Já se completaram quarenta anos
sobre o aparecimento de um álbum de música com o nome The dark side of the moon. Título interessante a chamar a atenção para
uma realidade escondida, esquecida, desconhecida. Letras simples e música
diferente com o nome de rock progressivo. Eram os Pink Floyd. Em tempos de progressismo e algum progresso havia
também grandes involuções. Nesse mesmo ano deu-se a hecatombe do 11 de Setembro
no Chile, acontecendo também na Argentina, Uruguai e noutros lugares. Mas
também aconteceu o 25 de Abril em Portugal e a queda de ditaduras em países
como a Espanha e a Grécia. Nada mais simbólico que a lua, ao mesmo tempo realidade
e metáfora, para exprimir acontecimentos tão opostos no planeta terra a quem a
lua nunca mostra o seu lado negro. Ao menos ela tem o sentido da decência e boa
educação sem hipocrisia. Não há muito tempo alguém dirigiu até mim um jovem
casal para os ajudar num trabalho de comunicação social sobre questões religiosas
relacionadas com a Serra da Lua, perto de Lisboa. Lá disse o que sabia e eles
já sabiam muito: o solstício de verão com tradições culturais e religiosas
sobrepostas nos cumes femininos, dizem, da misteriosa serra de Sintra. E há uns
dias uma rapariga disse-me com uma atitude descontraída e divertida: entre tantas
coisas e causas, veja lá que até já começo a sentir-me advogada da lua. E
explicou: há um lado da lua que não pode ser visto da terra, lado escuro ou
escondido. À conta disso começaram as analogias ao lado oculto do ser humano, o
tal avesso ou negro. Com a passagem para as sociedades patriarcais o macho sol
também passou a ter supremacia. Daí o lado solar ser o bonitinho da fita. A lua
e as características femininas que lhe são atribuídas foram difamadas. Não pode
ser, acho que me vou tornar também advogada da lua. Esta afirmação tem um toque
do subtil humor que lhe é próprio mas também contém uma firme opinião. Depois de
pensar em tudo isto fui ler o texto do final do ano litúrgico em que se celebra
o fim dos tempos (Lc 21): “Haverá sinais
no sol, na lua e nas estrelas. Na terra a aflição e a angústia apoderar-se-ão
das nações pelo bramido do mar e das ondas. Os homens definharão de medo, na
expectativa dos males que devem sobrevir a toda a terra. As próprias forças dos
céus serão abaladas”. Isto é assustador, mas na perspectiva dos evangelhos
não deverá ser. Ainda há gente assustada com o fim do mundo ou à espera do fim
dos tempos. Outra, com pensamentos um pouco antiquados dirá que se trata de
fantasias, escritos arcaicos para controlar as pessoas através do medo, ou
então alucinações diante da ideia da finitude. Dado o realismo das personagens
que andam pelos evangelhos, não me parece nada disso, pelo contrário creio que
se trata de um discurso para o mundo presente, aquele em que estamos, e com uma
perspectiva bastante positiva. Na verdade a maioria de nós já assistiu a vários
acontecimentos desses, fins de tempos e fins de mundos. Em determinados
momentos é um pouco arrepiante, mas acaba por ser sempre uma abertura para
outros mundos e outros tempos. Por vezes negros, é certo, mas muitas vezes
iluminados de futuro. A lua é realmente uma boa metáfora: ora lua cheia ou
quarto crescente, ora quarto minguante ou lua nova. Na dança ou no ritmo das
luas habita a esperança do fim dos tempos negros e o recomeço de um mundo ou de
tempos em que as figueiras brotarão novamente, as videiras terão cachos mais
uma vez e o ser humano acolherá o sol como resplendor a iluminar um certo futuro.
O sol, digo eu, numa expressão simplista, pois devemos ter em consideração que
“o luar é a luz do sol que está sonhando”. Sendo assim vou mudar de expressão: deve
ser especialmente agradável ter o futuro iluminado pelo aveludado mistério da
lua nas suas várias fases e no seu lado inacessível ao nosso olhar. Mistério
onde podemos sonhar, imaginar e também edificar um mundo a vir, ainda que sobre
os escombros de mundos acabados.
Frei Matias, O.P.
21.11.2013
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