moderna do Estado, de nenhuma dessas grandes forças do mundo desde o século XV. Não passava por aí o desígnio da sua vida, nem como teólogo dominicano, nem como bispo de Braga – que envolvia Viana do Castelo, Vila Real e Bragança – nem como voz inconfundível do Concílio de Trento, a não identificar com o tridentinismo.
Quando Frei Bartolomeu entrou na Ordem dos Pregadores, já estava em curso o movimento ibérico de reforma das Ordens Religiosas. Implicava o reencontro com o impulso das suas respectivas origens. Era assumido em moldes de estrita observância, para vencer o extremo desleixo em que tinham caído e que a história pode explicar mas não justificar.
Não beneficiou apenas desse exigente e fervoroso clima. Tornou-se ele próprio um rude desafio existencial. Era a recusa absoluta do carreirismo universitário, eclesiástico ou inquisitorial. As correntes reformistas procuravam derrotar essas aspirações que levaram os conventos e a classe eclesiástica à decadência. O que interessava era criar um clima ascético e métodos de vida que favorecessem o acolhimento da graça divina e os dons do Espírito Santo.
2. Da vida e da obra de Frei Bartolomeu dos Mártires podemos hoje saber não só o que os seus biógrafos portugueses e estrangeiros disseram, mas também o que a investigação histórica consegue apurar. O dominicano, Raul de Almeida Rolo (1922-2004), não só editou as suas obras completas, como estudou e levou outros a estudar tudo o que lhe dizia respeito. Vivia tão seduzido pelo seu herói, era tão insistente em falar de tudo, com todos os pormenores, que levou um colega canadiano a exclamar nos anos 60: “Bartolomeu seria canonizado se conseguisse o milagre de calar o padre Raul”!(1)
Frei Bartolomeu era um pregador, um teólogo, um místico e um pastor exemplar. Viveu 22 anos a reger a cátedra de Teologia, na linha de S. Tomás e dos seus comentadores, na célebre Escola teológica do Convento da Batalha e depois em Évora.
Ele recusava a separação entre as Teologias Escolástica, Mística e Pastoral. Destas últimas, coligiu excelentes antologias, não para as publicar, mas para delas se alimentar. Não procurava ser original, mas beber em todas a fontes.
Quando teve de aceitar ser bispo de Braga, recusou todo o fausto que à casa, à mesa e a esse estilo de vida estava associado. Só lhe interessava percorrer toda a vasta diocese, com bom ou mau tempo, e ter recursos para socorrer os pobres.
3. Muito antes de Frei Bartolomeu dos Mártires entrar em cena, já se gritava pela realização de mudanças urgentes e sempre adiadas, sobretudo no mundo eclesiástico. É uma banalidade dizer que, em parte, a Reforma protestante é o resultado da surdez perante a ineficaz repetição de protestos no seio da Igreja.
Quando o Concílio de Trento (1545-1563) chega à sua última fase (1562-63), já este bispo incarnava na sua pessoa e na sua prática o que iria propor como saída para a crise. O Stymulus Pastorum era o acicate que escolheu para si e que, uma vez publicado, serviu de aguilhão para estimular todos os bispos e possibilitar todas as reformas. Bartolomeu não só não era um inquisidor, como atacou violentamente a Inquisição espanhola, a ponto de Filipe II pedir ao Papa para castigar a insolência deste bracarense.
Terminado o concílio, não o esperavam apenas os árduos trabalhos para levar a cabo as iniciativas e as reformas propostas; aguardava-o também a guerrilha que o cabido de Braga repetidamente lhe moveu, em nome de supostos direitos e privilégios.
No Domingo do Bom Pastor e lembrando Frei Bartolomeu dos Mártires como a figura ideal de bispo, importa não esquecer o que acaba de dizer o Bispo de Roma: “Na Igreja existem os que fazem escaladas. Quem quiser, que vá ao Norte e faça alpinismo: é mais saudável! Mas não venham à Igreja para fazer carreira”
in Público, 11. 05. 2014
04 maio 2014
Padres Casados na Igreja Católica?
Frei Bento Domingues, O. P.
1. O papa Francisco, além da visita, cheia de armadilhas, à chamada Terra Santa, será cada vez mais confrontado com um mundo de novas formas de família, um panorama de uniões de facto, de casados, divorciados, recasados, etc.. O Sínodo, marcado para Outubro, terá de inscrever, sem subterfúgios, esse universo movediço na sua agenda.
A nível mundial, neste momento, o cenário de paróquias sem Eucaristia e o que isso significa, pressupõe e exige, não pode deixar nenhum católico tranquilo. Continuar a insistir nas mesmas condições para ser ordenado padre, é demasiada confiança no milagre da sua multiplicação. Consta que o papa Francisco está aberto à ordenação de homens casados. Será isso suficiente?
Os papas do pós-Vaticano II, em nome de opções pré-conciliares acerca do celibato eclesiástico, foram muito eficazes em calar as vozes que mostravam que essas opções já não serviam nem o presente nem o futuro da Igreja. Os bispos, por seu lado, ao não quererem contrariar a cúria romana, não aceitando muitos milhares de padres casados dispostos a continuar no seu ministério, abdicaram da sua responsabilidade colegial e colaboraram numa progressiva desertificação. Essa recusa coexiste com outro paradoxo: as comunidades religiosas não devem abdicar da Missa quotidiana, mas as multidões de leigos católicos podem ser abandonados, por longos períodos, sem a Eucaristia dominical, a que têm direito, sem que isso provoque qualquer sobressalto pastoral.
2. Sem entrar, neste apontamento, pelo complexo desenvolvimento histórico que nos conduziu a esta situação, é consensual dizer que foi no âmbito das reformas de Gregório VII (1073-85), na continuação de medidas anteriores, que se consolidou a convicção de que o estado matrimonial era irreconciliável com o sacerdócio e que se tratava, simplesmente, de dar execução a uma antiga lei eclesiástica. Como destaca H. Jedin, nesta questão não se tratava sempre de reforma interna da Igreja, mas da conservação dos seus bens que, pelo matrimónio dos clérigos, passavam com muita facilidade para os seus filhos.
Não vamos discutir essa questão. Vamos seguir a síntese de um autor pouco suspeito . A atitude do referido papa contra a clerogamia suscitou muita agitação e oposições em vários países. Note-se que o sínodo de Paris, de 1074, definiu a lei do celibato como insustentável e irracional; muitos bispos alemães, e não só, foram pouco rigorosos na sua aplicação; o baixo clero revoltou-se em diversos lugares, por vezes de forma violenta. O papa Gregório não cedeu. O sínodo romano de 1078 ameaçou de suspensão os bispos que, mediante pagamento em dinheiro, se mostrassem indulgentes para com o concubinato dos eclesiásticos, seus súbditos. Por fim, a lei do celibato conseguiu impor-se, embora com dificuldade e nunca de maneira completa. De facto, em alguns países, como na Polónia, Silésia, Morávia, Dinamarca e Escandinávia, o velho estado de coisas prolongou-se até aos séculos XII e XIII. Ao longo da Idade Média as transgressões não foram raras.
O papa Urbano II deu mais um passo em frente no sínodo de Melfi (1089), decretando não só a punição dos subdiáconos desposados, como a perda do ofício; nos casos de persistência, a mulher era declarada escrava do senhor feudal. Essa disposição tinha por base a premissa de que o matrimónio dos eclesiásticos de ordens maiores não era apenas ilícito, mas também inválido. Esse parecer foi expresso, em forma juridicamente mais definida, no sínodo de Pisa de 1135 e no Concílio Lateranense de 1139. A Igreja grega conservou uma atitude de tolerância relativa ao matrimónio dos eclesiásticos. Difundiu-se o costume, possivelmente desde o século XIII e a começar pela Rússia, de designar como párocos e curas de almas apenas padres casados que, por isso, contraem matrimónio geralmente antes de receber a ordenação diaconal. Posto que os bispos têm a obrigação do celibato, eram e são eleitos geralmente de entre os monges.
3. Em toda essa contenda, segundo Hans Küng, o clero alemão levantou três objeções à legislação do celibato eclesiástico: será que o papa não conhece a palavra do Senhor: ”Quem puder compreender, compreenda”? (Mt 19,12); o papa obriga os homens a viver como anjos: ele quer interditar o curso da natureza. Isto só pode conduzir à fornicação; intimados a escolher entre o sacerdócio e o casamento, escolherão o casamento: então, o papa que vá recrutar anjos para o serviço da Igreja!
Dir-se-á, e com verdade, que a história já deu muitas voltas, já passou por fases muito diferentes, antes e depois do Concílio de Trento. Não se tendo conseguido respeitar a possibilidade de optar pelo celibato ou pelo casamento, as consequências estão à vista. As comunidades cristãs são privadas da Eucaristia, o sacramento dos sacramentos. Sem olhar de frente esta questão, continuaremos a lamentar obstáculos que nós próprios criamos.
in Público, 4/Mai/2014
1. O papa Francisco, além da visita, cheia de armadilhas, à chamada Terra Santa, será cada vez mais confrontado com um mundo de novas formas de família, um panorama de uniões de facto, de casados, divorciados, recasados, etc.. O Sínodo, marcado para Outubro, terá de inscrever, sem subterfúgios, esse universo movediço na sua agenda.
A nível mundial, neste momento, o cenário de paróquias sem Eucaristia e o que isso significa, pressupõe e exige, não pode deixar nenhum católico tranquilo. Continuar a insistir nas mesmas condições para ser ordenado padre, é demasiada confiança no milagre da sua multiplicação. Consta que o papa Francisco está aberto à ordenação de homens casados. Será isso suficiente?
Os papas do pós-Vaticano II, em nome de opções pré-conciliares acerca do celibato eclesiástico, foram muito eficazes em calar as vozes que mostravam que essas opções já não serviam nem o presente nem o futuro da Igreja. Os bispos, por seu lado, ao não quererem contrariar a cúria romana, não aceitando muitos milhares de padres casados dispostos a continuar no seu ministério, abdicaram da sua responsabilidade colegial e colaboraram numa progressiva desertificação. Essa recusa coexiste com outro paradoxo: as comunidades religiosas não devem abdicar da Missa quotidiana, mas as multidões de leigos católicos podem ser abandonados, por longos períodos, sem a Eucaristia dominical, a que têm direito, sem que isso provoque qualquer sobressalto pastoral.
2. Sem entrar, neste apontamento, pelo complexo desenvolvimento histórico que nos conduziu a esta situação, é consensual dizer que foi no âmbito das reformas de Gregório VII (1073-85), na continuação de medidas anteriores, que se consolidou a convicção de que o estado matrimonial era irreconciliável com o sacerdócio e que se tratava, simplesmente, de dar execução a uma antiga lei eclesiástica. Como destaca H. Jedin, nesta questão não se tratava sempre de reforma interna da Igreja, mas da conservação dos seus bens que, pelo matrimónio dos clérigos, passavam com muita facilidade para os seus filhos.
Não vamos discutir essa questão. Vamos seguir a síntese de um autor pouco suspeito . A atitude do referido papa contra a clerogamia suscitou muita agitação e oposições em vários países. Note-se que o sínodo de Paris, de 1074, definiu a lei do celibato como insustentável e irracional; muitos bispos alemães, e não só, foram pouco rigorosos na sua aplicação; o baixo clero revoltou-se em diversos lugares, por vezes de forma violenta. O papa Gregório não cedeu. O sínodo romano de 1078 ameaçou de suspensão os bispos que, mediante pagamento em dinheiro, se mostrassem indulgentes para com o concubinato dos eclesiásticos, seus súbditos. Por fim, a lei do celibato conseguiu impor-se, embora com dificuldade e nunca de maneira completa. De facto, em alguns países, como na Polónia, Silésia, Morávia, Dinamarca e Escandinávia, o velho estado de coisas prolongou-se até aos séculos XII e XIII. Ao longo da Idade Média as transgressões não foram raras.
O papa Urbano II deu mais um passo em frente no sínodo de Melfi (1089), decretando não só a punição dos subdiáconos desposados, como a perda do ofício; nos casos de persistência, a mulher era declarada escrava do senhor feudal. Essa disposição tinha por base a premissa de que o matrimónio dos eclesiásticos de ordens maiores não era apenas ilícito, mas também inválido. Esse parecer foi expresso, em forma juridicamente mais definida, no sínodo de Pisa de 1135 e no Concílio Lateranense de 1139. A Igreja grega conservou uma atitude de tolerância relativa ao matrimónio dos eclesiásticos. Difundiu-se o costume, possivelmente desde o século XIII e a começar pela Rússia, de designar como párocos e curas de almas apenas padres casados que, por isso, contraem matrimónio geralmente antes de receber a ordenação diaconal. Posto que os bispos têm a obrigação do celibato, eram e são eleitos geralmente de entre os monges.
3. Em toda essa contenda, segundo Hans Küng, o clero alemão levantou três objeções à legislação do celibato eclesiástico: será que o papa não conhece a palavra do Senhor: ”Quem puder compreender, compreenda”? (Mt 19,12); o papa obriga os homens a viver como anjos: ele quer interditar o curso da natureza. Isto só pode conduzir à fornicação; intimados a escolher entre o sacerdócio e o casamento, escolherão o casamento: então, o papa que vá recrutar anjos para o serviço da Igreja!
Dir-se-á, e com verdade, que a história já deu muitas voltas, já passou por fases muito diferentes, antes e depois do Concílio de Trento. Não se tendo conseguido respeitar a possibilidade de optar pelo celibato ou pelo casamento, as consequências estão à vista. As comunidades cristãs são privadas da Eucaristia, o sacramento dos sacramentos. Sem olhar de frente esta questão, continuaremos a lamentar obstáculos que nós próprios criamos.
in Público, 4/Mai/2014
01 maio 2014
Carta do Padre José Luzia
Amigos e Amigas
Naturalmente, as reacções diante da canonização do Papa João Paulo II,
são as mais variadas.
João XXIII é, naturalmente, o Papa da minha vida: era jovem quando ele
foi eleito e, com a convocação do Concílio Vat II, foi ele que me foi acordando
para a problemática da urgência da reforma da Igreja.
Entrei no seminário, para Filosofia, em pleno concílio – 1964 – já com
Paulo VI, e encontrei uma atmosfera efervescente, tanto entre padres como
alunos, com destaque para os finalistas de teologia. Cresci, por isso, como
jovem estudante de teologia (no Seminário dos Olivais-Lisboa), e como jovem
padre ordenado na Páscoa de 1975 em Nampula em pleno processo de transição para
a Independência de Moçambique, sob o influxo desafiador e
reformante/aggiornante do Vat II.
Com o Bispo Vieira Pinto partilhei e aprendi a viver esse original
dinamismo respondendo, tanto no estertor do colonialismo como no tempo da
revolução marxista leninista, ou no tempo da guerra civil e dias de paz incerta
que se lhe seguiram.
Partilhei, no mais nuclear ambiente diocesano, a gestão das várias
facetas da Diocese de Nampula: pastorais e económicas.
No dinamismo das numerosas comunidades cristãs que surgiram por toda a
diocese no contexto das vicissitudes a que a
revolução moçambicana as submeteu,
inevitavelmente nos confrontámos com a exiguidade de presbíteros no
conjunto da diocese (éramos, apenas, cerca de 30 para mais de 2.000
comunidades, dos quais apenas 2 era moçambicanos). Para que as comunidades
pudessem crescer na normalidade da celebração regular da SANTA EUCARISTIA,
chegámos a admitir, em Nampula (e creio que também em Lichinga onde servia o
saudoso Bispo Luis Gonzaga Ferreira da Silva) a ordenação de alguns animadores
das comunidades já com provas dadas de zelo pastoral. Aquilo que chamamos de
viri probati. O meu Bispo Manuel insistiu com o Papa João Paulo II para que o
autorizasse nesse sentido. Porém, na última ou penúltima visita ad sacra
limina, durante um almoço, diz o Papa João Paulo II: “D. Manuel, sobre isso não
se fala mais”. Assim, com um autoritarismo inaceitável, o Papa João Paulo II
impunha o seu ponto de vista em completa falta de sintonia com o Bispo e os
povo cristão desta diocese.
Certamente que se compreenderá que lamento que o Papa Francisco tenha
embrulhado a festa da canonização do “Meu Papa João” com a do Papa João Paulo
II. Sem dúvida que acabou por esmorecer a exultação de quantos vivemos, há 50
anos, a inesperada jovialidade do ancião
Angelo Roncalli que lançou a nossa Igreja nos caminhos criativos do
semper reformanda atenta aos sinais dos tempos, sem medos e restrições,
confiante no Senhor Ressuscitado.
Este pronunciamento negativo a respeito do Papa João Paulo II não tem
nada a ver, obviamente, com a sua santidade pessoal. Erros todos os humanos
cometemos e os Papas não estão isentos. Não foi o Papa Pio X aquele que
defendeu a figura vertical da Igreja piramidal como Sociedade Perfeita onde os
baptizados mais não tinham do que obedecer submissamente, em tudo e em todas as
circunstâncias, ao clero? Claro que a limitação teológica do Papa Pio X nada
beliscou a sua santidade pessoal. Alias, tal convicção oficial reinante durante
séculos, não impediu que o Vaticano II progredisse para a formulação da Igreja
como (novo) Povo de Deus, onde, naturalmente, como bem sabemos, o clericalismo
continua a querer reafirmar-se e a preocupar o Papa Francisco.
Estas coisas são como as cerejas. Termino aqui.
Uma saudação pascal no Senhor que nos ressuscita!
Zé Luzia
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