14 março 2013

Teologia

Continuando o texto do mês anterior sobre mulheres como Igreja e na Igreja - Por teologia entenda-se o estudo e o pensamento que se centra em Deus, na Sua essência, e na relação entre Deus, os seres humanos e toda a restante criação. Ora nenhuma corrente ou escola teológica séria pode, hoje em dia, argumentar que há uma diferença ontológica entre as mulheres e os homens. Somos, mulheres e homens, filhas e filhos e Deus, criados à sua imagem. São Tomás de Aquino, dando voz à tradição aristotélica, escreveu que as mulheres eram imperfeitas na sua natureza, apesar de terem acesso à graça de Deus. Quem é que hoje em dia propõe que as mulheres não são seres humanos em plenitude? Ou que existem imperfeições no processo de criação das mulheres? É, alias, na teologia que vamos encontrar o pleno valor da real igualdade dos seres humanos, seja qual for o sexo a que pertencem, para além de todas as outras diferenças que existem entre as pessoas. É esta uma consequência da fidelidade e obediência às leis de Deus, no campo ético e moral. As condições, os desafios e as exigências são precisamente iguais para ambos os sexos. Ambos são chamados à santidade, e ambos são capazes de pecar. Na teologia da salvação não se apresentam excepções nem desculpas pelo facto de se ter nascido mulher. O número de mulheres e homens teólogas/os que já produziram pensamento valioso acerca da igualdade fundamental de ambos os sexos é muito vasta e variada e pode ser estudada pelos que querem aprofundar os seus conhecimentos nesta área. Como escreveu Laure Aynard: ‘É imensa a perda de substância evangélica que pode ser atribuída à atitude patriarcal da Igreja instituição nos últimos 19 séculos.’[1]

Também Teresa Martinho Toldy,  teóloga feminista portuguesa conclui:
 ‘A Igreja é a comunidade da transmissão, na qual todos os crentes, mulheres e homens, têm lugar: a Palavra circula, actua, torna-se vida, quando é comunicada e recebida. Ela é a nossa herança – de todos: mulheres e homens – anúncio de um futuro que irrompe já no presente, que se torna força para a transformação do quotidiano, que denuncia todas as injustiças e rasga o horizonte para um mundo novo…[2]

O que se torna maravilhoso nesta caminhada teológica é a percepção de que não estamos a começar nada de novo mas antes a continuar as tarefas de tantas pessoas, silenciosas ou proclamadoras, que desde o nascimento do cristianismo, entraram no deserto à procura da Terra Prometida.

Ana Vicente
Março 2013


[1] Laure Aynard, La Bible au Féminin: de l’ancienne tradition à un christianisme hellénisé, Paris:  Cerf, 1990.
[2] Teresa Martinho Toldy, Deus e a Palavra de Deus na Teologia Feminista, Lisboa: Paulinas, 1998, p. 435.

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