Melhor clarificar o que entendemos
por Igreja – para além de ser uma instituição, a Igreja, segundo os Evangelhos
e o Concílio Vaticano II (e também em sintonia com o discurso do Papa
Francisco) é constituída pelo conjunto das pessoas baptizadas, as quais têm uma
enorme responsabilidade na busca da fidelidade à mensagem de Jesus Cristo.
Para já, a nosso ver, o Papa Francisco trouxe à Igreja Portuguesa,
quer à instituição, quer ao conjunto do Povo de Deus, uma nova respiração, um
sopro do Espírito Santo, uma recolocação das prioridades. Será que vamos ser
capazes de o ouvir e de traduzir em actos os imensos desafios que ele nos
apresenta? Será que nós e as autoridades eclesiásticas compreenderemos que
novos tempos são chegados, em que há que derrubar tantas hierarquias, tantas
exclusões, tantas condenações, tanto medo da partilha do poder e do serviço,
tanta obsessão por uma moral sexual ininteligível? Passar a centrar o nosso dia
a dia como cristãs e cristãos no amor ao próximo, na misericórdia, na opção de
acabarmos de uma vez para sempre com a pobreza aviltante, que neste país ou no
mundo em geral, tem quase sempre cara de mulher. O Papa Francisco veio interrogar
as nossas consciências: é possível convivermos com sistemas económicos que
sustentam essa pobreza, que fazem da produção e venda do armamento a maior
indústria mundial, fomentando guerras em tantos locais ?
O entusiasmo e o acolhimento que as
palavras e os gestos do Papa Francisco têm desencadeado em milhões de pessoas,
crentes e não crentes, exprimem, cremos nós, que o Povo de Deus deseja
ardentemente uma igreja mais fraterna, mais igualitária, mais amável, com uma
nova atitude face às mulheres, uma igreja onde o sacerdócio seja repensado e
reformado, uma igreja que valorize a sexualidade, elemento constitutivo do ser
humano, criado por Deus, uma igreja empenhada nos direitos humanos, dentro e
fora da instituição. Para já, a esperança é imensa.
Ana Vicente – Movimento Internacional ‘Nós Somos Igreja’ – Portugal
Outubro 2013
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