À
tarde, perante uma plateia de bispos brasileiros, o Papa dedicara o mais longo
discurso da sua visita a vários alertas para a hierarquia católica. Defendendo
que "o resultado do trabalho pastoral não assenta na riqueza dos recursos,
mas na criatividade do amor", instou a Igreja a não se "afastar da
simplicidade".
Falou
directamente do êxodo de católicos, esse "mistério difícil das pessoas que
abandonam a Igreja após deixar-se iludir por outras propostas", numa
passagem acutilante: "Talvez a Igreja lhes apareça demasiado frágil,
talvez demasiado longe das suas necessidades, talvez demasiado pobre para dar
resposta às suas inquietações, talvez demasiado fria para com elas, talvez
demasiado auto-referencial, talvez prisioneira da própria linguagem rígida,
talvez lhes pareça que o mundo fez da Igreja uma relíquia do passado,
insuficiente para as novas questões; talvez a Igreja tenha respostas para a
infância do homem, mas não para a sua idade adulta." E apontou o caminho:
uma Igreja "que, na sua noite, não tenha medo de sair", "capaz
de interceptar o caminho" dos que a abandonam, "de inserir-se na sua
conversa", uma Igreja que "acompanha, pondo-se em viagem com as
pessoas", "capaz de decifrar a noite contida na fuga de tantos irmãos
e irmãs".
E
ainda perante os bispos: "Não reduzamos o empenho das mulheres na Igreja,
antes pelo contrário, promovamos o seu papel activo na comunidade eclesial.
Perdendo as mulheres, a Igreja corre o risco da esterilidade."
Na
véspera, num encontro com elites da sociedade civil no Theatro Municipal,
dissera que "entre a indiferença egoísta e o protesto violento há uma
opção sempre possível: o diálogo", e que "o futuro exige reabilitar a
política, uma das formas mais altas de caridade", referências claras às
últimas semanas de protestos no Brasil.
Tudo somado, se algo percorreu os discursos deste Papa no Brasil foi uma defesa da acção: social, política e evangélica. Diante de fiéis argentinos, na Catedral Metropolitana do Rio, incitara: "Eu quero agito nas dioceses, que vocês saiam às ruas. Eu quero que nós nos defendamos de toda a acomodação, imobilidade, clericalismo. Se a Igreja não sai às ruas, se converte em uma ONG."
Excerto do artigo do Público de hoje, dia 29,
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