As sacristias costumam ser mais pequenas e
mais reservadas do que as igrejas. Os laicos foram, muitas vezes, acusados de
quererem trancar a igreja na sacristia. Era uma forma de dizer que os incréus
não gostam de encontrar os padres, os bispos, e os papas no espaço público: a
Deus o que é de Deus – os espaços sagrados - e a César o que é de César, tudo o
resto. Esta vontade de separar confunde tudo. Agora, a confusão é outra e
bendita: o Papa Francisco, sem iniciativas vaticanas, surge como a
personalidade do ano na revista Time e é a capa da última revista Rolling
Stone.
No seu interior, e também na
edição online, a
revista publica um longo perfil do Papa Francisco, com o subtítulo “Por dentro
da suave revolução do Papa”. No artigo, o pontífice é descrito como sendo
radicalmente diferente do antecessor e responsável por mudanças na forma como
católicos e não católicos vêem a igreja.
Depois
do papado desastroso de Bento […], o domínio que Francisco tem em competências
básicas como sorrir em público pareceram um pequeno milagre para o católico
típico. Mas ele tinha mudanças bem mais radicais em mente, escreve o jornalista
Mark Binelli, que enumera factos que vão da renúncia ao palácio que
tradicionalmente os Papas habitam até à postura muito mais suave em relação aos
homossexuais. O texto lembra como Francisco respondeu a uma questão sobre
padres homossexuais com uma outra pergunta: “Quem sou eu para julgar?”.
O Vaticano fez constar que não gostou. Como
poderia gostar, se não acha graça nenhuma aos atrevimentos do Papa Francisco? O
que lhe agradava era a clonagem do anterior.
O que, porém, importa destacar é o
seguinte: o que os incréus não gostavam nem gostam é da clericalização da
sociedade, onde sejam os papas, os bispos e os padres a mandar até nos costumes
e nas consciências: fazer do mundo uma grande sacristia. Como este Papa surge
sem vontade de se impor e dominar as consciências, mas apenas como alguém que
desperta, com alegria, as pessoas para a solidariedade, passou a dar sentido, em
todas as situações, à palavra Evangelho, que,
muitas vezes, os comentários nas missas tornavam uma tristeza. Tomás de Aquino, que ele cita
bastantes vezes, sustenta que a tristeza é a pior das paixões, a alteração psicológica a que hoje chamamos
depressão. O modo do Papa ser Igreja, tornou-se uma alegria disponível para
todas as pessoas que precisam de um ombro, de ser acolhidas.
Há 2000 anos havia uma surpreendente
criatura que fazia um estranho convite: Vinde
a Mim vós todos que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei.
Os seus genes não foram perdidos.
Frei Bento Domingues, O.P.
01.01.2014
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