Li
com interesse o texto emitido pela Conferência Episcopal a propósito da
ideologia do género, mas também com alguma perplexidade: numa altura em que o
Papa Francisco declara que necessitamos de uma teologia mais profunda sobre as
mulheres e sobre a sua missão no mundo e na Igreja, os nossos bispos, todos do
género masculino, por razões culturais, ou seja de género, que agora não temos
tempo de abordar, acharam necessário produzir um documento longo e complexo. Quem
o vai ler?
Nele
procuram combater o que intitulam de ‘ideologia do género’. Poderei afirmar que tal é, até, positivo
porque é sinal que começam, finalmente, a reconhecer, mesmo que
inconscientemente, por enquanto, que a
Igreja como instituição, desde há quase 2000 anos, atribui às mulheres uma
especificidade especial de género, que não de sexo. Especificidade essa que nos
atribui qualidades e características,
que mais uma vez surgem neste documento, baseadas em construções
sociais, ou de género, e não por
respeito pela obra de Deus. Esta especificidade de género que nos tem sido
atribuída pela parte masculina da Igreja tem servido para justificar a nossa
menoridade na esfera eclesial.
Porque
somos mulheres, ou seja do género feminino, estamos excluídas dos lugares de
serviço, dos lugares de decisão, dos ministérios ordenados. Somos tão
maravilhosas e, no entanto, não servimos para certas funções. Ao lermos os
Evangelhos não encontramos nada deste temor de Jesus face às mulheres – tudo o
contrário. Jesus muito claramente veio dizer por palavras e por actos que
reconhecia e admirava a obra de Deus – a plena igualdade de mulheres e homens,
a plena inclusão de todas as criaturas, o pleno respeito pela diversidade. O amor pela pessoa à minha frente, seja qual
for o seu sexo, a sua idade, a sua condição, a sua orientação sexual - o principal dos mandamentos. A minha
perplexidade continua – porque terão tanto medo de nós? Há tanto a fazer pelo
bem de todas as pessoas. Porque perdem tempo com a suposta ameaça da ‘ideologia
do género’?
Ana
Vicente – Membro do Movimento Internacional ‘Nós Somos Igreja’ - Portugal
14.11.2013
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