O Papa Francisco foi muito simpático em publicar um escrito de Bento XVI, a Lumen fidei, para que este tivesse a consolação de não deixar as três virtudes teologais só em duas. Certamente que não considerou esse texto de todo inútil, mas também não esteve nem para o refazer, nem para o acrescentar. No Angelus de ontem, domingo dia 7, lembrou que se contentou em dar-lhe um final. Sublinhou, no entanto, que “a fé não é intransigente, mas cresce na convivência que respeita o outro” e “pode iluminar as perguntas” da sociedade actual, na qual muitas vezes é “impossível distinguir o bem do mal”.
Agrada-me que o Papa comece por acolher perguntas e espero que nunca se lembre de elaborar respostas definitivas. Disso já tivemos que baste!
Nas questões teológicas sobre a Revelação e a Fé, contam muito os critérios e os sinais de credibilidade. Neste momento, a grande interrogação não se liga à problemática da Encíclica Lumen fidei, mas à credibilidade das contas do banco do Vaticano. A descrição que Pablo Ordaz apresenta no El País (7 de Julho), salvando o nome de Gotti Tedeschi, supernumerário do Opus Dei e antigo colaborador de Bento XVI, deixa muito mal muita gente e uma rede de interesses defendida a “capa y espada” por destacados representantes de organizações religiosas ultraconservadoras – Comunhão e Libertação “se lleva la palma ” – muito bem situadas no Governo, seja qual fôr a cor, e nos chamados poderes fortes.
O Papa Francisco faz bem em não dar nenhuma cobertura seráfica a esse bando de ladrões. Mas não basta. Tem de ir até ao ponto de varrer a casa completamente e, depois, não esquecer o que diz Jesus, no Evangelho: depois da casa varrida voltam os demónios, aqueles que têm as costas defendidas pelos slogans do costume: o mal disto não somos nós e encostam-se ao mau nome do passado como se fosse uma garantia de credibilidade para o presente e para o futuro.
Frei Bento Domingues, O.P.
09.07.2013
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