26 outubro 2013

O que é que o Papa Francisco já trouxe à Igreja Portuguesa?

     Resposta de Ana Vicente a uma pergunta da Rosa Pedroso Lima, para artigo do Expresso

    
Melhor clarificar o que entendemos por Igreja – para além de ser uma instituição, a Igreja, segundo os Evangelhos e o Concílio Vaticano II (e também em sintonia com o discurso do Papa Francisco) é constituída pelo conjunto das pessoas baptizadas, as quais têm uma enorme responsabilidade na busca da fidelidade à mensagem de Jesus Cristo. 

Para já, a nosso ver,  o Papa Francisco trouxe à Igreja Portuguesa, quer à instituição, quer ao conjunto do Povo de Deus, uma nova respiração, um sopro do Espírito Santo, uma recolocação das prioridades. Será que vamos ser capazes de o ouvir e de traduzir em actos os imensos desafios que ele nos apresenta? Será que nós e as autoridades eclesiásticas compreenderemos que novos tempos são chegados, em que há que derrubar tantas hierarquias, tantas exclusões, tantas condenações, tanto medo da partilha do poder e do serviço, tanta obsessão por uma moral sexual ininteligível? Passar a centrar o nosso dia a dia como cristãs e cristãos no amor ao próximo, na misericórdia, na opção de acabarmos de uma vez para sempre com a pobreza aviltante, que neste país ou no mundo em geral, tem quase sempre cara de mulher. O Papa Francisco veio interrogar as nossas consciências: é possível convivermos com sistemas económicos que sustentam essa pobreza, que fazem da produção e venda do armamento a maior indústria mundial, fomentando guerras em tantos locais ?

O entusiasmo e o acolhimento que as palavras e os gestos do Papa Francisco têm desencadeado em milhões de pessoas, crentes e não crentes, exprimem, cremos nós, que o Povo de Deus deseja ardentemente uma igreja mais fraterna, mais igualitária, mais amável, com uma nova atitude face às mulheres, uma igreja onde o sacerdócio seja repensado e reformado, uma igreja que valorize a sexualidade, elemento constitutivo do ser humano, criado por Deus, uma igreja empenhada nos direitos humanos, dentro e fora da instituição. Para já, a esperança é imensa.  
Ana Vicente – Movimento Internacional ‘Nós Somos Igreja’ – Portugal
Outubro 2013
 

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