Palavras de abertura na sessão de Poesia
Na minha qualidade de membro do Movimento Internacional Nós Somos Igreja, cabe-me agradecer muitíssimo ao Pe Tolentino de Mendonça, cuidador e animador deste espaço mítico conhecido como a Capela do Rato. Espaço aberto às muitas moradas que tem a Igreja e que o Pe Tolentino respeita e acolhe, estando sempre atento aos sinais dos tempos. Assim aceitou com entusiasmo a ideia que lhe foi proposta pela Leonor Xavier – ou seja organizar uma sessão de poesia em que evocamos e celebramos as mulheres como Povo de Deus - a sua criatividade, a sua liberdade, a sua capacidade. Também eu agradeço a todas as que aceitaram participar, crentes e não crentes, disponibilizando o seu tempo e o seu talento para nosso deleite, assim como a presença de quem veio para ouvir e desfrutar.
O Movimento Nós Somos Igreja escolheu o dia 25 de Março, quando se comemora a Anunciação a Nossa Senhora, como Dia Internacional de Oração pela Ordenação das Mulheres. Como sabemos, a reflexão de muitas teólogas e teólogos, indicam que o impedimento de admitir as mulheres ao sacramento da Ordem baseia-se na sociologia e na tradição. Aliás, todos os inquéritos de opinião feitos a católicos praticantes, em Portugal, ou noutros países, dão respostas largamente favoráveis a tal acolhimento das mulheres para o serviço – palavra que em boa hora tem sido repetidamente utilizada e interpretada pelo Papa Francisco. O poder é, evidentemente, serviço, repete o Papa. Fique bem claro que quando falamos da ordenação das mulheres pensamos que, antes, é essencial proceder a uma reforma profunda do próprio sacerdócio. É uma questão presente nas preocupações de incontáveis católicas e católicos e, embora, ainda ontem, o Pe Tolentino, numa entrevista ao jornal Público, tenha afirmado que «a questão está fechada» acrescentou que a «Igreja é fiel ao Espírito e ao que este lhe vai dizendo e vive num processo de renovação permanente.»
Para terminar sublinho que face ao novo papa, às suas palavras e gestos, tem havido um coro de aprovação e esperança, como não se via desde João XXIII (parecendo indicar que afinal todas e todos desejamos ardentemente reformas na instituição-Igreja). E já que temos um papa Jesuíta oiçam o que a 34ª Congregação da Ordem escreveu em 1995, em Roma: «Estamos conscientes do prejuízo que tem causado no Povo de Deus a alienação da mulher, a qual, nalgumas culturas, já não se sente à vontade na Igreja e não pode, por isso, transmitir plenamente os valores católicos às suas famílias, amigos e colegas. (….) Como resposta, primeiro pedimos a Deus a graça da conversão. Temos sido parte de uma tradição civil e eclesial que ofendeu a mulher. Como muitos outros homens, temos tendência a convencer-nos que o problema não existe.”
Tenho a certeza que este Papa vai perceber que o problema existe.
Obrigada.
Ana Vicente
25 de Março 2013
Dia Internacional de Oração pela Ordenação das Mulheres