Nem todo o Povo de Deus concorda com a
canonização de João Paulo II.
A opinião do Movimento Internacional Nós Somos Igreja
A opinião do Movimento Internacional Nós Somos Igreja
Hoje, o Papa Francisco anunciou no Consistório o dia da
canonização do Papa João Paulo II, 27 de Abril de 2014 - juntamente com o Papa
João XXIII.
A decisão relativa ao Papa João Paulo II não é
consensual na Igreja Católica. O Movimento Internacional Nós Somos Igreja
já exprimiu a sua opinião num comunicado à imprensa no dia 16 de Janeiro de
2011.
O Papa João Paulo II foi um papa muito controverso. A
sua fatalidade reside na discrepância entre o seu compromisso em reformar e em
dialogar com o mundo e o seu regresso ao autoritarismo dentro da Igreja.
Foi o seu pendor para o autoritarismo espiritual que
contribuiu para a maior tragédia do seu papado: o abuso sexual de milhares de
crianças em todo o mundo. Ao manter a hierarquia da igreja numa posição
superior à das necessidades do povo, João Paulo II perpetuou um ambiente tóxico
no qual era permitido aos presbíteros, muitas vezes repetidamente, abusar
sexualmente de crianças desde que o comportamento criminoso fosse mantido em
segredo, preservando a imagem pública de uma liderança impoluta.
Talvez um dos melhores reflexos deste comportamento se
revele na sólida ligação de João Paulo II à Legião de Cristo e ao seu fundador,
Marcial Maciel. Maciel é acusado de décadas de abusos graves contra mulheres e
jovens, muitos dos quais foram parcialmente branqueados graças à legislação que
João Paulo II aprovou, em 1983, para a congregação religiosa de Maciel, a qual
exigia secretismo e proibição de criticar o seu fundador.
Foi igualmente esta necessidade de João Paulo II em manter
o controlo hierárquico que conduziu ao decréscimo da Teologia, com um impacto
muito negativo na vida das pessoas. A sua tentativa de desacreditar a Teologia
da Libertação deixou milhares de pessoas empenhadas na libertação sem o pleno
apoio teológico e eclesial que mereciam, enquanto padeciam sob regimes
políticos brutais.
O autoritarismo espiritual de João Paulo II revelou-se,
igualmente, na sua tentativa de suprimir as conversas sobre a igualdade de
género, a qual, por sua vez, privou o mundo católico dos dons naturais que as
mulheres trariam à liderança da Igreja. A sua posição contra as pessoas
lésbicas, homossexuais, bissexuais e transsexuais (LGBT) torna-o cúmplice de
igrejas e governos locais, que continuam a negar igualdade civil e moral às pessoas
LGBT. Além do mais, a sua denúncia repetida da utilização do preservativo
dificultou as escolhas morais de milhões de pessoas de todo o mundo que
tentavam impedir o alastramento do VIH/SIDA e promover a saúde sexual.
O Movimento Internacional Nós Somos Igreja está convicto de que a
beatificação e inevitável canonização não deveriam ser avaliadas pelo facto de
um "milagre" poder ser atribuído a determinada pessoa mas antes pelo
facto de a vida de alguém encarnar verdadeiramente os valores de Cristo, que buscou
não o poder, mas o bem-estar do povo de Deus.Tradução de Luisa Vasconcelos Abreu
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