Neste tempo de Natal, de preparativos festivos mesmo em tempo de crise, parece que o tempo encolhe ainda mais!
Entre o Natal e o Ano Novo os dias fogem em prolongamentos natalícios de agradáveis encontros da família e de amigos que são para nós os Anjos e os Pastores das nossas vidas. Reunidos não já em estábulos mas comparativamente em palácios onde a estrela de Belém se encontra connosco vimos adorar o Menino e aprendermos a fazer a Paz ou a tomar consciência de que os aspectos materiais são o que menos importa diante da beleza e da fraternidade a que somos convidados. Um paradoxo, esta difícil gestão do essencial e do assessório.
Sabemos como afirma o Ecclesiastes que “Há tempo para tudo na Terra, tempo para nascer, tempo para morrer, tempo para amar…” e por aí fora, mas parece que esse tempo universal gerido fora de nós, se reduz no fuso horário a que pertencemos a minudências urgentes.
Chamam-se férias do Natal, pausa do Natal, Advento para preparar o Natal do Deus-Menino mas o que é facto é que a Sua “festa de anos” tem tantos convidados em tantas casas diferentes por onde nos repartimos dá uma “trabalheira” vivida com amor é certo mas… não deveríamos fazer de forma diferente?
Quando cantamos as quadra tipicamente portuguesa;
“Nossa Senhora faz meia,
com linha feita de Luz,
o novelo é Lua cheia,
as meias são p’ra Jesus”
Lembramo-nos que deveríamos ter aprendido a fazer meias dos nossos novelos menos lunares e mais prosaicos ao logo de todo o ano para que cada pessoa que é o rosto humano do divino irmanado em Jesus não continue a ter os pés frios, desconforto que, muito para além do corpo, se vive no dia–a-dia de quem não tem alguém que vele por ela como Maria fez com Jesus.
Um tempo novo anunciado cada Natal é um tempo em que a gente conte mais do que as coisas e que haja tempo para tudo.
Temos mais um ano para aprender e talvez por por isso haja tempo para tudo na terra.
AFF 25/12/2011
28 dezembro 2011
23 dezembro 2011
Novo missal em inglês
Os textos do missal inglês mudaram recentemente, no sentido de ficarem mais próximos do original latim, talvez a maior mudança na liturgia em inglês desde o Concílio Vaticano II.
Esta nova tradução tem suscitado várias críticas. Algumas são mais sérias e fundamentadas, e afirmam que esta nova mudança vai no sentido contrário ao do Concílio, tornando a linguagem mais difícil e o estilo linguístico mais intrincado e abstruso. Há mesmo um site, Misguided Missal, que concentra bastante informação sobre o assunto.
Há outras mais brincalhonas, como este episódio do Colbert Report, ou vários cartoons deste blogue.
Os críticos têm defendido que a nova linguagem é muito afastada do inglês comum. O texto do missal que se tem tornado símbolo desta crítica é a uma parte do credo em que se diz que o Filho é "consubstancial with the Father", quando antes se dizia "one in being with the Father". Já há igualmente paródias à situação, como uma tradução revista de uma receita de cookies.
Isto fez-me pensar. Em Portugal, já há muito tempo que dizemos no credo que o Filho é consubstancial ao Pai, sem ninguém se preocupar muito se quem está na missa sabe o que isso quer dizer. Para além disso, julgo que a nossa liturgia será das poucas que não trata Deus por tu. Tudo isto é sinal de que nós, em Portugal, damos mais importância à "solenidade" das cerimónias do que à simplicidade e à participação dos fiéis. E tenho pena que não haja ninguém que queira ver isto seriamente discutido, à semelhança do que está a acontecer nos países de língua inglesa.
21 dezembro 2011
Noémia e Mara
A dona Noémia emigrou. Tempos difíceis levaram-na para fora do seu país. Partiu com o marido e dois filhos. Mais fértil, aquela terra oferecia melhores oportunidades a quem procurava uma vida melhor. Primeiro trabalharam no campo, passando depois por vários ofícios, conforme as épocas do ano. Chegaram mesmo a ter negócios em que vendiam produtos manufacturados em casa ou adquiridos a outros. No inverno era duro trabalhar nas produções agrícolas. De joelhos na terra para não andarem muito tempo curvados, e outras vezes curvados para pouparem os joelhos, afectados sobretudo pela humidade e a terra fria. No verão era duro o calor, a poeira, o pó da palha e das ervas, o suor escorrendo pela cara ou sendo absorvido pelos lenços apertados. Mas eram boas as condições de vida: tinham sempre os bens essenciais. Raramente se preocuparam em saber o que comeriam no dia seguinte, ou mesmo na semana seguinte.
Foi assim que viveram durante anos em terra estrangeira. Mas a lei da vida, à qual se liga a lei da morte, em pouco tempo fez ruir a sua casa. O seu marido e, algum tempo depois, os dois filhos partiram deste mundo antes dela. Sentia-se mal sempre que pensava nisso, mas também pensava no desgosto que eles teriam se ela fosse primeiro. Para eles seria pior. Bem, os filhos tinham as suas mulheres, mas o marido, com aquele feitio, iria sofrer no corpo e na alma. Aconteceu como Deus quis: os homens partiram e ficaram as mulheres. Nessas condições decidiu voltar à sua terra. As noras, naturais desse país que os acolhera, quiseram acompanhá-la. Ela não estava de acordo mas só uma aceitou ficar. A outra partiu com a sua sogra, passando agora ela à condição de estrangeira. O que iria ser destas duas mulheres num tempo e num lugar em que mulheres sem homem não eram ninguém?
Não foi só por essa razão que Noémia pensou em mudar de nome. Quando chegou à sua terra, as velhas amigas ainda a reconheciam e quiseram alegrar-se com ela pelo seu regresso feliz. Clamavam em coro: a Noémia voltou à terra de seus pais! Mas ela não mostrava alegria e dizia-lhes para não lhe chamarem Noémia e sim Mara. Depois souberam porquê, mas eram de opinião que não se devia deixar dominar pela tristeza. Aquela mulher, de coração tão bondoso e de espírito tão agradável não podia deixar-se possuir pela amargura. O Senhor iria intervir em seu favor porque ele não abandona quem se mantém na esperança. Sem mais delongas, foi isso o que aconteceu, e de modo surpreendente para toda a gente. Em pouco tempo, todos os habitantes daquela região puderam ver as maravilhas que o Senhor fez com sua nora e ela. Quem desejar saber o que realmente aconteceu pode ler o pequeno livro de Rute, do Antigo Testamento. Na história de Rute e Noémia (Mara por pouco tempo) assenta a raiz da árvore de Jessé, aquela árvore da qual nasceu o Salvador, Jesus Cristo, Senhor. É assim que há um Feliz Natal.
Frei Matias, O.P.
17 dezembro 2011
Carregando Jesus no coração
Gosto desta condição a que a Ana Vicente chama a rotina do quotidiano, para levar os dias carregando Jesus no coração. Cristãos, homens e mulheres no anonimato das cidades, aqui estamos a viver este tempo de Natal, ainda Advento na espera da noite clara de estrelas e anjos, motivo de fé e aleluia no mundo inteiro e motivo de festa nesta parte ocidental do mundo. Mergulhamos nos rituais profanos próprios da época, desfiamos as horas em contagem decrescente até ao nascimento do Menino, a cada ano renovada. A tentação de divagar sobre o Natal é grande e óbvia, passo os olhos pela minha estante de livros, vejo as antologias de contos e de poesia, mais os títulos dos clássicos, entre os discos repasso as compilações de cânticos e de músicas, na rua há poucos enfeites, mas lá estão eles nas montras das lojas, por favor, não industrializemos o Natal, pedia o poeta Carlos Drummond de Andrade.
Mas é maior em mim a ideia de temperar a baixa e chata rotina do quotidiano de ano inteiro com a luminosa, fecunda, criativa, emocionante presença de Jesus, descobrindo um novo sentido nesta vida. Usar os cinco sentidos da minha natureza humana para ter atenção ao mundo à minha volta, para tentar perceber os outros e perceber-me a mim própria. Aproveitar as circunstâncias mais banais ou comuns para melhor descobrir os significados das minúcias de cada dia.
Por exemplo: reli os textos publicados no blogue do Nós Somos Igreja e gostei de pensar em unidade na diversidade. Parei com a imagem de cada um dos autores e autoras, tão diferentes e variados nos seus caminhos e circunstâncias, e nesta noite em que escrevo, sem ser Natal, sinto uma quentura de fraterno bem-querer no coração, se calhar Jesus está a passar silenciosamente por aqui, a amansar a impaciência que me provocam os comentadores de televisão, os debates de opinião, os analistas políticos, as primeiras páginas do Correio da Manhã e das revistas onde o estupro, a traição, o logro, pretendem povoar os dias dos cidadãos, no tal quotidiano em que é bom saber que Deus está connosco.
Por exemplo: andar nos autocarros e no metro e substituir desprezos ou distâncias, ou mesmo compaixão, pelo exercício de fingir, como o Fernando Pessoa, que eu sou aquele outro ou outra no banco à minha frente. Que vida será aquela? Que palavra de Jesus carrega em si, que invocação, que súplica, que perdão pedirá?
Por exemplo, dar graças por tudo e por nada, à toa, porque a fé se renova a cada momento na tal rotina do quotidiano, bem o sabiam os simples e antigos que a Deus pediam vida e sorte e pão, e nem nos tempos mais difíceis se esqueciam de agradecer a sobrevivência.
Leonor Xavier
12 de Dezembro de 2011
11 dezembro 2011
ONDE O NATAL SE VIVE TODOS OS DIAS
Em todo o país há pessoas e instituições maravilhosas que procuram, na rotina do quotidiano, viver a difícil mensagem cristã do amor incondicional ao próximo.
Mas quem é o meu próximo? perguntava capciosamente a Jesus o doutor da lei, no Evangelho de São Lucas (10: 29-37).
Para as cinco freiras dominicanas que vivem no Convento dos Cardaes em Lisboa, o próximo são 38 mulheres, todas elas com graves problemas de saúde, do foro mental, da visão, o que seja, que aí estão acolhidas. Quase todas vêm de meios pobres e não têm família afectiva. O objectivo, a meu ver conseguido, é que ali encontrem dignidade, bem-estar e autonomia.
A Irmã Ana Maria Vieira, coordenadora, conta ainda com colaboras remuneradas e um grande número de voluntárias/os para garantir o espírito leve e aberto que atravessa esta comunidade de mulheres. Há um clima palpável de alegria e descontração, numa casa bem ordenada e extremamente bonita. E ficamos a reflectir, mais uma vez, porque persiste na tradição da instituição-igreja a exclusão das mulheres dos ministérios ordenados. Jesus não se quer fazer representar por estas religiosas?
Tão bonito é o convento que todas as tardes, ao longo do ano, está aberto ao público, sendo as guias um grupo de mulheres que realizam este trabalho sem remuneração. Realizam-se ainda ocasionalmente concertos e exposições.
Vivem de quê? além de apoios do Estado, insuficientes, aceitam de bom grado qualquer donativo (NIB 0018 0000 0009474 000181), fabricam e vendem doces e compotas, vendem livros usados, e nos dias 11, 16, 17 e 18 de Dezembro de 2011 servem lanches deliciosos num claustro encantador. A entrada dos visitantes faz-se pela rua do Século, 123, no Bairro Alto, em Lisboa, o tel. é 213 427 525, ver http://profile.to/conventodoscardaes.
Ana Vicente (membro do Movimento Internacional Nós Somos Igreja)
11.12.2011
Mas quem é o meu próximo? perguntava capciosamente a Jesus o doutor da lei, no Evangelho de São Lucas (10: 29-37).
Para as cinco freiras dominicanas que vivem no Convento dos Cardaes em Lisboa, o próximo são 38 mulheres, todas elas com graves problemas de saúde, do foro mental, da visão, o que seja, que aí estão acolhidas. Quase todas vêm de meios pobres e não têm família afectiva. O objectivo, a meu ver conseguido, é que ali encontrem dignidade, bem-estar e autonomia.
A Irmã Ana Maria Vieira, coordenadora, conta ainda com colaboras remuneradas e um grande número de voluntárias/os para garantir o espírito leve e aberto que atravessa esta comunidade de mulheres. Há um clima palpável de alegria e descontração, numa casa bem ordenada e extremamente bonita. E ficamos a reflectir, mais uma vez, porque persiste na tradição da instituição-igreja a exclusão das mulheres dos ministérios ordenados. Jesus não se quer fazer representar por estas religiosas?
Tão bonito é o convento que todas as tardes, ao longo do ano, está aberto ao público, sendo as guias um grupo de mulheres que realizam este trabalho sem remuneração. Realizam-se ainda ocasionalmente concertos e exposições.
Vivem de quê? além de apoios do Estado, insuficientes, aceitam de bom grado qualquer donativo (NIB 0018 0000 0009474 000181), fabricam e vendem doces e compotas, vendem livros usados, e nos dias 11, 16, 17 e 18 de Dezembro de 2011 servem lanches deliciosos num claustro encantador. A entrada dos visitantes faz-se pela rua do Século, 123, no Bairro Alto, em Lisboa, o tel. é 213 427 525, ver http://profile.to/conventodoscardaes.
Ana Vicente (membro do Movimento Internacional Nós Somos Igreja)
11.12.2011
05 dezembro 2011
HABEMUS PAPAM
Não vou falar da obra cinematográfica de Nanni Moretti. Tem muitos admiradores e a crítica não se cansa de o apontar como um dos grandes do nosso tempo. Aqui interessa-me destacar o filme Habemus Papam – Temos Papa. A expressão é bem conhecida pelos mais idosos, pelos que já assistiram – pelos meios de comunicação – a tudo o que precede e segue a eleição de um Papa. Sou dos que já contam cinco eleições papais. Acerca desse acontecimento, o povo católico sabe o que lhe transmitem os meios de comunicação antes, durante e depois. Nem sempre com informação e conhecimento suficientes acerca do Vaticano, e da realidade profunda da Igreja. Na maior partes das vezes há palpites, mesmo entre os “vaticanistas”.
Costuma-se dizer que quem “entra papa não sai papa”. Em geral, os nomes mais publicitados nem sempre acabam por ser os que reúnem a maioria dos votos de um eleitorado de anciãos que nem sequer foram eleitos pelos católicos. É o Papa que escolhe aqueles que um dia irão escolher o seu sucessor. Estranha democracia esta… Na realidade é só um que actua na vez de todos: “eu sou a igreja”. Só ele escolhe os futuros eleitores do Papa, os cardeais de determinada idade. Só o Papa passa a não ter idade. Uma das tarefas do Nós Somos Igreja continuará a ser a importância do papel dos católicos na escolha dos ministérios eclesiais.
Julgo, por isso, que o filme Habemus Papam, deve ser muito debatido. Nanni Moretti não pretendeu, como expressamente o disse, atacar o Papa actual. Foi muito mais longe e em profundidade.
João Paulo II morre e procede-se, dentro das normas, a um conclave donde deve sair um nome. Um sinal, um fumo branco, anunciando que já temos Papa. Neste filme, filme dos tempos modernos, tudo começa a complicar-se. A Praça de S. Pedro está cheia, mas o Papa não se mostra, não aparece à janela. De repente, nem os cardeais que o elegeram sabem onde ele está. Fugiu, pois não se sente capaz de assumir uma responsabilidade que, normalmente, é aceite de modo automático em nome da vontade de Deus, do Espírito Santo. Neste caso o eleito entra em crise. O cineasta encontrou soluções admiráveis, quer para manter a Praça de S. Pedro em continuada expectativa, entreténs para os velhos cardeais, ocupação para os psicanalistas, percursos irreconhecíveis do Papa pelos transportes romanos, etc..
É um retrato, em profundidade, da situação do governo da Igreja, envelhecido e à margem do mundo e do povo católico. No filme, a recusa do Papa eleito é a recusa que todos deviam fazer, por serem escolhidos naquelas condições. O drama vivido por esta figura, não é um drama que a psicanálise possa resolver. É de outra ordem: o Espírito Santo não pode substituir os caminhos verdadeiramente humanos dos ministérios ordenados da Igreja. O seu topo reflecte a falta de participação democrática. Se a Igreja, como se repete, não é uma democracia, não deve ser menos do que uma democracia. Deve ser mais, uma fraternidade e sem negar os mecanismos democráticos das instituições de expressão humana. Porque será que, nos belíssimos planos que mostram os cardeais, nem uma mulher. Será que as mulheres nem sequer servem para eleger o Papa?
Uma obra uma vez publicada ou exibida já não pertence ao autor. Pertence a quem a desfruta, a repudia ou lhe fica indiferente. Também este filme está nos olhos dos espectadores.
Será recebido e interpretado de diversos modos. Há regras para ajudar a vencer a arbitrariedade, mas não para vencer diversos pontos de vista. O seu valor estético e a estética do seu humor salvam-no de poder ser transformado numa obra de ataque ou defesa da Igreja. É, no entanto, um grande contributo para que, católicos e não católicos, se interroguem acerca do que se passa, hoje, na e com a Igreja.
Frei Bento Domingues, O.P.
5 de Dezembro 2011
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